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Os homens que se confiam a uma unidade de medida definida por outros para avaliar o seu desenvolvimento pessoal,

METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

4. Metodologia da Investigação

4.6. Técnicas de Análise de Dados

A análise de dados é um processo de busca e de organização sistemático de transcrições de entrevistas (…) com o objectivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhe permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou. A análise envolve o trabalho com os dados, a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões, descoberta de aspectos importantes e do que deve ser apreendido e a decisão do que vai ser transmitido aos outros (Bogdan & Biklen, 1994, p. 205).

Tendo recorrido à entrevista para recolha de informações, parece-nos relevante, utilizar a análise de conteúdo como técnica de análise de dados. Vala (1986, p. 107) afirma que uma das vantagens da análise de conteúdo consiste em poder incidir sobre material não estruturado como, por exemplo, as entrevistas abertas ou semi-abertas.

Também Quivy e Campenhoudt (1998, pp. 229-230) consideram que a análise de conteúdo tem um campo de aplicação muito vasto podendo incidir em diversas formas de comunicações (textos,

programas televisivos ou de rádio, filmes, entrevistas, mensagens não verbais, etc). Da mesma forma,

Bardin (2007, p. 27) refere que “qualquer comunicação, isto é, qualquer transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não, por este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo”. Ainda segundo a autora, “a análise de conteúdo é um conjunto de

técnicas de análise das comunicações” (

Idem, ibidem

). O campo de aplicação desta técnica serão, então, as comunicações, podendo incidir sobre material não estruturado como, por exemplo, o

proveniente de entrevistas abertas ou semi-estruturadas. Numa perspectiva qualitativa, Chizzotti (1999,

p. 98) define análise de conteúdo como um procedimento para “compreender criticamente o sentido das comunicações, o seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”. O desenvolvimento do processo analítico consiste, essencialmente, num trabalho de sistematização dos conteúdos dos discursos que, segundo Bardin (2007, p. 89), se processa em três momentos: a pré- análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

A pré-análise corresponde à fase de organização propriamente dita, tendo por objectivo operacionalizar e sistematizar as ideias iniciais, delineando o desenvolvimento das sucessivas operações. A primeira actividade consiste em estabelecer contacto com os documentos a analisar e em conhecer o texto, retirando daí as primeiras impressões para orientação do trabalho, designando-se esta fase por leitura “flutuante”.

Depois do universo demarcado (o género de documentos sobre os quais se pode efectuar a

análise), é necessário proceder-se à constituição de

um corpus

, elaborado, segundo um objectivo, pelo

conjunto de documentos que forneçam informações relevantes, a serem submetidos aos

procedimentos analíticos (Bardin, 2007, p. 90).

A segunda fase, exploração do material, consiste, fundamentalmente, em operações de codificação, desconto ou enumeração: “ a codificação é o processo pelo qual os dados brutos são transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitam uma descrição exacta das características pertinentes do conteúdo” (Bardin, 2007, pp. 95-97). A organização da codificação pode compreender os seguintes processos: o recorte (escolha das unidades), a enumeração (escolha das regras de contagem, a classificação e a agregação (escolha das categorias).

Relativamente à escolha de categorias Berleson (1952, citado por Ghiglione & Matalon, 2001, p. 188) refere: “os estudos (…) serão produtivos na medida em que as categorias sejam claramente formuladas e bem adaptadas ao problema e ao conteúdo a analisar”.

Por seu lado, Bardin (2007, p. 111) considera que:

a

categorização

é uma operação de classificação de elementos constitutivos

de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, que reúnem num grupo de elementos (unidades de registo, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos.

Ainda segundo o autor, os critérios de categorização podem ser diversos: semântico (categorias temáticas), sintáctico (verbos, adjectivos), lexical (classificação das palavras de acordo com o seu sentido) e expressivo (categorias que relacionadas com perturbações da linguagem). “Classificar elementos em categorias impõe a investigação do que cada um tem em comum com os outros” (Bardin, 2007, pp. 111-112).

No entanto, é necessário verificar se não há sobreposição de categorias, sendo fundamental, por vezes, limitar os dados. Como referem Bogdan e Bilklen (1994, p. 234) “ a análise é um processo de redução de dados.”

Relativamente ao percurso conducente à definição de categorias, segundo Pacheco (2006, p. 24), não é essencial a “estandardização de procedimentos, o mais usual é que o investigador seja o artífice de um sistema de categorias, que surge da própria análise ou então que é construído e/ou reconstruído a partir de uma leitura flutuante (…)”. Embora admitindo que o processo de categorização possa ser indutivo, Esteves (2006, p. 110) refere, no entanto que “uma primeira formulação das categorias pode ser inspirada, no caso das entrevistas, pelos objectivos ou pelos tópicos de questionamento que foram estabelecidos no guião de preparação das mesmas”.

Com o procedimento de categorização, pretende-se atribuir significado aos estímulos sociais, reduzindo-lhes a complexidade a um número limitado de atributos. A prática da análise de conteúdo é uma operação que visa simplificar para tornar possível e facilitar a apreensão e se possível a explicação de determinado fenómeno social.

Esta prática tornar-se-ia simples “se a produção do discurso obedecesse apenas a uma lógica formal (…)” mas (…) todos sabemos, porém, que a matriz de pensamento que se manifesta na linguagem não revela apenas da lógica formal mas de uma lógica que envolve convenções e símbolos, aspectos racionais e não racionais, consciente e inconscientes. Todos estes aspectos estão organizados num código a que o analista pretende, pelo menos em parte, aceder através do accionamento de um outro código. As categorias são o elemento chave do código do analista (Vala, 1986, p. 110).

Na fase de tratamento dos dados obtidos, procede-se ao tratamento dos dados, de forma a tornarem-se significativos e válidos: “a intenção de qualquer investigação é de produzir inferências válidas”(Hosti, citado por Bardin 2007, p. 130).

“Se a

descrição

(enumeração das características do texto resumida após tratamento) é a

primeira etapa e se a

interpretação

(a significação concedida a estas características) é a última fase,

inferência

é o procedimento intermediário, que vem permitir a passagem, explícita e controlada, de

poderão ensinar após serem tratados (…)” “(…) pondo em evidência a finalidade (implícita ou explícita) ”, ou seja, a inferência (Bardin 2007, pp. 33-34). A inferência permite a passagem da descrição à interpretação, atribuindo sentido às características do material. Partilhando do mesmo parecer, Vala (1986, p. 104) refere que “a finalidade da análise de conteúdo será, pois, efectuar inferências, com base numa lógica explicitada sobre as mensagens, cujas características foram inventariadas e sistematizadas”. Contudo, Gil (1995, p. 188) refere que “não é muito fácil definir onde termina a análise e começa a interpretação”, pois a análise e interpretação dos dados constituem processos intimamente relacionados.