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Os homens que se confiam a uma unidade de medida definida por outros para avaliar o seu desenvolvimento pessoal,

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

H. Influência da ADD na profissão

H. 3. Distinção do mérito e da excelência

Poderá, não digo que não, depende do avaliador. Se tiver competência para avaliar as

especificidades que podem fazer a diferença. (E1)

Não sei. Não sei se haverá distinção entre o mérito e a excelência, se haverá quem consiga avaliar isso. (E2)

Poderia, desde que os avaliadores fossem capazes de o fazer. (E3)

Poderá distinguir mas não sei se será possível. Poderá distinguir o mérito e a excelência, mas também poderá ir por outra via, pode estar em questão a simpatia, a empatia… Não se será possível. (E5)

Nunca, nunca. Jamais. Tendo titulares, portanto avaliadores, a quem não reconhecemos

qualidades para nos avaliarem, não é possível. (E6)

Quanto à possibilidade de a ADD contribuir para um dos objectivos principais da sua criação, conforme o determinado na lei, nomeadamente a distinção do mérito e da excelência, a maioria dos entrevistados põe dúvidas quanto à possibilidade de o modelo contribuir para essa distinção, que radicam na capacidade que os avaliadores possam ter em promover uma avaliação orientada nesse sentido. Subjacente a esta posição está, mais uma vez a questão do reconhecimento de competência aos professores titulares/avaliadores: nunca, nunca. Jamais. Tendo titulares, portanto avaliadores, a quem não reconhecemos qualidades para nos avaliarem, não é possível (E6).

Esta descrença que os professores revelam na possibilidade de reconhecimento do mérito e da excelência acaba por entroncar naquilo a que o artº 63º do DL 15/2007 denomina de prémio de desempenho. Se, até agora, os salários dos docentes decorrem essencialmente do tempo de serviço, das progressões que ele acarretava, a introdução de um complemento salarial baseado no mérito de desempenho, que, como vimos, os professores não julgam possível, vem introduzir mais um factor de desestabilização no sistema.

Dos estudos que têm sido feitos sobre esta forma de diferenciação, atingem-se conclusões antagónicas (Seco, 2002) pois, por um lado, pode servir para aumentar a motivação dos docentes, mas por outro, pode também provocar a redução do interesse e empenho do professor relativamente ao seu trabalho por reacção ao aumento de competição que provocará, com a consequente diminuição da cooperação e comunicação entre pares.

5. Dimensão – Reacções ao processo e sugestões de mudança

Esta dimensão abarca as reacções percepcionadas quanto a todo o processo de organização e implementação da ADD no grupo em estudo bem como as propostas de alteração sugeridas pelos entrevistados.

Tabela 30 – Reacção pessoal ao processo experimentado: A nível psicológico

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I. Reacção pessoal ao processo experimentado

I. 1. A nível psicológico

Estava presente um sentimento de angústia, (…) estava a desgastar-nos. (…) (E1)

Muita ansiedade. Toda a gente estava muito ansiosa, muito frustrada, muito revoltada, enfim,

tudo! (…) tanta injustiça, tanta coisa, tantos papéis que a gente tinha que preencher. (E2)

A avaliação foi um processo que provocou tanto stress, que me preocupou tanto (…) As informações chegavam com muito ruído e pouca clareza e acabaram por nos perturbar. Foi um período muito mau (…) mexeu com os nossos comportamentos a nível de alimentação, de sono…Isto foi o que eu senti. Foi angustiante. Quero dizer simplesmente que

estou ansiosa de saber como é que no futuro vamos ser avaliados. (E3)

Não foi uma boa experiência. (E4)

Inicialmente uma grande ansiedade, como vai ser, como é que isto fica. /Ou seja, que estamos numa indefinição, ainda neste momento. Porque para este ano houve alguns “remendos”, esta simplificação e para o próximo ano, vamos voltar ao início do processo?

(E5)

Uma confusão muito grande. Não acreditávamos em nada, andávamos sempre a pensar nas reuniões, nas greves, nas manifestações. Tudo isto perturbou. Senti instabilidade e alguns

momentos de angústia. Parece-me que agora não se é tão feliz na escola. (E6)

Senti angústia muitas vezes. (E7)

Foi de tudo: pressão, angustiante. Por isso achei que não podia ser implementado. Se o processo tivesse seguido, não tínhamos tempo de fazer rigorosamente mais nada, a não ser pensar em “ficar bem na fotografia”. O que tínhamos que fazer, que é trabalhar com os nossos meninos, ficava praticamente de lado.

A avaliação, funcionava para mim como uma coisa à qual eu tinha aversão Quando se falava em avaliação, eu até me arrepiava, fica nervosa. Eu acho que nunca vi os professores tão tristes e desmotivados como agora. O nível de satisfação dos professores também é

fundamental. (E8)

Inicialmente criou alguma agitação, (…) (E9)

A pressão, o desânimo sentido pelo professor, também se reflecte nos alunos.

Com o "simplex", embora algumas situações ainda não estejam bem definidas, já trouxe outra tranquilidade, com a existência de uma maior atitude e uma evidente acalmia. Até parece que o tempo aumentou, porque a disposição era positivamente diferente.

Completamente desgastante. Se não tivesse havido aquela paragem, que veio trazer alguma estabilidade, muitos de nós, nesta altura, já não conseguiríamos leccionar. Eu já não dormia,

e como eu alguns colegas. Era quase impossível continuar daquela forma. (E10)

As reacções que os entrevistados tiveram quanto ao processo de ADD estão expressas nos

revolta, injustiça, stress, preocupação, indefinição, confusão, tristeza aversão, pressão, arrepio, nervosismo, tristeza, agitação, desânimo: sentiu-se em termos de pressão; tantos papéis que a gente tinha de preencher, as informações chegavam com muito ruído e pouca clareza e acabaram por nos perturbar; foi um período muito mau, mexeu com os nossos comportamentos a nível de alimentação, de sono; não foi uma boa experiência; não acreditávamos em nada, andávamos sempre a pensar nas reuniões, nas greves, nas manifestações, veio trazer muito transtorno à nossa vida profissional; já não estávamos com a mesma disposição para trabalhar; nunca vi os professores tão tristes; eu já não dormia; era quase impossível continuar daquela forma; parece-me que agora não se é tão feliz na escola.

Qualquer análise complementar ao que acima está expresso seria, naturalmente, inoportuna. Face a este cenário, parece-nos importante atender ao alerta de Seco (2002, p. 11) de que entende que é importante para o sucesso e para o sentido da escola, o “grau de satisfação que os professores possam retirar da sua prática”, pelo que se tornará necessário que as tomadas de decisão quanto às políticas educativas tenham em atenção esse factor.

Tabela 31 – Reacção pessoal ao processo experimentado: A nível sócio-profissional

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I. Reacção pessoal ao processo experimentado

I. 2. A nível sócio-profissional

(…) uma vontade de desistir de tudo, uma grande desmotivação (…) (E1)

Havia dias que não tinha vontade nenhuma de vir trabalhar (…) (E2)

(…) que eu queria distanciar-me dela. Se calhar deveria ter feito o contrário, conhecer melhor, prever as consequências, mas não. Foi no fundo uma atitude de defesa, de protecção,

procurando distanciar-me para manter a calma, até ver se as coisas se esclareciam. (E3)

Não gostei e vou mudar de agrupamento. Não é por causa dos colegas ou do grupo. Este agrupamento é muito grande, há muitos colegas para avaliar. Vou mudar mais por causa da avaliação. (E4)

A seguir a vontade de tentar mudar alguma coisa. Algum orgulho em verificarmos que estávamos a mudar a situação e actualmente sinto que nós não mudámos coisa nenhuma e

que estamos na mesma. (E5)

Todo este processo, veio trazer muito transtorno à nossa vida profissional, nós já não estávamos com a mesma disposição para trabalhar, tudo isto nos trouxe muitos problemas. Nunca tinha ouvido tantos professores a dizerem que se pudessem mudavam de profissão. Eu própria, neste momento, só queria reformar-me, e já fiz as contas para ver se seria muito

penalizada. Isto não me parece bom. (E8)

É notória a instabilidade e a frustração demonstrada pelos professores em termos profissionais,

traduzida numa “grande desmotivação e na vontade de desistir de tudo”

(E1),

o que os leva considerar

Afirmações como as que a seguir transcrevemos são indicadoras de um nível de insatisfação em termos profissionais que em nada poderá contribuir para a melhoria da escola e do ensino e que, ao

mesmo tempo, têm implicações negativas nas posturas sociais dos indivíduos:veio trazer muito transtorno

à nossa vida profissional, nós já não estávamos com a mesma disposição para trabalhar, havia dias que não tinha vontade nenhuma de vir trabalhar (E2); queria distanciar-me dela (escola) (E3); nunca tinha ouvido tantos professores a dizerem que se pudessem mudavam de profissão, neste momento, só queria reformar-me (E8); vou mudar de agrupamento por causa da avaliação (E4).

Tabela 32 – Propostas de alteração: Quanto aos instrumentos

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