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4 DIREITOS HUMANOS E O TRATAMENTO NORMATIVO DA

4.1 O arcabouço normativo do direito internacional dos direitos humanos no

4.1.1 Documentos Globais

4.1.2.4 A Carta Social das Américas (CSA)

A Carta Social das Américas tem a mesma natureza jurídica da CDI. Isto é, trata-se de resolução aprovada pela Assembléia Geral da OEA na segunda sessão plenária, realizada em 4 de junho de 2012. O objetivo da CSA é complementar a CDI e, no que diz respeito ao tratamento da pobreza, pode-se afirmar que esse é o documento que mais aprofunda o tema. Nele, o termo “pobreza” é mencionado em 21 oportunidades. Somente no preâmbulo, a CSA faz 8 referências à pobreza:

CONSIDERANDO que a Carta da OEA estabelece, entre seus propósitos essenciais, a erradicação da pobreza crítica;

CONSIDERANDO TAMBÉM que a pobreza crítica é um obstáculo ao desenvolvimento e, em especial, ao pleno desenvolvimento democrático dos povos do Hemisfério, e que sua eliminação é fundamental e constitui uma responsabilidade comum dos Estados americanos;

REAFIRMANDO a determinação e o compromisso dos Estados membros de combater, com urgência, os graves problemas da pobreza, da exclusão social e da desigualdade, que afetam de maneiras distintas os países do Hemisfério; de enfrentar suas causas e consequências; e de criar condições mais favoráveis para o desenvolvimento econômico e social com igualdade, a fim de promover sociedades mais justas. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2012, grifo nosso).

Em outro trecho, destaca-se o seguinte considerando:

CONVENCIDA de que essas medidas contribuirão para oferecer proteção social efetiva à população, especialmente àquela em condições de pobreza e pobreza extrema, responder a situações de risco e evitar a transmissão intergeracional da pobreza e o aprofundamento de vulnerabilidades provocadas pelas crises. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2012).

Relacionando a pobreza aos direitos culturais, a CSA dispõe que:

CONVENCIDA de que o desenvolvimento cultural é um componente fundamental para reduzir a pobreza e alcançar a meta do desenvolvimento integral. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2012).

Ainda no preâmbulo da Carta, releva-se a necessidade de fortalecer o sistema interamericano com vistas à eliminação da pobreza e da desigualdade. Do conjunto dos artigos contidos na CSA, infere-se que, na concepção da Assembléia Geral da OEA, não há como tratar separadamente os temas do desenvolvimento e da pobreza. Mais que isso, o art. 1º deixa muito claro que o objetivo do desenvolvimento é justamente a erradicação da pobreza:

Os povos das Américas têm direito ao desenvolvimento em um ambiente de solidariedade, igualdade, paz e liberdade; e os Estados, o dever de promovê-lo, com a finalidade de erradicar a pobreza, em especial a pobreza extrema, e alcançar níveis de vida dignos para todas as pessoas. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2012, grifo nosso).

No art. 3º, a CSA retoma a temática abordada na CDI, qual seja, a relação entre pobreza e democracia. Em suma, na perspectiva desses dois documentos, a pobreza representa uma condição negativa para a efetivação de uma democracia plena. Eis o que dispõe o art. 3º:

Aos Estados membros, em sua determinação e compromisso de combater os graves problemas da pobreza, da exclusão social e da desigualdade, e de enfrentar as causas que a eles dão origem e suas consequências, cabe a responsabilidade de criar as condições favoráveis para alcançar o desenvolvimento com justiça social para seus povos, desse modo contribuindo para fortalecer a governabilidade democrática. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2012).

O artigo 5º ressalta a relação entre corrupção e pobreza e o art. 6º realça a necessidade de que as políticas públicas no campo econômico-social tenham como meta a erradicação da pobreza. Pelo seu caráter pedagógico, merece transcrição o mencionado dispositivo:

A pessoa humana é o centro, partícipe e beneficiário principal do processo de desenvolvimento econômico inclusivo, justo e equitativo.

Nesse sentido, a formulação e a implementação de políticas econômicas e sociais adequadas e transparentes por parte dos Estados membros aprofundarão o desenvolvimento econômico, promovendo o investimento e a geração de emprego em todos os setores, e reduzindo as desigualdades de renda. São objetivos importantes dessas políticas a luta contra a pobreza, a redução das desigualdades sociais, a promoção da igualdade de oportunidades e o melhoramento dos níveis de vida. Isso requer esforços tanto dos governos como do conjunto da sociedade civil. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2012).

Ao tratar da igualdade e não-discriminação, o art. 14 acentua a primordialidade de atentar para aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade ocasionada pela pobreza. O texto do artigo mencionado diz o seguinte:

Os Estados membros têm a responsabilidade de elaborar e implementar políticas e programas de proteção social integral, com base nos princípios de universalidade, solidariedade, igualdade, não discriminação e equidade, que deem prioridade às pessoas que vivem em condições de pobreza e vulnerabilidade, levando em conta suas circunstâncias nacionais. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2012).

Alguns artigos traçam significantes relações entre direitos humanos específicos e a pobreza. É o caso do art. 19, que relaciona pobreza e educação; do art. 20, que traz à tona a relevância do direito à água; o art. 21, que estabelece um liame entre pobreza e o direito a um meio ambiente sustentável; o art. 23, que correlaciona pobreza e desenvolvimento tecnológico; e o art. 32, que trata, no contexto da pobreza, dos direitos culturais de um modo geral.

Para fechar este tópico, aponta-se a grande valia do art. 34 da CSA que versa sobre a cooperação do hemisfério americano, pontuando seu significado para a eliminação da pobreza:

A cooperação hemisférica contribui para o desenvolvimento integral da pessoa humana; para a eliminação da pobreza, da exclusão social e da desigualdade; para a consolidação da democracia; e para a prosperidade de todos os povos das Américas. A cooperação interamericana apoia os esforços dos Estados membros destinados a elevar o nível de vida dos habitantes das Américas. A cooperação se sustenta no respeito, na solidariedade e na complementaridade.

Os Estados membros promoverão a participação consciente e criativa das pessoas no processo de desenvolvimento de cada país. A nenhum indivíduo ou nação será negada

a oportunidade de beneficiar-se do desenvolvimento (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2012).

4.2 O arcabouço teórico subjacente à abordagem da pobreza numa perspectiva dos