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2. A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA

3.3. A configuração jurídica do recall

3.3.9. Recall e sistemas eleitorais

3.3.9.2. A classificação dos sistemas eleitorais

Os sistemas eleitorais podem ser classificados em majoritário e proporcional. Fala-se também em sistema misto, como uma terceira espécie, para designar o sistema alemão201, o qual, na verdade, conforme será demonstrado mais à frente, enquadra-se no sistema proporcional.

O sistema majoritário é aquele em que “a representação, em dado território (circunscrição ou distrito), cabe ao candidato ou candidatos que obtiverem a maioria (absoluta ou relativa) dos votos”.202

Pinto Ferreira203 ensina que o sistema majoritário pode ser puro (ou simples) ou em dois turnos. O primeiro corresponde à maioria relativa, quando o candidato mais votado é proclamado eleito e o segundo ocorre quando o candidato deve obter a maioria absoluta (metade mais um dos votos) e se não a obtiver, procede-se a uma nova votação, chamada pelos franceses de scrutin de ballotage, que se resolverá pela maioria simples.

O sistema majoritário, nas lições de José Afonso da Silva204, também se conjuga com o sistema de eleições distritais, havendo neste último, distritos uninominais pelos quais os eleitores escolhem entre candidatos individuais em cada partido (um candidato por partido) e os distritos plurinominais (chamado também de sistema de listas) pelos quais cada partido apresenta uma lista de candidatos (com uma pluralidade de nomes) para a escolha dos eleitores distritais. Além disso, por princípio, em cada distrito se elege apenas um candidato, considerando-se derrotados os demais.205

200SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, cit., p. 369.

201O sistema existente no México também é chamado de sistema misto. Cf. SILVA. José Afonso da. op. cit., p. 369.

202Id. Ibid., p. 370.

203FERREIRA, Luiz Pinto. op. cit., t. 1, p. 647.

204SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, cit., p. 370.

205Luís Virgílio Afonso da Silva afirma que “as expressões sistema distrital e voto distrital são absolutamente carentes de valor distintivo entre os sistemas eleitorais, pois referem-se apenas a uma das suas variáveis - o

O paradigma da representação majoritária é o sistema eleitoral do Reino Unido, constituído pelo sistema de maioria simples, em distritos uninominais, consolidado e aceito pela maioria dos britânicos. Sua origem remonta aos meados do século XIII, tendo sofrido algumas alterações ao longo dos séculos até chegar ao sistema hoje existente.206

Como já destacado, os Estados Unidos também adotam o sistema majoritário, com exceção das eleições presidenciais, que seguem um método de eleição indireta, distinto do método comum, no qual o Presidente e Vice-Presidente da República são escolhidos por um colégio eleitoral e não diretamente pelo eleitorado.

Sobre esses países, anota Pinto Ferreira207 que “o caráter comum dos sistemas majoritários, adotado na Inglaterra e nos Estados Unidos, consiste em que eles apenas asseguram uma representação aproximada das maiorias, elegendo tão só os representantes mais votados nas circunscrições eleitorais, os demais candidatos sendo derrotados. Apesar disso, ainda se assegura uma representação das minorias, posto que sempre o partido majoritário no país pode ser vencido em algumas circunscrições, que elegem os representantes da minoria”.

No Brasil, de acordo com o Sistema Constitucional vigente, o sistema majoritário se aplica a todos os Chefes dos Executivos da Federação208 (Presidente da República, Governador do Distrito Federal, Governadores Estaduais e Prefeitos Municipais) e aos Senadores representantes dos Estados-membros da Federação.209

distrito -, o que não é suficiente para se distinguir se o sistema é majoritário ou proporcional. São Sistemas distritais, dessa forma, tanto o proporcional brasileiro, no qual os distritos equivalem aos Estados federados, quanto o majoritário inglês, com seus distritos uninominais. No Brasil, no entanto, sistema distrital ficou sendo sinônimo de sistema majoritário em distritos uninominais, o que não é correto. Parece que tal equívoco vem da falsa contraposição feita entre distrito, que seria a delimitação territorial onde se realizam aquelas eleições nas quais o vencedor é somente o candidato mais votado, e circunscrição, que seria a delimitação onde são realizadas as eleições proporcionais com vários eleitos no mesmo espaço físico. Não há, contudo, qualquer fundamento para essa contraposição, porquanto as palavras distrito e circunscrição, sem qualquer qualificação, significam tão-somente uma delimitação eleitoral que define quais votos serão levados em consideração para a atribuição deste ou daquele mandato, independente do sistema eleitoral adotado, do número de eleitos ou de candidatos por partido, sendo, portanto, sinônimas” (SILVA, Luís Virgílio Afonso da. Sistemas eleitorais: tipos, efeitos jurídico-políticos e aplicação ao caso brasileiro. São Paulo: Malheiros Ed., 1999. p. 26).

206Id. Ibid., p. 99.

207FERREIRA, Luiz Pinto. Princípios gerais do direito constitucional moderno. 3. ed. rev. e ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 1975. t. 2, p. 647.

208Para os Municípios com menos de duzentos mil eleitores exige-se maioria relativa. Para os demais casos (Municípios com mais de duzentos mil eleitores, Estados e em nível nacional), a eleição é por maioria absoluta e, caso não seja atingida, faz-se um segundo turno, que se resolve por maioria relativa entre os dois candidatos mais votados.

Quanto ao sistema de representação proporcional, Monica Herman Salem Caggiano210 ensina que o núcleo central do mecanismo desse sistema “reside, essencialmente, em assegurar a cada uma das agremiações partidárias uma representação, se não matematicamente, ao menos, sensivelmente proporcional à sua real importância no contexto político”.

Na mesma linha, José Afonso da Silva211 assevera que o sistema de representação proporcional ou simplesmente proporcional é aquele em que a representação, em determinado território (ou circunscrição), deve ser distribuída proporcionalmente às correntes ideológicas ou de interesse integrada nos partidos políticos concorrentes, e que suscita dúvidas para se determinar quem pode ser considerado eleito e o número de eleitos por partido. Essas dúvidas, por sua vez, são resolvidas pela determinação do número de votos válidos, o quociente eleitoral, o quociente partidário, a técnica de distribuição de restos ou sobras.

No Brasil, adota-se o sistema de representação proporcional para a eleição dos Deputados Federais, Deputados Distritais, Estaduais e Vereadores.

Por fim, fala-se também em sistema misto para qualificar o sistema eleitoral existente na Alemanha.

No sistema alemão há a reunião de elementos dos sistemas majoritários e proporcionais, por isso, é denominado corriqueiramente de sistema misto. É chamado também de “sistema de eleição proporcional personalizado”212. Nesse sistema procura-se combinar “o princípio decisório da eleição majoritária com o modelo representativo da eleição proporcional, posto que divide cada voto em duas partes, computa-os em separado, elegendo-se a metade dos Deputados por circunscrições distritais e a outra metade em função de listas de base estadual”.213

Na Alemanha, cada Estado é dividido em tantos distritos quantos forem os lugares a serem preenchidos. Cada um dos partidos apresenta um candidato por distrito e uma lista partidária para todo o Estado. O eleitor escolherá primeiro um dos candidatos do distrito, assinalando um nome e depois vota em uma das listas partidárias, escolhendo uma legenda. Para se calcular o número de cadeiras que serão dos partidos políticos, leva-se em

210CAGGIANO, Monica Herman Salem. Sistemas eleitorais x representação política, cit., p. 150. 211SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, cit., p. 371.

212Id. Ibid., p. 376.

consideração o percentual de votos obtidos pela legenda. Após esse cálculo, verifica-se quantos candidatos cada partido conseguiu eleger por distrito e quantos conseguiu pelo sistema de lista. 214

O resultado do sistema alemão é a distribuição dos mandatos de acordo com a votação de cada partido, ou seja, de acordo com a força de cada partido político obtida nas urnas, por isso, é considerado um sistema proporcional e não misto.215