• Nenhum resultado encontrado

2. A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA

3.5. Os aspectos favoráveis do recall

Afirma Thomas E. Cronin226 que os defensores do recall elencam seis argumentos em prol do mecanismo.

O primeiro deles é que o recall garante a responsabilidade contínua das autoridades públicas, de tal forma que os eleitores não têm que aguardar até a próxima eleição para se livrarem de um agente público incompetente, desonesto, despreocupado ou

irresponsável. Com a existência do recall as autoridades tendem a se manter alertas, honestas e preocupadas. Nesse contexto, o recall pode ser entendido com uma forma de compensação dos defeitos do governo representativo, visto que enquanto a iniciativa e o referendo são meras modificações de governo representativo, o recall é uma tentativa de tornar o governo mais representativo ao aumentar a sensibilidade das autoridades eleitas à vontade da maioria. Os defensores do instituto alegam também que os eleitores devem ter o direito de destituir os seus servidores públicos, da mesma forma que um administrador pode despedir um funcionário remunerado.

O recall também é um mecanismo que serve para verificar a existência de influências indevidas em interesses específicos. As autoridades públicas podem ser responsabilizadas pelos seus eleitores e não por aqueles que fizeram doação às campanhas eleitorais. O recall vai de encontro aos interesses específicos, o que leva as autoridades a considerarem as pessoas antes de qualquer troca de favores.

O terceiro argumento favorável é que o recall permite sejam concedidos mais mandatos às autoridades eleitas em razão do sistema de controle exercido, o que pode aumentar a eficiência dos agentes públicos, além de estes terem mais tempo para planejar e executar os projetos de governo.227

Os defensores alegam ainda que o mecanismo cria para a pessoa comum uma razão para manter-se informada sobre o governo durante o exercício do mandato. O instituto do recall aproxima o cidadão das questões públicas relevantes.

O recall serviria também como um mecanismo de alívio para as tensões e sentimentos exacerbados dos eleitores.

Finalmente, o recall oferece uma alternativa sensata ao impeachment. O grande problema deste processo é que os agentes públicos podem tentar frustrar as tentativas de instauração de procedimentos dessa natureza. No âmbito local, a resistência ou tentativas de burlar o impeachment podem ser até mais intimidadoras. A obtenção de relatórios e demais provas necessárias para o processo de impeachment podem ser extremamente difíceis ou até mesmo impossíveis. O recall garante um meio para o mesmo fim, sem todo o esforço e trabalho jurídicos necessários. No entanto, o uso prudente do recall exige que o

227Por outro lado, no pensamento inverso, o recall é também um meio de combater a concentração de responsabilidades e longos períodos de mandato dos agentes públicos incompetentes (Cf. WILCOX, Delos F. op. cit., p. 196 e ss).

número de assinaturas seja razoavelmente alto para proteger as autoridades eleitas do mau- humor de pequenos grupos ou da simples oposição local.

A autora portuguesa Maria Benedita Malaquias Pires Urbano228 elenca como argumentos favoráveis ao instituto o fato de ele ser um meio de controle dos representantes, principalmente dos funcionários públicos; o de ser corolário lógico do direito de sufrágio, isto é, se o eleitor tem o direito de escolher o seu representante, por outro lado, tem o direito de destituí-lo caso entenda que tenha feito uma má escolha; e por ser um meio idôneo para manter um diálogo permanente entre representante e representado, obrigando aquele a ouvir constantemente o sentimento dos eleitores e a prestar contas da sua atividade.

Delos F. Wilcox, em 1912, apresentou como argumento favorável o fato de o

recall dar ao povo o direito permanente de corrigir as escolhas equivocadas feitas no

momento de seleção de seus agentes públicos.229

Outros argumentos favoráveis encontrados nos escritos do início do século XX, nos Estados Unidos da América do Norte, são que o povo pode forçar os legisladores a elaborarem as leis de seu interesse, os deputados se tornariam mais verdadeiramente representativos e que o mais venal dos legisladores pode atender aos anseios populares, devido ao receio de ser destituído do cargo ou função pública.230

Com relação a esses aspectos negativos e positivos do instituto, Cronin ainda registra que não há como comprovar que o recall tenha causado desinteresse pela função pública por parte das pessoas competentes, nem há como demonstrar que o mecanismo tenha melhorado a representação dos eleitores ou que tenha diminuído os casos de corrupção ou de irresponsabilidade.231

Certos dados sobre o recall, no entanto, merecem registro. Por exemplo, em Los Angeles, onde já ocorreram mais de quarenta e cinco casos, os eleitores rejeitam o

recall com orientação política, preferindo sua utilização de acordo com as origens do

instituto, i.e., para paralisar a má-conduta e deter a corrupção das autoridades públicas. Essa situação se reflete, em geral, nas demais localidades onde o mecanismo já foi

228URBANO, Maria Benedita Malaquias Pires. op. cit., p. 83. 229WILCOX, Delos F. op. cit., p. 196).

230HOAR, Roger Sherman. Advantages of the recall, July, 1909. In: SELECTED articles of the recall compiled by Julia E. Johnsen. Minneapolis: The H. W. Wilson Company, 1901. p. 22-23. Disponível em: <http://www.archive.org/details/selectedarticles00johnrich>. Acesso em: 22 dez. 2008.

utilizado. Além disso, o recall, nos Estados Unidos, tem alto índice de participação do eleitorado, geralmente superior às eleições regulares, e nas pequenas e médias comunidades o índice de participação é impressionante.232 Consta também que 75% dos casos de recall ocorreram nas Câmaras Legislativas locais e nas diretorias escolares. Nas cidades maiores e em nível estadual sua utilização é quase inexistente, principalmente em razão do elevado número de assinaturas que, geralmente, é exigido pelas legislações.233

O recall é a “arma por detrás da porta” que mantém as autoridades públicas sensíveis às necessidades da População.234

232CRONIN, Thomas E. op. cit., p. 143. 233Id. Ibid., p. 151.

4. ANÁLISE COMPARATIVA DO RECALL NO DIREITO