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A condenação arbitrária de Lula pelo autoritarismo judiciário

5. O golpe institucional

5.6 A condenação arbitrária de Lula pelo autoritarismo judiciário

A condenação arbitrária de Lula no TRF-4 (Tribunal Regional Federal) de Porto Alegre por três desembargadores, de forma unânime, representou sem dúvida a continuidade do golpe institucional de 2016 pela via de um crescente autoritarismo judiciário. Os direitos democráticos das massas foram violados: uma pequena casta privilegiada – neste caso, três desembargadores – definiram em quem milhões de trabalhadores poderiam ou não votar.

Os grandes empresários, a imprensa oficial, as instituições estatais, se empenharam em obrigar Lula a abrir mão de sua candidatura, que poderia por em risco um aspecto muito importante que motivou o golpe institucional: a agenda "própria" de ataques que o PT vinha aplicando não obedece exatamente o ritmo de "marchas forçadas" que a burguesia desejaria. O grau de subordinação do Brasil ao capital financeiro também deveria ser maior do que aquele que o PT assegurou na década de 2000.

Entretanto, ao atacar os direitos democráticos, incrementar a bonapartização do regime e avançar ataques, nem tudo são "águas de rosa" para a burguesia. O jornal britânico Financial Times apontou suas "preocupações", com editorial intitulado "O julgamento da sentença

contra Lula não ’fará o Brasil grande de novo’"198(numa crítica àqueles que, usando o tema eleitoral de Trump - Make America Great Again - disseram que a condenação de Lula é um "Make Brazil Great Again"). A falta de lideranças que conseguissem amortecer os choques da luta de classes – como Macron havia conseguido em 2017 – eriçava as atenções do capital financeiro, sempre disposto a atuar com cenários previsíveis.

Mesmo defendendo a suposta “imparcialidade” da Lava Jato, o editorial dizia que "é espantoso que uma Corte tenha decidido o curso da eleição presidencial no Brasil, e não os eleitores". Segundo o jornal britânico, antes da prisão de Lula a meados de abril, as ramificações da possível remoção da candidatura de Lula revelavam “o vácuo de liderança que reside no coração da política brasileira, e a ausência de alternativas”199.

198Financial Times, 25/01/2018. 199Idem.

A então presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, fez o possível para não voltar atrás na decisão de bloquear a discussão das ações sobre condenação em segunda instância, de relatoria do ministro Marco Aurélio Mello. Um recuo forçado esvaziaria sua autoridade como presidente do Supremo. Ela ficaria esvaziada até setembro, quando teria que passar a cadeira ao ministro Dias Toffoli. Assim, preferiu colocar o habeas corpus preventivo de Lula para que a decisão fosse mais contraditória, ao ser nominal: não se julgaria uma tese abstrata, mas um recurso com nome e endereço.

No interior do Judiciário golpista, 11 ministros do STF se encarregariam de decidir os rumos políticos do país: ministros que não foram eleitos por ninguém, cumulados de privilégios materiais e altos salários, e que respondem aos interesses da classe dominante.

Como se não bastasse, a cúpula do Exército entrou como fator de pressão para que o STF negasse o habeas corpus preventivo de Lula e selasse sua condenação arbitrária. O comandante das Forças Armadas, Eduardo Villas Bôas, publicou em uma rede social que o Exército "julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade". A declaração foi realizada na véspera do julgamento no STF. Villas Bôas ainda destacou que "nessa situação que vive o Brasil" era preciso questionar às instituições e ao povo quem "está pensando no bem do País" e "quem está preocupado apenas com interesses pessoais".

Alguns generais ecoaram a mensagem de Villas Bôas, entre eles o general Miotto, o general Freitas e o general Chagas, entusiastas do contrarrevolucionário golpe militar de 1964, que acabava então de completar 54 anos. O general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa foi mais longe, e ameaçou uma possível intervenção militar caso Lula não fosse preso, se candidatasse e fosse eleito.

Antes da manifestação do Alto Comando, o Ministério Público Federal, a Procuradora geral da República, Raquel Dodge, e outras figuras do golpismo institucional se posicionaram também pela negação do habeas corpus, por trás do discurso do "perigo da impunidade" que significaria o "aniquilamento da justiça".

Ficava mais do que evidente, como se fosse necessário mais clareza, que o discurso de que o julgamento fora feito de maneira “lisa e correta”, segundo “os parâmetros da constituição”, não se sustentava de maneira alguma: a negação do habeas corpus fora feita em base à ameaça das Forças Armadas.

O Supremo Tribunal Federal negou o habeas corpus a Lula, e permitiu que o TRF-4 enviasse a Moro o despacho que assegurava o mandato de prisão. Lula foi preso no dia 7 de

abril, após uma missa e um palanque eleitoral montado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

Simbólica recapitulação de Lula sobre seu próprio passado. Às vésperas de sua entrega pacífica à polícia federal e aos golpistas que cometeram uma série de arbitrariedades, Lula relembra como era considerado pelos trabalhadores em greve, no poderoso ascenso operário de 1978-80, como "pelego". Frente a isso, Lula "ficou pensando com ar de vingança contra os trabalhadores”.

Relatou com detalhes como queria quebrar a vontade de combate dos trabalhadores na Vila Euclides, que chegaram a fazer um ato com 50 mil em 1980, chamando "assembleias pela manhã porque à tarde havia perigo de que se radicalizassem". Ao relatar sua política de traição da onda de greves, e convencer de que "se ganhava mais na derrota", Lula disse a verdade. Em meio ao ascenso que colocava os trabalhadores como protagonistas da luta por derrubar a ditadura militar, Lula e os "autênticos" bloquearam a dinâmica de um processo revolucionário no Brasil.

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