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Por que não houve movimento nas ruas em defesa de Lula?

5. O golpe institucional

5.7 Por que não houve movimento nas ruas em defesa de Lula?

Essa é uma pergunta que não encontra resposta na boca dos principais portavozes do PT. Nem mesmo Lula se atreve a ensaiar uma resposta. Frente à repudiável arbitrariedade do agentes do golpe institucional que deram continuidade à degradação bonapartista desta democracia burguesa, a sigla nascida em 1980 trata de escapar de uma incômoda constatação: preparou o terreno para as forças golpistas, com as quais governou e das quais assimilou tanto os métodos tradicionais de corrupção, quanto a conduta de ataques aos trabalhadores e ao povo pobre de quem tanto se julgava a principal representação.

Em sua fala no caminhão de som, enfatizando em primeiro lugar a lista dos candidatos eleitorais do PT, PCdoB e PSOL ao invés do combate ao autoritarismo estatal, Lula deu detalhes sobre seu papel traidor durante o ascenso operário de 1979-1980. Em todos os momentos políticos decisivos das décadas de 1980 a 1990, o PT rememorou sua estratégia de conciliação e subordinação da luta de classes dos trabalhadores. Sendo um pilar do regime da “Nova República” instalado em 1988 e uma das principais válvulas de contenção da luta de classes para que os capitalistas lucrassem na década de 2000, o PT explicitou, num momento dramático de sua história, que sua defesa é a de governabilidade burguesa, não a batalha contra os ataques golpistas nessa democracia degradada.

Por que as massas não se levantaram contra a prisão de Lula? A explicação está nos 13 anos em que o PT administrou o sistema capitalista brasileiro. O PT construiu a desmoralização das massas nos 13 anos de governo em que assumiram como próprios os métodos de corrupção inerentes a todo governo capitalista.

Essa desmoralização foi construída pelo PT no interior do movimento de massas com distintos mecanismos, além da despolitização e o incentivo à desorganização dos trabalhadores. Não há que esquecer que o PT aplicou um plano de ajustes próprio contra os trabalhadores – no segundo mandato de Dilma Rousseff, que tinha Joaquim Levy como Ministro da Fazenda – após o momento de crescimento econômico que lhes permitiu dar algumas concessões às massas enquanto garantiam lucros inéditos a setores capitalistas nacionais e estrangeiros. Construíram a desmoralização das massas porque quando alas da burguesia começaram a colocar de pé a articulação de um golpe institucional, o PT, pela via de suas centrais sindicais, impediu o desenvolvimento da luta independente dos trabalhadores pra barrar o golpe.

Em junho de 2013 houve um levante de massas no qual o PT também era alvo da revolta popular, que o identificava como parte integrante do sistema político capitalista que precarizava suas condições de vida. Naquele momento não somente as centrais sindicais dirigidas pelo PT e pelo PCdoB (respectivamente, a CUT e a CTB) envidaram esforços para separar a luta da juventude da luta organizada do movimento operário, como a intelectualidade petista atacou este levante de massas chamando-o de “embrião do golpe” ou associando-o aos “movimentos da década de 30”200, temerária pelo questionamento ao seu papel de conciliação de classes e subordinação ao imperialismo.

O choque entre as demandas mais sentidas das massas e o programa reformista de salvação capitalista do PT leva a crises como a das Jornadas de Junho de 2013. A subordinação ao capital estrangeiro através do pagamento da dívida pública que é 40% do orçamento público federal e a subordinação aos lucros capitalistas leva a que as próprias concessões do PT tenham sido em base ao trabalho precário e ao crédito fácil, em condições excepcionais de crescimento econômico, mas ligada a manter as condições de saúde, educação, transporte e moradia, ou seja, os serviços básicos da população em níveis cada vez mais precários.

200Ver entrevista de Marilena Chauí, professora da USP, sobre as Jornadas de Junho. O Cafezinho, 28/08/2013.

Ou seja, o PT governou com um programa que destinava 40% do orçamento público federal ao capital financeiro internacional, ao mesmo tempo em que buscava manter os lucros capitalistas e a promoção dos grandes monopólios.

Para mascarar este choque, sua intelectualidade dizia que as Jornadas de Junho ou a qualquer questionamento pela esquerda ao governo do PT se resumiam a “forças de direita” e enquanto isso retomavam sua prática história colocando para dentro do próprio governo as figuras mais emblemáticas da direita brasileira como Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e tantos outros. Tentavam convencer as massas de que pra manter as melhorias de vida era preciso “entrar no jogo capitalista” e por isso garantir a governabilidade.

Com este discurso abriram alas pra todos os agentes do golpe institucional, o que foi acompanhado por uma crise econômica internacional que mostrou que as concessões do governo petista se fundavam em condições (entrada de alto volume de dólares, voracidade da China pelas matérias-primas brasileiras, alto preço das commodities, como minério de ferro e soja) que permitiram fazer estas concessões mantendo intactos os lucros empresariais. Quando estes lucros são colocados em risco pela crise de 2008 (que na América do Sul se fez sentir em 2013), já não era mais possível esta fórmula e o governo Dilma Rousseff foi o primeiro a começar a aplicar os planos de ajustes que a burguesia queria a fim de descarregar a crise sob as costas dos trabalhadores. Não o fizeram de forma integral e nem com o ritmo que os capitalistas gostariam, por isso foi necessário um golpe institucional. Aqui o “alerta” da intelectualidade petista contra a direita soou como palavras ao vento: quando a direita de verdade organizou o golpe, foram impotentes para resistir.

Sintetizamos alguns aspectos marcantes da crise orgânica brasileira e as modificações econômicas promovidas pelas contrarreformas neoliberais do governo ilegítimo de Michel Temer. Se levarmos em conta a concepção de uma “transformação por dentro das instituições do Estado”, um partido que se denomina porta-voz das aspirações do povo trabalhador, como o PT, deveria poder apresentar uma reversão, como mínimo, daqueles que foram os principais pilares da década neoliberal.

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