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A contextualização como diferencial no jornalismo profissional

Na Era da Informação, mensagens de todo tipo circulam de forma mais rápida e aberta, e isso inclui a informação de interesse público que é o foco do jornalismo. Sandano (2015) observa que nesse cenário global de trocas informacionais constantes e novos recursos de comunicação, os paradigmas que orientam a prática jornalística são repensados e a própria necessidade social dos jornalistas chega a ser questionada. Para o autor, o momento exige que se pense o significado do jornalismo na contemporaneidade, atualizando a compreensão acerca dessa forma social de conhecimento em sua especificidade epistemológica, levando-se em conta as particularidades do contexto social do mundo interconectado. Trata-se de pensar o jornalismo como “[...] uma forma de conhecimento que insere redescrições da realidade no mundo contemporâneo” e que “[...] articula o caos informativo em um conjunto organizado de vozes e sentidos”; mais especificamente, o jornalista surge como o profissional que “[...] tem uma função importante a desempenhar no mundo

contemporâneo vis-à-vis novos mediadores comunicacionais”, caracterizando-se como o mediador qualificado que estabelece o diálogo dentro do caos informativo (SANDANO, 2015, p. 18 e 29). A marca autoral do jornalista, para Sandano, pode ser um dos caminhos para que o jornalismo encontre e entenda seu papel no ecossistema comunicacional que se consolida em meio às estruturas sociais, cognitivas, políticas, econômicas e culturais que vêm sendo transformadas pelas tecnologias digitais. E uma das maneiras para que o jornalista (e o jornalismo) assuma essa marca autoral e se firme no papel de mediador qualificado, para o autor, está na capacidade de contextualizar as informações e fomentar o diálogo entre diferentes âmbitos sociais, indo além de um papel de curadoria de informação. Trata-se de um processo de qualificação cognitiva que é uma especificidade do jornalismo. “O diferencial que o jornalismo pode oferecer, tanto social quanto como um produto economicamente sustentável, está onde os algoritmos não alcançam” (SANDANO, 2015, p. 164).

Eis uma questão relevante que vários outros autores vêm buscando responder: quais os diferenciais do jornalismo profissional, hoje, em meio a uma avalanche de informação em livre circulação? Trata-se de uma boa pergunta condutora de nossa reflexão direcionada ao contexto. Um dos trabalhos recentes mais relevantes e abrangentes em relação ao futuro do jornalismo, já abordado no capítulo anterior, e que reitera a função de contextualização dos acontecimentos como especificidade que pode ser assumida pelo jornalismo profissional melhor do que por qualquer outra área, é o dossiê lançado em 201289 por pesquisadores da Universidade Columbia. Para Anderson, Bell e Shirky (2013), um dos diferenciais da atividade jornalística está no que ela envolve de trabalho intelectual, portanto deve ser encarada como um empreendimento que é um serviço público e que mobiliza competências e habilidades específicas. O trabalho de apuração é o âmago da atividade jornalística; “[...] é a função que serve de forma mais direta o interesse público” (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013, p. 43). Os autores destacam que o trabalho jornalístico tende a ser mal compreendido pelas pessoas que não têm familiaridade com a área e com suas rotinas e procedimentos ou que desconhecem as peculiaridades do meio; o trabalho de reportagem pode até mesmo ser considerado “[...] simplista ou metodologicamente ingênuo [...]”, mas, ressaltam os autores, trata-se de “[...] uma empreitada intelectual nada banal [...]” (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013, p. 43).

89 O dossiê foi traduzido para o português e publicado no Brasil em 2013, com o título “Jornalismo pós-industrial: adaptação aos novos tempos”.

Obter informações, elaborar perguntas, localizar documentos cruciais, decifrar rotinas de organizações, interpretar discursos e dados brutos, entrevistar de forma assertiva, observar em primeira mão, estabelecer conexões entre acontecimentos, entre outras operações cognitivas, são práticas de apuração características do trabalho jornalístico profissional, e é o jornalista quem melhor desempenha esse papel. Ressaltem-se ainda as habilidades de produção textual específicas, que, para muito além do “escrever bem”, envolvem o domínio das técnicas de redação para cada gênero informativo, veículo, público e mídia. Em áreas particulares como economia e ciência, vale acrescentar, torna-se salutar que o jornalista alcance determinado grau de especialização para ser capaz de disponibilizar a informação técnica de interesse público em linguagem acessível para o maior número de pessoas.

Na análise dos desafios enfrentados na época que identificam como sendo a de um “jornalismo pós-industrial”, Anderson, Bell e Shirky (2013) partem de cinco pressupostos para apresentar suas proposições com vistas à sobrevivência do jornalismo profissional: (a) o jornalismo é essencial; (b) o bom jornalismo sempre foi subsidiado; (c) a internet acaba com o subsídio da publicidade; (d) uma reestruturação é obrigatória; e (e) há muitas oportunidades para fazer um bom trabalho de novas maneiras. No que diz respeito ao primeiro pressuposto, afirmam que a explicação de temas complexos a um público geral é uma das atribuições que justificam a existência do jornalismo na sociedade atual. Os jornalistas têm simultaneamente os papeis de porta-vozes da verdade, formadores de opinião e intérpretes da realidade, não se restringindo, dessa forma, a narradores de fatos. Ao contextualizar a informação, que hoje se encontra em quantidade abundante e de forma desorganizada, o jornalista contribui para que ela repercuta e adquira significado relevante junto ao público. Para os autores, esta é uma das atribuições que o jornalista pode desempenhar melhor do que ninguém:

Em muitos acontecimentos de relevância jornalística, é cada vez mais provável que a primeira descrição dos fatos seja feita por um cidadão conectado, não por um jornalista profissional. Em certas situações – desastres naturais, chacinas – a transição já foi concluída. Nesse caso, como no de tantas outras mudanças no jornalismo, a erosão de velhas formas de agir é acompanhada da expansão de novas oportunidades e de novas necessidades de um trabalho jornalisticamente importante. O jornalista não foi substituído – foi deslocado para um ponto mais acima na cadeia editorial. Já não produz observações iniciais, mas exerce uma função cuja ênfase é verificar, interpretar e dar sentido à enxurrada de texto, áudio, fotos e vídeos produzida pelo público (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013, p. 43).

É fato que hoje em dia muitos assuntos relevantes são divulgados em primeira mão por pessoas que não são jornalistas profissionais, por meio de mídias sociais cada vez mais interativas. Anderson, Bell e Shirky ponderam que isso não significa que os jornalistas tenham se tornado dispensáveis: nessa nova realidade, o papel do jornalista tende a se transformar. E, na medida em que o jornalismo é essencial e passa por mudanças profundas no campo profissional, é preciso, segundo os autores, explorar novas possibilidades para garantir a sobrevivência da atividade. Compreender as reviravoltas pelas quais a área está passando é essencial e, nesse cenário, uma das questões a responder é: que papel o jornalista pode desempenhar melhor do que ninguém? Dar sentido ao imenso volume de acontecimentos noticiados todos os dias é um dos papeis destacados pelos pesquisadores de Columbia, que defendem a visão do jornalismo como bem público essencial para as sociedades democráticas (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013).

Para Kovach e Rosenstiel (2010), as noções de jornalismo, de comunidade e de democracia são inseparáveis, e nessa tríade o jornalismo deve ser visto como um meio de promoção de conexão social e forma de conhecimento, associado mais a um serviço do que a um produto no qual são veiculados anúncios ou notícias como mercadorias. Nesse cenário, o fato de o público conquistar proatividade no consumo e produção das notícias sugere a emergência de uma nova forma de cidadania, que, no entanto, não chega a invalidar o papel de gatekeeper do jornalista – ele apenas passa a desempenhar essa função em uma esfera mais restrita. Na visão dos autores, o jornalista não deixa de ser mediador entre o público e a informação, mas perde esse monopólio. Kovach e Rosenstiel veem nessa mudança uma oportunidade para que o jornalismo ganhe qualidade, desde que haja uma compreensão das necessidades do público em relação às notícias, das potencialidades das tecnologias e das tarefas que os jornalistas devem desempenhar para atender a essas demandas. Dessa forma, o jornalista não necessariamente decide o que o público deve saber, mas trabalha para organizar a informação e torná-la útil – o que não significa apenas adicionar interpretação ou análise ao trabalho de reportagem, mas envolve o cumprimento de uma série de procedimentos diferentes e mais sutis. Um desses procedimentos é agir como “produtor de sentido”,90 situando os acontecimentos em contexto de modo a construir conhecimento. Uma ideia importante, para Kovach e Rosenstiel, é a de que a abundância de informações disponíveis contribui para a dispersão e dificulta que

elas sejam organizadas em forma de conhecimento. Ao organizar e colocar a informação em contexto, o jornalista busca conexões e possibilita que o público tenha elementos para decidir o que a notícia significa. Dar sentido, afirmam, implica:

[...] procurar informações que expliquem por que ou como as coisas aconteceram. Envolve olhar para as implicações da notícia e identificar que questões ficaram sem resposta [...] e nos ajudar a entender que questões se tornarão importantes depois. O papel de produtor de sentido, em outras palavras, não é necessariamente um papel de comentarista. É jornalístico. Envolve encontrar fatos e informações que, quando bem contextualizados, fazem a ficha cair" (KOVACH; ROSENSTIEL, 2010, p. 176-177).91

Um dos desafios enfrentados pelas pessoas que consomem notícias no mundo hiperconectado e de informação abundante, para Kovach e Rosenstiel, é decidir que fonte é confiável; em outras palavras, como saber se as informações são verdadeiras. Para esse público mais autônomo, que muitas vezes assume por si mesmo o papel de editor de seu próprio conteúdo, os autores propõem seguir passo a passo o “caminho do conhecimento cético”92 – uma metodologia bastante prática que corresponde a responder uma sequência de questões e que auxilia o leitor ou espectador na reflexão em torno do grau de confiabilidade das notícias. Além de ser um instrumento passível de aprofundamento e maior exploração em experiências e pesquisas que envolvam alfabetização midiática, a proposta de Kovach e Rosenstiel também contribui com pistas metodológicas promissoras para um possível “caminho da contextualização jornalística” ou um “percurso do conhecimento contextualizado”. De acordo com os autores, o “caminho do conhecimento cético” equivale a elaborar uma série de perguntas sistemáticas e a saber executar as operações em busca das respostas. Essas questões e o conhecimento de como resolvê-las fazem parte do que chamam de “disciplina da verificação”. “Em algum sentido, embora nem sempre de forma tão consciente e raramente numa lista tão detalhada, essas são as perguntas que os profissionais fazem não só no jornalismo, mas em todos os domínios do empirismo” (KOVACH; ROSENSTIEL, 2010, p. 31). As perguntas são as seguintes: (a) A informação está completa? Se não está, o que falta? (b) Quem ou quais são as fontes dessa informação? Por que eu deveria acreditar nelas? (c) Que provas são

91 No original: “[...] looking for information that explains why or how things happened. It implies looking at the implications of the news and identifying what questions were left unanswered [...] and helping us know which questions will be important next. The sense-maker role, in other words, is not a commentator role necessarily. It is reportorial. It involves finding facts and information that, as good sense making does, makes the tumblers click.”

apresentadas? Como elas foram testadas ou examinadas? (d) Quais podem ser as alternativas para explicação ou compreensão? e (e) Eu estou aprendendo o que preciso aprender? (KOVACH; ROSENSTIEL, 2010)

A “disciplina da verificação” consiste em qualquer processo que o jornalista adote para chegar o mais próximo possível da verdade no acontecimento de que trata; esse processo pode envolver diferentes métodos, como a busca de várias testemunhas dos fatos relacionados e a abordagem do maior número possível de pontos de vista. Para os autores, a verificação, seja institucionalizada ou adotada de forma pessoal pelos jornalistas, é aquilo que separa o jornalismo do entretenimento (e de seu “primo” infotenimento), da propaganda, da ficção e da arte. “Apenas o jornalismo tem foco no processo empregado para captar exatamente o que aconteceu” (KOVACH; ROSENSTIEL, 2014, p. 99).93 Em outras palavras, é a busca prioritária pela verdade que diferencia o jornalismo das outras formas de comunicação.

Para o conhecimento cético, também é importante reconhecer os tipos de informação a que se está tendo acesso – como, por exemplo, saber discernir entre jornalismo, publicidade, entretenimento e informação bruta. No que diz respeito ao jornalismo, Kovach e Rosenstiel identificam quatro modelos de conteúdo: (a) o jornalismo de verificação, mais tradicional, que tem precisão e contexto como valores maiores; (b) o jornalismo de asserção, que tem foco na imediaticidade e no volume de informações; (c) o jornalismo de afirmação, que consiste em corroborar as crenças de seu público, e portanto tende a priorizar informação que sirva a esse propósito e não se preocupa com precisão, contexto ou verificação; e (d) o jornalismo de grupos de interesse, que inclui determinados websites ou matérias, em geral investigativas, e é geralmente financiado por interesses específicos e não por grupos de mídia tradicional. Nesses modelos podem se manifestar diversas formas midiáticas como agregação, blogs, redes sociais e outras manifestações pelas quais a informação se dissemina. E é possível que uma mesma matéria ou produto jornalístico apresente caraterísticas de mais de um modelo: dentro de um programa de rádio tradicional, pode-se encontrar espaço para comentários característicos de um jornalismo de afirmação, assim como boletins de “últimas notícias”, típicos do jornalismo de asserção. Kovach e Rosenstiel ponderam que não há “leis” que obriguem essa categorização, porém sustentam a importância de que um consumidor

93 No original: “Journalism alone is focused on the process employed to get what happened down right.”

ativo identifique as diferenças entre os tipos de conteúdo, e em especial do conteúdo noticioso – ou seja, reconhecer entre o oceano de informação quais delas vêm trazidas por correntes opinativas, ou são filiadas a tendências políticas, ou representam determinados grupos sociais que produzem jornalismo independente voltado a suas causas de luta política, ou ainda mantêm uma proposta de jornalismo hard news, de pauta abrangente e preocupado com o aprofundamento dos acontecimentos numa perspectiva plural. Com o fluxo livre de informação e a grande disponibilidade de notícias que chegam por cabo, on-line, e-mail e outras vias, cada consumidor seleciona o que lhe interessa e cria seus próprios pacotes de informação; porém, todos os conteúdos – os escolhidos e os não escolhidos – se apresentam como verdadeiros. Nesse sentido, é importante ter clareza dos tipos de conteúdo jornalístico, para os autores:

Alguns podem argumentar que identificar o tipo de notícia que se recebe é irrelevante. Informação útil pode vir de qualquer lugar, a qualquer tempo. A noção de categorias e rótulos é peculiar, mas fora de moda. Quem se importa com o lugar de onde as notícias vêm ou como elas são reportadas? Se é útil, tem valor. Esse argumento parece atraente à primeira vista. Redefina os parâmetros de discussão, e voilà, o problema desaparece. Mas, no mundo real, o contexto importa. Se a informação é apresentada como factual e desinteressada, você terá um conjunto de expectativas. Se é apresentada como uma análise ou discussão, você terá outro. Quando encontrar uma matéria factual, você vai esperar uma descrição independente do que aconteceu, com os fatos básicos oferecidos de uma maneira com a qual todos poderiam concordar. Ao encontrar uma análise ou discussão, você na verdade poderia ter expectativas mais baixas sobre quão completa será a descrição. Mas provavelmente você irá esperar que o argumento seja mais integralmente destacado, com mais evidências na retaguarda e talvez alguma antecipação e resposta a qualquer objeção que possa ocorrer à audiência (KOVACH; ROSENSTIEL, 2010, p. 35)94.

Quando instigam o jornalista ou o leitor a refletir sobre a completude da informação em um texto, Kovach e Rosenstiel remetem ao procedimento metodológico de responder às seis questões básicas do lead jornalístico – quem, o

94 No original: “Some might argue that identifying the kind of news one gets is irrelevant. Useful information can come from anywhere anytime. The notion of categories and labels is quaint but out- of-date. Who cares where news comes from or how it is reported? If it is useful, it has value. That argument seems appealing at first blush. Redefine the parameters of the discussion, and voilà, the problem vanishes. But in the real world, context matters. If information is presented as factual and disinterested, you will have one set of expectations. If it is presented as an analysis or argument, you will have another. When encountering a news story, you will expect an independent description of what has happened, with the basic facts offered in a way that everyone could agree with. If there are controversies, you expect to hear a basic outline of the different viewpoints. When encountering an analysis or argument, you might actually have lower expectations for how complete the description will be. But you likely will expect the argument to be outlined more fully, with more evidence behind it and perhaps some anticipation and response to any objections that might occur to the audience.”

quê, quando, como, onde, por quê – e sugerem que, embora essas perguntas sejam úteis apenas até o ponto em que conseguem ir, ainda é possível acrescentar uma formulação: que questões essa matéria deixa em aberto? Historicamente os jornalistas foram ensinados a aparentar uma onisciência em suas produções, ou seja, a supostamente saberem tudo a respeito do assunto coberto e não deixarem perguntas em aberto. Para os autores, a ideia de que o jornalista nunca deve levantar questões que não têm respostas é um conselho equivocado. “Vão surgir questões na cabeça do público. Os fatos fazem surgir perguntas por eles mesmos, e o leitor ou telespectador pensante inevitavelmente vai levantar questões” (KOVACH; ROSENSTIEL, 2010, p. 62).95 Esse método de pensamento por meio do levantamento de questões a serem respondidas, para os autores, faz parte do processo de contextualizar.

Entre os quatro modelos de jornalismo descritos por Kovach e Rosenstiel, o jornalismo de verificação é o que mais dá ênfase à importância do contexto. No ethos desse modelo encontra-se a precisão dos fatos – “facts over opinion”, ou os fatos acima da opinião, salientam os autores –, numa busca constante pela máxima aproximação com a verdade por meio da verificação das informações.96 Num sentido estrito, esse seria o modelo tradicional de jornalismo noticioso. Os autores ressaltam que com a atual crise de confiança impulsionada pela tecnologia, precisão e verificação estão no âmago do esforço dos jornalistas para recuperar a razão de ser da atividade: apenas publicar os fatos não é suficiente, mas também seu contexto, a apresentação jornalística e a impressão que eles causam devem ser bem apurados e precisos. “O jornalismo de verificação dá um grande valor à completude: respondendo questões que os fatos de um acontecimento podem sugerir e tentando colocar esses fatos em um contexto completo de modo que eles possam ser compreendidos da maneira como ocorreram” (KOVACH; ROSENSTIEL, 2010, p.

95 No original: “Questions will arise in the audience’s mind. The facts raise the questions by themselves, and the thinking reader or viewer will inevitably wonder.”

96 Kovach e Rosenstiel (2014) usam literalmente a expressão “journalism of verification”, que numa tradução direta para a língua portuguesa corresponde a “jornalismo de verificação”. Não se trata rigorosamente do mesmo sentido atribuído por Seibt (2018) ao tipo ideal “jornalismo de verificação”, proposto como uma forma desviante do jornalismo de comunicação (nos termos descritos por Charron e De Bonville) e que teria na forma textual do fact-checking sua principal manifestação empírica. O “jornalismo de verificação” descrito por Kovach e Rosenstiel corresponde ao jornalismo informativo, portanto sua concepção é mais ampla e não está relacionada com a recente emergência do fact- checking; já o tipo ideal de Seibt incorpora elementos da disciplina da verificação (nos termos de Kovach e Rosenstiel) na prática de fact-checking.

37).97 Nesse modelo, a busca é por um relato confiável, abrangente e inteligente dos acontecimentos, dentro de um contexto que lhes dê significado, sem perder de vista a precisão, a inteligibilidade e a preocupação com a verdade.

Ante os desafios impostos pelas tecnologias digitais no século XXI ao jornalismo, Kovach e Rosenstiel discutem também os valores que os jornalistas profissionais devem cultivar ao seguir os princípios norteadores da profissão. A lista de dez elementos essenciais – elaborada originalmente na primeira edição da obra “Os elementos do jornalismo”, lançada em 2001, e mantida nas edições subsequentes até a mais recente, de 2014 – tem entre esses princípios-chave ao menos três que