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Vêm da Alemanha, terra natal tanto da prensa de tipos móveis quanto do primeiro jornal impresso diário,42 os esforços pioneiros para a compreensão teórica da atividade jornalística. É notória a originalidade do médico e teólogo Tobias Peucer,43 aluno da prestigiada Universidade de Leipzig, que em 1690 apresentou a tese intitulada “Os relatos jornalísticos”. Numa época de intensas mudanças políticas e sociais, na qual a sociedade ainda se adaptava às transformações nos âmbitos político e privado provocadas pela Reforma Protestante, o estudo de Peucer identifica como causas do aparecimento dos periódicos tanto a curiosidade das pessoas em relação aos acontecimentos a seu redor quanto o interesse comercial dos produtores e vendedores dos jornais. Como observa Sousa (2004b), o período era de ebulição social e isso refletia na receptividade do público à publicação de notícias sobre os acontecimentos relevantes, em uma esfera pública que se constituía.

Peucer, dessa forma, foi um observador perspicaz da heterogênea imprensa informativa em sua época, quando ainda nem se falava, propriamente, em jornalismo. Sousa (2004b) sugere inclusive que é com Peucer que o campo jornalístico começa a se consolidar, já que temas pertinentes à teoria contemporânea já estão presentes em sua tese, como a questão da verdade, critérios de noticiabilidade, agendamento e credibilidade. É possível também inferir do trabalho de Peucer um conceito de jornalismo: o autor associa os relatos jornalísticos a uma “forma confusa” da história, ou seja, a uma forma de relatar os acontecimentos que não obedece a uma linha do tempo com a sucessão precisa dos fatos. O relato jornalístico preocupa-se em notificar “[...] coisas diversas acontecidas recentemente em qualquer lugar que seja”, dando importância à sucessão dos fatos inter- relacionados e suas causas, destacando tanto os fatos históricos mais importantes quanto questões da vida cotidiana que despertem a atenção das pessoas (PEUCER, 2004, p. 15-16). Mesmo não tratando de forma elaborada de uma relação entre

42 Sousa (2004a) ressalta que a originalidade da invenção do tipógrafo germânico Johannes Gutenberg (1400-1468) foi a utilização de tipos móveis fundidos em metal, o que permitiu a criação de múltiplos caracteres e com isso a agilização do processo de impressão, favorecendo a multiplicação das tipografias, a explosão da produção de folhas volantes e de gazetas, que podem ser consideradas as antepassadas dos jornais do século XX. Sousa nomina também o jornal Leipziger Zeitung, da cidade de Leipzig, atual estado da Saxônia, na Alemanha, como o primeiro jornal diário generalista e noticioso de que se tem notícia, lançado em 1660 – embora o próprio Sousa pondere que o Leipziger não circulava rigorosamente todos os dias.

43 Os textos sobre Tobias Peucer em geral não mencionam dados biográficos mais detalhados sobre o autor; a Wikipedia alemã (https://de.wikipedia.org/wiki/Tobias_Peucer) informa que tenha vivido provavelmente entre os anos de 1660 e 1696.

jornalismo e conhecimento, Peucer já tem uma percepção sobre o papel que aquilo que ainda viria a ser chamado de jornalismo desempenhava na orientação da vida cotidiana, no final do século XVII.

Se Peucer detém o mérito da autoria de um estudo teórico sobre o jornalismo ainda na Europa pós-renascentista, é ao também alemão Otto Groth (1875-1965) que se credita o primeiro esforço teórico de compreensão do jornalismo moderno como uma ciência independente. Em obra da década de 1940, Groth (1948 apud RÜDIGER, 2017) observa duas fases nos estudos alemães sobre a imprensa periódica: a primeira, do final do século XVII até o início do século XX, quando os estudos sobre o jornalismo eram desenvolvidos por sociólogos, historiadores e intelectuais que atuavam nos periódicos, no âmbito de disciplinas conexas; e a segunda, que inicia com sua própria obra, focada na proposição de uma ciência especializada e autônoma. No que diz respeito especificamente à relação entre jornalismo e conhecimento, é possível identificar uma interpretação do jornalismo como prática social que gera conhecimento em Karl Philipp Moritz (1756-1793), que, no contexto do Iluminismo, defendia que a imprensa se transformasse em agente de transformação social para além do relato noticioso, convertendo-se em “[...] ‘veículo de conhecimento popular’ e ‘voz da verdade para toda a humanidade’. O ethos vocacional alemão, segundo o qual a tarefa da imprensa consistiria em unir a informação com um pensamento esclarecido, deu seu primeiro sinal” (GROTH, 1948 apud RÜDIGER, 2017, p. 50).44 Nessa primeira fase dos estudos dos periódicos na Alemanha, o foco predominante nas reflexões eram as polêmicas levantadas pela imprensa e sua utilidade na condução dos assuntos de governo; gradualmente, a formação da opinião pública e a questão da liberdade de imprensa vão, também, chamando a atenção dos estudiosos (RÜDIGER, 2017).

No período entreguerras, Groth publica o tratado intitulado “O jornal – um sistema de estudo”, em quatro volumes, no qual lançava as bases da chamada “jornalística”, abordava a história e o significado dos periódicos, o público e sua relação com a imprensa, além dos meios e organizações jornalísticos; propunha, na definição de Rüdiger (2017, p. 73), “[...] um sistema de conhecimento do jornal e do jornalismo”.45 Em “O poder cultural desconhecido”, obra ainda mais extensa

44 Essa menção aparece na revisão apresentada por Rüdiger (2017) sobre o pensamento acadêmico em jornalismo a partir do século XVII, que toma como referência tanto Groth quanto outros autores. 45 Não era consenso entre os estudiosos, contudo, a ideia de que a “jornalística” se sustentasse como disciplina autônoma: autores como Karl Büchler e Karl d’Ester defendiam que os periódicos deveriam

publicada em sete volumes nos anos 1960, sendo o último póstumo, Groth retoma e amplia suas principais ideias, abrangendo no objeto de análise as revistas impressas e mantendo como proposta a fundamentação da ciência do jornal, agora chamada de “periodística”. A relação entre jornalismo e conhecimento nos diversos setores da vida é apontada como justificativa para a constituição da disciplina autônoma logo nas páginas iniciais da primeira parte do livro:

Não foi sem razão que nossa época foi chamada de “jornalística”. A mente do homem de hoje é comodelada e preenchida em boa parte pelo jornalismo. O jornalismo determina principalmente a direção do pensar e do querer de amplas camadas sociais. E não somente destas: dele depende em grande parte o saber e com isso a capacidade de discernimento do povo como um todo. A influência jornalística se espalha por todas as áreas da vida. Sobretudo a imprensa periódica é um fator econômico importante para diversos grupos, apesar da concorrência crescente, e ela ainda é dominante na vida pública (GROTH, 2011, p. 31).

O empenho de Groth em delimitar a ciência jornalística envolve a diferenciação entre esta e a chamada “publicística”, além da descrição exaustiva das quatro características estruturais do jornalismo – periodicidade, universalidade, atualidade e difusão. O autor dedica-se também à argumentação em torno dos motivos pelos quais a ciência dos jornais e das revistas deve possuir objeto próprio e autônomo, não podendo ser incorporada a áreas de estudo como a sociologia, a psicologia social ou a literatura; no entanto, reconhece que sua diversidade e “perplexidade de relações com o todo sociocultural e todas as suas partes e membros” resultam na dependência do auxílio de outras ciências para seu desenvolvimento. Dado que “jornais e revistas são obras culturais” (GROTH, 2011, p. 33), o que faz com que a ciência dos jornais seja considerada uma “ciência da cultura”, entendida como processo dinâmico coletivo de criações mentais humanas, Groth admite o diálogo da periodística com a sociologia da cultura, a filosofia, a psicologia e outras áreas, inclusive das ciências naturais. “Pode-se dizer que por causa do caráter universal do jornal (da revista), não há nenhuma ciência humana cujos serviços a Ciência dos Jornais não teria que solicitar” (GROTH, 2011, p. 125).

Nos Estados Unidos, também na primeira metade do século XX, a relação entre jornalismo e conhecimento foi estudada de forma aprofundada no célebre ensaio “A notícia como forma de conhecimento”, publicado pelo jornalista e sociólogo

ser estudados a partir do ponto de vista de várias disciplinas. Já Emil Dovifat e outros autores seguiam uma perspectiva que priorizava os estudos de jornalismo associados à formação da opinião pública (RÜDIGER, 2017).

Robert Ezra Park no American Journal of Sociology, em 1940. Com apoio em ideias do filósofo William James (1842-1910), Park (1940) distingue dois tipos de conhecimento que considera fundamentais: o primeiro, que no texto original em inglês designa como “acquaintance with”, pode ser compreendido como familiaridade com as coisas; o segundo, que no original é chamado de “knowledge about”, refere-se ao conhecimento sistemático e formal.46 O tipo de conhecimento que se restringe à familiaridade com as coisas é adquirido na vida cotidiana, em encontros pessoais e no contato direto com experiências corriqueiras; trata-se de um conhecimento nutrido por meio do uso e do hábito, e não por meio de investigação formal e sistemática. Senso comum, habilidade e conhecimentos técnicos, conhecimentos adquiridos por meio de treinamentos práticos e conhecimento clínico podem, para Park, ser compreendidos como formas de familiaridade com as coisas. Já o conhecimento “sobre as coisas” (“knowledge about”) caracteriza-se por ser formal, racional e sistemático. “É baseado em observação e fato, mas em fato que foi checado, classificado, sistematizado e finalmente organizado nesta e naquela perspectiva, de acordo com o objetivo e o ponto de vista do pesquisador” (PARK, 1940, p. 672).47 Pela descrição, “knowledge about” é, precisamente, o conhecimento obtido por meio de um método científico.

O conhecimento formal resulta da investigação sistemática da natureza, feita por meio de perguntas elaboradas sobre o mundo à nossa volta. Park associa o conhecimento científico a esse tipo de conhecimento formal, que atinge precisão e exatidão ao substituir a realidade concreta por ideias e as coisas por palavras. Distingue o conhecimento científico em três tipos fundamentais: filosofia e lógica, que se interessam por ideias; história, que se interessa por acontecimentos; e ciências naturais ou de classificação, que se interessam por coisas. Uma característica importante desse tipo de conhecimento é o fato de ser comunicável, ou seja, seus problemas e soluções podem ser apresentados de forma lógica e inteligível e verificados por meio de novas experiências, uma vez que tenham sido

46 As traduções do texto de Park para a língua portuguesa disponíveis no Brasil são, no meu entendimento, pouco precisas na transposição das expressões “acquaintance with” e “knowledge about” para o contexto apresentado pelo autor. Em função disso e de outras inconsistências que serão abordadas mais adiante, optei por utilizar nesta tese o texto original de Park, de 1940, traduzindo eu mesma os trechos em citação direta e apresentando minha própria compreensão para “acquaintance with” e “knowledge about”.

47 No original: “It is based on observation and fact but on fact that has been checked, tagged, regimented, and finally ranged in this and that perspective, according to the purpose and point of view of the investigator.”

minuciosamente descritas a fonte e a maneira pelas quais os fatos e descobertas foram obtidos. O conhecimento científico, ou “knowledge about”, torna-se assim parte da herança social, “[...] um corpo de fatos e teorias testadas e reconhecidas”, enquanto o conhecimento associado à familiaridade com as coisas, ou “acquaintance with”, identifica-se com o instinto e a intuição, na medida em que se baseia “[...] na lenta acumulação da experiência e na acomodação gradual do indivíduo a seu mundo individual e pessoal” (PARK, 1940, p. 674).48

Situados em extremos, os dois tipos de conhecimento são ligados, contudo, por um contínuo no qual se encontram todos os outros tipos de conhecimento. Nesse contínuo, a notícia ocupa um lugar próprio, na concepção de Park – ou seja, é um tipo característico de conhecimento. Não chega a ser sistemático como as ciências físicas, mas guarda semelhança com a história, já que também se interessa pelo acontecimento. Mas Park pondera que o acontecimento que interessa à notícia é de natureza distinta daquele da história: “A notícia não é história porque, entre outras coisas, lida, de maneira geral, com acontecimentos isolados e não busca relacioná-los uns com os outros, seja como sequências causais ou teleológicas” (PARK, 1940, p. 675).49 O interesse do jornalismo pelo passado e pelo futuro é restrito à medida que estes servem para esclarecer algum ponto da realidade e do momento presente registrados no acontecimento noticiado. Por sua vez, a história descreve os acontecimentos situando-os em seus próprios lugares na “linha do tempo”, buscando descobrir tendências e forças que se relacionam entre eles, estabelecendo conexões e vislumbrando diferentes perspectivas, em um escopo mais amplo (PARK, 1940).

Para Park, portanto, a essência da notícia enquanto forma de conhecimento é estar atenta ao tempo presente: ela não cuida essencialmente nem do passado e nem do futuro. O autor recorre mais uma vez a uma ideia de James para referir esse atributo da notícia, o tempo presente, qualificando-o como “presente especioso”,50 ou

48 No original: “[...] a body of tested and accredited fact and theory [...] on the slow accumulation of experience and the gradual accommodation of the individual to his individual and personal world”. 49 No original: “News is not history because, for one thing among others, it deals, on the whole, with isolated events and does not seek to relate them to one another either in the form of causal or in the form of teleological sequences”.

50 A noção de “presente especioso”, ou “specious present” no original em inglês, parece ter tido seu significado despercebido nas traduções do texto de Park feitas para a língua portuguesa em edições brasileiras, possivelmente pelo fato de o autor não remeter a expressão diretamente a James, restringindo sua origem genericamente a “psicólogos”. Na tradução integrante da coletânea “Meios de Comunicação de Massa”, de Charles Steinberg, publicada em 1970 no Brasil, a expressão é traduzida literalmente como “presente especioso”, o que pode gerar dúvidas quanto a seu sentido preciso se o leitor deparar-se com o significado da palavra “especioso” no dicionário como sendo “falso, enganador, ilusório” (PARK apud STEINBERG, 1970). Já no texto publicado no segundo volume da coletânea “A

seja, um presente que na verdade é um passado muito recente fixado na memória. Para James (1950 apud FIELD, 1983), as pessoas possuem uma “memória primária” ou “elementar” que assegura a permanência do passado imediato no momento da experiência presente; já uma “memória secundária” seria aquela que evoca um passado mais distante do presente. “O presente especioso é um produto dessa memória primária que retém por algum tempo as imagens da consciência passada em uma imediaticidade sensível” (FIELD, 1983, on-line).51 Park sugere que a notícia existe apenas no presente especioso – ou seja, nesse presente volátil que é um “[...] passado imediato no momento presente da experiência” (CÉSAR, 2016, p. 81). Por extensão, compreende que no presente especioso a notícia tem certo grau de efemeridade, pois só pode ser considerada como tal até o momento em que chega ao público interessado. “Uma vez publicada e reconhecida sua importância, o que era notícia torna-se história” (PARK, 1940, p. 676).52

No âmbito da sociologia e de seu interesse pelas condições de surgimento dos diferentes tipos de conhecimento e suas respectivas funções, Park observa que as formas racionais de conhecimento eram relativamente recentes na época em que publicava o texto, há 80 anos. Por longo período na história da humanidade houve predominantemente mito, lenda e magia, com as ciências exatas começando a se desenvolver na Renascença e as sociais, em fins do século XIX. A notícia, para o autor, pode ser considerada uma das primeiras e mais elementares formas de conhecimento, pois sempre esteve presente na existência comum ou coletiva das sociedades, ainda que em formas mais rudimentares de comunicação. “A função da notícia é orientar o homem e a sociedade em um mundo real. Na medida em que o consegue, tende a preservar a sanidade do indivíduo e a permanência da sociedade” (PARK, 1940, p. 685).53

No Brasil, tem-se no jornalista, político e professor Adelmo Genro Filho referência importante no estudo do jornalismo enquanto tipo específico de conhecimento. O autor assinala sua compreensão de conhecimento como “[...] a

Era Glacial do Jornalismo: teorias sociais da imprensa”, organizado por Christa Berger e Beatriz Marocco em 2008, “specious present” aparece como “presente precioso”, o que se afasta ainda mais da ideia de James acerca de um presente que guarda a memória do passado recente (PARK apud BERGER; MAROCCO, 2008).

51 No original: “The specious present is a product of this primary memory which holds for a time the images of passing consciousness in a felt immediacy”.

52 No original: “Once published and its significance recognized, what was news becomes history”. 53 No original: “The function of news is to orient man and society in an actual world. In so far as it succeeds it tends to preserve the sanity of the individual and the permanence of society”.

dimensão simbólica do processo global de apropriação coletiva da realidade [...]” (GENRO FILHO, 2012, p. 55), concebendo o jornalismo como uma das modalidades que participam desse processo. Genro Filho desenvolve sua teoria por meio da crítica às ideias de vários estudiosos do jornalismo, dedicando a Park parte considerável do terceiro capítulo do livro “O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo”. Embora se equivoque ao definir o sociólogo como funcionalista,54 o autor reconhece a originalidade da proposição de Park, partindo de limitações observadas nas ideias desse autor para estruturar sua própria visão do jornalismo como forma peculiar de conhecimento, que se diferenciaria das demais em função de seu compromisso prioritário com a singularidade. Para Adelmo, Park demonstra uma visão pouco crítica ao incorporar a classificação de William James sobre o conhecimento, e isso comprometeria suas conclusões sobre o jornalismo, resultando, em especial, em uma teoria redutora que supõe a existência de uma realidade sem contradições ou tensões internas. Em contraste com o jornalismo potencialmente transformador de Genro Filho, o conhecimento produzido pelo jornalismo vislumbrado por Park pode ser interpretado como “[...] mero reflexo empírico e necessariamente acrítico, cuja função é somente integrar os indivíduos no status quo, situá-lo e adaptá-lo na organicidade social vigente” (GENRO FILHO, 2012, p. 54).

Genro Filho afirma que o surgimento do jornalismo no âmbito da complexificação das sociedades modernas urbanas e do próprio mundo capitalista foi resultado de uma espécie de “ampliação espacial da atualidade”; ou seja, a atualidade, que sempre foi objeto de interesse das pessoas, tornou-se algo mais amplo e global com o desenvolvimento da modernidade, das tecnologias, dos meios de produção e do modo de vida decorrente desses processos. O mundo inteiro torna-se, assim, um sistema integrado e interdependente inacessível à experiência direta da maioria das pessoas, o que favorece o surgimento de uma indústria da informação, na qual o jornalismo é um dos produtos. Para o autor, em que pese ter sido condicionado pelo advento do capitalismo, o jornalismo surge como “[...] uma nova modalidade de apreensão do real, condicionada [...] pela universalização das relações humanas que ele produziu, na qual os fatos são percebidos e analisados subjetivamente [...] e, logo

54 Pontes (2015, p. 329) pontua que Genro Filho comete um equívoco quando situa Robert Park na escola funcionalista. “Trata-se de um autor que deu origem, posteriormente ao que ficou conhecido como Interacionismo Simbólico e fez parte da corrente ‘culturalista’ dos estudos da Comunicação, que, como indica Carey (1989), reuniu autores como John Dewey, George Herbert Mead e Charles Cooley. Park foi um dos principais docentes da Escola de Sociologia de Chicago, a primeira dessa natureza nos Estados Unidos”.

após, reconstruídos no seu aspecto fenomênico” (GENRO FILHO, 2012, p. 41). Essa nova forma de apreensão do real trouxe consequências profundas para as formas de conhecimento e comunicação até então existentes, na visão do autor. Com sua proposta teórica, Genro Filho busca fornecer elementos para enxergar o jornalismo como “nova possibilidade epistemológica”, abordado a partir de uma conexão com categorias filosóficas, histórico-sociais e ontológicas (GENRO FILHO, 2012, p. 162).

Nessa perspectiva, Genro Filho inspira-se na teoria da arte do filósofo húngaro György Lukács (1885-1971) e transpõe as categorias filosóficas hegelianas singular, particular e universal para o jornalismo. Essas categorias expressam dimensões reais da objetividade e, segundo o autor, podem servir para representar as modalidades históricas do conhecimento, de acordo com as mediações que estabelecem entre si. As três dimensões coexistem nos fenômenos e relacionam-se dialeticamente, embora se permitam evidenciar em maior ou menor grau – processo que Genro Filho designa