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1.1.2 – A Contra-Reforma: O Concílio de Trento (1545-1563)

No documento apostaram em mim; a todos os leitores que (páginas 34-38)

A Reforma Protestante, juntamente com outras mudanças, trouxe, apesar de grande

sofrimento, um impulso para tomadas de posição da ICAR. Denominou-se de

Contra-Reforma a sua reação. Mas não foram poucos os sinais de mudanças e segundo Agenor

Brighenti (1995, p. 200), a Contra-Reforma não foi o único movimento responsável pelo

rompimento interno da cristandade.

Como uma Contra-Reforma aconteceu o Concílio Ecumênico

5

de Trento com o

intento de Paulo III (1468-1549) em 1545. De acordo com Giuseppe Alberigo (1999, p.

202-201), esse Concílio não trouxe grandes inovações. Não apresentou nenhuma novidade no que

diz respeito às questões eclesiológicas

6

. Se os problemas que levaram à Reforma Protestante

foram questões marcadamente ligadas aos abusos hierárquicos, era esperado que o Concílio

de Trento trabalhasse as matérias relacionadas e trouxesse propostas novas de mudanças

eclesiológicas. Mas isso não aconteceu. De certa forma Trento não passou de um resumo dos

Concílios anteriores.

No espírito de Contra-Reforma ou Reforma Católica, o Concílio de Trento, apresentava-se como um lento despertar em meio aos assombros de um terremoto. Em sua forma reativa, o que parecia de início a busca de proteção, logo se transformou em defesa e intento explícito de “frear” a sublevação que se havia constituído, em visível pretensão de reforma-restauração (MENDES – 2012, p. 144).

De fato, o Concílio de Trento encerrava-se num contexto bem diferente daquele em que fora aberto em dezembro de 1545. O cristianismo ocidental já havia perdido a sua unidade e as esperanças que o concílio pudesse lha restituir haviam se evaporado drasticamente. Se a Igreja fiel a Roma havia encontrado no concílio uma referência decisiva para frear o processo de desagregação disparado pela Reforma, grandes e antigas áreas cristãs já tinham consolidado uma agregação eclesial autônoma e alternativa. Igualmente havia mudado a situação geral política e cultural, econômica e geográfica (ALBERIGO – 1999, p. 245-246).

Hill (2007, p. 259), nos diz que as várias sessões do Concílio duraram cerca de 18

anos, com longas tréguas. Fato bastante interessante, pois denota a morosidade das

5O vocábulo ecumênico, neste contexto, não deve ser entendido como ecumenismo no sentido amplo de “diálogo entre as Igrejas”, mas como uma colegialidade da própria ICAR. No Código de Direito Canônico da ICAR encontra-se assim definido: “O Colégio dos Bispos exerce seu poder sobre toda a Igreja, de modo solene, no Concílio Ecumênico (cf. cânon 337 - § 1). Em nota de roda pé em explicação a esse Cânon, encontramos que concílio significa uma “reunião” ou “assembleia” para dirimir diferenças”. Ainda, “a palavra ecumênica é usada como sinônimo de universal”. A ICAR reconhece como ecumênicos 21 concílios, o primeiro dos quais foi o de Niceia (325) e o último o Vaticano II (1962-1965) (Código de Direito Canônico. São Paulo: Loyola, 1983).

6 Existem controvérsias sobre esse concílio ter sido profícuo. Para Sarpi apud Alberigo (1999, p. 2000): “Este Concílio, desejado e buscado pelos homens piedosos para reunir a Igreja [...]; e manipulado pelos príncipes para a reforma da ordem eclesiástica, causou a maior deformação que poderia haver depois que se ouviu o nome de cristão; usado pelos bispos para reconquistar a autoridade episcopal, em grande parte passada somente para o pontífice romano, fez que eles a perdessem toda e inteiramente...”

transformações. Quando o Concílio terminou o Papa Paulo III e Martinho Lutero já haviam

morrido. Sendo assim, a sua aplicabilidade já não surtiria o efeito esperado. Haviam se

passado quase 20 anos desde sua abertura. Conclui-se com isso que Concílio de Trento

apresenta dois sinais negativos: além de não trazer novidades eclesiológicas, ainda apresenta

grande morosidade no seu desenvolvimento.

1.1.3 - O Concílio Vaticano I (1846-1878)

Ao olhar de A. Galli (1964, p. 264), os dois séculos entre a Reforma Tridentina (1545-

1563) e a revolução francesa (1789-1799) são assinalados por uma cisão lenta entre Igreja e

Estado. Foi um período marcado pelo surgimento de doutrinas filosóficas que, de certa forma,

segundo a visão da ICAR, vinham para impugnar algumas de suas verdades e em especial as

substâncias do Cristianismo. Para Rosino Gibellini (2012, p. 157), o que se sabe é que a crise

modernista estava desencadeada, fazendo com que despontassem os seus críticos.

Mesmo que inspirada pela Reforma Tridentina, as lutas da ICAR contra o Estado

iluminista, não foram das mais fáceis. Contra os erros modernos, a ICAR se posicionou

criando a conhecida “nouvelle théologie” (Nova Teologia). Uma “alternativa real à teologia

tradicional”, segundo Carlos Palacio (2001, p. 27). São muitas as críticas colocadas nessa

época em relação às questões dogmáticas da ICAR. Não se pode deixar de mencionar aqui a

encíclica de Pio X, contra as doutrinas modernistas: Pascendi dominici gregis (1907), um

documento preciso e muito impiedoso contra a modernidade. Todas essas questões criou um

clima de tensão diante das ideias teológicas da época, tendo a ICAR que se preocupar com

isso. Tanto que em 1950, Pio XII promulgou a encíclica Humani Generis, contendo uma forte

crítica “às novas tendências que conturbavam as ciências sagradas”, dispersando assim o

grupo de teólogos que fomentavam uma teologia da renovação, segundo Gibellini (2011, p.

173).

Aos poucos, com o iluminismo, foram brotando as ideias democráticas de liberdade,

igualdade e fraternidade, vistas de forma desfavoráveis pela ICAR. Em Hill (2007, p. 314),

temos que René Descartes (1596-1650), um dos principais expoentes do racionalismo, traz a

guerra marcada pela disputa entre fé e razão. O racionalismo provocou um rompimento

violento com a tradição cristã à procura de caminhos espirituais totalmente humanos e

racionais, independentes de qualquer autoridade religiosa (PUCRS – 1997, p. 207). O

Concílio Vaticano I surge como uma resposta a essa nova etapa da história. Quando alguns

impasses pareciam terem sido superados, surge uma nova crise para a ICAR. Crises essas

também já sentidas pelos protestantes que emergiam.

Por um lado temos os intelectuais, que segundo Hill (2007, p. 354), tinham desistido

do cristianismo. Diziam que ele estava “fora de moda, irracional e supersticioso”. Por outro

lado, desponta um grupo, com uma nova maneira de pensar que tentava a todo custo fugir da

tirania da razão. A essa nova abordagem vão chamar de romantismo, de onde origina a

“teologia romântica”. Essa nova teologia tem sua base de culto na emoção é na natureza

7

.

Para Galli (1963, p. 294), o romantismo veio acentuar a espiritualidade numa visão religiosa e

idealista do mundo. Tudo era visto à luz da Divindade criadora e vivificadora. Essa visão

religiosa idealista do mundo vai dar grande vasão para a doutrina do imanentismo

8

e o

modernismo.

Mendes (2012, p. 146), vai dizer que não foram poucas as perturbações sociais e

políticas do período em que a ICAR se vê obrigada a buscar um novo concílio. Já se haviam

passados 80 anos do acontecimento Revolução Francesa. O fantasma do progresso das

ciências naturais não tinha deixado de rondar os sistemas religiosos e com isso fez com que

eclodisse a crise da fé, desencadeando o cristianismo liberal. Em resposta a tudo isso, a ICAR

acreditou ser necessário um novo concílio. Em Hill (2007, p. 364), encontramos que em 1869,

Pio IX, convocou o Concílio Vaticano I

9

com a incumbência de enfatizar a autoridade da

ICAR endossada na autoridade do papa, declarando assim a “Doutrina da Infalibilidade

Papal”

10

. Não bastando a declaração da infalibilidade papal, houve também a publicação do

7Destaca-se nesse movimento Friedrich Schleiermacher (1768-1834). As ideias de Kant de que Deus estava além da possibilidade da razão causa-lhe bastante impacto (HILL – 2007, p. 355).

8 Segundo um dicionário online, Imanentismo significa: Doutrina metafísica segundo a qual a presença do divino é pressentida pelo homem, mas não pode ser objeto de qualquer conhecimento claro. Disponível in: https://www.dicio.com.br/imanentismo/. Acesso em: 02/03/2017.

9Para Alberigo (1999, p. 278), as duas constituições aprovadas pelo Vaticano I estão baseadas numa comum concepção da autoridade. A Pastor aeternus é expressamente dedicada à autoridade pessoal do papa. Juntamente vem a Dei filius, com finalidade doutrinal que trata da fé, não para professá-la, mas para descrevê-la teologicamente e para condenar uma série de erros. Tem um sentido técnico.

10 No entendimento da ICAR, “o Papa é infalível quando fala nas condições "Ex Cathedra" - (do latim) significa, literalmente, "da Cadeira" ou "do Trono". Quer dizer que o Papa é infalível quando se pronuncia a partir do Trono de Pedro, isto é, como Sumo Pontífice, como o sucessor daquele que recebeu as Chaves do Reino dos Céus, líder e condutor terreno de toda a Igreja, exclusivamente nas seguintes condições: 1) Quando se pronuncia como sucessor de Pedro, usando o poder das Chaves concedidas ao Apóstolo pelo próprio Cristo Jesus (Mt 16,19); 2) Quando o objeto do seu ensinamento é a moral, fé ou os costumes; 3) Quando ensina à Igreja inteira; 4) Quando é manifesta a intenção de dar decisão dogmática (e não alguma simples advertência), declarando anátema que se ensine tese oposta”. Disponível in: http://www.ofielcatolico.com.br/2001/04/a-infalibilidade-papal-o-papa-e.html. Acesso em: 11/03/2017.

Syllabus errorum modernorum

11

. Diante das tomadas de decisões a que a ICAR teve nesse

No documento apostaram em mim; a todos os leitores que (páginas 34-38)