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movimento pós Vaticano II na ICAR

No documento apostaram em mim; a todos os leitores que (páginas 177-180)

Houve Católicos que foram batizados no Espírito antes do fim de semana de Duquesne [...] mas este foi o primeiro evento em que um grupo de Católicos experimentou o Batismo no Espírito, juntamente com a manifestação dos dons carismáticos. O fim de semana de Duquesne provocou uma ampla experiência do Batismo no Espírito entre os católicos nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Eu não fui a única Católica a dar testemunho exuberante do novo derramamento do Espírito Santo e seus dons em 1967. Através de cartas, telefonemas e visitas pessoais, a palavra foi se espalhando sobre a experiência pentecostal. Um dos professores que foi um líder do Fim de Semana de Duquesne informou aos seus amigos na Universidade de Notre Dame, “Eu não tenho que acreditar no Pentecostes: eu o vivi” (MANSFIELD – 2016, p. 48-49).

De acordo com Durkheim (2008, p. 418), “os cerimoniais colocam a coletividade em

movimento”. Esse cerimoniais fazem com que os indivíduos se reúnam, busquem pelo

encontro. Os cerimoniais não seriam possíveis sem o coletivo. Dentro desse coletivo os

indivíduos se tornam mais próximos, mais afetivos. Acontece uma ação coletiva onde cada

um assume uma função em benefício do bem comum. Escreve Durkheim (2008), que “os

indivíduos se tornam mais íntimos”. Os movimentos da ICAR, de forma geral têm essa

função de agregar as pessoas, “criar fraternidade”. Conta Mansfield (2016, p. 57), que “uma

rede de amizades se formou entre as pessoas da Universidade de Duquesne em Pittsburgh,

Pensilvânia e a Universidade de Notre Dame”. Isso pode ainda ser averiguado no que diz o

Pe. Edward O’Connor, um líder da RCC desde os primórdios:

Uma onda de entusiasmo por vigílias de oração e grupos de oração estava ocorrendo em todo o país no início dos anos sessenta. Em Notre Dame, durante o ano de 1963-1964, especialmente, tais atividades floresceram. [...] Estas primeiras reuniões consistiam de leituras das Escrituras, oração espontânea, canto e discussões (MANSFIELD – 2016, p. 58).

Vemos assim que a reunião, o unir-se desses indivíduos pode ter sido um fator

propulsor para que nascesse a RCC. Colocaram-se em orações coletivas. Uma anseio coletivo

e não individual. Ainda em Durkheim (2008, p. 419), temos que “o que constitui

essencialmente o culto é o ciclo das festas”. Nesse caso, o ato de comemorar ou festejar de um

grupo acaba gerando o ritmo de datas. O ritmo passa a ser uma expressão da vida social desse

grupo. Um exemplo disso está nas festas anuais de Pentecostes da ICAR. Essa festa que vem

de uma tradição antiga do judaísmo e encontra uma justificativa e valor de ser no

cristianismo. A festa das colheitas para os povos antigos encontra seu significado na festa da

Ressurreição e Pentecostes para os cristãos.

A sociedade não pode reavivar o sentimento que tem de si mesma, senão com a condição de se reunir. As exigências da vida não lhe permitem permanecer indefinidamente em estado de congregação; ela se dispersa, portanto, para se reunir novamente quando sentir necessidade. É a essas alternâncias necessárias que corresponde a alternância regular dos tempos sagrados e dos tempos profanos (DURKHEIM – 2008, p. 419).

O ritmo de celebração de um grupo pode apresentar maior ou menor espaço de tempo.

Sendo esse tempo, mais ou menos prolongado, o que vai delimitar o “turno”, ou seja, se essa

comunidade vai estar mais ou menos tempo reunida. Isso vai construir a “quantidade de vida

coletiva e religiosa dessa comunidade”. Sendo assim, conforme Durkheim (2008, p. 420), o

espaçamento entre uma festa e outra dá o ritmo de encontro de uma comunidade. Esses

encontros celebrativos cumprem um efeito satisfatório em seus participantes quando entram

na sua dinâmica. Algo dinamizador “emana da vida em comum”. A isso Durkheim denomina

de “forças coletivas”. Nascem de “ideias e sentimentos objetivados” que por nascerem de uma

ação coletiva são impessoais. Fazem parte de uma cooperação. Assim pode ser interpretado o

papel da religião em Durkheim, como obra de um todo e de ninguém em particular. Existe um

sentimento comum que anima a todos sob a força de determinados resultados. Ao conjunto

das crenças comuns em um grupo Durkheim (2008, p. 447), denomina de “mitologia do

grupo”. Uma coisa é a mitologia e outra é o rito do grupo. O rito serve, por uma lado, para

manter a vitalidade das crenças e por outro lado, para impedir que ela se dilua e com o tempo,

apagando-se da memória da comunidade. Para Durkheim a necessidade de reuniões

esporádicas serve então para reafirmar a natureza de seres sociais aos indivíduos. “As

gloriosas lembranças, revividas diante dos seus olhos e com as quais se sentem solidários,

dão-lhes impressão de força e de confiança: fica-se mais seguro da própria fé quando se vê o

longinco passado a que se remonta e as grandes coisas que inspirou” (DURKHEIM – 2008, p.

448).

De acordo com Catão (1995, p. 33), “a experiência humana, sobretudo a experiência

religiosa, só o é verdadeiramente, quando se desabrocha na comunidade”. O sentido coletivo

da experiência pentecostal da RCC está presente em seus membros. Sentem a necessidade de

que a experiência do Batismo no Espírito seja feita por todos. Só através dessa experiência o

indivíduo pode sentir a renovação e pertença total ao grupo. As reuniões de oração da RCC

têm uma preocupação em contagiar os que dela participam. Em outras palavras Carranza

(2000, p. 24), vai dizer que as experiências de Duquesne sempre serão repetidas como que

num ritual, com elementos que até hoje sobressaem nos grupos de oração, tais “como rezar

com os braços elevados para o alto, gestos que posteriormente ficariam como marca

registrada das expressões religiosas carismáticas.

[...] a emotividade, afetividade e espontaneidade atuando como meios de comunicação com Deus; a referência constante de sensações como indicativas de experiências místicas e certeza da presença de Deus; a necessidade de milagres, como prova de existência divina e, finalmente, o batismo no Espírito Santo, manifestação pentecostal que confere especificidade ao Movimento dentro da Igreja Católica (CARRANZA – 2000, p. 24).

Desta forma, olhando para a RCC, ela expressa uma experiência religiosa da

coletividade. É uma experiência que necessita do coletivo para que as manifestações

aconteçam. No individual ela não teria o mesmo efeito. Os testemunhos carismáticos denotam

essa característica da RCC. Os grandes encontros carismáticos mostram experiências que

muitas vezes só seriam possíveis acontecerem no coletivo. A magia do grupo está fortemente

relacionada, contagia. Até mesmo a experiência do batismo no Espírito é algo que foi

recebido, meio que como herança dos pentecostais.

No documento apostaram em mim; a todos os leitores que (páginas 177-180)