eram poucos os que achavam que a RCC era “protestante demais”. Seria como que a obra
Sereis batizados no Espírito desse a legitimação para a RCC no Brasil poder transitar
tranquilamente e assim ganhar sua expansão. Em 1971 Pe. Eduardo iniciou um grupo de
oração que pode ser considerado como o primeiro do movimento em Campinas. Ainda não se
via rezar em línguas, dando ênfase apenas ao louvor, segundo Sousa (2005, p. 55). Quem
dava mais ênfase ao Espírito Santo era o Pe. Harold que nas reuniões da RCC, nesse começa,
falava do batismo no Espírito.
Conforme Edênio do Valle (2004, p. 97), a RCC hoje faz parte do cenário do
catolicismo neste início do século, e veio, ao que tudo indica, para ficar. Percebe-se que a
RCC tem sua expansão marcada fortemente pelos padres jesuítas norte-americanos
83. Para
Valle (2004), a RCC tem “progenitores ianques de ambos os lados, pelo pai (o
pentecostalismo) e pela mãe (o catolicismo americano)”.
O movimento rapidamente se espalhou por todo o mundo. Em 1975, já estava presente em cinquenta e quatro países. “Pode-se justificar sua rápida expansão se levarmos em conta que aquele era um momento de efervescência religiosa, em que se destacaram várias modalidades de associações católicas internacionais”. Assessorado por importantes teólogos, como Yves Congar e o Cardeal Leon Suenens, “logo conquistou a aprovação do Papa Paulo VI, o que garantia, por si só, sua legitimidade” (MATEUS A. OLIVEIRA – 2007, p. 13).
Vemos que a presença jesuítica está na referência da RCC no Brasil. Há autores, como
Monique Hérbrad apud Carranza (2000, p. 33), que chegaram a questionar “se essa presença é
planejada com o fim de vigiar o movimento” ou é um mero acaso, “espontânea”, ou ambas?
Mas é um indagação que fica quase que sem resposta. O que se sabe é que em alguns
momentos os dois fortes expoentes da RCC no Brasil se separam. De acordo com Sousa
(2005, p. 58), Pe. Harold tinha uma característica de ser mais “técnico”, diferentemente de Pe.
Eduardo, que tinha uma “pregação simples, centrada em alguns fundamentos e sem muita
elaboração teológica”. Em uma reunião com algumas pessoas do TLC, Pe. Eduardo, segundo
testemunhas, tenha falado de umas coisas que mexeu com todo mundo: “(...) que era preciso
levar as pessoas a buscarem fazer uma experiência. Isso aí é que é renovação espiritual,
83Pe. Bernardo Alwisius Schuster, nascido em 14 de julho de 1924, na cidade de Santa Cruz do Sul (RS), ingressou na Companhia de Jesus em 28 de fevereiro de 1943, recendo a ordenação presbiteral em 12 de dezembro de 1955. Padre Bernardo Schuster é um destes primeiros missionários carismáticos do Brasil, e veio a falecer em 30/07/2016. Disponível in: http://berakash.blogspot.com.br/2016/08/faleceu-em-30072016-pe-schuster-um-dos.html. Acesso em: 24/3/2017.
pentecostal, tem de levar mais do que o estudo, tem que levar as pessoas a experimentar e
exercitar os carismas” (SOUSA – 2005, p. 58-59).
Segundo tudo indica, o “primado da experiência”, enfatizado pelo Pe. Eduardo, “fez o
movimento afastar-se daquele perfil original impresso pelo Pe. Harold. Com Pe. Eduardo a
RCC toma caminho com uma tendência mais racional e demasiadamente vinculado à
hierarquia”. Isso provocou um certo desconforto entre os membros da comissão. Em uma
reunião da Comissão Executiva e Consultiva da Comissão Nacional de Serviços da RCC
(1975), tratou-se sobre as crises que ali estavam emergindo. Fala-se até de que ali havia se
gerado uma celeuma, pois “existiam duas linhas contraditórias”. De um lado estaria o
apostolado de Pe. Eduardo e de outro lado o apostolado de Pe. Harold. Na época tentaram
camuflar esse conflito. No fim, segundo Sousa (2005, p. 60 e Carranza, 2000, p. 41), a linha
do Pe. Eduardo acabou prevalecendo. Por isso a suspeita de que o movimento iniciado pelo
Pe. Harold tenha diferenças em relação ao que o Pe. Eduardo deu continuidade. Isso gera
dúvidas a respeito de quem seria na realidade o fundador da RCC no Brasil. E se seguirmos
essa linha apresentada, percebe-se que o seu verdadeiro fundador foi o Pe. Harold.
Segundo Carranza (2000, p. 40), no Congresso Nacional, Itaici - SP (1973), estava Pe.
Eduardo e Pe. Harold e puderam contar com a presença 50 membros. Já no II Congresso
contavam com 200 pessoas e o III com 300. Em 1976 o número de grupo de oração em todo
Brasil era de 200 e assim se chegou ao dilema do “carisma institucionalizado”. Precisou criar
uma estrutura e essa estrutura é o forte argumento pelo qual o Pe. Harold tenha se afastado.
Eu vi que eles (a comissão nacional da RCC) não precisavam mais de mim e também começaram a se organizar (...), tinham reuniões (...) mas eu notei que sentado em reuniões, planejando, não era o meu jeito. Devagar fui saindo (...) logo abri a fazenda para recuperação de toxicômanos, assim, comecei a dedicar minha vida aos drogados e afastei-me da RCC (Entrevista, H. R., 28/4/1997 - CARRANZA – 2000, p. 41).
Em Sofiati (2011, p. 128), podemos ler um depoimento do Pe. Haroldo falando dos
motivos de sua saída enfatizando três aspectos: “não era muito favorável às orações em
línguas e sessões de cura, criticava os colegas do movimento por não se envolverem em obras
sociais, defendia um ecumenismo que não foi bem aceito pela RCC”.
Então, a minha filosofia de vida era diferente da deles: eles não queriam dialogar com a Teologia da Libertação, eles não gostavam de yoga. Eu gosto muito, pratico diariamente e estou escrevendo um livro chamado “Yoga Cristã” para católicos e cristãos que praticam. Mas eles acham que é pecado, porém é apenas outra filosofia. De todo jeito eu voltei para o meu tipo
de vida porque depois de cinco anos [da fundação do movimento] já tinha muitos padres, freiras e leigos na Renovação (Entrevista Pe. Haroldo Rahm, Campinas, 2006, - SOFIATI - 2011, p. 129).