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reúne o relato de testemunho de todos os jovens que estavam presentes nos três dias do evento. Mansfield traz relatos importantes que em muito contribuem para a compreensão no

No documento apostaram em mim; a todos os leitores que (páginas 66-70)

nascimento da RCC.

Naquele Grupo de Oração em particular, estavam presentes dois instrutores da Universidade de Duquesne, e antes que a reunião encerrasse,

estes homens pediram para receber o Batismo no Espírito Santo. Na semana anterior, outro professor da Universidade de Duquesne já havia pedido para ser batizado no Espírito. Estes dois encontros são os eventos que levaram ao Fim de Semana de Duquesne, no mês seguinte, e que marcou o início da Renovação Carismática na Igreja Católica. Don Basham estava certo. Uma nova e grande ação do Espírito Santo surgiu através de um grupo de oração em uma pequena casa (MANSFIELD – 2016, pp. 34-35).

Sendo ainda mais específico, Gonzalez (2006, p. 65), diz que a partir do encontro

referido acima, “Ralph Martin e Steve Clarck fundaram a comunidade de Deus em Ann Arbor

de maioria católica, embora houvesse alguns protestantes, todos tinham o objetivo de partilhar

as bênçãos do espírito Santo”. Depois disso, muito tranquilamente, começaram a se infiltrar

nas “estruturas eclesiásticas”. Isso aconteceu primeiramente na “paróquia Saint Patrick, em

Providence”. Nas afirmações de Prandi, André G. Campos e Rogério A. Pretti (1998, p. 33),

em 1971, o bispo de Rhode Island, Estados Unidos, “confiou a paróquia Saint Patrick aos

leigos carismáticos, e com isso consolidava a fundação da RCC, em justaposição com a

organização eclesiástica”.

Em 1974, aconteceu o II Congresso Internacional da RCC em South Bend e puderam

contar com a participação de 30 mil pessoas vindas de 35 países. Segundo Flávio M. Sofiati

(2011, p. 125), a RCC nasce em um ambiente universitário, secular mais elevado, no sentido

de bens culturais e intelectuais. Havia ali uma busca de renovação espiritual como tentativa de

respostas aos anseios de mudanças da ICAR, em especial com as aberturas propostas pelo

Concílio Vaticano II. No conceito de Edênio do Valle (2004, p. 100), os citados universitários

“inventaram o pentecostalismo católico”, copiado das então ondas de “reavivamento”.

Constituídas por pessoas com participações anteriores em cursilhos e por membros atuantes de agremiações católicas, esse movimento reforçou o biblicismo, levando às vezes a uma leitura fundamentalista das escrituras; revalorizou a glossolalia, a profecia, as orações de intercessão e outros dons carismáticos colocados há muito tempo em segundo plano na tradição católica (MARIA DAS DORES C. MACHADO – 1996, p. 47).

A experiência feita nesse encontro espiritual não ficou estagnada. De acordo com

Jurkevics (2004, p. 122-123), “alguns resolveram intensificar suas práticas religiosas” e

nascido como “pentecostalismo católico”, formaram-se os “grupos de oração” e aos poucos se

“denominaram de Renovação Carismática Católica”. Para Dorothy Ranaghan (1972, p. 33),

“o fim de semana de Duquesne, como viria a ser chamado, foi certamente um dos mais

notáveis acontecimentos na história do movimento pentecostal no mundo”. O livro “A Cruz e

o Punhal

44

, de David Wilkerson serviu de grande base para o nascimento da RCC. O citado

livro faz relatos da experiência do batismo com o Espírito Santo feita por jovens drogados das

periferias de Nova Iorque.

Em um momento de efervescência religiosa, percebe-se que rapidamente a experiência

de Duquesne se espalha entre os norte-americanos, ganhando forte visibilidade. Em 1971 foi

realizado o I Congresso Nacional dos pentecostais católicos norte-americanos e no ano

seguinte já conseguiam visibilidade internacional. Segundo Jurkevics (2004, p. 122), os

teólogos Yves Congar e o Cardeal Leon Suenens ficaram como assessores do novo

movimento. Conforme Hill (2007, p. 454), Suenens, um dos quatro moderadores do Vaticano

II, ajudou na sua difusão. Segue um testemunho dado por Léon-Joseph Cardeal Suenens:

Quando entrei em contato com essas primeiras comunidades Carismáticas Católicas, em círculos Universitários, compreendi que a graça Pentecostal estava operando e que não era uma questão de um movimento – não havia nenhum fundador, nenhuma regra, nenhuma estrutura precisa – apenas o sopro do Espírito, que foi fundamental para muitos aspectos da vida e para todos os movimentos, fossem quais fossem (CARDEAL SUENENS - 2016, p. 295).

Conforme os autores Harold Rahm e Maria J. R. Lamego (1974, p. 11), em um

discurso do Cardeal Leon Suenens

45

na 2º sessão do Vaticano II em 22 de outubro de 1963,

dizia da “importância vital dos dons carismáticos do Espírito Santo na formação do Corpo

Místico da ICAR”. O mesmo cardeal enfatizou ainda, no mesmo discurso a “era do Espírito

Santo na Igreja” e que esse Espírito Santo “não é concedido apenas a pastores mas a cada

Cristão”. Em linhas gerais ainda foi dito que não se deveria “reprimir o Espírito Santo que se

manifestava aos Cristãos leigos que não possuem qualquer posição ou autoridade”.

Na perspectiva do Cardeal Suenens, João XXIII estava consciente de que a Igreja necessitava de um novo pentecostes e acrescenta: “Agora, olhando para trás, podemos dizer que o concílio, indicando a sua fé no carisma, fez um gesto profético e preparou os cristãos para acolher a Renovação Carismática que está se espalhando por todos os cinco continentes” (SUENENS, apud C. ALDUNATE – 1986, p. 40).

Importante salientar que a RCC nasce no mesmo ambiente em que nasceu o

pentecostalismo no ano de 1906. Para Maria da Conceição Silva (2000, p. 282), o fato da

RCC nascer nos EUA está relacionado à questão de que o catolicismo norte-americano, se deu

44Em leituras para composição de material para esse trabalho de dissertação pude ler o livro a Cruz e o Punhal e posso afirmar que na leitura desse livro é possível ver “a experiência de um homem que que lutou sozinho contra a violência, as drogas e o crime usando a arma mais poderosa que existe – o amor de Deus”.

45 “Quando eu fui consagrado Bispo, escolhi como lema “In Spiritu Sancto” (no Espírito Santo) simbolizado por uma pomba prata decolando de um chão azul, símbolo de Maria” (CARDEAL SUENENS - 2016, p. 294).

através de imigrantes católicos e judaicos, num população onde o domínio religioso era

protestante. O domínio protestante era forte e com isso, pode-se interpretar que facilmente

tenha servido de tendência para o nascimento de um catolicismo de característica pentecostal.

Esses grupos não criaram uma cisão com o catolicismo tradicional, mas conseguiram manter a

característica “dogmática da fé”. Entre os membros desses grupos desencadeou-se uma

religiosidade carismática, com cultos fervorosos, sem que se se perdesse o dogmatismo.

Hoje vemos a RCC, como um movimento de leigos, como diz Souza (2014, p. 157),

com assessoria de bispos e padres, ou seja, “tutela do clero”. Para Jurkevics (2004, p. 126), a

RCC tem um núcleo especificamente laico, que sempre se mostrou aberta à orientação da

hierarquia. Segundo Carranza (2000, p. 16), a RCC tem uma forte característica de se

apresentar como um processo de “reação católica para dentro da própria ICAR, contrário da

TL, CEBs e demais pastorais”. Ainda segundo Carranza (2000), pode-se afirmar que a RCC

“foi emergindo como um movimento contrário à TL, chegando até mesmo a provocar

resistência no setor progressista” da ICAR. Com isso conseguem um enfrentamento com a

concorrência religiosa provocado em especial pelo pentecostalismo.

Segundo Sofiati (2011, p. 126), “no início dos anos 2000 a RCC havia atingido perto

de 40 milhões de adeptos no mundo, com 270 mil grupos de oração em mais de 140 países,

dos quais 30% na América Latina”. A dizer ainda, segundo Sofiati, que só no Brasil essas

cifras alcançaram cerca de oito milhões de membros cadastrados em 61 mil grupos de oração,

dos quais 400 se encontram no Estado de São Paulo. Lançado como Ofensiva Nacional, o

livro “E sereis minhas testemunhas” (1993, p. 11), define que a RCC, “depois do Concílio

Vaticano II foi um dom especial do Espírito Santo à Igreja (Discurso do papa João Paulo II ao

ICCRO em março de 1992)”.

Segundo Carranza (2000, p. 85), em menos de um ano depois do Vaticano II,

“verão-outubro de 1966”, o fenômeno RCC já começou a se destacar, firmando o conceito de que ela

aparece como um “acontecimento pós-conciliar”. Para seus precursores a RCC foi sempre

vista como um “novo Pentecostes almejado pelo Papa João XXIII” (Hahm e Lamego – 1974,

p. 26). Para Gonzalez (2006, p. 30), as “características do pontificado do Papa João Paulo II

46

46De acordo com Gonzalez (2006, p. 30-31), a RRC em âmbito transnacional ajudou a divulgar a imagem do papa peregrino e devoto dos santos e Maria. Simultaneamente a devoção dos carismáticos católicos ao papa ajudou a reforçar a centralização da ICAR na figura papal. Por outro lado, o movimento compartilha das práticas papais de devoção aos santos e a Maria, divulgando-as pela mídia. A postura espiritualista da RCC também coaduna com João Paulo II nos quesitos morais como: ao aborto, à homossexualidade, à eutanásia, ao uso de métodos anticoncepcionais e à utilização de preservativos.

vão ao encontro dessas propostas” de renovação, “indicando convergência entre a política

papal e as posturas assumidas por esse movimento”. E ainda mais, para esse movimento, “o

divino irrompe no universo do homem”. Esse conceito vai ainda ao encontro da visão de que

tinha João Paulo II da necessidade de algo que pudesse “preencher o vazio deixado no homem

contemporâneo pelo “efeito da secularização”.

[...] Os cristãos, aqui chamados de carismáticos, caracterizam-se por um grande desejo de libertação, neles, das forças espirituais, por meio de uma espera do Espírito e pelo emprego agradecido de seus dons. Tais cristãos acham normal que Deus realize por meio deles coisas que superem suas próprias capacidades (SMET – 1987, p. 36).

Rahm e Lamego (1974, p. 35), grandes expoentes da RCC, não aceitam se referir à

RCC como um movimento. Os referidos autores veem a RCC como “uma força e um

dinamismo que se apodera dos homens e se comunica facilmente, mesmo aos cépticos e

rebeldes”. Segundo ainda Rahm e Lamego (1974), a RCC tem como proposta ser uma

“possibilidade de transformação para a própria Igreja: ser uma nova Igreja”. Isso significa que

não tem a intenção de competir com outros movimentos dentro da ICAR. Sendo assim, a

RCC ainda não está bem definida dentro da ICAR e aos poucos vai se assentando,

caracterizando sua forma de ser. A isso é que alguns pensadores das ciências da religião vão

fazer a indagação de qual será o futuro da RCC no campo religioso católico.

No documento apostaram em mim; a todos os leitores que (páginas 66-70)