11Aos 8/12/1864 o Papa Pio IX promulgou o Sílabo ou uma coletânea de erros filosófico-religiosos modernos condenados pela fé católica. Entre eles havia, como erro rejeitado, a afirmação de que o Papa se deve reconciliar com a civilização e o progresso. Este gesto condenatório se explica pelo contexto do século XIX e não se repetiria em nossos dias. É o que as páginas subsequentes procuram demonstrar. Revista: PERGUNTE E RESPONDEREMOS - D. Estevão Bettencourt, osb. Nº 534 – Ano: 2006 – p. 537. Disponível in: https://pt.scribd.com/document/59323377/Revista-Pergunte-e-Responderemos-Ano-XLVII-No-534-Dezembro-de-2006. Acesso em: 2/3/2017.
12Refrão da música de Ofertório das comunidades (Zé Vicente): Novo jeito de sermos igreja, nós buscamos, Senhor, na tua mesa. Muito cantado nas celebrações de grupos de CEB’s nos anos 80-90.
13Para Castanho (1998, p. 186), Richard Schaull, Joseph Comblin e Rubem Alves são vistos como precursores da TL. Gustavo Gutierrez (peruano) e Hugo Assmann (brasileiro), são vistos como fundadores. Depois podemos
Falar de Teologia da Libertação (TL), é entrar em um campo bastante amplo e ao
mesmo tempo melindroso, polêmico. Amplo porque o material produzido é bastante vasto,
com ampla produção literária, tanto favoráveis como desfavoráveis. É um tema que gerou
muito desconforto para aqueles que a idealizaram, por isso bastante polêmico. Muitos de seus
expoentes, quando ela perde a sua “euforia inicial”, vieram a fazer a experiência do
“cativeiro”, ou seja, foram perseguidos e tiveram até mesmo silenciar.
O que vem a ser a TL? Segundo um dos principais expoentes da TL, Leonardo Boff
(1998, p. 170), a teologia pressupõe algo “prévio”, e esse algo prévio é a “fé”. Fé é crer em
algo. O cristão católico afirma crer em Deus, e que esse “Deus não é abismo, mas um mistério
de amor”, concretizado em Jesus Cristo. Para Boff (1998, p. 171), a teologia começa sobre a
matéria-prima fé e tenta aplicar sobre ela toda a potência da razão na tentativa de entendê-la o
máximo possível. A teologia, grosso modo, seria uma forma de criar um discurso a partir da
fé. Segundo Boff, para Santo Anselmo (+-1109), “a teologia seria definida como a fé que
procura compreender”.
- Por detrás de cada teologia verdadeira existe uma mística, isto é, um encontro com Deus. Sem esta experiência (fé), a teologia não passa de tagarelice inócua; - A teologia possui por objeto Deus (é o sentido etimológico de teo-logia = discurso sobre Deus), seja enquanto é buscado pela razão em sua procura de uma última racionalidade e sentido (teologia natural), seja enquanto Ele mesmo se revela aos homens e se encarna em Jesus Cristo e é acolhido pela fé (teologia propriamente dita); - O objeto da teologia não é somente Deus revelado, mas também todas as coisas enquanto contempladas à luz de Deus.[...]; - Nascida da fé a teologia deve regressar à fé, alimentá-la e não liquidá-la, torná-la mais lúcida e não mais confusa (BOFF – 1988, pp. 171-172).
Sendo assim, a teologia pode ser feita a partir de minha ótica pessoal de fé.
Essa fé muitas vezes pode depender do lugar social que o indivíduo ocupa. Na ótica de Boff
(1988, p. 191), a teologia europeia tem uma preocupação de como “compaginar fé e ciência
moderna, Igreja e mundo industrializado, piedade e secularização”. Para a teologia
latino-americana, as preocupações são outros, a saber: “como articular fé e justiça social?
Evangelização e libertação? Mística e política, luta de classe e amor cristão?”. Esse é o fazer
teologia para a mente da TL.
Tentando entender o que seja libertação para a TL, Ronald Blank (2008, pp. 3-11), vai
dizer que é na “opção preferencial pelos pobres, que se encontra o sentido da teologia
dizer que o Cardeal Eduardo Pironio, Dom Helder Câmara, Frei Leonardo Boff, Juan L. Segundo e José Migues Bonino como expoentes da TL.tipicamente latino-americana, conhecida geralmente sob o nome de teologia da libertação”.
Essa realidade está, segundo o autor acima mencionado, “profundamente enraizado na
tradição bíblica de um Deus que se revela como o Deus dos oprimidos”. Segundo Boff (1998,
p. 193), a originalidade da TL está na “prática de transformação social inspirada pela fé
bíblica”. Entende-se ainda que “a excelência da vida humana se define a partir da liberdade”.
Sendo assim, não seria possível fazer teologia negando a realidade de opressão do povo
latino-americano.
O que significa então libertação para a TL? Segundo Gibellini (2012, p. 351), “a
palavra-chave libertação é o correlativo da palavra dependência”. Para se chegar à definição
de dependência na teologia, antes passou-se pela teoria “sociopolítico da dependência” como
um dos “instrumentos interpretativos da realidade social da América Latina”. A temática
dependência não fica só no campo sócio-político. Vai mais além e chega ao campo da
pedagogia no país, com as contribuições de Paulo Freire
14, nas obras: A educação como
prática da libertação (1967) e A pedagogia do oprimido (1971). Segundo Boff (1988, p. 198),
a reflexão latino-americana da libertação traz experiência bíblica do Êxodo como eixo central.
É no êxodo que o Povo de Israel faz a experiência de ser libertado da escravidão do Egito.
Moisés aceitou ser um instrumento de conscientização desse povo dependente.
Então o que dizer que seja a TL? Não se pode negar, como diz André Corten (1996, p.
21), que a palavra libertação pertence ao “léxico político da época: movimento de libertação
nacional”. Em um segundo momento ela busca a tendência do “léxico econômico
dependência/libertação”, chegando mais tarde ao “léxico pedagógico”. Nessa perspectiva é
possível perceber que o movimento TL está situado num contexto histórico e vem como
resposta às demandas de uma sociedade que busca por justiça social, refletindo nas bases
bíblicas a sua sustentação. Propaga o forte apelo pela “opção preferencial pelo pobres”.
Sofreu pressões do “relatório Rockefeller” (1969)
15, como se fosse uma estratégia comunista
14Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), foi um educador, pedagogo e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado
pedagogia crítica. É também o Patrono da Educação Brasileira. Disponível in:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire. Acesso em: 11/3/2017.
15Em 1967 o Presidente norteamericano Nixon designou o Senador Nelson Rockfeller para visitar os países da América Latina e estudar os posicionamentos da Igreja Católica quanto à oposição ao comunismo, e à ascensão de governos filo ou pró-comunismo. A viagem resultou no volumoso “Relatório Rockfeller”, que, sob aquele aspecto concluiu que a Igreja Católica não era mais um aliado confiável dos Estados Unidos na luta contra o comunismo. Disponível in: https://blogdopaulinho.com.br/2009/08/19/relatorio-rockfeller-%E2%80%93-lavagem-cerebral-religiosa/. Acesso em: 18/3/2017.