• Nenhum resultado encontrado

1.2.1 – Definição da Teologia da Libertação: origens e limites 13

No documento apostaram em mim; a todos os leitores que (páginas 38-41)

11Aos 8/12/1864 o Papa Pio IX promulgou o Sílabo ou uma coletânea de erros filosófico-religiosos modernos condenados pela fé católica. Entre eles havia, como erro rejeitado, a afirmação de que o Papa se deve reconciliar com a civilização e o progresso. Este gesto condenatório se explica pelo contexto do século XIX e não se repetiria em nossos dias. É o que as páginas subsequentes procuram demonstrar. Revista: PERGUNTE E RESPONDEREMOS - D. Estevão Bettencourt, osb. Nº 534 – Ano: 2006 – p. 537. Disponível in: https://pt.scribd.com/document/59323377/Revista-Pergunte-e-Responderemos-Ano-XLVII-No-534-Dezembro-de-2006. Acesso em: 2/3/2017.

12Refrão da música de Ofertório das comunidades (Zé Vicente): Novo jeito de sermos igreja, nós buscamos, Senhor, na tua mesa. Muito cantado nas celebrações de grupos de CEB’s nos anos 80-90.

13Para Castanho (1998, p. 186), Richard Schaull, Joseph Comblin e Rubem Alves são vistos como precursores da TL. Gustavo Gutierrez (peruano) e Hugo Assmann (brasileiro), são vistos como fundadores. Depois podemos

Falar de Teologia da Libertação (TL), é entrar em um campo bastante amplo e ao

mesmo tempo melindroso, polêmico. Amplo porque o material produzido é bastante vasto,

com ampla produção literária, tanto favoráveis como desfavoráveis. É um tema que gerou

muito desconforto para aqueles que a idealizaram, por isso bastante polêmico. Muitos de seus

expoentes, quando ela perde a sua “euforia inicial”, vieram a fazer a experiência do

“cativeiro”, ou seja, foram perseguidos e tiveram até mesmo silenciar.

O que vem a ser a TL? Segundo um dos principais expoentes da TL, Leonardo Boff

(1998, p. 170), a teologia pressupõe algo “prévio”, e esse algo prévio é a “fé”. Fé é crer em

algo. O cristão católico afirma crer em Deus, e que esse “Deus não é abismo, mas um mistério

de amor”, concretizado em Jesus Cristo. Para Boff (1998, p. 171), a teologia começa sobre a

matéria-prima fé e tenta aplicar sobre ela toda a potência da razão na tentativa de entendê-la o

máximo possível. A teologia, grosso modo, seria uma forma de criar um discurso a partir da

fé. Segundo Boff, para Santo Anselmo (+-1109), “a teologia seria definida como a fé que

procura compreender”.

- Por detrás de cada teologia verdadeira existe uma mística, isto é, um encontro com Deus. Sem esta experiência (fé), a teologia não passa de tagarelice inócua; - A teologia possui por objeto Deus (é o sentido etimológico de teo-logia = discurso sobre Deus), seja enquanto é buscado pela razão em sua procura de uma última racionalidade e sentido (teologia natural), seja enquanto Ele mesmo se revela aos homens e se encarna em Jesus Cristo e é acolhido pela fé (teologia propriamente dita); - O objeto da teologia não é somente Deus revelado, mas também todas as coisas enquanto contempladas à luz de Deus.[...]; - Nascida da fé a teologia deve regressar à fé, alimentá-la e não liquidá-la, torná-la mais lúcida e não mais confusa (BOFF – 1988, pp. 171-172).

Sendo assim, a teologia pode ser feita a partir de minha ótica pessoal de fé.

Essa fé muitas vezes pode depender do lugar social que o indivíduo ocupa. Na ótica de Boff

(1988, p. 191), a teologia europeia tem uma preocupação de como “compaginar fé e ciência

moderna, Igreja e mundo industrializado, piedade e secularização”. Para a teologia

latino-americana, as preocupações são outros, a saber: “como articular fé e justiça social?

Evangelização e libertação? Mística e política, luta de classe e amor cristão?”. Esse é o fazer

teologia para a mente da TL.

Tentando entender o que seja libertação para a TL, Ronald Blank (2008, pp. 3-11), vai

dizer que é na “opção preferencial pelos pobres, que se encontra o sentido da teologia

dizer que o Cardeal Eduardo Pironio, Dom Helder Câmara, Frei Leonardo Boff, Juan L. Segundo e José Migues Bonino como expoentes da TL.

tipicamente latino-americana, conhecida geralmente sob o nome de teologia da libertação”.

Essa realidade está, segundo o autor acima mencionado, “profundamente enraizado na

tradição bíblica de um Deus que se revela como o Deus dos oprimidos”. Segundo Boff (1998,

p. 193), a originalidade da TL está na “prática de transformação social inspirada pela fé

bíblica”. Entende-se ainda que “a excelência da vida humana se define a partir da liberdade”.

Sendo assim, não seria possível fazer teologia negando a realidade de opressão do povo

latino-americano.

O que significa então libertação para a TL? Segundo Gibellini (2012, p. 351), “a

palavra-chave libertação é o correlativo da palavra dependência”. Para se chegar à definição

de dependência na teologia, antes passou-se pela teoria “sociopolítico da dependência” como

um dos “instrumentos interpretativos da realidade social da América Latina”. A temática

dependência não fica só no campo sócio-político. Vai mais além e chega ao campo da

pedagogia no país, com as contribuições de Paulo Freire

14

, nas obras: A educação como

prática da libertação (1967) e A pedagogia do oprimido (1971). Segundo Boff (1988, p. 198),

a reflexão latino-americana da libertação traz experiência bíblica do Êxodo como eixo central.

É no êxodo que o Povo de Israel faz a experiência de ser libertado da escravidão do Egito.

Moisés aceitou ser um instrumento de conscientização desse povo dependente.

Então o que dizer que seja a TL? Não se pode negar, como diz André Corten (1996, p.

21), que a palavra libertação pertence ao “léxico político da época: movimento de libertação

nacional”. Em um segundo momento ela busca a tendência do “léxico econômico

dependência/libertação”, chegando mais tarde ao “léxico pedagógico”. Nessa perspectiva é

possível perceber que o movimento TL está situado num contexto histórico e vem como

resposta às demandas de uma sociedade que busca por justiça social, refletindo nas bases

bíblicas a sua sustentação. Propaga o forte apelo pela “opção preferencial pelo pobres”.

Sofreu pressões do “relatório Rockefeller” (1969)

15

, como se fosse uma estratégia comunista

14Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), foi um educador, pedagogo e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado

pedagogia crítica. É também o Patrono da Educação Brasileira. Disponível in:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire. Acesso em: 11/3/2017.

15Em 1967 o Presidente norteamericano Nixon designou o Senador Nelson Rockfeller para visitar os países da América Latina e estudar os posicionamentos da Igreja Católica quanto à oposição ao comunismo, e à ascensão de governos filo ou pró-comunismo. A viagem resultou no volumoso “Relatório Rockfeller”, que, sob aquele aspecto concluiu que a Igreja Católica não era mais um aliado confiável dos Estados Unidos na luta contra o comunismo. Disponível in: https://blogdopaulinho.com.br/2009/08/19/relatorio-rockfeller-%E2%80%93-lavagem-cerebral-religiosa/. Acesso em: 18/3/2017.

para buscar novos adeptos. Tem forte característica de questionar a hierarquia, e por isso gera

No documento apostaram em mim; a todos os leitores que (páginas 38-41)