De acordo com Sousa (2005, p. 62), esse método de oração da RCC se distancia em
muito dos métodos das CEBs. Nos grupos de oração não existe discurso racional
significativo, mas grande ênfase ao louvor com fortes afloramentos emocionais. O indivíduo
não precisa criar nenhuma reflexão crítica sobre a realidade, apenas fazer-se entrega para que
o Espírito Santo possa agir. Há uma valorização da transcendência fundada na relação entre o
indivíduo e o Espírito Santa. O fiel se entrega à vontade de Deus pelo Espírito Santo, num
longo período de efusiva adoração. Em algum momento enfatiza-se “o forte abraço e o aberto
sorriso é sempre acompanhado da expressão a paz do Senhor”. A promessa do milagre, da
cura também faz parte das atividades dos grupos de oração. Terminado o momento da oração,
cada um volta gratificado para suas casas e aguarda a próxima semana. Muito comum que
alguns não voltem, pois seus pedidos são pontuais. Uma vez tendo recebido o que buscavam,
não voltam mais até que necessitem de nova oração.
b) – Os Seminários de Vida no Espírito: Conforme Carranza (2000, p. 51), os
Seminários de Vida no Espírito são organizados para os iniciantes na RCC que aos poucos
vão sendo formados. Ao término da formação recebem o título de servos. Os SVES
acontecem a pedido dos párocos ou dos coordenadores de grupos de oração quando percebem
a necessidade de formar novos servos. São encontros que seguem uma metodologia própria,
preestabelecida pelo Conselho Nacional da RCC. A identidade da RCC é conservada
especificamente em função dos trabalhos dos SVES que conseguem transmitir seu estilo com
fidelidade. Através deles as lideranças são capacitadas, tendo em vista o treinamento dos
membros no desenvolvimento dos diversos dons e carismas. Esses SVES acabam ainda sendo
“oportunidades de experiência de oração para seus participantes”.
Conforme Sofiati (2011, p. 134), a “teologia carismática não foi pensada e
desenvolvida por biblistas”. Ela brota espontaneamente de uma “pratica carismática”, onde a
base são os pentecostais norte-americanos, como já visto. Assim sendo, todo trabalho de
formação a que deve se ocupar os SVES é o de trazer a “noção de vida nova”. Essa
experiência acontece quando o indivíduo se abandona numa profunda experiência na ação do
Espírito Santo. Em um segundo momento, o indivíduo deve fazer a experiência do “senhorio
de Jesus Cristo”. Jesus Cristo deve ser o direcionar da vida do indivíduo. Tudo está
praticamente centrado no batismo no Espírito com um dimensão de um “antes e um depois da
conversão”. Tudo muito simples, pois na realidade concreta, a teologia da RCC é mais
“coração e menos razão, onde as “emoções dominam as ações”. A preocupação maior do
movimento é o de “favorecer a renovação da Igreja (ICAR) local e universal, pela
redescoberta da plenitude de vida em Cristo pelo Espírito, o que inclui a gama plena de dons”.
c) – Os Cenáculos, rebanhões, encontrões e festivais: Como uma forma de estratégia
para atingir as grandes massas, a RCC promove as grandes reuniões. A primeira delas é
chamada de Cenáculo. Os Cenáculos têm sua justificativa no Pentecostes do Novo
Testamento. Fundamentam os Cenáculos no episódio do Pentecostes, quando estavam
reunidos no Cenáculo, Maria e os Apóstolos, e ali receberam o Espírito Santo, prometido por
Jesus (Cf. At 2, 1-13). Esses Cenáculos de experiência de oração geralmente têm a duração de
um dia. Para Carranza (2000, p. 52), são “verdadeiros megaeventos” que acontecem em
ginásios de esportes, sambódromos ou em locais descampados. Exemplo de um deles foi o
que aconteceu “em 1987 no estádio do Morumbi – SP. Ali reuniram mais de 150 mil
pessoas”. Em “Campinas em 1999 conseguiram reunir 20 mil pessoas vindas da região”.
Esses megaeventos da RCC são organizados com a intenção de atrair fiéis católicos afastados.
Com tais intentos procuram apresentar um “catolicismo vigoroso capaz de aglutinar
maiorias”.
No pacote de intenções querem ainda mostrar o poder e a hegemonia da ICAR.
Convidam sempre artistas e cantões famosos que ajudam a atrair grande pública. São vários
os serviços religiosos oferecidos nesses momentos em massa. Isso tudo acaba “favorecendo o
transito religioso”, segundo Carranza (2000, p. 53). Não faltam nesses eventos as promessas
de “curas físicas e interiores”. As promessas de milagres acabam sendo chamariz diante de
um público carente e sedento de espiritualidade buscando o conforto espiritual. Nesses
Cenáculos os pregadores são oficiais da RCC e as bandas e músicas acabam sendo as de mais
peso dentro do próprio movimento. Nesses eventos também acontecem as feirinhas religiosas,
com vendas de terços, livros, camisetas, imagens e outros. Não encontros não falta ainda as
celebrações eucarísticas”, de forma que se reforce a presença da ICAR.
Outros eventos são ainda oferecidos pela RCC, muito similares aos eventos das igrejas
pentecostais: Rebanhão, Encontrão ou simples retiro. Muito comum os retiros de Carnal,
como alternativas para o tempo de Carnaval. Segundo dizem seus membros, não basta criticar
o carnaval como tempo de pecado, é preciso oferecer algo proporcional. Geralmente são
quatro dias de louvor jovem com “orações, pregações, eucaristia e muita animação musical”
cristã. Esses eventos “atingem bastante os jovens da periferia”. Na mesma linha ainda é
bastante comum entre os jovens, católicos e demais pentecostais, os “barzinhos de Jesus”. São
animados em ritmo de rock, samba e heavy metal. O estilo principal é o gospel. Nesses
barzinhos pode-se, além de rezar e louvar, comer, beber, cantar e dançar. Geralmente são aos
domingos e tem como espaço os salões paroquiais da igrejas da ICAR. Segundo Pe. Eduard
apud Carranza (2000, p. 54), são uma forma de “resgatar o aprofundamento espiritual e atrair
jovens através da música, pois todos os meios são válidos para fazer evangelização, TV,
rádio, vigílias e barzinhos”. Esses barzinhos ajudam ainda no incentivo do surgimento de
muitas bandas religiosas. Algumas perseveram outras não.
Falando sobre a importância dessas bandas para a juventude cristã, Carranza (2000, p.
55), diz que elas “constituem, num elemento de coesão do grupo e reforçam sua identidade
carismática”. Por conta da atração que a música provoca na juventude outros trabalhos com
música ainda são promovidos, como os “encontros e festivais de bandas”. Esses eventos são
uma das prioridades do organismo nacional de ministérios de música do movimento da RCC.
Para um melhor aprofundamento sobre o tema RCC e juventude, pode-se buscar os trabalhos
de Sofiati (2014, p. 59). O citado autor escreve o artigo, Renovação Carismática e Teologia da
Libertação: elementos para uma sociologia da Juventude Católica. A proposta desse trabalho
é, grosso modo, apresentar que a juventude é constituída conforme a sociedade em que ela
existe. Sendo assim, “o ativismo dos jovens da RCC e da TL é bem diferente da ação dos
jovens que participaram do movimento estudantil”. A juventude da RCC segue a tendência da
RCC, como afirma Sofiati (2014). O autor trata em seu trabalho temas relacionados à
“namoro santo”. Um termo muito usados entre membros da juventude carismática, onde
entendem o “namoro sem relações sexuais. O jovem é fortemente orientado ao “não ficar”,
mas namorar sério. O tema sexualidade dentro da formação da RCC tem o intuito de
“moralizar e disciplinar os impulsos sexuais de seus membros e por isso, nos trabalhos com a
juventude isso acaba sendo ponto referencial. Os jovens que frequentam a Canção Nova
aprendem com o cantor “Dunga a proposta do movimento jovem, Por Hoje Não (PHN) vou
mais pecar”. É bastante famoso ainda dentro da juventude carismática o Instituto de vida
religiosa Toca de Assis, que faz um resgate ao ideal da pobreza franciscana para os dias
atuais. Assim podíamos falar ainda de comunidade Shalom, e outras que apresentam aos
jovens de hoje propostas que vão ao encontro de suas realidades.
Além da gama de projetos e secretarias que compõem os movimento da RCC, vemos
ainda as Comunidades de Aliança e Comunidades de Vida. De acordo com Carranza (2000, p.
62), “são herdeiros da proposta organizativa dos movimentos de revivência pós-conciliar”.
Para alguns autores, como Comblin (1983, p. 24), o papel dos leigos em movimentos diversos
denota um “rompimento” com o que antes era chamado, nas categorias tradicionais, de
“estados de perfeição”. Esses estados de perfeição era possível apenas para os religiosos
dentro de suas escolhas de vida seguindo os votos evangélicos: pobreza, obediência e
castidade. Era quase que um monopólio da vida religiosa consagrada. A RCC consegue trazer
essa realidade para dentro de suas comunidades.
Comunidade de Aliança: “agrupam pessoas entre casados, solteiros e solteiras, entre
No documento
apostaram em mim; a todos os leitores que
(páginas 114-117)