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A contribuição da farmacologia comportamental

Quando o assunto é a investigação de e fe ito s de contin g ê ncia s passadas sobre o com portam ento presente, a área da fa rm a colo g ia co m portam ental tem sido profícua na a presentação de estudos bem sucedidos. Estudos em fa rm acologia com portam ental sugerem alternativas de investigação de efeitos de história.

Efeitos interessantes foram relatados por Terrace (1963a). Os sujeitos de Terrace (pombos) mostravam desempenhos diferentes quando tratados com drogas, em função de uma experiência prévia. Nesse estudo, foram investigados efeitos das drogas clorpromazina' e imipramina” no desempenho de pombos que haviam sido treinados numa tarefa de discriminação. Foram usados dois procedimentos de discriminação: simples ou sem erro. O procedimento de discriminação simples é um procedimento de estabelecimento de controle de estímulos, no qual respostas são reforçadas diferencialm ente. Num procedimento de discriminação sem erro, o estímulo S- é apresentado9 por um período extrem am ente curto, im pedindo-se a ocorrência de respostas na sua presença, concomitantemente, ao reforçamento das respostas que ocorram na presença do estímulo S+ Numa primeira fase, um grupo de pombos foi subm etido ao procedim ento de discriminação sem erro e um outro grupo a um procedimento convencional de discriminação. Ao final dessa primeira fase, os pombos, nos dois grupos, apresentaram um desempenho estável com alto índice d iscrim in a tivo 10, independentem ente do procedim ento de discriminaçãausado. Quando as drogas eram administradas, na fase de teste, os sujeitos que haviam passado pela contingência de discriminação convencional aumentaram a taxa de respostas durante a apresentação de S-. Além disso, as drogas não tiveram efeito sobre a taxa de respostas em S- para aqueles sujeitos com experiência prévia no

* O procedimento d« mutchmg to samp/e (o termo tem tido traduzido em português como '««colha d« acordo com o modelo" ou ainda "pareamenlo d« acordo com o modelo") é urn procedimento d« discriminação no qual um modelo é apr«Mnlado • logo depois o «ujsilo dava emitir uma resposta de eicolha de acordo com o modelo apr«t«ntado Diferentes dim*n«Oe> do modelo podem »er uiadas como critério para que • • considere uma resposta de eacolha como correia, como por exemplo, a poaiçAo, a forma, a cor etc.

’ Clorpromazina é uma droga u«ada como tranqüilizante em pacientes diagnosticados com esquizofrenia e outras psicoses. Também é usada

como inlbidora de vAmitos e náuseas

* Imlpramlna é uma droga usada como auxiliar no tratamento de depressão

* S- é um estimulo discriminativo na presença do qual há uma baixa probabilidade de reforçamento, em oposição ao S *, que é um estimulo discriminativo na presança do qual há uma alta probabilidade de reforçamento

1110 Indico discriminativo (ID) é a média da taxa de respostas corretas, dividida pela soma das taxas médias das respostas corretas e das respostas incorretas, multiplicada por 100.

procedim ento de discrim inação sem erro. Ou seja, as drogas produziram efeitos comportamentais diferentes, em função de uma exposição prévia a uma história particular. No final da década de 70, Urbain, Poling, Millan e Thompson (1978) usaram ratos como sujeitos e mostraram também a modificação de efeitos de drogas no comportamento, em função de uma história construída no laboratório. Inicialmente, os sujeitos foram expostos a sessões de FR40 ou de DRL11seg. Numa segunda fase, todos os sujeitos foram expostos a um esquema de Fl 15seg até o ponto em que o responder dos sujeitos foi considerado estável. Na fase de teste, ainda em esquema de Fl, foram administradas diferentes doses de d-Anfetamina11 antes das sessões experimentais. Observou-se, para todas as doses, um aumento na taxa de respostas dos animais com experiência prévia em DRL e uma diminuição na taxa de respostas para os sujeitos com experiência prévia em FR. As drogas produziram efeitos completamente opostos, justamente em função da história construída na Fase 1.

Apesar de utilizarem procedimentos bastante distintos, o experimento de Terrace (1963a) e o de Urbain e col. (1978) sugerem algo instigante para os estudiosos do comportamento: a possibilidade da recuperação de efeitos de história sobre um responder estável e que, aparentemente, não mostra influências da exposição a contingências passadas.

Num experimento clássico, Barrett (1977) investigou justamente essa possibilidade da recuperação de uma certa história sobre um responder atual que, metaforicamente, escondia efeitos de contingências passadas. Barrett usou quatro macacos (squirrel

monkeys) como sujeitos. Dois deles eram ingênuos e os outros dois haviam sido expostos,

previamente, a um procedimento de fuga-esquiva12 com choque como estímulo aversivo. Os quatro sujeitos foram expostos, na Fase 1, a um esquema de FI5min com alimento como estímulo reforçador e, concomitantemente, a um esquema de FR30, com choque elétrico como conseqüência. Depois de estabilizado o comportamento, observou-se que o desempenho era parecido para os quatro sujeitos. Numa segunda fase, foi administrada a droga d-Anfetamina e observou-se que o desempenho dos sujeitos variava em função da exposição prévia a contingências específicas. Quando o responder foi seguido pelo choque, a droga aumentou a taxa de respostas dos sujeitos que haviam passado pelo procedimento de esquiva, mas não teve efeito para os outros dois sujeitos. Numa última fase, os sujeitos que eram ingênuos no início do estudo passaram por um treino em esquiva. Um novo tratamento com a droga d-Anfetamina foi, então, administrado e os sujeitos passáram a responder com uma alta taxa de respostas.

Um aspecto curioso nesses estudos com droga é que, freqüentemente, diferentes drogas evocam efeitos de experiências passadas, mesmo em desempenhos estáveis e sob forte controle das contingências correntes. Em ambos experimentos aqui citados (Terrace, 1963a e Urbain e col. 1978), antes da introdução da fase de teste, o responder corrente dos sujeitos experimentais estava sob controle das contingências em vigor, independentemente da história a que haviam sido submetidos. Em função de uma exposição prévia a um certo arranjo de contingências, as drogas "revelaram" ou "desmascararam" efeitos de experiências passadas que, se não fosse a introdução da droga, não teriam sido revelados.

M A d Anfetamlna 6 uma droga de aç*o no sistema nervoso central e * freqüentemente usada como anlidepressivo e também no tratamento de controle de apetite em casos de obesidade

” Num procedimento de fuga-esqulva o sujeito experimental é colocado numa situaçflo de fuga ■inalizada na qual um estimulo averslvo. um choque por exemplo, é liberado na presença de um certo estimulo discriminativo e uma resposta, digamos a de presslo i barra, desliga o choque O sujeito fica nessa sltuaçAo até aprender a resposta de esquiva, ou se)a, uma resposta que evite a apresentação do choque.