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Competências fetais no terceiro trimestre de gravidez: sua funcionalidade ao nascimento

Ç im o ! Benzaqucn Pcrosa FdcuUidüc dc M cd icim dc Hotucdtu

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U N t S P

A té pouco tam po «trás, a vida fetal, em funçAo d e tu a natureza ab rig ada, era c on side ra da um m un do to talm en te A parte. O s avanços das ciên cias m éd ica s e biológicas, e sp ecia lm e nte a con sta taçã o de c om p etê ncia s no re cé m -na scido (re con he ce a voz m ate rn a, d iscrim in a ch e iro e pa lad ares...), alia do s As d e sco b e rta s te cn o ló g ica s (m icroch lp s, do pp ler, ultra -so m ...), perm itiram um staíus em p írico ao feto, a po ssibilida de de estud os no seu pró prio m eio de de sen volvim en to e a o b serva ção de sua inte raçã o c om o am b ie nte Interno e e xterno O pre sen te trab alh o pre ten de a p rese nta r um a revisão d o s resu ltad os de p esquisas desenvolvidas nos últim os anos sobre com p etê ncia s fetais, e n fa tizan do pnnclp alm en te as evidências exp erim en tais

110 que se refere á aprendizagem , m em ória e em oções As pesquisas dem onstram que todos os sentidos já se encontram

opera nd o a partir do segundo trim estre ge sta cio na l, m as que a a p ren dizag em de no vas respostas, estud ad a a partir dos p a rad ig m as de c o n d icio n a m e n to clá ssico , ha bltu açA o, e a p re n d iza g e m p o r exposIçAo, só fo i c o m p ro va d a no te rce iro trim e stre de gestaçAo. E stud os com re cé m -n a scid o s pro vam qu e re sp o sta s ap re n d id a s na con dlçA o intra -u te rln a sâo m an tida s no repertório com p ortam e nta l algum te m p o após o parto. A p esa r da s e sp ecu laçõ es, ainda há po uca s evid ên cias, de cará ter cien tifico, do d e sen volvim en to em o cio na l. D iscute m -se as p o ssíve is fu nçõ es qu e as a p ren dizag en s po ssam ter no pós-natal: preparar adaptaçAo ao m un do em q ue a cria nça vai viver, fa cilita r o reco nh ecim en to e ap ego á m ãe e p ro m o ver o ale itam en to natural.

P a la v ra s -c h a v e : feto, apren dizag em pré -n ata l, con dicio na m e nto clássico .

R esearch scientlsts w ho study th e beha vlor o f hum an m fants ob serve d that ne w bo rn bables resp on d to their e n vlro ne m en t from th e first da y o f po stn ata l life. They can reco gn lze th eir m o th e r's v o k » , a re resp on sive to m aternal od ors and m llk taste. T hese data m ay sug ge st that learning begin be fo re birth In th e pa st th e asse ssm en t o f fe tal resp on se had to de pu nd on pe rcep tlon of fetal m ove m e nts by th e m oth er or an othe r observer, but m eth od s as D o p ple r ap pa ratu s and ultra sou nd now allow accu rate ob serva tlon o f heart rate, fe tal m ove m e nts and bre ath lng p a tte rns and p e rm it em p lrical In vestlg atlo n o f fetal behavior cap acitie s and the inte rative be ha vioral d e velo pm en t in utero. This review sum m arize research on th e d e velo pm en t of beha vlor be fo re birth includm g e vid en ces from fe tal learning, m em ory and e m o tion S tud ie s uslng differen t paradig m s, speclally classical conditio nin g, have ali de m on stra te d succe ssfu l lea rn ing and th e pre sen ce o f m em ory ab llltle s in tho fetus. T he re Is little d lrect evid en ce to support at pre sen t em o tion al life P o ssible fu nctio ns o f th ese le a m ln g s m ay be fo r the de velo pm en t of alta cíim en t, m aternal reco gn itio n and the pro m o tion o f bre astfee ding .

K e y w o rd s : fetal be ha vlor, fe tal learning, classica l con ditio nin g.

Até pouco tempo atrás, pouco se sabia da vida intra-uterina. As informações disponíveis provinham das observações dos obstetras sobre movimentos perceptíveis e apalpações, mas, principalmente, do relato das mães. A vida fetal, até então invisível, era considerada um mundo à parte e, acreditava-se que o real início da vida só se dava após o nascimento. Para alguns autores, o feto era considerado uma tábula rasa; no outro extremo, a vida mental fetal era objeto de especulações adultomorfas, atribuindo-se-lhe complexas fantasias, alta sensibilidade (de rejeição materna, por exemplo), de previsões de sua vida futura ("chuta porque sabe que será jogador de futebol") e até superpoderes comunicativos (telepáticos, por sonhos...).

Vários fatores impulsionaram, nas últimas décadas, essa área de pesquisa. De um lado, motivos políticos e sociais, como os movimentos pró e anti-aborto; de outro, a visão de recém-nascido, não mais considerado como uma larva, mas como organismo competente atuando com o ambiente desde o nascimento e, finalmente, os avanços das ciências médicas e tecnológicas (dopplers, chips e principalmente ultra-som) que lhe deram status empírico. A observação dessas competências nos recém-nascidos permitia supor que a interação entre inato e adquirido se iniciava na fase intra-uterina; que as estruturas sensoriais não só estavam prontas, mas funcionando e que comportamentos apresentados nos primeiros dias de vida deveriam ter sido adquiridos em período fetal. As novas tecnologias permitiram comprovar essas crenças, com pesquisas e até experimentos.

O interesse pelo mundo intra-uterino é muito antigo. Os primeiros trabalhos focalizavam principalmente a relação da mãe com o filho (ainda não nascido), centralizando- se nas experiências emocionais. Em 1981, Thomas Vemy e John Kelly lançam, nos Estados Unidos, "A vida secreta da criança antes de nascer", um livro repleto de relatos e experiências emocionais fetais. Ao lado de dados observacionais e epidemiolôgicos, outras técnicas de coleta bem menos ortodoxas aparecem: a produção de sonhos ou relatos de adultos hipnotizados. A maioria dos trabalhos correlaciona vivências traumáticas da mãe durante a gestação, com marcas profundas na vida futura da criança (Vemy e Kelly, 1991).

Se esses dados podem ser clinicamente úteis, têm a desvantagem da subjetividade e, em alguns casos, da pura imaginação. Segundo Piontelli (1995), embora existam várias coisas relacionadas com a mente, é basicamente através das manifestações somáticas do feto, especialmente as respostas motoras a determinados estímulos, que se pode inferir seu provável funcionamento mental. A partir dos movimentos, podem-se deduzir as funções sensoriais e as altas funções do cérebro, como aprendizagem e memória.

Apesar das primeiras observações ultrassonográficas datarem de 1971 (Piontelli, 1995) há uma produção científica anterior, especialmente do último trimestre de gravidez, com a medição de batimentos cardíacos através de dopplere movimentos captados por estetoscópio, que p ossib ilita ra m o bservar a co rrela çã o de re spo stas m otoras a estimulações específicas, segundo paradigma de condicionamento clássico (Hepper, 1996).

O ultra-som permitiu observar respostas motoras em idade muito precoce. Os primeiros movimentos são observados na 8* semana, com um repertório que se amplia rapidamente; a partir da 10a semana, já se registram movimentos de mão tocando o rosto, bocejos, abertura dos maxilares, e movimentos de língua; na 12* semana, movimentos finos dos dedos e pôr volta da 15* semana o repertório motor está completo (Piontelli, 1995).

Com relação às funções sensoriais, os estudos embriológicos com fetos expelidos permitiam determinar em que idade gestacional as diferentes estruturas morfológicas estavam totalmente formadas, mas prevalecia a crença de que elas permaneciam adormecidas até o nascimento. Foi somente em 1920 que o fisiólogo Feldman sustentou que, com exceção da visão, todos os sentidos recebiam estimulação do ambiente, in

útero. No entanto, até a década de 70, muitos respeitáveis cientistas continuavam

acreditando que o feto só podia ser alcançado por estimulações tácteis (Piontelli, 1995). Os primeiros estudos funcionais priorizaram a capacidade de resposta a estímulos proprioceptivos e tácteis, na década de 20, em pesquisas clássicas de reflexologia fetal, geralmente observando-se fetos expelidos ou prematuros. Reações reflexas intra-uterinas só eram observadas, ocasionalmente, quando o feto era picado acidentalmente pela agulha

durante a amniocentese (Piontelli, 1995). Só recentemente foi demonstrado que os sentidos humanos encontram-se operando pelo menos a partir do segundo trimestre de gestação, com respostas fetais a estímulos tácteis, de pressão, cinestésicos, térmicos, auditivos, olfativos e dolorosos. As reações decorrem, principalmente dos estímulos provenientes do ambiente uterino, composto pelas paredes do útero, as membranas extraembriológicas (amnion e córcon) e pelo liquido amniótico. Esse ambiente contribui para a regulação do comportamento fetal, como fonte de estimulação e criando o contexto físico em que o co m portam ento ocorre (S m otherm an e R obinson, 1996). Os e stím u lo s provêm prioritariamente deste ambiente, mas já há pesquisas suficientes demonstrando que os estímulos externos, apesar de atenuados, acabam atingindo os receptores fetais.

Os trabalhos mais recentes abandonam o tato e priorizam a estimulação gustativa, olfativa e especialm ente a auditiva. Reconhece-se, entretanto, que os estudos do tato precisam ser retomados, tendo em conta a riqueza e importância do toque, nos primeiros dias de vida (Herbinet, 1985).

Algumas evidências científicas

Há quem diga que as pesquisas atuais, com a utilização de modernas tecnologias, nada mais fez que demonstrar o que as mães sabiam há muito tempo: que o feto interage com o ambiente externo e interno e que, desde a fase fetal, já mostra peculiaridades em seus comportamentos que garantem sua individualidade e decorrem de sua estória de vida.

Possivelmente as estimulações visuais in u tero são muito limitadas, o que acabou restringindo esse campo de pesquisa. Liley, em 1972, mostrou que o facho de luz pode atravessar a parede abdominal (conforme citado por Piontelli, 1995). Outro estudo mostrou que uma luz forte, aplicada ao baixo ventre da mãe, provoca movimentos de abrir e fechar as pálpebras, no último trimestre de gravidez (Birnholz, 1981).

Com relação à gustação, um artigo antigo de 1937, escrito por De Snoo (citado por Piontelli, 1996), mostrava que o feto humano engole maior quantidade de líquido amniótico se este for aromatizado e que engole menos se for injetada uma substância amarga. De 24 a 28 semanas, o feto tem preferência por sacarina (Verny e Kelly, 1991). Sabe-se também que a dieta materna, especialmente comidas muito condimentadas com alho ou curry e a ingestão de álcool alteram o paladar e odor do líquido amniótico e do leite, aumentando a freqüência da resposta de sucção (Mennella e Beauchamp, 1991a e 1991 b). Os estudos com recém-nascidos, já mostravam que sem qualquer experiência pós-parto, eles exibiam satisfação quando expostos ao cheiro de banana, morango ou baunilha e rejeição ao odor de peixe e ovo podre (Chamberlain, conforme citado por Piontelli, 1995).

Essa predisposição por odores ao nascer criou uma curiosidade quanto ao seu desenvolvimento na fase fetal e possível condicionamento intra-uterino. Alguns desses experimentos foram realizados com animais. Smotherman, (citado por Kolata, 1984) pareou, em ratas prenhas, uma substância química que provoca náusea e vômitos - o cloreto de lítio -c o m um estímulo neutro (ou agradável), no caso suco de maçã, injetados no líquido amniótico, 2 dias antes do nascimento. Dezesseis dias após o parto, os ratos do grupo experimental evitavam, sistematicamente, chupetas embebidas em suco de maçã. O

mesmo não ocorria com ratos que não haviam sido subm etidos ao paream ento. Posteriormente, usando uma técnica de observação direta intra-útero, Smotherman e Robinson (1986) parearam menta, uma substância considerada agradável pelas ratas, ao cloreto de lítio. A solução de menta provoca movimentos, rotação em direção à solução e movimentos bucais. Dois dias apôs, ainda em fase fetal, com a apresentação da menta, os fetos pararam de movimentar-se. Essa mesma reação é emitida normalmente, frente ao cloreto de lítio.

Por seu lado, Blass e Peterson (citado por Kolata, 1984), também interessados em estudar condicionamento pré-natal em ratos, criaram uma técnica diferente. Observaram que os ratos recém nascidos só começam a sugar após a rata ter embebido seus mamilos em líquido amniótico. Este comportamento facilitaria o apego e o reconhecim ento, por parte da cria, de um estímulo conhecido. Os pesquisadores injetaram no líquido amniótico uma solução cítrica que não tinha gosto, mas um odor característico de limão. Quando os filhotes nasceram, eles mamaram em mães que haviam sido lavadas, das quais se retirou o líquido amniótico e apenas havia sido espalhado o cheiro de limão. Ratos que não haviam tido exposição pré-natal ao odor cítrico não mamaram nessas fêmeas.

Varendi, Porter e Winberg (1996) testaram a atratividade olfativa do líquido amniótico em recém-nascidos humanos e demonstraram que há uma preferência significativa em mamar seios embebidos em liquido amniótico, na primeira hora após o parto. Segundo esses pesquisadores, as pistas olfativas (além de outras) auxiliariam a localizar a fonte alimentar e teriam um papel importante na escolha pela amamentação ao seio e pelo desenvolvimento do apego. Baseados nestes resultados, chegam a aconselhar que não se utilizem produtos artificiais com cheiro forte (desodorantes, talcos, perfumes) para não mascarar o odor natural do seio.

Talvez os estudos mais interessantes estejam associados à audição. Por muito tem po se acred ito u que os baru lh os p red o m ina n te s no a m bie n te u te rin o eram cardiovasculares, digestivos e a voz materna ouvida de forma muito atenuada (Querleu e cols., 1984). A preferência pela voz materna se mantém após o nascimento (Mehler e Dupoux, 1988). Em 1982, Vince, Armitage, Baldwin, Toner e Moore demonstraram que a voz materna de 60 decibéis é ouvida como 24 decibéis, e tem como conseqüência um aumento da freqüência cardíaca. No mesmo ano, Gelman, Wood, Spellacy e Abrams (1982) provaram que o feto reage a outros sons externos, além de voz materna, inclusive vozes humanas, com aceleração do batimento cardíaco.

Em outro trabalho, utilizando minigravadores instalados no útero de ovelhas prenhas, Baldwin, Toner, Vince e Weller (1983) mostraram que, apesar de não se poder decodificar uma conversa, algumas palavras são perfeitamente reconhecíveis.

Mas são os estudos de De Casper e colaboradores que melhor demonstram a relevância das experiências auditivas e os efeitos duradouros da aprendizagem fetal. Esses pesquisadores criaram um aparato que consistia em uma mamadeira não-nutritiva conectada a um gravador: alterando o padrão de sucção, recém-nascidos podiam produzir, de modo operante, uma gravação da voz de sua mãe ou a gravação de outra voz feminina. Um grupo de recém nascidos, com 3 dias de vida, adaptou-se rapidamente ao aparato e após 20 minutos produzia, com diferença significativa, a voz de sua mãe (De Casper e Fifer, 1980). O experimento mais instigante veio a seguir. De C asper e Spence (conforme citado por Hepper, 1996) investigaram se o feto conseguia distinguir, entre diferentes sons, padrões

familiares produzidos por uma mesma voz. Grávidas, durante as últimas 6 semanas antes do parto, liam, duas vezes por dia, em voz alta, uma mesma estória infantil ("The cat in the hat"). Quando os bebôs nasceram, utilizou-se o mesmo aparato anterior. Agora, os bebês, sugando a mamadeira não-nutritiva, podiam produzir uma gravação de suas mães contando a estória que haviam ouvido intra-útero, ou a mesma voz contando uma estória de métrica semelhante. Os bebôs sugavam para ouvir, repetidamente, "The cat in the hat".

Com relação á voz masculina, ela ó mais profunda e poderosa e ó melhor transmitida, todavia aparece nas mais baixas freqüências, se o barulho basal for muito alto (Querleu e cols., 1986).

Como se pode perceber pela maioria dos estudos, o interesse não está apenas em demonstrar se os estímulos alcançam os receptores e provocam respostas, mas em saber se se pode pensar em aprendizagem fetal. Para isto, foram utilizados diferentes paradigmas de aprendizagem: condicionamento clássico, habituação e aprendizagem por exposição.

Segundo Hepper (1996), o experimento mais antigo data de 1932 e foi realizado por Roy. Tentou-se gravar uma vibração, comprovadamente neutra, com um barulho alto (UCS) que provocava chutes do feto. Apesar de contar com um sujeito apenas, o relato parece sugerir que o condicionamento foi bem sucedido. Usando um procedimento similar, mas com uma situação experimental bem controlada, Spelt (1948) relatou que um grupo de fetos, no último trimestre de gravidez, após passarem por 15 a 20 pareamentos, respondiam com alteração de movimentos, especialmente chutes, quando um estímulo previamente neutro, ora condicionado (a vibração), era associado a um som alto (UCS). O experimento contava com um grupo de fetos mais jovens (6 meses) que não respondeu ao pareamento, e um grupo submetido apenas à vibração, até o fim da gestação, que continuou não respondendo a este estímulo.

Em 1981, Feijoo (citado por Hepper, 1996) pareou um trecho musical (o som de fagote de "Pedro e o Lobo" de Prokofiev) com um estado de relaxamento materno profundo (UCS), durante 12 minutos, em momentos diversos da gravidez, somando 24 pareamentos. Quando Feijoo observou os fetos, no 8o mês de gravidez, percebeu que rapidamente paravam a movimentação ao ouvir a música, o que ele interpretou como antecipação do estado de conforto induzido pelo relaxamento materno. Estudando esses recém-nascidos, constatou que ao som da música paravam de chorar, abriam os olhos e exibiam um número maior de movimentos clônicos.

Outro paradigma de aprendizagem estudado foi a habituação. Habituação pode ser definida como o decréscimo de uma resposta após repetidas apresentações a um mesmo estímulo (Hepper, 1996).

Herbinet (1985) apresenta dados interessantes de pesquisas efetuadas por Ando e Hattori, na cidade de ftami, nas proximidades do aeroporto de Osaka, no Japão. É uma localidade que sofre com o barulho dos motores de aviões de grande porte, voando em baixa altitude. No berçário da maternidade, alguns recém-nascidos acordavam a cada passagem dos vôos, mas outros continuavam dormindo. Partindo desta constatação, os pesquisadores entrevistaram as mães e perceberam que o fato de acordar (ou não) com o barulho estava relacionado com a época em que as mães, durante a gravidez, haviam se mudado para Itami: 50% das crianças cujas mães chegaram à cidade após o 5“ mês de gravidez, acordavam e choravam á passagem dos aviões; 13% tinham a mesma reação se

as màes se instalaram na cidade entre o 10 e 3o mês de gravidez e apenas 6% acordavam se as mães moravam em Itami desde o início da gravidez.

Segundo Hepper (1996), a habituação foi o paradigma mais estudado, especialmente a estímulos auditivos, entretanto há poucas conclusões devido à precariedade das condições experimentais. Parece provado que o feto se habitua a estímulos auditivos com 22 ou 23 semanas gestacionais. Se as pesquisas pudessem ser realizadas com estímulos olfativos ou gustativos, que ativam estruturas cujo desenvolvimento é anterior ao aparelho auditivo, possivelmente pudesse ser provado a habituação fetal em idade mais precoce (Hepper, 1996).

O último paradigma testado com fetos ó a aprendizagem por exposição. Segundo Hepper (1996), esse paradigma tem potencial de ser um instrumento poderoso na exploração da aprendizagem e memória fetal, dando ao experimentador o controle na apresentação de estímulos e testes subseqüentes.

Um estudo desenvolvido por Hepper investigou a habilidade de fetos para aprender o tema de um seriado da televisão americana, “Neighbours”, ouvido freqüentemente pela mãe durante a gravidez. Os fetos expostos ao som antes da 30“ semana não mostraram mudanças comportamentais, mas aqueles expostas à música entre a 30“ e 37* semana gestacional tiveram um aumento significativo dos movimentos. Essas crianças, com 2 a 4 dias de vida, ao ouvir a música ficavam alertas, paravam de movimentar-se e diminuía a freqüência de seus batimentos cardíacos. A mesma reação não ocorria frente a outros temas de novela. Os bebês foram privados da música de "Neighbours” até o 21° dia. Quando o som foi introduzido não se obteve nenhum a mudança significativa no comportamento, de onde o autor deduz que a resposta se extingue se não houver exposição pós-natal (Hepper, 1988).

Se já há evidências suficientes mostrando que várias competências são adquiridas na fase fetal, ainda é muito grande a polêmica quanto à função dessas aquisições no desenvolvimento. Parecem ter um papel fundamental no reconhecimento materno e no processo de apego. Discriminar alguns aspectos matemos na fase fetal (gustativos, auditivos, olfativos) permite ao recém-nascido reconhecer um estímulo ‘‘familiar" para interagir após o nascimento. Se, por um lado, esse reconhecimento pode trazer segurança para o bebê, por outro, pode ser uma fonte de prazer para os pais que foram reconhecidos. Nas palavras de Herbinet (1985): “Para os pais, ser o objeto escolhido, certamente será uma fonte emocional poderosa; para a criança ó uma forma de se fazer adotar” (p. 54).

Como já foi mencionado,a aprendizagem in útero pode ter um papel importante