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Donald Trump e os horizontes da questão ártica

3.1 As consequências da eleição de Trump no Ártico

3.1.2 A convergência económica

Continuando a traçar um mapa ideal de quais seriam os horizontes da questão ártica após o ingresso de Donald Trump como novo fator desta complexa equação, na análise de todas as declarações eleitorais e pós-eleitorais do Presidente em termos de desmontagem da política económica levada à realização pelo seu antecessor Obama e de focalização dos objetivos orientada para uma nova auto-suficiência económica de tipo intensivo e privo de preconceitos acessórios – entre os quais tem que se ter em consideração a problemática ecológica precedentemente tratada – é devido pensar que na zona Ártica a restauração das condições favoráveis à joint-venture entre a Exxon Mobil e a russa Роснефт251 tenha que se revelar uma etapa fundamental para o conseguimento deste propósito.252

Alcançar esta condição de junção económica irá-se mostrar como um dos objetivos mais explícitos na política ártica de Donald Trump, mesmo que não vá prescindir duma nova convergência intencional com o governo russo após tantos anos de distância sob o ponto de vista político, e por isso reveler-se-á fácil perceber quais serão as ações dos dois governos para restaurar condições ideais que levarão a uma nova condição de saúde económica, apesar das consequências ecológicas menores, mas com um devido cuidado sobre as consequências mais evidentes, no respeito da ideología artico-céntrica da Federação Russa.253

251 Russo: “Rosneft”

252 Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.3

253 Akulov, Andrei, Arctic: Incredibly Important Issues on Russia-U.S. Agenda, Strategic Culture Foundation Journal, Moscovo, 14-11-16, p.3

77 O diálogo será necessário. E, vista a natureza do interesse que leva Donald Trump a procurar um contato e uma cooperação com Путин254, vistas as preferências expressadas por Путин255 nos atos diplomáticos dos últimos anos e visto o objetivo ambicioso que os dois governos intendem alcançar, é já possível indicar que uma figura central no conseguimento desta operação será o chefe executivo da Exxon Mobil, próximo a Путин256 na visão política e homem de confiança de Donald Trump, o Secretário de Estado dos Estados Unidos Max Tillerson.257

Como já visto, o fenómeno que causou um declínio da colaboração entre a Exxon Mobil e a Роснефт258 no meio da crise diplomática de 2015 que rasgou a rede de colaborações entre Estados Unidos e Federação Russa foi a imposição de sanções económicas operada por Obama cujos efeitos afastaram a Роснефт259 do projeto de

trabalho cooperativo, isolando as duas companhias na procura de proveitos através da exploração dos recursos descobertos na calota.

Sergunin, na sua análise das relações entre os russos e os norte-americanos, contrapõe o risco de alienação de futuros negociadores russos já mencionado – em caso de ameaça concreta e identificável à liberdade operativa dos russos na própria zona de reivindicação territorial – à esperança, expressada pelo governo de Moscovo e parcialmente confirmada pela eleição de Tillerson para a carga de Secretário de Estado, que Donald Trump resolva revisionar – ou mesmo eliminar radicalmente – estas sanções declaradas obsoletas pelas partes em causa, inclusive a proibição dos projeitos sobre a extração off-shore de hidrocarbonetos fósseis em forma de gás e de petróleo.260

254 Russo: “Putin”

255 Idem

256 Idem

257 Di Christopher, Tom, Exxon Mobil Could Tap Huge Arctic Assets if US-Russian Relation Thaw, CNBC, 13-12-16, p.1

258 Russo: “Rosneft”

259 Idem

260 Sergunin, Aleksandr’, excerto de: Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.3

78 Um potencial problema para a realização desta veleidade está no fato que diferentemente das figuras prominentes destas instituções operativas na indústria extrativa, as quais já declaram a vontade de tornar-se entidades centrais na economia do governo estadounidense, o lado executivo do governo Trump, inclusive a figura presidencial, nunca evidenciaram o Ártico como singula entidade em consideração, nem como sujeito específico para deliniar uma linha de conduta clara e analisável pelas outras partes em questão.261

A questão ártica, de momento, está confinada no papel de side issue no programa político sobre a gestão e a racionalização de todos os recursos de gás e petróleo a disposição dos norte-americanos, os quais – prometem – serão geridos de maneira marcadamente pragmática e de forte conotação liberal, e portanto os recursos da zona polar são apenas reduzidos a adendos de uma sumatória muito mais complexas e de urgência considerada mais significativa.262

Neste caso, como substém Rob Huebert, a questão ecológica e os horizontes económicos estão entrelaçados numa relação de proporcionalidade inversa. Ao cuidar de um aspeto, corre-se o risco de perder posições no outro, sem se atingir um equilíbrio substentável.

Emblemáticas são as suas declarações, que irão ser analisadas nesta investigação como pilares para uma compreensão aprofundada das possibilidades realizativas da política dos dois Países no Ártico, em que o professor prediz como o novo governo de Donald Trump irá realizar:

“... a complete reversal of U.S. policy, in particular regarding the development of fossil fuels.”263

A polarização de Trump em direção da exploração intensiva do quantitativo de recursos subterrâneos deixa pensar que esta relação entre a ecologia e a economia, enquanto sob o precedente governo de Barack Obama parecia pender para a primeira

261 Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.3

262 Ibidem

263 Huebert, Rob, excerto de: Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.3

79 questão, ou seja, para o respeito do ambiente e o controle sobre operações em joint- venture de segura vantagem económicas, agora irá mudar de tendência, deixando as preocupações dos pesquisadores operativos na zona por lado e dando uma esperada luz verde às companhias extrativas e aos interesses económicos.264

Continua assim Huebert:

“...U.S. outgoing President Barack Obama was slowly moving towards a ban of any type of new development in the Arctic region.

Trump made abundantly clear that his major focus will not be about respecting the Paris accord but rather insuring that the U.S. has energy self-efficiency. Part of that efficiency will be based on opening up resources in the Arctic”265

Explicitando então que existe um regime hierárquico entre a divergência ecológica e a convergência económica com a visão política da controparte russa, que enquanto via uma preferência – visível pela atitude para a distância mostrada pelo ex- Presidente Barack Obama – para o fator ecológico, agora vê promovido o fator económico, de importância central para a restauração de uma supremacia definida perdida, e de uma liderança económica que não abrange apenas o âmbito ártico mas que irá re-propor os Estados Unidos como colosso económico mundial absolutamente indisputado.266

Como solução, então, ao deslize e ao suspeito que ainda se furece no Ártico entre os norte-americanos e Путин267, Huebert conclui a sua exposição tendo como prospeção para o futuro um possível:

“much more welcoming regime for companies to return the Arctic once the oil prices rebound, as they inevitably will”268

264 Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.3

265 Huebert, Rob, excerto de: Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.3

266 Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.3

267 Russo: “Putin”

268 Huebert, Rob, excerto de: Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.3

80 voltando assim à projeção aqui exposta e confirmada por Sergunin que considera a revisão radical das sanções impostas por Obama anos atrás como uma condição necessária para uma restauração do motor económico no âmbito ártico.

Sempre Huebert, porém, ipotiza que uma outra condição necessária à sobrevivência saudável de um estado de saúde económica na questão Ártica e nas suas operações seja uma clarificação das posições dos dois Presidentes, Trump por um lado que ainda não tem explicitado quais serão as diretivas de política externa face a esta questão, e Путин269 pelo outro que ainda se encontra na fase de avaliação dos danos provocados pela oposição de Obama e a sua imposição de sanções, e que além de uma atitude acolhedora nas declarações oficiais ainda não mostrou uma verdadeira resolução nos contatos com a controparte relativamente a esta questão.270

De momento, declara, a relação recém-nascida entre o presidente dos Estados Unidos e o da Federação Russa, pode-se definir:

“[a] bizarre relationship Trump is developing with the Russian President Putin” 271

e, consequentemente, ainda não previsível nem avaliável, por causa da extrema contemporaridade da questão.

Porém, enquanto Huebert limita-se a definir os relacionamentos entre as duas superpotências apenas hipotetizando um sucessivo desenvolvimento da situação económica, o professor James Kraska, figura do US Naval War College propõe como perspectiva futura uma ação mais mediada por parte dos Estados Unidos, não considerando como provável uma pulsão extrema à esploração intensiva em condições de total liberdade operacional.272

269 Russo: “Putin”

270 Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.4

271 Huebert, Ron, excerto de: Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.4

81 A sua análise considera os Estados Unidos como uma figura em fase de abertura de mentalidade e de maior atenção à quantificação dos proveitos, contra a proibição e a teimosa negação de que deu mostra a política de Obama.

Em relação a isto, o professor afirma que:

“I think we can see the U.S. adopt a more balanced approach to offshore oil and gas development, much like Norway has”.273

Para além disso, apesar de ser o futuro o único revelador de quais serão as ações dos dois Presidentes em relação a esta situação, e qual será a polaridade de Donald Trump na escolha dicotómica entre a preservação da natureza e das condições ecológica do bioma ártico e a liberalização da exploração de recursos em favorecimento do lado económico e da operatividade das companhias extrativas – lembramos a centralidade da posição política de Max Tillerson como fator emblemático para tomarmos em consideração – é já possível avaliar quais serão as ações de provável realização em campo economico pelo Presidente recém-eleito. A maioria dos investigadores concordam em considerar como Trump queira sair das condições proibitivas do acordo de Paris, e que tenha uma tendência a favorecer o proveito em relação a causas ambientais e fatores contrários ao enriquecimento do seu País. Não é difícil pensar que a única maneira para que ele realize este projeto seja restaurar o diálogo com a presença economicamente mais relevante na calota ártica, revendo radicalmente as sanções e deixando aos russos – ao governo de Путин274 por um lado e à companhia extrativa Роснефт275 pelo outro uma maior

liberdade de ação.

Porém, enquanto o espetro do sistema ecológico-económico pareça mais claro e a tendência futura apareça bastante previsível, o que complica a formação deste mapa ideal das relações entre Estados Unidos e Federação Russa futuras é a consideração

273 Kraska, James, excerto de: Fert-Malka, Morgane, Trump, Russia and the Arctic, Russia Direct, Analysis, 13-01-17, p.4

274 Russo: “Putin”

82 de uma nova política militar em forte contraposição com as veleidades orientadas à cooperação desde sempre promovidas pelo estado norte-americano.

O futuro da UNCLOS, então considerado em via de ratificação por todas as entidades tomadas em consideração, aparece-nos muito mais incerto agora, e as consequências desta nova polaridade irão mudar o papel dos Estados Unidos na inteira questão ártica, com fatores acessórios de crucial importância que terão de ser considerados para a realização desta análise.