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As relações EUA - Rússia relativamente à questão Ártica

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Academic year: 2021

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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais, realizada sob a

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2 A chi c’è stato: Nonna, Giulia, Fra, Fede, Lotti.

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer o Prof. Dout. Tiago Moreira de Sá pela paciência e pela

disponibilidade demonstradas ao longo do meu percurso académico, cujos conselhos permitiram-me o alcance deste importante resultado pessoal.

Ringrazio mia nonna Assunta per l’aiuto concreto e per l’appoggio morale, senza i quali non avrei raggiunto questo obiettivo sul quale in pochi avrebbero scommesso.

Ringrazio Giulia per la sua sempre costante vicinanza e per il suo essersi sempre schierata dalla mia parte anche in situazioni difficili. Soprattutto, per avermi mostrato il suo amore nei momenti di maggior bisogno.

Ringrazio Francesco per le serate via skype, momento positivo e catartico di questa difficile permanenza in Portogallo.

Ringrazio Federica per l’amicizia costante e per il mese di Novembre, in cui è stata compagna di avventura.

Ringrazio i miei amici di sempre, Tovarišč, Matteo, Ruben, e i nuovi amici, soprattutto Pietro, per essere stati figure positive e sempre disponibili in questo altrimenti

proibitivo percorso.

E più in generale, ringrazio chi ci ha creduto. È difficile ricevere riconoscimenti in un mondo in cui quello che faccio non ha molto valore concreto. Siamo in pochi, ma siamo arrivati fino a qui. Questo Mestrado è per me e per voi.

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AS RELAÇÕES EUA-RÚSSIA RELATIVAMENTE À QUESTÃO ÁRTICA

VALTER VECCHIOLI

PALAVRAS-CHAVE: EUA, Rússia, Ártico, reivindicação, Trump, degelo, UNCLOS.

Resumo:

Análise da história das relações internacionais entre os Estados Unidos e a Federação Russa ao longo da mudança política e ecológica da calota Ártica, em processo de degelo e de abertura às rotas navais e à esploração dos recursos naturais submersos. Enquadramento das causas históricas de divergência e das reivindicações territoriais das duas Nações e perspectivas de contato na administração da região após a eleição do presidente Donald Trump.

Abstract:

Analysis of the story of international relations between US and Russian Federation along the political and ecological changes in the Arctic basin, in course of thawing and opening of naval routes and extraction of submerged natural resources. Insertion of the historical causes of divergence and of the territorial claiming of the two Countries, and perspectives of contact for the regional administration after president Donald Trump election.

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5

ÍNDICE [exemplo]

Introdução ... 1

Capítulo I: A Questão Ártica ... 3

I. 1. Coordenadas histórico-geográficas ... 3

I. 1.1 Dados geológicos ... 6

I. 1.2 A United Nation Convention on the Law of the Sea e a declaração de Ilulissat ... 8

I. 2. A Geopolítica do A-5 ... 12

I. 2.1 Canadá ... 12

I. 2.2 Noruega e Dinamarca ... 13

I. 2.3 Federação Russa ... 15

I. 2.4 O Lomonosov Ridge e os casos menores de reivindicação ... 16

I. 3. Os Estados Unidos na Questão Ártica ... 18

I. 3.1 Os Estados Unidos e a UNCLOS ... 18

I. 3.2 O Mar de Beaufort e a Passagem do Noroeste ... 19

I. 3.3 O Estreito de Bering ... 22

I. 3.4 Os horizontes geopolíticos da Questão Ártica ... 24

Capítulo II: Rússia e EUA: atitudes antitéticas em comparação ... 27

II. 1. A visão articocéntrica da Rússia ... 27

II. 1.1 Militarização russa no Ártico ... 28

II. 1.2 Articocentrismo russo ... 33

II. 2. A visão artico-periférica dos Estados Unidos. ... 39

II. 2.1 A importância histórica do Ártico americano ... 41

II. 2.2 A estratégia norte-americana para o Ártico: o PDARP ... 45

II. 3. O encontro entre as duas realidades ... 53

II. 3.1 Encontros e conflitos entre Estados Unidos e Rússia ... 54

II. 3.2 Os Estados Unidos e a Federação Russa no Ártico ... 59

(6)

6

III. 1. As consequências da eleição de Trump no Ártico ... 68

III. 1.1 As divergências ecológicas ... 69

III. 1.2 A convergência económica ... 76

III. 2. A visão geopolítica de Trump face ao A-5. ... 82

III. 2.1 Supremacia e isolamento ... 83

III. 2.2 Os horizontes possíveis ... 89

Conclusão ... 97

Bibliografia ... 98

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Introdução

Esta dissertação, dada a contemporaridade da questão analisada, não se propõe de dar respostas certas a todas as perguntas acerca das relações futuras entre os Estados Unidos e a Federação Russa em termos de gestão, divisão e exploração da calota ártica em processo de degelo e de abertura às operações comerciais.

Embora existam coordenadas que podem ser traçadas para perceber quais seriam os horizontes desta ligação intercontinental, baseadas sobre a natureza histórica das duas nações, a linha política dos dois relativos presidentes e as necessidades económicas e ecológicas destes Países relativamente ao Ártico, esta é ainda uma problemática recém-nascida, e, por isto, potencialmente sujeita a variações comportamentais inesperadas que mudariam todos os equilíbrios entre estas duas potências.

Qual, então, a finalidade de uma análise deste tipo?

Este assunto apresenta-se novo e pouco explorado. As condições climáticas da calota ártica estão em contínua mudança, abrindo rotas comerciais importantes assim como revelando bacias de recursos naturais de dimensões importantes. O estudo das relações internacionais contemporâneas, justamente, foca a própria atenção a questões de maior relevância mediática, em zonas do planeta mais conhecidas, cujas anatomias geopolíticas foram já analisadas e portanto mais facilmente previsíveis e disputáveis. O Ártico, pelo contrário, foi sempre considerado uma zona periférica, semi-desconhecida, e de irrelevante importância geopolítica. Apesar de ser o contato mais próximo entre os dois atores principais do século passado, de fato os Estados Unidos e a Federação Russa, a sua importância em âmbito geopolítico tem crescido apenas graças aos últimos descobrimentos de área, que repararam uma mudança radical no bioma polar causada pelo aquecimento global, provocando então degelo e maior explorabilidade das áreas submergidas, com o consequente relevamento de recursos. Revela-se então muito interessante pelo menos iniciar a por ordem na questão, apresentando inicialmente o cenário geopolítico da calota, as várias reivindicações relativas a esta zona e os pontos de divergência entre as potências envolvidas, para concentrar a atenção nos dois estados protagonistas da dissertação, analisando as raízes histórico-culturais que os levaram a este ponto, ou seja, às duas filosofias políticas em relativa contraposição.

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2 Finalmente, a verdadeira pergunta de investigação: quais serão as diferenças na gestão da ordem geopolítica da calota ártica agora que a tendência política dos Estados Unidos sai de uma verdadeira revolução ideológica com a eleição do novo Presidente Donald Trump?

Por isso, esta análise não poderá oferecer uma resposta certa, mas com certeza tentará expôr a situação com ordem analítico para traçar coordenadas dos mais prováveis cenários futuros, chegando a algumas previsões dos próximos movimentos na área por parte das potências em questão.

E, através desta análise, será permitido futuramente um ulterior aprofundamento que explicará e comentará o futuro da região ártica e das duas potências que, maiormente, têm poder de mudá-lo a favor das próprias necessidades.

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1

A Questão Ártica

1.1 Coordenadas histórico-geográficas

O oceâno Ártico é uma das cinco maiores bacias de água de que o planeta dispõe. Apesar de ter o menor tamanho, é com certeza a que está a oferecer mais pontos de investigação no campo da geopolítica contemporânea. Isto por causa das mudanças climáticas, cujo impacto na fisionomia dos continentes está a ser mais sensível do que no passado, que estão a transformar esta zona polar em uma nova fronteira política e comercial, disfrutável para a recolha de novos recursos e para a criação de novas rotas comerciais que permitiriam um encurtamento significativo das distâncias navais entre nações aparentemente distantes, promovendo então um crescimento do comércio e causando novas implicações legais, a partir das quais irão surgir problemas políticos e administrativos que correrão o risco de criar novas divergências e novas questões diplomáticas.

Observando a calota ártica em plano coronal, notamos que as nações que circundam o Pólo Norte e o relativo oceâno são principalmente cinco, e estes cinco paises haverão de ser os principais protagonistas da questão Ártica, apesar de intrusões inesperadas de que será tratado mais além. Começando pelo meridiano de Greenwich em sentido anti-horário identificamos assim a Noruega, cuja costa setentrional, além do arquipélago das Svalbard, toca inteiramente as águas do Ártico, separada pelo mar de Barents da Federação Russa, que tem o perfil mais extenso e, conseqüentemente, uma zona de reivindicação maior, mais alguns arquipélagos setentrionais como o da Новая Земля1, o da Terra do Francisco José, o da Северная Земля2, mais algumas ilhas menores que aparecem até o confim com o continente Americano no Estreito de Bering, que separam-na do Alasca, estado mais setentrional dos Estados Unidos, comprado pelos Americanos no ano 1867 por 7,2 miliões de dólaros graças à intervenção do diplomata Russo nos EUA Eduard de Stoeckl.3

1 Russo: “Novaja Zemlja”, em português: “Terra Nova”

2 Russo: “Severnaja Zemlja”, em português: “Terra Setentrional”

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4 O Alasca tem fronteira como o estado do Yukon que pertence ao Canadá, cuja presença no panorama ártico é incisiva graças não só às costas dos três territórios árticos continentais – o Yukon, os Territórios do Noroeste e o Nunavut – mas também ao enorme arquipélago setentrional cujas principais ilhas são a de Baffin, a de Ellesmere, a de Victoria, a de Devon e a de Banks. Este conjunto de ilhas aproxima-se à maior ilha do mundo a não constituir uma nação soberana: a Gronelândia, que testemunha assim a presença do Reino Unido de Dinamarca no cenário polar ártico. Esta é a porção continental mais setentrional do planeta, cuja extremidade é representada pela Kaffeklubbe Island. O resto da calota é ocupado pelo oceâno Ártico, cuja superficie gelada está a passar por um periodo de degelo que abre novos horizontes no disfrutamento desta zona.

Porém, já desde o início do século XX os protagonistas da questão ártica mostraram interesse na zona, embora fosse ainda considerada como uma porção remota do mundo e cujo interesse não fosse ainda muito. A primeira declaração de soberania no Ártico foi feita pelo senador Canadiano Pascal Poirier no dia 20 de Fevereiro do 1907. Ele, baseando-se na projeção dos meridianos de longitude do território do Estado, pediu para o Canadá fazer uma declaração formal de posse das ilhas situadas no extremo norte, estendendo-a ao Pólo Norte.4 O senado rejeitou a proposta. Mesmo que o primeiro explorador que alcançou o Pólo Norte foi o americano Robert Peary no 19095, os primeiros a criar minas na zona ártica para a recolha de recursos foram os noruegueses, em novembro 1916, graças à companhia Store Norske que ainda trabalha in loco na extração do carvão fóssil.6

Mesmo assim, as primeiras reivindicações oficiais houveram no ano 1925: o Canadá inicialmente declarou o 60° e o 141° meridiano oeste serem seus confins marítimos, com convergência dos dois no Pólo Norte. Seguiu uma declaração do governo dinamarquês no 1933 em que reconhecia a Gronelândia um territorio do Reino Unido da Dinamarca e portanto punha a base de uma potencial reivindicação territorial entre os meridianos 60° e 10° oeste.7 Após as duas guerras mondiais terem

4 McCormick, Ty, Arctic Sovereignty, Inbox – Anthropology of an Idea, Mai/Jun 2014, p.20

5 ibidem

6 ibidem

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5 mudado o foco para outras zonas do planeta, a guerra fria deu origem a uma série de intervenções diplomáticas para regulamentar uma zona que de facto representava a única fronteira fisica entre os dois grandes colossos, os Estados Unidos e a União Soviética, que levou à assinatura da United Nations Convention on the Law of the Sea (UNCLOS), que estableceu a soberania sobre 200 milhas náuticas além da costa de cada nação, e que podem ser estendidas em caso de continuação da plataforma continental. 8 Desde então, todas as nações signatárias continuaram com negociações diplomáticas exceto os Estados Unidos, que resolveram não ratificar o tratado até agora e portanto encontram-se em uma posição de desvantagem no âmbito da relativa diplomacia.9

Com a chegada do século XXI verificaram-se os efeitos do aquecimento global com o degelo e os novos descubrimentos minerários na zona ártica. Com isso, os estados começaram com novas reivindicações para extender o território nacional, primeira entre as quais foi a Federação Russa, que enviou o seu pedido à relativa commissão das Nações Unidas no 2001 e que com uma iniciativa muito criticada pelos outros estados árticos mandou no 2007 a expedição submarina Артика10 para colocar uma bandeira em uma cápsula de titânio na cordilheira submersa chamada Lomonosov Ridge e reivindicâ-la como própria. O pedido, porém, foi rejeitado no 2002 por falta de evidência científica.11 Sempre no 2001, a Dinamarca mandou o próprio pedido à mesma commissão para a soberania sobre o Lomonosov Ridge, e a seguir fez igualmente o governo canadiano, apesar de ter retirado o pedido porque não incluiva o Pólo Norte.12

Porém, tem de ser considerado como até hoje o único pedido aceite pela Commissão das Nações Unidas foi o da Noruega, que pediu uma porção relativamente menor de oceano, e, sobretudo, resolveu a sua divergência sobre a soberania do Mar de Barents com a Rússia no april do 201013.

8 Schlanger, Zoë, Chill on the Arctic!, Page One/Arctic, Newsweek, Set 2015, p.16

9 ibidem

10 Russo: “Artika”

11 Gillis, Charles, Who Owns The North Pole?, Maclean, Aug 2011, p.2

12 ibidem

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6 Finalmente, o aumento da importância relativa à questão chamou a atenção de estados extra-árticos que, graças à potencial possibilidade de tornar as águas internas do Ártico inteiramente internacionais, querem disfrutar os recursos aproveitando, nesta maneira, dos mesmos direitos dos estados árticos: a China em primeiro lugar, e mais a Índia, o Brasil, o Japão, a Coreia do Norte e o Reino Unido, que até chegou a ser um dos estados signatários do UNCLOS e a ser membro do Conselho Ártico, embora não tenha soberania nenhuma dentro da região.14

1.1.1 Dados geológicos

Portanto, quais seriam as vantagens que levantam tanto barulho na cena internacional? Não é difícil entender que a principal razão pela qual estes estados estão-se a engajar assim tanto pode ser encontrada na natureza geológica e minerária do subsolo ártico, que parece ser incrivelmente rica em recursos e quase totalmente intacta.

Os dados recolhidos sobre a riqueza deste subsolo diferem de fonte em fonte, mas são todos igualmente impressionantes: o Newsweek declara que, potencialmente, os recursos árticos podem ser quantificados como o 22% do petróleo disponível no inteiro planeta e das reservas de gases naturais, embora sejam quase todas já reivindicadas pelas nações envolvidas e seja ainda impossível quantificar o exato número dos recursos nas zonas do Ártico central15. De opinião diferente parece ser o Economist, que em um artigo do 2007 quantifica esses recursos como o 25% da disponibilidade global e, baseando os seus dados na pesquisa operada pela sociedade de estatística londrina Wood Mackenzie, estima a presença de até 166 biliões de barris de petróleo ainda não descubertos, 70 bilhões dos quais estão no Lomonosov Ridge tanto disputado.16

Ainda, o US Geological Survey acrece esta percentagem até ao 30% relativamente ao gas, e limita ao 13% o petróleo ainda não descuberto, quantificando o total dos

14 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, p. 209

15 Schlanger, Zoë, Chill on the Arctic!, Page One/Arctic, Newsweek, Set 2015, p.18

16 Demos, Telis, Melting icecaps are giving way to oil-rich waters that the U.S. can’t claim, The Economist, Aug 2007, p.1

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7 recursos em 1670 triliões cúbicos de gases naturais ainda disponíveis, e 90 biliões de barris de petróleo. 17

Finalmente, a pressa Russa estimou, no 2011, que após uma investigação operada pelos geólogos de Moscovo, fosse possível quantificar o total dos recursos no subsolo ártico como um quarto da disponibilidade mundial de petróleo e gases naturais, e o minístro Трутнев18 até indicou a quantidade de 5 milhões de toneladas de combustível só no Lomonosov Ridge.19

A realidade é bem mais complexa. A US Geological Survey ofereceu-nos uma tabela com a potencialmente exata quantificação dos vários recursos – que não se limitam apenas a petróleo e gases naturais, mas compreendem gases hidratos e diversos minerais – e que, no complexo, chega a ser 89,983 bilhões de barris de petróleo, e 50,059 trilhões de m³ de gas natural, limitando assim os dados da US Energy Information Administration que, no 2007, tinha quantificado 1247,102 bilhões de barris e 189,318 trilhões de m³ de gases naturais disponíveis.20

Finalmente, é preciso considerar como a maior fração na distribuição destes recursos em termos de gases naturais fica na bacia siberiana ocidental, com 651,49856 trilhões de m³ disponíveis, enquanto a maioria do petróleo ainda extraível parece estar no Alasca (29,96094 bilhões de barris). 21

Acerca a distribuição destes recursos por pais, é de novo o US Geological Survey que nos oferece uma tabela relativa ao petróleo e aos m³ de gas natural. Relativamente ao primeiro, o primado é dos Estados Unidos, que com 29,96 bilhões de barris têm o 33,3% do total do petróleo Ártico. A seguir, a Federação Russa dispõe de 25,89 bilhões de barris, que são o 28,77% do total. Muito pequena, incrivelmente, é a disponibilidade do Canadá, que aparece na tabela com 0,85 milhões de barris equivalentes ao 0,95%.

17 Moens, Alexander; Dowd, Alan W., Taking Action in the Arctic – Canada and US must work together, Fraser Forum, Abr 2009, p. 33

18 Russo: Trutnev

19 Глазунова, И. М., Арктическая Политика США в 2007-2011 гг., Трибуна Молодых Ученых, Moscovo, 2011, p.228

20 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, pp. 192-193

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8 Enquanto o pais que tem o primado absoluto na disponibilidade dos gases naturais é a Rússia, com 34,25 trilhões de m³ e o 68,42% da disponibilidade total. Só 6,64 trilhões de m³ para os Estados Unidos, equivalentes ao 13,27%.

De qualquer forma, esta falta de conformidade sobre os dados relativos à quantidade de recursos na zona ártica mostra-se indicativa da natureza ainda pouco explorada da questão, assim como da dificuldade na exploração geológica na área, ainda limitada a poucos períodos do ano por causa da glaciação das águas polares.

Glaciação que, sempre mais, diminui, abrindo novas rotas comerciais e revelando novas fontes de recursos que eram inesploráveis. As implicações geopolíticas aqui encontram-se com os problemas de natureza ecológica, enquanto o aquecimento global estaria a provocar uma elevação do nível do mar que pode por a sobrevivência de algumas cidades das várias costas numa condiçao de grande risco. O clima do norte está-se a aquecer de 0,3°C por década, com uma diminuição progressiva do bloco de gelo do 15% cada vinte anos e o resultado – potencialmente catastrófico – de termos verões completamente ice-free no Ártico já daqui a 25 anos.22

Isto poderá permitir aos quebra-gelos de investigar melhor no subsolo da porção mais central do Ártico, a procura de novos recursos ainda não descubertos, e aos estados envolvidos de criar novos percursos entre a Eurásia e a America que permitam um menor gasto de dinheiro e combustível.

Em conclusão, é também importante lembrar como entre os materiais destinados à extração foram encontrados também diamantes (Cujas minas já são em fase de planeamento no Ártico canadiano), prata, zinco e chumbo no Canadá, e urânio no Ártico russo, cuja acessibilidade melhora ao longo dos anos e cujo utilizo seria principalmente finalizado à venda.

1.1.2 A United Nations Conventions on the Law Of the Sea e a declaração de Ilulissat

O que é que, portanto, regula as zonas de soberania nacional no oceano Ártico? Para responder a esta questão, é preciso estender o foco da análise ao total das bacias de água de que o planeta dispõe, que se submetem a una distribução de carácter político

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9 graças principalmente a duas convenções: a de Genebra no 1958, e a de Montego Bay – melhor conhecida como a UNCLOS – no 1982.

Inicialmente, para perceber bem em que consiste o conceito de soberania, apanhamos a definição nos oferecida pela Stanford Encyclopedia of Philosophy, que, no 2010, o explicou como “autoridade suprema num território”23. Isto implica principalmente duas coisas: o território, terrestre ou marinho, submete-se à legislação do estado costeiro e obriga as entitades estrangeiras que alí se encontram a se submeter igualmente, e o território torna-se imediatamente numa disposição de recursos e disfrutamento regulada pelo estado costeiro, o qual pode dispôr sem limitação da riqueza ofrecida e ditar as regras para o utilizo e o comércio da mesma. Daqui vê-se a importância, para um estado, de garantir a máxima estensão territorial numa zona como a do Ártico tão rica em recursos ainda não extraidos, e justifica-se assim a longa série de questões ainda não resolvidas entre os estados envolvidos, que ainda disputam sobre a soberania de algumas zonas de crucial importância estratégica.

Para ofrecer uma solução potencialmente justa, a Convenção de Genebra do 1958 estabeleceu que a divisão das zonas marinhas além da costa fosse regulada pelo princípio da linha mediana. Segundo este princípio, cada estado tem soberania sobre uma faixa marinha delimitada, em largura, por linhas que fiquem equidistantes das duas nações envolvidas, e com extensão de 3 milhas náuticas, distância calculada como o máximo comprimento de um tiro de canhão.24

Isto tinha valor jurisdicional só em caso de ausência de evidências geomórficas, e portanto podia muito facilmente ser interpretado ad hoc segundo o interesse dos estados.

Portanto, propôs-se a promulgação de uma nova regulamentação jurídica sobre as águas territoriais, que aconteceu em Montego Bay, na Jamáica, no 1982.

Esta convenção estabelece a garantia de soberania sobre 200 milhas náuticas de cada costa – esta zona foi nomeada Zona Económica Exclusiva (ZEE) – e fica condicionada pela morfologia da placa continental submersa, que traça os confins

23 Tymoszewicz, Kyle, Arctic Sovereignty, Integrated Independent Study – Issue Based, s.l., 2013, p.2

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10 entre uma ZEE e a outra. Ficam como águas internacionais todas as que não são compreendidas em alguma ZEE.25

Provavelmente, se a convenção de Montego Bay tivesse mais rigidez, muitas divergências nem teriam nascido: a origen, de facto, de todas as disputas territoriais no âmbito ártico nasce do ponto de maior fraqueza que o texto de esta convenção mostrou. Existe na verdade uma condição pela qual seria possível estender a soberania até 350 milhas náuticas em caso de prova evidente da continuação da placa continental relativa ao pais além do limite imposto pela convenção.26 Nasceu daqui uma verdadeira caça às provas científicas para reivindicar zonas mais centrais do Ártico, sobretudo o Lomonosov Ridge, e por causa da dificuldade para obter as informações geológicas certas – vista a condição glacial desta bacia – ainda não há resposta certa aos pedidos de reivindicação que foram mandados à Commissão sobre a Lei do Mar (CLCS).

A peculiaridade desta convenção foi que entre os estados que sempre recusaram a ratificação há, provavelmente, um dos mais envolvidos na questão Ártica, ou seja, os Estados Unidos. Enquanto uma investigação sobre as razões desta decisão irá ser efetuada mais além neste texto, pode-se facilmente reparar como a evolução do estado da política ártica dos Estados Unidos esteja ainda numa fase germinal, e que esta embrionalidade garante mais espaço para a ação de estados mais competitivos na questão como a Federação Russa.

O que aparece, é que as ações do governo Russo começam a lembrar aos outros estados Árticos, inclusive os Estados Unidos e o Canadá, que a inação não pode mais ser considerada uma opção.27 No 2001 a Russia reivindicou mais ou menos metade da área interna do círculo polar, e seis anos mais tarde, após a expedição Артика, chegou-se ao ponto em que o capitão destes exploradores pôde declarar: “O Ártico é nosso”.28

A força destas iniciativas russas está na convinção que a plataforma continental eurasiática alcance as três cordilheiras submersas centrais, a central das quais é a de

25 Schlanger, Zoë, Chill on the Arctic!, Page One/Arctic, Newsweek, Set 2015, p.16

26 ibidem

27 Moens, Alexander; Dowd, Alan W., Taking Action in the Arctic – Canada and US must work together, Fraser Forum, Abr 2009, p. 34

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11 Lomonosov. Isto justificaria as provocações porque perpetradas segundo as regras da UNCLOS, que mostra então uma fraqueza interpretativa. Pode-se dizer portanto que a Rússia disfruta a UNCLOS, aproveitando dos pontos de maior deficência para reivindicar uma porção sempre maior da calota. E de facto, como a Federação Russa mostra-se a única nação que interpreta o espírito da Convenção como uma potencialidade de acreção territorial, os outros estados encontram-se obrigados a explorar a possibilidade de um novo tratado com a Rússia, para dividir finalmente os recursos da bacia ártica numa maneira mais justa.29

De momento, a maior medida tomada contra esta dificuldade interpretativa foi uma declaração que envolveu os estados Árticos no 2008, escrita na cidade de Ilulissat na Gronelândia e conhecida como a Declaração de Ilulissat.

Nesta declaração, as cinco nações árticas renovaram o compromisso de respeitar a Convenção de Montego Bay segundo a lei das Nações Unidas para a regulamentação dos mares.30

Declaram portanto os estados em Ilulissat:

“By virtue of their sovereignty, sovereign rights and jurisdiction in large areas of the Arctic Ocean the five coastal states are in a unique position to address these possibilities and challenges. In this regard, we recall that an extensive international legal framework applies to the Arctic Ocean as discussed between our representatives at the meeting in Oslo on 15 and 16 October 2007 at the level of senior officials. Notably, the law of the sea provides for important rights and obligations concerning the delineation of the outer limits of the continental shelf, the protection of the marine environment, including ice-covered areas, freedom of navigation, marine scientific research, and other uses of the sea. We remain committed to this legal framework and to the orderly settlement of any possible overlapping claims.”31

De qualquer forma, a declaração de Ilulissat propôs-se também como um convite à

29 Moens, Alexander; Dowd, Alan W., Taking Action in the Arctic – Canada and US must work together, Fraser Forum, Abr 2009, p. 34

30 Schlanger, Zoë, Chill on the Arctic!, Page One/Arctic, Newsweek, Set 2015, p.16

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12 cooperação finalizada à investigação científica e à manutenção ecológica do território, e mostrou-se como uma revolucionária demonstração de aproximação entre a Federação Russa e os outros estados Árticos. Mas não só: o propósito da declaração não foi somente à reivindicação de justiça para a divisão do território oceânico ártico entre o A-5 (Esta é a maneira em que os cinco signatários se nomearam nos documentos oficiais), mas sobretudo uma reivindicação de soberania compartilhada contra a intrusão dos estados extra-árticos, que sempre mais mostraram interesse na questão para garantir a internacionalidade das águas e, conformemente com isto, a possibilidade para aproveitar dos recursos e usufruir das vantagens hipoteticamente ainda limitadas aos estados geograficamente mais próximos.32

1.2 A Geopolítica do A-5

Então, após termos analizado a natureza da jurisdição que pretende regular a distribuição do subsolo ártico submerso para o A-5, é agora preciso ilustrar o estado atual da política ártica das nações envolvidas, em que consistem as diversas reivindicações e quais são os argumentos a vantagem dos síngulos estados para garanti-las.

1.2.1 Canadá

Como já observado no capítulo precedente, o Canadá sofre uma menor disponibilidade de recursos apesar de poder dispôr de uma porção territorial verdadeiramente grande. Este estado projecta-se desde sempre numa visão política tri-oceânica, considerando-se um estado ártico por natureza e promovendo continuamente iniciativas para a garantia dos direitos territoriais no cenário polar. Após as crises energéticas dos anos 1973, 1975 e 1979, os exploradores canadianos empreenderam as primeiras expedições em direção do Pólo com o fim de obter recursos necessários para o saneamento da economia em termos de energia elétrica. E portanto, graças ao descubrimento de uma grande quantidade de hidrocarbonetos no delta do rio Mackenzie, na bacia do Mar de Beaufort – pela qual houve uma longa disputa com os Estados Unidos que ainda parece não alcançar uma resolução

32 Yeager, Brooks B., The Ilulissat Declaration – Background and implications for Arctic Governance, s.l., 11/05/2008.

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13 – e nas ilhas árticas do arquipélago setentrional, o Canada começou uma política industrial extrativa que, até agora, representa uma das mais importantes riquezas do país.33

Verificando-se porém o problema dos altos custos da extração, o governo canadiano resolveu construir um oleoduto, o Mackenzie, entre o Ártico e o estado da Alberta cuja função é crucial também para a aquisição de recursos dos Estados Unidos. Substancialmente, tendo o Canadá uma extensão territorial significativa, a porção de Ártico que pretende reivindicar é igualmente sensível, e apesar de ser um dos maiores promotores da cooperação entre os estados árticos, o Canadá encontra-se em três disputas internacionais para a reivindicação de porções territoriais deste oceano: a questão da Ilha de Hans, a reivindicação do Lomonosov Ridge e do Pólo Norte, e a nacionalização das águas do Mar de Beaufort com a consequente regulamentação da passagem do noroeste sob a jurisdição Canadiana.

1.2.2 Noruega e Dinamarca

Os dois estados européus justapõem uma mansidão política e um contínuo tentar o compromisso com os outros estados árticos a uma necessidade de auto-afirmação apesar de um peso político menor. Os dois estados, que foram unidos, representam a porção européia ocidental do Ártico, e põem-se como árbitros para o equilibrio da calota polar sob um ponto de vista não só geopolítico mas também ecológico e geológico.

As primeiras descobertas no Ártico foram feitas pelos exploradores noruegueses nos anos ’60, que encontraram depósitos de recursos no Mar do Norte até agora a disposição do governo do Reino de Noruega, assim como do Federal Russo. Os noruegueses então obtiveram as primeiras licenças para a exploração do Mar de Barents ocidental no 1980, que levaram os exploradores do reino à descoberta da bacia de Snøhvit quatro anos mais tarde. Aí foi instalada a maior planta para a extração do gas no inteiro Ártico, que produz agora acerca do 30% da exportação de gas na Europa.34 Esta bacia, em vista do aquecimento global e do consequente

33 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, pp. 198-199

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14 degelo, vai-se propôr como a principal fonte de aquisição de materiais para a navegação a disposição não só dos norueguêses, mas também dos norte-americanos e dos asiáticos.35

O Mar de Barents é sem dúvida a principal fonte de recursos para o pais. Só a porção ocidental da bacia fornece à Noruega o 30% dos recursos totais que o país disfruta. E portanto conveio aos diplomatas noruegueses encontrar um acordo com os vizinhos russos para a divisão do Mar de Barents, se calhar a única questão de reivindicação ártica a ter encontrado uma solução definitiva. De facto, russos e noruegueses, após terem estipulado um acordo comercial em Austvik no 2007, regularam a distribuição das águas territoriais da zona cinzenta da bacia do Mar de Barents no 2010, conformando-se à lei do mar e dividindo assim o lucro adquirido através da extração dos hidrocarbonetos aí presentes. Esta situação de estabilidade levou os dois paises a criar uma joint venture entre as duas maiores companhia de lavoração do petróleo dos paises: a norueguesa Statoil Hydro e a celebérrima Газпром36 russa.37

A situação internacional da Dinamarca está menos estável. O Reino Unido de Dinamarca compreende não só a parte continental do pais e as duas ilhas maiores – inclusive a em que fica a capital Copenhaga – mas também o arquipélago das ilhas Fær Øer e a enorme ilha da Gronelândia. Porém, embora a Gronelândia permita à Dinamarca o acesso direito aos recursos do Ártico exatamente como acontece com os outros quatros paises, põe também o país no centro da que se calhar representa a maior divergência entre as reivindicações nacionais no ártico: a questão do Lomonosov Ridge. Portanto, se podemos afirmar com certeza que a posição da Noruega encontra-se numa altura de estabilidade – lembramos como as reivindicações territoriais além das 200 milhas navais do país são as únicas até agora que foram aceitas pela Commissão para a Lei do Mar (CLCS) – não é possível dizer o mesmo da Dinamarca, agora no centro de uma dísputa contra Canadá e Federação Russa para a posse da cordilheira submersa e ainda longe de qualquer resolução da questão.

35 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, p.199

36 Russo: Gazprom

(21)

15

1.2.3 Federação Russa

Os Russos são os que, sem dúvida, aproveitaram mais da fraqueza da convenção de Montego Bay para anexar o maior espaço territorial possível na calota polar. A política Russa, apesar da sua história mais orientada à defensa do enorme bloco continental do que ao ataque e à conquista, mostrou-se sempre muito agressiva no cenário ártico, com iniciativas as vezes discutíveis mas que, de momento, põem-na na posição de supremacia que queria obter.

As primeiras descobertas soviéticas aconteceram no Mar de Barents nos anos 70, após uma investigação sobre a natureza geo-sísmica daquela porção de placa continental. O mapeamento daquela parte da placa levou os russos ao descubrimento dos colossáis campos de Штокмановское38, de Ледовое39, e de Лудовское40 no

Mar de Barents, e mais os de Русанов41, de São Petersburgo, do Mar de Kara e do

Mar de Pecora. Só nos últimos vinte anos foram perfurados mais do que 100 poços de petróleo só no Mar de Barents, onde é calculável a presença de mais ou menos 6 bilhões de toneladas de petróleo. Só estas bacias representam pela Rússia o 74% da inteira produção de hidrocarbonetos na parte continental do pais, e são todas destinadas à venda.42

Como já afirmado, a condição de supremacia russa levou o país a tomar algumas iniciativas que despertaram indignação e discordância nos outros paises do A-5. Após a expedição Артика do 2007, o Ministro do Estrangeiro canadiano Peter Mackay declarou: “This isn’t the 15th century. You can’t go around the world and just plant flags”43 e ainda o primeiro ministro da altura Stephen Harper, na

38 Russo: Shtokmanovskoe

39 Russo: Ledovoe

40 Russo: Ludovskoe

41 Russo: Rusanov

42 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, pp.200-201

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16 promoção do seu programa intitulado Canada First, reagiu à agressividade dos russos declarando que: “To protect the North, we must control the North”.44

A Federação Russa, de qualquer forma, não mostra preocupação, alternando iniciativas de reaproximação como a assinatura da Declaração de Ilulissat a outras de imposição territorial, como a decisão de treinar tropas que teriam a missão de lutar no Ártico e apliar o raio operacional do país eurasiático na calota polar.45

1.2.4 O Lomonosov Ridge e os casos menores de reivindicação

Excluindo de momento os Estados Unidos na descrição do panorama geopolítico no Ártico – cujo aprofundamento será o principal assunto do capitolo a seguir – o mapeamento das divergências nas reivindicações territoriais no Ártico pode ser dividido em três questões, uma das quais já está resolvida – a questão do Mar de Barents entre Noruega e Rússia – e uma outra das quais não tem grande relevância geopolítica, ou seja, a questão relativa à Ilha de Hans entre Canadá e Dinamarca. Brevemente, a Ilha de Hans é uma ilhota inabitada de 1,3Km² que fica entre a Gronelândia e a Ilha de Ellesmere, no canal Kennedy do estreito de Nares, reivindicada inicialmente pelo Canadá no ano 1973, e pouco mais tarde pela Dinamarca. A procura de um acordo, os dois estados resolveram procrastinar qualquer decisão em vista da convenção de Montego Bay, para que esta decidisse a quem pertencia a ilha. Contudo, apesar de anos de estudos sobre a placa continental daquela área, ainda não se chegou à definição certa da natureza geológica da ilha, e não obstante Canadá e Dinamarca continuem a enviar contingentes militares e para-militares, mais várias vísitas diplomáticas, a ilha não tem soberania.46

Porém, o principal foco da questão Ártica – não considerando os Estados Unidos – encontra-se na cordilheira submersa chamada Lomonosov Ridge.

Na verdade, esta é só a cordilheira central de um sistema a três, aos lados da qual estão duas cordilheiras menores: a α-Mendeleev Ridge no lado americano e a Gakkel

44 Moens, Alexander; Dowd, Alan W., Taking Action in the Arctic – Canada and US must work together, Fraser Forum, Abr 2009, p. 34

45 Ibidem

46 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, pp.202-203

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17 Ridge no lado eurasiático. Este sistema encontra-se entre a Ilha de Ellesmere e a Gronelândia, e chega à profundidade de 1800 Km debaixo do Pólo Norte até o arquipélago das Novas Ilhas Siberianas.47

Sendo a cordilheira particularmente rica em recursos, três estados do A-5 enviaram à CLCS pedidos para a soberania, expondo as próprias evidências científicas.

No 2001 a Federação Russa enviou o primeiro pedido para uma secção da cordilheira que incluiva o Pólo Norte. O que resultava da investigação dos russos era que a cordilheira fosse o prolongamento natural da placa eurasiática, e portanto a continuação submersa do continente. Um mês depois, foram publicados documentos dinamarqueses para a reivindicação da cordilheira como conexão geológica à Gronelândia, e portanto, território nacional.

Seguiu o pedido canadiano, inicialmente projetado para o 2013, mas retirado antes da publicação porque os cientistas não tinham posto o Pólo Norte na secção reivindicada, com consequente recusa do minístro Harper.48

Enquanto os expertos não concordaram com a decisão, evidenciando como o Pólo Norte será declarado não-canadiano daqui a 10-20 anos (Esta foi também a declaração do experto em lei internacional Michael Byers: “In five or ten or twelve years, we are going to have to admit that the North Pole is not canadian”49), a posição do governo canadiano fica irremovível apesar da evidência científica.

Mesmo assim, todos os pedidos enviados à CLCS foram recusados – exceto o da Noruega – e agora novos pedidos estão em fase de preparação, com a Dinamarca que pretende de novo incluir o Pólo Norte na porção territorial reivindicada, e o Canadá que promove expedições científicas com custos que chegam aos 100 milhões de dólaros canadianos para encontrar elementos a favor da reivindicação canadiana do Pólo Norte, e os Russos que após a recusa do pedido no 2002 ainda não propuseram novos pedidos.50

De qualquer forma, o estado mais indicado para obter a reivindicação da cordilheira é a Dinamarca: o geofisicista marinho canadiano Ron Macnab declarou: “Very early

47 Gillis, Charles, Who Owns The North Pole?, Maclean, Aug 2011, p.1

48 Schlanger, Zoë, Chill on the Arctic!, Page One/Arctic, Newsweek, Set 2015, pp. 18-19

49 ibidem

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18 on in the game, it became very clear that the Danish wedge would include the North Pole. My own sense is that Denmark has the strongest claim”. Daqui a um ano espera-se a resposta da CLCS.51

1.3 Os Estados Unidos na Questão Ártica

Enquanto até agora evidenciamos todas as questões que não envolvem os Estados Unidos, e vimos como mesmo sem a presência deste colosso a situação no Ártico apresenta-se intrincada e não resolvida, um rolo de absoluto protagonista é representado pelos Americanos na inteira economia geopolítica do Ártico, com questões de difícil resolução internas e externas.

1.3.1 Os Estados Unidos e a UNCLOS

Como já afirmado, a principal peculiaridade da convenção de Montego Bay foi que os Estados Unidos nunca a ratificaram, apesar de terem assinado o tratado no 1994.52 Antes de procurar as razões pelas quais um estado cuja importância no cenário ártico não pode ser posta em questão, é necessário lembrar como uma decisão do género de facto impede aos Estados Unidos de tomar decisões nos summits do Conselho Ártico, união sem poder jurisdicional dos estados Árticos com a compartecipação de outras entidades nacionais como a Finlândia, o Reino Unido e a Suécia, e vários estados observadores como a China, o Japão, a Índia e a Itália – único entre os outros estados da União Europeia.

Esta posição de desvantagem, e a mais importância dada a outras questões internacionais como a situação no médio oriente ou, mais antes, a crise nos Balcãs, puseram os Estados Unidos em grande atraso respeito aos outros parceiros árticos. A América, de facto, parece ter reparado o enorme valor da calota polar só após as últimas descobertas, e só recentemente iniciaram a promover uma política de contacto diplomático com o A-5 para a resolução, principalmente, de duas questões de divergência na soberania, que irão ser analizadas mais além.

Investigando as razões que levaram os Estados Unidos à decisão de não ratificar o tratado, encontra-se a hipótese que vê este fenómeno devido a um choque entre as grandes companhia de extração (Big Oil, Exxon) e um grupo de Republicanos que

51 Schlanger, Zoë, Chill on the Arctic!, Page One/Arctic, Newsweek, Set 2015, pp. 18-19

52 Demos, Telis, Melting icecaps are giving way to oil-rich waters that the U.S. can’t claim, The Economist, Aug 2007, p.1

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19 influenciou o senado para não querer reconhecida a soberania das Nações Unidas sobre as decisões geopolíticas do Ártico. O presidente do Center for Security Policy Frank Gaffney chegou a declarar o tratado “the most egregious transfer of American sovereignty, wealth, and power to the UN”.53

Mesmo assim, expertos declaram que os Estados Unidos deveriam ratificar o tratado para evitar as acusações de hipocrisia no criticar a política Russa como “não pertinente ao espírito do tratado” e para garantir a solidariedade do A-5 em caso de futuros problemas extra-árticos.54

Fica o problema de não poder assim enviar pedidos sobre a soberania de territórios ao CLCS, a benefício dos principais estados rivais: o Canadá na questão do Mar de Beaufort e da passagem do noroeste, e a Federação Russa na questão do Estreito de Bering, ou seja, as duas maiores problemáticas que os Estados Unidos pretendem resolver no cenário da calota ártica.

1.3.2 O Mar de Beaufort e a passagem do noroeste

O problema da soberania sobre o Mar de Beaufort origina não só da necessidade de aceder aos recursos submersos, mas também da de internacionalizar uma porção de águas de aproximadamente 6250 milhas² que agora se consideram internas canadianas, para facilitar a passagem de novas rotas comerciais da América à Asia. Os confins marítimos entre Canadá e Alasca foram fixados no 1825, quando o Canadá pertencia ao Reino Unido e o Alasca ao império Russo. Russos e britânicos puseram o confim ao longo do 141° meridiano, e agora são discutidos pelos Estados Unidos porque baseados num princípio – o da equidistância – agora obsoleto após a convenção – lembramos: não ratificada – de Montego Bay.

Portanto, os Estados Unidos sostêm a tese que todas as águas da passagem do noroeste, que encontra-se mesmo entre a extremidade ocidental do Alasca e a extremidade oriental da Chukotka na Rússia, têm de ser consideradas internacionais, e segundo este princípio o Canadá deveria perder o direito jurisdicional sobre as

53 Demos, Telis, Melting icecaps are giving way to oil-rich waters that the U.S. can’t claim, The Economist, Aug 2007, p.1

54 Moens, Alexander; Dowd, Alan W., Taking Action in the Arctic – Canada and US must work together, Fraser Forum, Abr 2009, p. 35

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20 águas de Beaufort.55 Como fundamento para valorizar esta posição, os Estados Unidos põem o Artigo 37 da UNCLOS, que afirma:

“In straits […], all ships and aircraft enjoy the right of transit passage, which shall not be Impeded; except that, if the strait is formed by an island of a State bordering the strait and its mainland, […]”56

Contudo, a internacionalização das águas da passagem do noroeste promoveriam a intrusão dos estados extra-árticos, que se sentiriam justificados a passar pelas águas árticas sem obedecer à jurisdição de qualquer nação costeira.57 A China, por exemplo, mostrou interesse verdadeiro na questão, com a explícita intensão de mover os seus próprios interesses na nova rota comercial.

Outros problemas que os Estados Unidos têm que enfrentar nesta questão vêm de diversas lobbies petrolíferas (Exxon, Chevron, Conoco Philips) que alinharam com os grupos ambientalistas para a proteção do ecosistema ártico, e portanto declaram-se contra a intervenção dos Estados Unidos na área de Beaufort.58

E qual é então a entidade das vantagens que esta passagem do noroeste dariam aos paises beneficiários?

Aqui também, as fontes não dão uma única mesuração: segundo Carl Ek, especialista nas relações entre Estados Unidos e Canadá, o degelo da passagem encurtaria as rotas entre a Europa e a Ásia de uma quantidade de milhas entre 3000 e 4000.59 Segundo Byers, o promotor de Canada First, em vez, o encurtamento chegaria até a 7000 Km, equivalentes a quase 4500 milhas marítimas.60

De qualquer forma, o utilizo da passagem do noroeste tem crucial importância não só sob um ponto de vista relativo à distância, mas também à posição estratégica que

55 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, p.204

56 CLCS, United Nations Convention on the Law of the Sea, Montego Bay, 1982, p.37

57 Gillis, Charles, Who Owns The North Pole?, Maclean, Aug 2011, p.3

58 Demos, Telis, Melting icecaps are giving way to oil-rich waters that the U.S. can’t claim, The Economist, Aug 2007, p.1

59 Moens, Alexander; Dowd, Alan W., Taking Action in the Arctic – Canada and US must work together, Fraser Forum, Abr 2009, p. 35

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21 garante a possibilidade de realizar expedições oriente-ocidente sem passar pelo Canal de Suez, e se submeter à relativa jurisdição.

Daqui percebe-se bem a dimensão da divergência entre o Canadá e os Estados Unidos. Tem que ser mencionado, contudo, como à atividade política do governo canadiano – que com a sua estratégia defensiva Canada First pretende defender os direitos nacionais no Ártico com gasto de 3 bilhões de dólaros canadianos para a compra de oito quebra-gelo 61– não se opõe laxismo por parte do governo americano, apesar das acusações perpetradas ao Presidente Barack Obama pelas principais companhias petrolíferas, que resolveram gastar mais do que 153 milhões de dólaros para uma campanha publicitária que o definia “insuficientemente pro-oil”62 e portanto pouco ativo nas bacias árticas: o Presidente, de facto, ordenou também dois novos quebra-gelo para a ação direta na porção artica de competência, e promete novos contactos com os canadianos para chegar à esperada resolução diplomática.63

De qualquer forma, parece que uma resolução definitiva para esta questão possa ser ofrecida mesmo pela natureza geológica do território e pelas regras de Montego Bay: a forma da placa continental vira significativamente a oeste após 200 milhas náuticas da costa da Alasca, que daria ao Canadá o direito de reivindicar aquela porção como continuação da ZEE do Yukon, e pondo o estado numa situação favorável na questão.

Mesmo assim, o Canadá mostra-se aberto à via diplomática: como inicialmente os navios americanos que passavam por alí não pediam permissão aos canadianos, foi assinado o Arctic Cooperation Agreement pelo Presidente Ronald Reagan e o Primeiro Ministro canadiano Brian Mulroney, em que decidia-se que os Estados Unidos não teriam mais permissão para enviar barcos na passagem sem a aprovação do Canadá, mas o Canadá empenharia-se a dar esta permissão em qualquer caso, sem excepções.64

61 Moens, Alexander; Dowd, Alan W., Taking Action in the Arctic – Canada and US must work together, Fraser Forum, Abr 2009, p. 34

62 Tymoszewicz, Kyle, Arctic Sovereignty, Integrated Independent Study – Issue Based, s.l., 2013, p.13

63 Schlanger, Zoë, Chill on the Arctic!, Page One/Arctic, Newsweek, Set 2015, p.16

64 Tymoszewicz, Kyle, Arctic Sovereignty, Integrated Independent Study – Issue Based, s.l., 2013, pp.29-31

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22 Lembramos também o alarme lançado pelo ambassador canadiano nos Estados Unidos Paul Cellucci, que pediu maior controle militar na área sostendo que se a passagem do noroeste ficasse sob a jurisdição das Nações Unidas, e portanto mantivesse a sua condição de internacionalidade, esta seria usada pelos terroristas como rota sujeita a menor militarização e portanto mais segura para o tráfico de armas de destruição maciça. O resultado desta declaração foi a abertura de novas negociações para o emprego de forças militares americanas na porção oceânica de contenção.65

Entretanto, deve ser lembrado também que existe uma passagem do nordeste, que já se encontra na condição de ser ice-free e portanto utilizável principalmente pelos russos, que assim pode garantir os negócios com a Europa apesar da crise ucraniana. E mais, não pode ser omitido como as relações entre os Estados Unidos e o Canadá no âmbito ártico compreendam também pontos de convergência, como aconteceu na realização do gasduto americano que de Prudhoe Bay, na Alasca, leva recursos até Valdez, nos Estados Unidos continentais, passando pelo território canadiano e confluindo no gasduto canadiano Mackenzie, para alimentar os estados de Washington, Montana e North Dakota.66

1.3.3 O Estreito de Bering

Apesar da proverbial agressividade da política federal Russa na questão ártica, cuja emblemática representação resultou ser a expedição Артика do 2007, algumas declarações do estado eurasiático desmentem a ideia de uma Rússia arrogante. O Primeiro Ministro canadiano Ben Harper relatou as palavras do Presidente russo Vladimir Putin acerca da iniciativa, que garantia que não houve intenção de ofender, nem de violar qualquer acordo internacional, nem de invadir a zona de soberania canadiana.

E é com esta ambiguidade da política externa Russa que os Estados Unidos têm a ver relativamente á questão do Estreito de Bering, que se entrepõe entre a porção

65 Tymoszewicz, Kyle, Arctic Sovereignty, Integrated Independent Study – Issue Based, s.l., 2013, pp.29-31

66 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, pp.198-199

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23 extrema oriental da Federação Russa, com o estado da Chukotka e a sua capital Anadyr, e a porção extrema ocidental dos Estados Unidos, com a Alasca.

A contenção entre os dois estados é relativa à definição dos confins marítimos do mar de Bering, alí substante.

Quando de facto os Estados Unidos compraram a Alasca no 1867, com o acto de compra estabeleceram o confim marítimo três milhas além da costa, como a norma da altura ainda impunha. Após Montego Bay e as novas normas definidas pela UNCLOS, encontraram-se novas divergências na redefinição do confim, que levaram os dois paises a um longo caminho diplomático, cuja mais importante tratativa resultou no Maritime Boundary Agreement.67

Segundo este acordo, a redefinição do novo confim tinha que seguir uma linha reta que, partindo do ponto corrispondente a 65°30’ de latitude norte e a 168°58’30” de longitudo oeste, divide a secção setentrional do oceano Pacífico e, através de uma bem definida sucessão de pontos topográficos, passa no meio do Mar de Bering e continua até ao oceano Ártico.68

De qualquer forma, para perceber as dificuldades do iter diplomático para um acordo definitivo sobre a questão, é importante lembrar como a natureza de um dos dois paises envolvidos estivesse numa fase de mudança epocal. O Maritime Boundary Agreement de facto foi ratificado pelos Estados Unidos no 1991, ano em que se estava a preparar a dissolução da União Soviética para a criação da nova Federação Russa e da consequente instituição da Comunidade dos Estados Independentes.

Os primeiros envolvidos, ou seja os soviéticos, não ratificaram o acordo. As razões desta decisão têm fundamento histórico e trazem consigo o oneroso testemunho de décadas de guerra fria, em que o estreito de Bering representava, se calhar, o único exemplo de quase-continuidade física entre o bloco continental da União Soviética e a Alasca, então a única fronteira direta transitável entre os dois estados. Manter a ambiguidade geopolítica daquela área teria garantido, de qualquer forma, que se evitasse a edificação de uma Cortina de Ferro oriental, que iria ser militarizada e se teria tornada numa zona sensível.

67 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, p.204

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24 Porém, após a dissolução da União Soviética, o novo governo Russo de Boris El’tsin aceitou uma revisão do acordo, declarando-se não concorde com a designação da fronteira marítima. A origem desta nova divergência fonda-se sobre a inexistência de uma base cartográfica condivisível para a aplicação do acordo. De facto, a área representada numa carta geográfica muda de forma e tamanho segundo as diversas projeções cartográficas existentes: a equivalente, a conforme, e a equidistante.

Portanto, os russos criticaram o utilizo da base cartográfica conforme segundo a projeção do Mercatore na qual baseia-se o acordo, porque obrigaria os russos a ceder cerca de 15000 milhas² náuticas aos Estados Unidos, equivalentes a cerca de 50000 Km² de oceano, com consequentes perdas em termos não só de recursos, mas também de produção pesqueira, muito abundante naquela área, e dos ganhos relativos a esta atividade.69

1.3.4 Os horizontes gopolíticos da questão ártica

Após ter sido um assunto de marginal importância, a questão ártica estã ganhando posições nas prioridades dos governos mundiais e dos estudos geopolíticos. A mudança climática está finalmente a mostrar as suas consequências visíveis, com o degelo da calota polar e a consequente abertura de novos horizontes para a extração de recursos, que oferecem então uma válida alternativa à egemonia dos estados do oriénte medio com a formação de novas hierarquias económicas que mudarão o inteiro cenário comercial num plano global.

As novas rotas comerciais garantirão maior velocidade no transporto destes materiais, e no comércio entre a América e a Eurásia, com controle crescente e adequada militarização.

Sendo esta uma questão ainda aberta, todas as situações de distância entre os paises do A-5 haverão de passar por um iter ainda durável para chegar a uma resolução concordada por todas as partes envolvidas.

O diretor das investigações do Australian Centre for Ocean Resource and Security Clive Schofield escreveu no início do 2015 um relatório em que pronosticava que:

69 Castiello, Nicolino, Artico – “Eldorado” e “frontiera” geopolitica del XXI secolo? , Napoli, 2010, pp.204-205

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25 “At the commission’s current rate of progress, several decades are likely to pass before final and binding outer limits to national continental-shelf claims can be fixed for all states that have submitted claims”70 que abre então a novas intervenções sobre os pedidos já enviados – com implícito convite à investiçação cientifica a soster os vários pedidos – e adia a designação definitiva das questões à metade do século XXI, em que o progresso científico será mais avançado e a fisionomia da calota polar apresenterá-se muito diferente do que agora.

Sob um ponto de vista etnológico, muitos estados têm ainda que trabalhar sobre um maior envolvimento dos povos árticos, evitando assim uma excessiva centralização do poder político em questões tão periféricas.

O Canadá, nesta questão, mostra-se paradigmático: a divisão em três territórios árticos garante uma representação diplomática dos povos setentrionais (O território do Nunavut centraliza-se nas ilhas do Ártico ocidental, e a capital Iqaluit fica mesmo no arquipélago). A natureza puntiforme da Noruega – apesar do arquipélago das Svalbars – não perceba a questão ártica como distante do governo central de Oslo, portanto o povo norueguês inteiro sente-se representado nas disputas. Igualmente, a grande autonomia desfrutada pela Gronelândia põe a ilha numa condição de independência decisional relativamente ao governo de Copenhaga. Pelo contrário, os dois estados que ainda têm que trabalhar com isto são a Federação Russa, que embora tenha um bom sistema de deslocalização para as funções diplomáticas dos vários области71, ainda põe Moscovo em posição central na execução das iniciativas na porção Ártica de pertinência.

Mesmo assim, a situação mais atrasada, em toda a questão ártica e também no problema etnológico, é a dos Estados Unidos. O Alasca, única representação territorial dos EUA no Ártico, com a peculiaridade de ser uma exclave do bloco teritorial americano, tem ainda que trabalhar proceduralmente por meio dos diplomatas de Washington, sem delegação para os representantes do Alasca que dariam voz aos povos indígenas principalmente envolvidos na questão.72

70 Schlanger, Zoë, Chill on the Arctic!, Page One/Arctic, Newsweek, Set 2015, p.18

71 Russo: oblasti, entidades estatais em que a Federação Russa fica dividida

72 Anjum, Sheila, Arctic Decisions Made at National and International Levels – Alaska has a limited role as a state, some Alaskans can have influence, Alaskan Business Monthly, Dec. 2013, pp.20-21

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26 Além dos pronósticos confortantes, há também de ser considerada uma perspectiva negativa. Fontes russas insistem muito na necessidade de militarizar a região, definido o espaço oceânico ártico como uma importante posição estratégica para a instalação de mísseis balísticos.73 Além disso, os russos lançam também um alarme de entidade internacional, inferendo como uma das principais desvantagens do degelo, além do perigo ecológico sobre que seria necessário um excursus tão iluminante quanto distante do assunto aqui tratado, seria a criação de novas rotas marinhas para o tráfico ilegal de homens, armas e droga, e portanto pede uma maior segurança nas zonas sob a jurisdição internacional, prometendo uma adequada militarização nas de pertinência russa.74

Contudo, em conclusão, a questão ártica é um assunto explorado só recentemente, que verá o envolvimento de sempre mais entidades e para a qual os Estados Unidos são chamados a intervir numa maneira mais incisiva e determinada, com o objetivo de diminuir o gap com o resto do A-5 e garantir ao colosso uma posição de egemonia energética, comercial, politica e militar nos próximos séculos, e conseguir numa medida diplomática todos os objectivos que a questão ártica está a levar.

73 Глазунова, И. М., Арктическая Политика США в 2007-2011 гг., Трибуна Молодых Ученых, Moscovo, 2011, p.229

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27

2

Russia e EUA: atitudes antitéticas em comparação

2.1 A visão articocéntrica da Rússia

A Federação Russa identifica-se como um estado Ártico. Embora a maioria da povoação russa encontre-se numa área que abrange o quadrilátero definido pelas cidades de Мурманск75 no norte, São Petersburgo no oeste, Сочи76 no estremo sul e Пермь77 na região oriental dos Urais – divisão geográfica entre a porção europeia do

País e a Sibéria – , o interesse pelas regiões da longa costa setentrional foi sempre considerado uma prioridade pelos governos federais, desde a queda do Império Russo, inclusive na altura da União Soviética.

A proteção dos recursos desta região tão vasta, assim como a reivindicação de porções maiores de território, leva o estado a uma contínua e incessante operação de melhoramento das dotações militares na zona, finalizada não só à defesa da região sob o controle de Moscovo, mas também a uma série de provocações – como já visto precedentemente – que têm como objetivo final garantir um controle hegemónico na inteira região, contra todas as tentativas diplomáticas produzidas ao longo dos anos, que viram a Rússia ser um estado co-operador apesar de ter uma filosofia totalmente diferente.

Sob um ponto de vista de poder militar a Rússia pôde sempre contar com um sentido de supremacia, vistos não só os orientamentos diplomáticos dos outros estados do A-5, mas sobretudo considerada a política de não intervenção operada pelo único concorrente em termos de exército e dotações militares, ou seja, os Estados Unidos.

Os quais, vítimas de mudanças ideológicas radicais nas últimas décadas em termos de poder executivo, não conseguiram manter na região uma política consistente, alternando períodos de ação e intervenção a outros de descentralização do problema, deixando às necessidades dos povos da Alasca o cetro decisional.

75 Russo: “Murmansk”

76 Russo: “Soči”

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28

2.1.1 Militarização russa no Ártico

A história da militarização que o governo federal de Moscovo operou para o controle hegemónico da porção Ártica do seu território começa na terceira década do século XX.78

Aleksandr’ Golc, no 2011, identifica dois pontos de investigação que coincidem com dois acontecimentos históricos, nos quais a mudança em termos de quantificação militar na região apresentou-se significativa.79

O primeiro representa a intervenção militar Russa ao longo da segunda Guerra Mondial, em que o Ártico parou de ser só um traseiro pouco estratégico nos movimentos dos exércitos contendentes e começou a ganhar uma função logística de importância vital. Os russos, de facto, começaram a perceber o potencial estratégico da região utilizando-a como palco para as linhas de comunicação entre a União Soviética e os seus aliados.80

É importante lembrar como a Rússia, naquela altura, ficasse num espaço geopolítico isolado dos outros aliados, cujo orientamento oeste-este contrapunha-se à dicotomia em que se encontravam o estado Soviético, com batalhas tanto no frente ocidental contra o exército Italo-Alemão como no frente oriental contra o apéndice Japonês. O descobrimento de um novo eixo norte-sul para a comunicação com os Estados Unidos e o Canadá representou para a Rússia uma segura rota de comunicação para a organização e o desenvolvimento de operações militares conjuntas.81

O segundo ponto de investigação em que historicamente a Rússia encontrou-se a reconhecer a importância de uma tão cumprida porção costeira com o Oceano Ártico foi perante a Guerra Fria.

Porém, a situação nessa altura apresentava-se oposta: o Oceano Ártico deixara de ser uma zona franca, conjunção segura entre dois aliados tão importantes como a União

78 Rodrigues Leal, João Luís; Geopolítica do Ártico no Século XXI, Junho de 2014, Letras Itinerantes, p.110

79 Ibidem

80 ibidem

Referências

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