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Encontros e conflitos entre Estados Unidos e Rússia

Russia e EUA: atitudes antitéticas em comparação 2.1 A visão articocéntrica da Rússia

2.3 O encontro entre as duas realidades

2.3.1 Encontros e conflitos entre Estados Unidos e Rússia

O PDARP pode-se considerar um documento paradigmático para esplicar os pontos de união que os passados inimigos encontraram sob a presidência de George W. Bush.

Na ocasião do encontro de Pratica di Mare na Itália em 28 de Maio de 2002, os dois colossos geopolíticos poram um selo na re-encontrada inter-compreensão e proximidade política com a assinatura do presidente Путин164de um documento histórico, que punha a Federação Russa na novíssima condição de ser alinhada com a NATO, depois que a NATO mesma tinha sido construida para bloquear a ameaça do antigo estado Soviético.165

Neste clima de completa proximidade e de esperanças concretas de cooperação futura acontece a passagem de poder entre o Republicano George W. Bush, co-

164 Russo: “Putin”

55 assinatário do documento, e o Democrata Barack Hussein Obama, o qual fundou a própria linha eleitoral mesmo no conceito da mudança.

A opinião do novo presidente norte-americano, porém, não interpretava nas tentativas de cooperação entre os dois Paises uma verdadeira pulsão à união ideológica, quanto interpretava a série de intervenções para reunificar o mundo sob a égide dos dois colossos como uma sucessão de operações de façada, contatos fictícios que faltavam de comunião intencional em assuntos políticos mais profundos, e portanto, baseada na aparência mas de modo algum considerável como fatual. Portanto, em ocasião do seu insediamento ao poder em 2009, o presidente Obama decidiu anunciar um completo reset da diplomacia entre o seu país e a Federação Russa, para deviar a tendência duma direção definida perigosa sob a administração do Presidente Bush, com a promessa de aprofundir os pontos de contato com a contrapartida e convencer os russos a realizar iniciativas pragmáticas de mútuo interesse, assim como estabelecer uma segurança mais forte e conectar as trocas comerciais de maneira mais segura e certificada, com o fim de reduzir as tensões que tinham começado a surgir após a iniciativa bélica dos russos contra o estado da Geórgia.166

A Rússia mostrou uma atitude colaborativa face ao novo curso ideológico tomado pelos parceiros americanos. A que o Presidente Obama considerou uma própria verdadeira vitória foi a garantia que a Rússia lhe resolveu dar em termos de segurança relativamente à possibilidade dada ao exército norte-americano de avançar as próprias tropas na zona central do Afeganistão, sendo as rotas do Paquistão mais perigosas e menos controladas na altura.167

É então possível definir as relações entre o primeiro período político de Obama e a primeira das duas fases presidenciais de Путин168como uma continuação das tentativas de aproximação já realizadas sob o governo Bush, com ulteriores pontos de

166 Smith, Julianne; Twardowski, Adam, The Future of U.S.-Russia Relations, Center for a New American Security, Papers for the Next President, Jan 2017, p.3

167 Ibidem

56 contato, seja em âmbito ártico – com pouquíssimos contatos entre as duas entidades – seja nos outros pontos considerados mais quentes.

Como previsível, a sucessão entre Путин169e Медведев170 não podia constituir uma mudança relevante no histórico das relações entre os americanos e os russos. Como ulterior selo à renovada proximidade de intenções, os dois Presidentes assinaram um tratado, o New Strategic Arms Reduction Treaty, conhecido como START, onde vinham a ser reduzidos os limites ao chefes dos dois exércitos em termos de emprego de recursos humanos de um terço.171

O Presidente Путин172 participou também no primeiro summit sobre a energia nuclear que o Presidente Obama organizou em 2010173, prometendo na ocasião de trabalhar juntamente aos Estados Unidos na operação de reorganização de 17000 armas nucleares e de revisão do quantitativo de plutónio das mesmas segundo quanto estabelecido por regras internacionais de segurança.174

Em termos de cooperação internacional, o presidente Obama acabou por declarar que, no respeito da cooperação militar, os dois Países iriam empenhar-se para desenvolver

“...a new strategic relationship based on mutual trust, openness, predictability, and cooperation”175

renovando os acordos entre os dois exércitos e estabelecendo uma novo Grupo de Trabalho para a Commissão de Cooperação da Defensa Russo-Americana.

169 Russo: “Putin”

170 Russo: “Medvedev”

171 Smith, Julianne; Twardowski, Adam, The Future of U.S.-Russia Relations, Center for a New American Security, Papers for the Next President, Jan 2017, p.3

172 Russo: “Putin”

173 Smith, Julianne; Twardowski, Adam, The Future of U.S.-Russia Relations, Center for a New American Security, Papers for the Next President, Jan 2017, p.3

174 Ibidem

175 Smith, Julianne; Twardowski, Adam, The Future of U.S.-Russia Relations, Center for a New American Security, Papers for the Next President, Jan 2017, p.3

57 Para coroar esta fase idílica entre as duas entidades, é necessário mencionar a cooperação que a Federação Russa ofereceu na imposição de sanções internacionais contra o Irão devido ao seu programa nuclear, promovendo a execução do que foi tratado no U.N. Security Council Resolution de 1929.176

Porém, enquanto todos os analistas da geopolítica international podiam prever uma natural continuação desta relação de proximidade entre os Estados Unidos e a Federação Russa com a volta ao poder do Presidente – e ainda ideologista de partido - Путин177, esta acabou por ser a tapa crucial que revolucionou o espetro diplomático entre os dois Países, e os dois pontos temporais de afastamento mais importantes nesta análise são individuáveis em 2012 e, sucessivamente e com maior clamor, em 2015.

A primeira queixa que o presidente Путин178 lançou contra o governo americano foi – ironia da sorte – direcionada ao então Secretário de Estado Hillary Clinton, devido a protestos em grande escala que surgiram nas praças da cidade de Moscovo contra um eventual condicionamento das eleições Russas de 2011 por parte do governo americano, seguidos por declarações do Secretário de Estado em que se queixava uma intervenção ilegal do governo russo no processo eleitoral em questão.179

Antes do afastamento mais crucial, uma outra tapa em direção desta nova situação de contraposição deu-se quando em dezembro de 2012 o Presidente Obama assinou o ato que tomava o nome de Magnitsky Act, que impôs restrições financeiras e turísticas aos cidadãos da Federação Russa, sendo o governo de Moscovo suspeite de violação dos direitos humanos dentro das próprias fronteiras.180

Apesar disto, embora este fato represente o primeiro ponto importante de divergência entre a visão diplomática das duas entidades envolvidas, o choque definitivo que

176 Smith, Julianne; Twardowski, Adam, The Future of U.S.-Russia Relations, Center for a New American Security, Papers for the Next President, Jan 2017, p.3

177 Russo: “Putin”

178 Russo: “Putin”

179 Smith, Julianne; Twardowski, Adam, The Future of U.S.-Russia Relations, Center for a New American Security, Papers for the Next President, Jan 2017, p.3

58 acabou por separar as duas linhas de conduta até à mútua ameaça foi a invasão russa da Ucrânia em 2015 e a sucessiva anexão da Crimeia, vista pelos Estados Unidos como uma ilegítima apropriação de terras de diferente soberania e portanto não reconhecendo o resultado do referendum emitido na região peninsular para que o povo decidisse o próprio orientamento na questão.181

Este choque fez surgir uma série de preocupações, umas das quais concernem o equilíbrio da difícil situação no Ártico – e por isso irão ser tratadas no parágrafo relativo – e muitas outras foram projetadas mais geralmente à questão da mantenção do equilíbrio global entre estes dois colossos, com o risco de um isolamento da entidade russa, que, inevitavelmente, acabou por acontecer.

Foi uma verdadeira queda de eventos. Após a anexão da Criméia por parte da Rússia, as Nações Unidas condenaram oficialmente a operação política com a emissão da UN Security Council Resolution, a qual foi rejeitada pelo governo Russo.182

A partir deste ponto, os Estados Unidos e os aliados européus – lembramos, algum dos quais membros do Arctic Council e até do A-5 – resolveram isolar a Federação Russa com a expulsão oficial do G8 e a imposição de uma série de sanções económicas, até ao reforço das guarnições militares em vista de um possível evento bélico.183

De facto, para contrastar a crescente posição agressiva da política do Presidente Путин184, a NATO renegou em maneira irrevogável a assinatura obtida em Pratica

di Mare pedindo aos membros de voltar à primeira missão pela qual a organização tinha nascido, e por isso, preparar uma defensa coletiva contra a nova ameaça russa

181 Tingstad, Abbie; Pezard, Stephanie; Stephenson Scott, Will the Breakdown in U.S.-Russia Cooperation Reach the Arctic?, Inside Sources, Out 12, 2016, p.1

182 Smith, Julianne; Twardowski, Adam, The Future of U.S.-Russia Relations, Center for a New American Security, Papers for the Next President, Jan 2017, p.4

183 Ibidem

59 revigorando as esquadras navais e investindo no renovamento dos recursos bélicos.185

Uma ulterior preocupação surgiu com o avançamento cibernético que esta década testemunhou, vistos alguns acontecimentos relativos a cyber-ataques e apropriação ilegal de dados informáticos operadas por hackers que foram interpretados como formas de agressão de difícil denúncia, mas que orientaram a opinião internacional contra informáticos ao serviço do governo Russo com a finalidade de enfraquecer a estabilidade política do bloco americano.186

Isto até ao ponto em que em outubro 2016 a intelligence norte-americana expressou confiança no achar que o governo federal Russo fosse o responsável desta série de ataques cibernéticos contra o Democratic National Committee, adicionando a acusação que isto teria sido uma influência relevante em vista das eleições presidenciais de dezembro do mesmo ano, coisa que, como vimos, continuou a ser discutida até agora.187

A razão de existência desta longa digressão é que deste modo foi traçado o que pode ser visto como o ponto de revolução das tendências diplomáticas entre estas duas entidades. Cada região de conflito, embora o Ártico seja ainda uma zona de confronto embrional e que portanto testemunha um menor número de casos relevantes para a nossa análise, acusou uma série de consequências em relação a este afastamento conflitual. A história das relações internacionais entre os Estados Unidos e a Federação Russa em relação ao degelo da calota ártica e à exploração dos recursos descubertos na zona não prescinde desta tapa crucial.

Porém, sendo o Ártico uma zona de caraterísticas particulares e de interesses profundos entre as duas entidades, são múltiplos os fatores em questão, e o histórico dos contatos entre estas duas superpotências prevê o intervento de outras entidades,

185 Smith, Julianne; Twardowski, Adam, The Future of U.S.-Russia Relations, Center for a New American Security, Papers for the Next President, Jan 2017, p.4

186 Idem

187 Smith, Julianne; Twardowski, Adam, The Future of U.S.-Russia Relations, Center for a New American Security, Papers for the Next President, Jan 2017, p.3

60 para que a leitura duma linha atitudinal na análise cronológica dos contatos revela-se muito mais complicada.