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5.3 VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

5.3.1 A ‘descoberta’ da violência na escola

Em 12 de novembro de 1990 ocorreu uma manifestação de alunos do liceu (último ciclo do ensino médio na França) que juntou cerca de trinta e cinco mil pessoas. Estes alunos nos slogans reclamavam ‘mais segurança nos liceus’ e ‘mais vigilantes’. Quando os manifestantes passavam diante de uma grande loja, suas vitrinas eram quebradas e os guardas, agredidos com projéteis. Tais alunos foram então chamados pela imprensa e governo de ‘casseurs’. Este evento repercutiu por muito tempo na imprensa da França e do mundo e irá impor aos políticos no poder um plano de luta, de ‘restaurar autoridade’, em resumo,

‘erradicar a violência’. Debarbieux (2006, p. 14) usa a palavra ‘descoberta’, ressaltando que a violência já existia, e sempre existiu, e que vários trabalhos já haviam sidos escritos sobre este assunto antes desta data. Entretanto, eram ignorados ou lhes era atribuído pouca relevância. Em1991, a violência torna-se um tema ideológico, marcado pela xenofobia e por grande risco eleitoral.

A descoberta da violência na escola não foi específica da França, este é um assunto que preocupa o mundo todo. Diversos países de um extremo ao outro, estudam o assunto: Suécia, Inglaterra, Holanda, Canadá, Espanha, Alemanha, Brasil, Japão, Guiné, África do Sul, Argentina, Estados Unidos, entre outros.

O problema da violência nas escolas é de todos nós, mesmo que ele não seja único, mesmo que as razões socioeconômicas não expliquem tudo. Esse é um problema que concentra e torna mais evidentes as injustiças presentes em nossas democracias modernas, que não são democracias igualitárias. Seria esse o nosso ideal, o nosso futuro: zoológicos para os ricos e escolas para os pobres? A ciência não pode se manter indiferente quando confrontada com o problema da violência (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002, p. 18).

A violência na escola é muitas vezes manipulada, explorada e rentável. Está ligada à opinião manipulada pelos meios de comunicação e pelos poderes políticos. ‘Violência na escola’ vende, e vende bem. Vende-se através de programas, de concursos, de patrocínios, de fundações, de receitas miraculosas, de militâncias, bem intencionadas, ou de charlatões. Ela se vende através da extensão de um mercado de segurança, através de programas informáticos, e de controle por vídeo, medicamentos e terapias. Ela implica organizações não governamentais (ONGs), grupos de trabalhos, reuniões, comitês, subcomitês (DEBARBIEUX, 2006).

Nota-se a existência de uma banalização com relação às mortes, dependendo do local onde ocorrem. A mídia só exalta o que para ela é importante e a quem interessa a notícia, Debarbieux (2006) ressalta em seu livro ‘Violência na escola: um desafio mundial’, que, para a mídia, uma morte que acontece em uma escola num país desenvolvido é mais importante do que se a mesma ocorresse em um país em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo. Parece que as vítimas são menos relevantes por residirem numa localidade economicamente desfavorecida. Acredita-se que todos são iguais e merecedores dos mesmos direitos conforme citado no artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, de 1948: ‘Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade`` (ONU, 1948).

A mídia se detém muitas vezes em alguns casos trágicos, para deixar transparecer uma epidemia de ‘raiva brutal’ que ameaça os estabelecimentos escolares e que a situação é bem

mais trágica do que realmente ocorre, porque existem diferentes interesses por grupos diretos, como já foi mencionado. Há uma tendência em acreditar que a violência letal é a mais preocupante e que tem crescido, principalmente nos Estados Unidos e Japão. Verifica-se, segundo Debarbieux (2006), em pesquisas realizadas nos Estados Unidos por National School Home and Safety Survey (NCES) em 2004, comparando com os dados desde 1992 do Center for Diseasse Control and Prevetion, que os jovens com idade entre 5 e 19 anos correm em média cerca de setenta vezes menos riscos de serem assassinados na escola (ou a caminho da escola) do que em outras circunstâncias:

Os números são muitos claros: não somente a violência letal é rara nas escolas americanas, como também esta se encontra em regressão desde há mais de dez anos [...] O risco de um adolescente ou criança ser assassinado é bem menor nos locais escolares do que no exterior (DEBARBIEUX, 2006, p. 25).

Mencionando os massacres nas escolas do mundo um total de 15 fatos com 177 mortos na maioria são resultados de ação de adultos; (em muitos casos, ex-alunos ou alunos) que por razões diversas ou por terem vivenciado a vida toda violência, como vítimas ou agressores, tomam atitudes trágicas. Casos excepcionais, que não devem ser negados. Há evidência que a maioria das pessoas se preocupa só com a violência letal, física, com agressores que causam de alguma forma danos visíveis, todavia, a violência simbólica, moral, às intimidações, que são mais difíceis de serem percebidas, são relegadas, dando-se pouca importância enquanto os seus danos aos educandos são desastrosos e muitas vezes irreversíveis.

O bullying vem sendo praticado há muito tempo, mas não se lhe dava a devida importância, por se pensar se tratar de ‘brincadeiras próprias da idade’. O mesmo, por outro lado, vem se disseminando, causando danos psicológicos aos envolvidos, muitas vezes resultando em situações extremas, como as tragédias ocorridas em Columbine (EUA, 1999), Taiúva (SP, 2003), Renanso (BA, 2004) e na Patagônia (Argentina, 2004), entre outros.

Esse fenômeno pede medidas urgentes que possibilitem o tratamento de suas manifestações, responsáveis pelos comportamentos agressivos e antissociais entre os alunos. Segundo Fante (2005), tais comportamentos vêm contribuindo para a elevação dos índices de violência escolar detectados nos últimos anos, bem como do crescente número de alunos envolvidos com drogas e porte de armas, apreendidas nas escolas, provavelmente na busca de encorajamento para enfrentar seus agressores, uma vez que a escola se tornou palco de ameaças para muitos alunos.

Se a violência é construída, acredita-se que possa desconstruí-la, através de projetos que cultivem a paz, que ensinem o aluno a combater a violência, que ele se reencontre com a sua essência, que a escola seja palco de prazer, alegria, satisfação, conhecimento, companheirismo, partilha e convívio mútuo, tendo cada aluno no papel de ator principal. Deve-se introduzir a ‘educação para a paz’ nas escolas!

Acreditamos que, se a violência está no espírito dos homens não seria, então, parte integrante da tarefa educativa? Nesse sentido, o caminho para combater a violência não seria introduzir a “educação para a paz” nas escolas? (FANTE, 2005, p. 17).