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5.4 BULLYING

5.4.5 Causas e consequências do bullying

5.4.5.2 Consequências do bullying

Beaudoin e Taylor (2006) ressaltam que as pessoas que praticam bullying, no fundo, escolhem este comportamento como escudo para se protegerem de determinadas situações, como se não tivessem escolhas. Elas tentam fazer o melhor dadas as circunstâncias de suas vidas e as especificações que as colocam sob pressão. As pessoas não escolheriam ter conflito, talvez tenham simplesmente a satisfação de produzir um efeito na situação, o único que se ajusta a uma vida possivelmente muito impotente. Por exemplo, as crianças que fazem declarações agressivas na escola podem estar reprimindo muito da frustração e da raiva que sentem por causa de uma situação familiar difícil.

Os estudos revelam que os bullies são pessoas que precisam ser tratadas, são também vítimas de pais repressores violentos, omissos ou permissivos, vítimas de outros bullies cujo comportamento imitaram, vítimas de uma sociedade que prima pela competitividade, exclusão e desigualdade. São vítimas de um sistema escolar regulador, repressivo e despreparado, de professores que encorajam seus comportamentos discriminatórios e competitivos, vítimas de adultos e colegas que incentivam seus comportamentos. No fundo, são solitários, infelizes e tristes. Necessitam de professores, profissionais, adultos que os tratem como pessoas conhecedoras, interessantes e dignas de consideração, apesar dos problemas de bullying.

Os praticantes de bullying geralmente apresentam distanciamento dos objetivos escolares, baixo nível acadêmico e dificuldades de adaptação às regras escolares e sociais. Apresentam déficit de aprendizagem e desinteresse pelos estudos, têm atitudes indisciplinadas, desafiantes e perturbadoras. Podem tornar-se arrogantes, cruéis, manipuladores, ‘durões’, desenvolvendo uma liderança negativa. Na maioria das vezes, introjetam a noção de que conseguem destaque por seus comportamentos autoritários, abusivos e violentos, o que pode conduzi-los à criminalidade e delinquência.

Pela insegurança que sentem (carência de amor e limites), suas ações são desprovidas de compaixão, consideração, empatia. Têm maior suscetibilidade ao envolvimento em gangues, brigas, tráfico, porte ilegal de armas, abuso de álcool e drogas. Tendem à praticar a violência doméstica, assédio moral em seu local de trabalho e baixa resistência à frustração.

Conforme Beaudoin e Taylor (2006), para estes alunos as práticas tradicionais da escola de se concentrar nas conquistas, na avaliação e nas regras criam um contexto que estimula mais frustrações e afastamento. Alguns educadores bem intencionados tentam lidar

com a situação com suposições comuns que, na maioria das vezes, aumentam a ocorrência de problemas.

As vítimas de intimidação, segundo Debarbieux e Blaya (2002), muitas vezes sofrem de ansiedade e depressão, baixa autoestima e queixas físicas e psicossomáticas. Em casos extremos, elas podem vir a cometer suicídio. A vitimização estaria associada à baixa autoestima e menos associada à ansiedade. Pode ser também que o fato de ser deprimido e ter pouca autoestima ajude o aluno a se tornar suscetível à intimidação e vice-versa.

As consequências do bullying afetam todos os envolvidos, em todos os níveis, porém especialmente a vítima, que pode sofrer os seus efeitos negativos muito além do período escolar. Pode trazer prejuízo às suas relações familiares, afetivas, profissionais, além de acarretar danos à sua saúde física e mental.

A superação dos traumas causados pelo bullying poderá ou não ocorrer, dependendo das características individuais de cada vítima e da sua habilidade de se relacionar consigo mesma e com o meio social e familiar. A não superação do trauma poderá desencadear processos prejudiciais ao seu desenvolvimento psíquico, porque inconscientemente irá orientar seu comportamento e a construção de sua inteligência, gerando sentimentos negativos e pensamentos de vingança, baixa autoestima, dificuldades de aprendizagem, queda do rendimento, podendo desenvolver transtornos mentais e psicopatologias graves, além de sintomatologia e doenças de fundo psicossomático, transformando-se num adulto com dificuldades de relacionamento e problemas graves. Pode também desenvolver comportamentos agressivos ou depressivos e, ainda, sofrer ou praticar bullying em fases de sua vida posterior. Em casos extremos, prefere o suicídio a continuar com a perseguição e o castigo (FANTE, 2005; FANTE; PEDRA, 2008).

A vítima, dependendo da intensidade de vitimização sofrida, poderá desenvolver reações intrapsíquicas como sintomatologias de natureza psicossomática: enurese, taquicardia, sudorose, insônia, cefaleia, dor epigástrica, bloqueio dos pensamentos e do raciocínio, ansiedade, estresse, depressão, pensamentos de vingança e de suicídio, e também reações extrapsíquicas, como agressividade, impulsividade, hiperatividade e abuso de substâncias químicas. Na infância, pode desencadear Borderline Personality Disorder (transtorno de personalidade limítrofe), que compromete a regulagem da emoção e memória pelo hipocampo e pela amígdala, distúrbios irreversíveis no desenvolvimento da criança (FANTE, 2005).

Infelizmente muitas escolas não admitem a existência do bullying. Algumas insistem em afirmar que tais práticas não ocorrem em suas dependências, entretanto, a omissão não reduz esse tipo de comportamento, ao contrário, dificulta as possibilidades de ações

interventivas e preventivas na colaboração de sua erradicação. A maioria dos professores desconhece a relevância do fenômeno e não sabe como agir ao se deparar com este problema. Muitos acreditam ser o bullying necessário para o amadurecimento dos indivíduos, outros não dão importância, por acharem ‘brincadeiras da idade’, sem consequências. Há os que acham que os próprios alunos devam resolver sem intromissão de adultos. E existe um pequeno grupo que acredita ser um problema que mereça ser estudado. Entretanto, todo professor, treinado ou não, é capaz de perceber e observar os apelos das vítimas que sofrem com o bullying.

Observa-se hoje, diferente dos tempos passados, que os alunos se uniam para tomar lanche e pertences, ou dinheiro, ou ainda, ameaçava e perseguia as vítimas para realizar tarefas ou incluir nomes em grupos. Hoje o bullying ganhou mais requintes através dos recursos tecnológicos: celulares, Internet (Blog, Twiter, Orkut entre outros), o que se chama de cyberbullying ou assédio virtual e as consequências são maiores pela repercussão na rede.