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5.3 VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

5.3.2 Causas da violência

De acordo com vários autores, como Abramovay (2002, 2009), Debarbieux (2006), Faleiros (2007) e Fante (2005), entre outros, a violência escolar tem numerosas causas e consequências, sendo inúmeros os fatores que colaboram para o seu crescimento: traços individuais de personalidade, ambiente familiar, grupo de pares, escola e exposição à mídia e fatores ambientais e organizacionais ligados aos professores entre outros.

Limitar à violência escolar, só a estes fatores de risco, seria cair no simplismo, desviando do real problema que abrange uma visão contextual e sistêmica. Segundo Debarbieux (2006), uma das armadilhas da pesquisa e da ação sobre a violência escolar é considerar só um elemento do sistema: seja a metáfora da escola cercada de fatores externos, seja a ilusão da sua autossuficiência, focalizando os fatores internos, ou considerando estes como os únicos fatores internos, ou, ainda, levando em conta as variáveis individuais, através de um psicologismo ingênuo.

Devemos levar em consideração as mudanças que ocorrem em nosso cotidiano, que influenciam os modos de ser e de viver do indivíduo e do grupo, os apelos da pós- modernidade, gerados pela globalização: o consumismo, os padrões de beleza ditados pela mídia, a crescente desigualdade social, o mal-estar econômico, a falta de oportunidades de ascensão social, as discriminações étnica, religiosa, e cultural, aliadas a fatores inerentes a cada ser humano, natos ou adquiridos, de acordo com sua história de vida, excesso de permissividade ou omissão dos pais, além de violências sofridas e reproduzidas no seio familiar e social. Portanto, as mudanças sociais (FANTE; PEDRA , 2008) têm grande influência no surgimento das violências escolares, por não conseguir transmitir referenciais estáveis, modelos construtivos, valores e ideais que possam ser compartilhados e sentidos como próprios.

Enfim, a violência escolar deve se situar num contexto amplo, global, numa “análise sociopolítica: cultural, sob condições macrossociais numa era de globalização econômica”; deve considerar, ao mesmo tempo, variáveis sociais e individuais clássicas, as variáveis do clima escolar interno e da vitimização devem ser igualmente examinadas: “A violência na escola não pode reduzir-se à violência inata, natural e para todos os efeitos, fatal”. Ela situa-se num contexto[...] (DEBARBIEUX, 2006, p. 132).

A abordagem através de fatores de risco é um acontecimento ou condições biológicas ou ambientais que aumentam a possibilidade de uma criança ou adolescente desenvolver distúrbios emocionais ou de comportamento. Para abordagem, o desenvolvimento da criança é de origem multifuncional, permite a conceptualização do stress como transações entre o indivíduo e o seu ambiente; concebe o desenvolvimento humano sob o ângulo de fatores que podem aumentar (fatores de risco) ou reduzir (fatores protetores) a probabilidade de desenvolver um ou mais distúrbios de comportamento. Todavia, a simples existência de um fator de risco não é determinante para que esta criança venha a cometer atos violentos. (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002).

Embora alguns autores utilizem apenas fatores de risco psicológicos, Debarbieux (2006) amplia para fatores individuais que, além dos fatores psicológicos (nervosismo, depressão, ansiedade etc), inclui problemas relacionados a complicações natais e perinatais. Além deles há os problemas de saúde (particularmente cardíacos), aos problemas de temperamento ligados à concentração e à hiperatividade, à agressividade, a iniciação precoce do comportamento violento, o comportamento antissocial, o abuso precoce de álcool e drogas.

São muitos os fatores familiares que prenunciam a violência futura: a falta de monitoramento dos pais, ausência de vínculos fortes, castigos corporais severos e maus-tratos físicos, disciplina muito rigorosa, autoritarismo, conflito entre os pais e o fato de provirem de uma família desfeita, com ausência de limites entre outros fatores.

Às vezes o abuso é físico ou, com mais frequência, por meio de palavras ou ações. Muitas vezes há a ameaça de divorciar-se, cometer suicídio etc. Há depreciação ou humilhação pública. As pessoas se tornam prisioneiras em suas próprias casas de doutrinas, a acreditar naquilo que o bully quer que acreditem.

Os fatores associados à escola: o insucesso escolar, o absenteísmo e o abandono escolar, os problemas disciplinares frequentes, as mudanças constantes de escola, a fraca ligação à escola e o fraco empenho nas atividades escolares. São constatações de estudos que se concentram mais em relação ao próprio sujeito (aluno) e não com a estrutura escolar, que deve ser analisada. (DEBARBIEUX, 2006).

O fato de ter amigos delinquentes aumenta o prenúncio de violência juvenil. No entanto, não existe nenhuma informação específica sobre o vínculo da violência entre pares com a violência juvenil. Igualmente não é preditor, pertencer a uma classe baixa, embora outros indicadores socioeconômicos como baixa renda familiar e moradia precária o sejam (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002).

Alguns estudos associam, como fatores de risco, o baixo estatuto social e a pobreza, a desorganização, comunitária, a presença de armas de fogo e de drogas. Na vizinhança, a exposição ao racismo, a presença de adultos criminosos na comunidade são fatores dos problemas precoce de violência em crianças de 6 aos 11 anos; mas, isso não é determinante, como ressalta Debarbieux (2006, p. 148): “O fato de a pobreza ser eventualmente violência, não significa que os pobres sejam necessariamente violentos. Não existe deficiência socioviolenta”.

Quanto maior for o número de fatores de risco, maior a probabilidade de desenvolver comportamento violento. Por isso, as intervenções multimodais são mais efetivas.

A contextualização da violência escolar (Debarbieux, 2006) o nível das próprias variáveis escolares é a mais promissora e permite a compreensão do fenômeno. Os primeiros estudos foram realizados nos Estados Unidos por Denise e Gary Gottfredson. As pesquisas procuram medir e compreender as diferenças de desempenho entre os estabelecimentos escolares, considerando simultaneamente variáveis sociais, mas também fatores como o tamanho do estabelecimento ou turmas, a estabilidade das equipes educativas ou o estilo relacional das equipes de direção. Isto permite explicar porque, diante de uma situação social idêntica, alguns estabelecimentos de ensino reagem melhor do que outros. O estudo gira em torno das variáveis que explicam as diferenças em termos de vitimização e de delinquência entre os estabelecimentos. Fatores ligados ao contexto comunitário (fatores socioeconômicos, demográficos, contexto urbano, contexto cultural etc). E os próprios fatores escolares, que compreendem fatores pedagógicos (clareza das regras, cooperação) ou organizacionais; não negligenciando os fatores externos que a escola sofre: “Não se trata de culpabilizar os atores da escola, mas de identificar o seu espaço de liberdade e de responsabilidade, talvez limitado, mas real” (DEBARBIEUX, 2006, p. 152-153).

Para Costa (2011), as atitudes dos educadores, pais, encarregados de educadores, professores são contraditórias, ao querer para filhos e alunos uma escola ideal, onde se transmitem conhecimentos e se cultivem valores sólidos, capazes de lhe assegurarem um bom e promissor futuro, todavia, frequentemente se situam à margem desses ideais, revelando-se incapazes de alimentar seus próprios sonhos no seu cotidiano.

Muitas vezes, esta atitude coopera para que se instale um clima de violência na família e na escola. A competição desenfreada, a eliminação dos mais frágeis, o sucesso a qualquer preço, a confusão entre padrão de consumo e qualidade de vida, signos do progresso que alimenta quotidianamente esta violência.

Para Giddens (2001), a globalização, ao deslocar os centros de decisão, favorece uma localização dos problemas. Estabelece-se uma relação entre a globalização econômica e a violência escolar. Ao acelerar desigualdades entre países, incluindo os desenvolvidos precipitará um número crescente de escolas à violência, por ser a violência uma construção social, problema global. Entretanto, estudos realizados por Debarbieux (2006) mostram que alguns países classificados, em 73º, 149º e 175º lugares (Brasil, Djibuti, Burkina Faso) no Índice de Desenvolvimento Humano, têm níveis mais fracos de violência do que países mais ricos do mundo. As escolas destes países parecem relativamente protegidas da violência. O que se infere destes dados é o fato da escola se identificar como da comunidade e a comunidade se sentir parte da escola. O autor refere-se ao Brasil, citando as escolas da Baixada Fluminense (RJ), que, embora numa zona altamente violenta, são “protegidas”.