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7.4 REAÇÕES DA COMUNIDADE ESCOLAR AO PROJETO

7.4.3 Perspectiva dos funcionários

Para enriquecimento da pesquisa e conhecer também as perspectivas de outros funcionários da escola pesquisada com relação ao tema, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com estes profissionais. Fizeram parte desta pesquisa cinco funcionários dos demais segmentos da escola: duas porteiras (matutino e vespertino), um agente de conservação de limpeza, uma técnica de secretaria e um monitor de crianças portadoras de necessidades especiais. A escolha foi por aceitação de contribuir com a pesquisa e pela necessidade de ter todos os grupos incluídos. Participaram funcionários recém contratados e outros com maior tempo de serviço.

Todas as entrevistas foram gravadas e transcorreram num clima de descontração e seriedade com relação ao tema abordado. Todos foram bastante solícitos, sentindo-se felizes de terem participado com suas opiniões e sugestões.

A maior parte dos entrevistados está na Secretaria de Educação há mais de 22 anos e na escola há mais de 18 anos, uma com sete anos e apenas um entrou há três meses na escola e na Secretaria.

Existe um sentimento de pertencimento ao estabelecimento, todos o mencionam como “minha escola” e se preocupam com a sua melhoria. Há amizade entre eles, todavia, ainda há uma pequena separação entre os grupos: professores e auxiliares realizam suas obrigações com responsabilidade e zelo, porém muitas vezes são reticentes em face de mudanças. Todos se ajudam, se empenham e se dispõem a substituições quando necessário, visando o bom funcionamento da escola. Na falta do porteiro, outro auxiliar o substitui; faltou um auxiliar, outro o substitui. Isso ocorre também na escola como um todo com a tônica da cooperação e companheirismo mútuo.

Com relação à violência, não se verificou um consenso entre os funcionários: uma minoria considerou a escola ótima, por ter menos violência que as escolas que passou. A

maioria considerou boa, relatando que violência sempre existe onde há pessoas, entretanto, que a violência na escola não chega a afetar o seu bom funcionamento, porque existem pessoas que dão suporte, apaziguam e realizam ações para sanar essa questão. Outros classificaram como regular, precisa melhorar para ser considerada boa. Por ser uma escola de crianças de menor faixa etária percebem-se ações na tentativa de conter o bullying, existe conversa, ata no livro de ocorrências, alunos que praticam constante violências são suspensos e são realizados trabalhos no sentido de reduzir a violência.

Pela escuta dos funcionários, percebe-se a aprovação das atitudes tomadas pela escola para superar a violência e que não consideram altos os índices de violência/bullying na escola. Embora o projeto não tenha focado diretamente os demais funcionários da escola, de maneira indireta todos participaram da escuta das palestras, da leitura dos cartazes, das apresentações, do abraço à escola, da escuta dos alunos e funcionários. O tema também foi abraçado por eles.

Todos conceituaram bullying, alguns de maneira simples, outros aprofundando o conceito, porém todos entenderam o que vem a ser este tipo de violência que coage, maltrata, implica o exercício do poder sobre o outro para sentir-se diminuído.

Um funcionário, por ter participado mais diretamente em salas de aula, assistido a palestras no auditório e participado de apresentações conceituou de uma forma mais ampla:

Bullying é qualquer forma de agressão física, verbal ou mesmo por meio de

intimidação que prejudica a pessoa, no caso o aluno. Pode vir de várias formas e pode acontecer de formas distintas. As crianças tendem a fazer isso como reflexo do que acontece nas suas casas, os mais agressivos, comportamentos inadequados por parte dos pais, refletem diretamente no comportamento das crianças nas escolas (Funcionário mat.).

A maioria relatou não se sentir preparado para intervir e lidar com situações de violência. Todavia, dependendo da situação, tomariam alguma providência. As porteiras relataram não ter presenciado nenhuma situação de violência na portaria com alunos, só pequenos atos de indisciplina que apenas com uma conversa são resolvidos. Com relação aos pais, relataram que no início, devido à mudança de algumas normas quanto à entrada e saída de alunos (os pais não mais podiam entrar), houve algum desconforto.

Um importante aspecto observado foi que a escola procura passar que o aluno é de responsabilidade de todos da escola, não devendo respeitar só o seu professor, a direção, mas todos os funcionários. Os servidores auxiliam no recreio e, quando observam algum comportamento estranho, intervêm no momento. Dependendo do caso, levam o aluno ao professor ou à direção.

As sugestões elencadas pelos funcionários para melhoria do seu trabalho foram ter mais funcionários na portaria, ter mais campanha sobre o bullying e orientar os alunos e funcionários, “estudo mesmo”.

Segundo os funcionários entrevistados, quando há agressão física, a atitude é separar os alunos no ato, conversar, reconciliar, fazer que sejam amigos. Dependendo da gravidade, o caso é encaminhado à direção para outras providências. Em casos de agressões verbais, conversar e, também dependendo do caso, encaminhar ao professor ou direção.

A avaliação dos funcionários em relação ao projeto foi muito positiva. Na sua opinião o projeto foi muito importante, porque o bullying para eles era uma coisa desconhecida, existia, mas eles mesmos não sabiam o que era. Serviu para conscientização e informação, despertando o interesse dos alunos e funcionários sobre o tema.

Os funcionários perceberam mudanças com relação ao comportamento das crianças, principalmente no recreio. Alguns melhoraram, todavia, havia aqueles alunos (geralmente os mesmos) que ainda continuavam tendo comportamento agressivo com os outros mais física do que verbalmente.

Segundo um entrevistado, o aluno com necessidades especiais pratica muitas agressões físicas contra o outro, pois a percepção dele é diferente, muitas vezes ele está com raiva, agride por imitar o que viu na televisão, muitas vezes falta consciência do ato. O meio também influencia para que estas crianças pratiquem mais violências.

Todos acham que o projeto deve continuar, que já foi um bom começo, que poderia ser expandido para outras escolas. É um projeto que não deve ser de curto prazo, mas de médio e longo prazos. É necessário um monitoramento da escola, avaliando os indicadores que o projeto está alcançando, se está sendo bem sucedido ao reduzir a violência e o bullying em particular.

Deve continuar a forma como a direção lida com os alunos (escuta sensível), conversar, ouvir, procurar entender o que está acontecendo, o que a criança está sentindo. Em vez de chegar dizendo quem está errado, procuram resolver os conflitos.

É preciso ser feito um trabalho de conscientização, principalmente com os alunos maiores, que são os que mais praticam bullying e violências em geral, principalmente contra os menores. Se esta conscientização for feita já nos anos iniciais, estes alunos não praticarão no futuro violências contra os outros. O processo de conscientização e internalização do projeto é de longo prazo.

Vários funcionários mencionaram o recreio como o lugar onde ocorrem mais violências, mas disseram ter diminuído a frequência. Sugeriram mais qualidade no recreio:

mais brinquedos, monitoramento, mais atividades para que diminua a incidência de violências e acidentes.

Sugeriram ainda continuar o trabalho da professora da sala de recursos, com mais palestras e apresentações, que viessem profissionais para falar sobre o assunto para todos os funcionários e a comunidade, incluindo a família no projeto. Acham importante a interação da escola com a família.

Em síntese, os funcionários aprovaram o projeto, devendo continuar e ser expandido para outras escolas, por outro lado, deve ser realizado um monitoramento para avaliar os seus indicadores, além da necessidade de um trabalho de maior conscientização e internalização do projeto entre os alunos, em longo prazo.