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5.4 BULLYING

5.4.5 Causas e consequências do bullying

5.4.5.1 Causas do bullying

São inúmeros os fatores que colaboram para o aumento da violência, principalmente ‘infanto-juvenil’. Observa-se o crescimento da agressividade juvenil que se alastra para a vida adulta. Há uma sucessão de causas e consequências dadas pelo seu cotidiano e modo de vida, que influenciam sua conduta, seu modo de ser e do grupo. Tais mudanças estão relacionadas com a globalização, apelo ao consumismo, aos padrões de beleza ditados pela mídia, as desigualdades sociais, fatores econômicos, dificuldades de ascensão social, falta de oportunidades, dificuldades de integração étnica, religiosa, cultural, opção sexual, entre outras. Aliados a estas, estão os modelos educativos formativos familiares, o excesso de permissividade da família (ausência de limites), os comportamentos agressivos e violentos no ambiente familiar, a carência afetiva, as práticas educativas que incluem maus-tratos físicos e emocionais violentos.

Nota-se um aumento do bullying não só no ambiente escolar quanto na sociedade como um todo. A ação individual do agressor acaba se transformando numa ação coletiva. Muitos acabam imitando o agressor bully e se tornam também agressores, enquanto outros se calam, com medo de se tornarem as próximas vítimas, ficando engessados ante a violência.

Muitos autores, entre eles Middelton-Moz e Zawadski (2007), Fante (2005), Abramovay (2009), Debarbieux (2002), reconhecem que grande parte destes problemas surge na infância e no seio da família. Para Middelton-Moz e Zawadski (2007), o nascimento psicológico de uma criança se dá nos oitos anos de vida. A criança passa de ‘o que sou’ a ‘quem sou’; ela aprende quem é enquanto indivíduo com seus pais, irmãos, parentes, professores, instrutores e outros adultos que cumpram o papel de modelo de comportamento de suas vidas. À medida que cresce, desenvolve o alicerce para o seu comportamento agressivo, que se torna cada vez mais resistente à mudanças:

Crianças criadas em famílias e comunidades emocional e fisicamente violentas, frias, negligentes, inconstantes, restritivas, primitivas e/ou indulgentes vivenciam a

desorganização de padrões normais de desenvolvimento que resultam em problemas emocionais, comportamentais e cognitivos (MIDDELTON-MOZ; ZAWADSKI, 2007, p. 55).

Middelton-Moz e Zawadski (2007, p. 79 a 82), enumeram algumas causas do bullying: a) Crianças que vieram de famílias superprotetoras, não aprenderam controles e limites internos necessários para interações sociais saudáveis. Aprenderam a ter medo de fazer escolhas erradas, então não fazem escolha alguma, têm pouca confiança em si mesmas e têm medo de cometer erros. Se sentem vitimizadas por qualquer situação ou pela vida em geral. A maioria torna-se alvo fácil dos bullies na escola (p. 79);

b) Crianças que não recebem limites ou limites inconstantes para seus comportamentos e se sentem maiores que os adultos de suas vidas. Estão constantemente testando limites externos e muitas vezes exercem bullying sobre professores e colegas (p. 80);

c) Crianças que vivem em famílias onde há bullying, violência, terror, agressão ou abuso, e que vão à escola com medo de ser ridicularizadas, punidas e/ou ‘descobertas’. Elas podem ir à escola tendo testemunhado recentemente incidentes de bullying e/ou abuso, ou os tendo vivenciado em primeira mão. Podem reagir com choque, medo, culpa, confusão e raiva; aprendem a guardar segredos (para proteger suas famílias do ridículo e constrangimento ou por terem medo de serem levadas embora). Algumas parecem fortes como proteção contra o constrangimento e a vergonha. Outras podem se apresentar como sendo felizes, lutam pela perfeição e concentram toda a sua atenção na educação. Outras se escondem atrás de um muro de raiva, amargura e desafio. Vêm à escola como habilidade de sobrevivência (p. 81);

d) Crianças que foram ensinadas a ser agressivas por modelos de referência que

tiveram em suas vidas. Quando estão com medo ou ansiedade (o que acontece na maior parte do tempo), usam a agressão como defesa. Elas podem se sentir bem consigo mesmas temporariamente, por um tempo curto, todavia, devido ao trauma familiar, retornam ao único comportamento que aprenderam para se proteger: bullying, raiva e agressividade (p. 81);

e) Outras crianças que experimentam bullying em casa podem se sentir

inadequadas e excluídas na escola. Começam a apresentar comportamentos agressivos para adquirirem poder e reconhecimento e, como não dispõem de

qualquer ponto de referência, qualquer reconhecimento é positivo. Se não tiverem uma nova orientação, não mudam. Continuam a reproduzir bullying:

[...] crianças que não têm um “espelho” honesto não desenvolvem consciência de seu comportamento e de seus efeitos em outras pessoas. Se não forem ajudadas a desenvolver um novo conjunto de “ferramentas” comportamentais, darão continuidade a seu comportamento na idade adulta (MIDDELTON-MOZ; ZAWADSKI, 2007, p. 82).

Existem também outros fatores do risco de ser vitimizado: ter poucos amigos, principalmente aqueles em quem possam confiar e que não sejam de grupo social ‘inferior’; rejeição sociométrica (não contar com a simpatia dos colegas); ser portador de necessidades especiais, bem como ter características físicas e comportamentais diferentes dos padrões tidos como ‘normais’ ou ainda serem imigrantes. Nota-se que “[...] pais que foram intimidadores em seus tempos de escola tendem a ter filhos que praticam intimidação” (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002, p. 193).

Para Fante (2005) são duas as causas de bullying:

1) A necessidade de o agressor reproduzir contra outros os maus tratos sofridos tanto em casa como na escola, que se irradia como dinâmica psicossocial doentia e repetitiva, numa espécie de ciclo vicioso denominado “Síndrome de Maus-Tratos-Repetitivos (SMAR), oriunda do modelo introjetado na primeira infância que a criança inconscientemente introjeta no seu comportamento”. Dessa forma, estará predisposta a reproduzir a agressividade sofrida ou a reprimi-la, comprometendo o seu processo de socialização.

2) Ausência de modelos educativos humanistas, capazes de orientar e estimular o comportamento da criança para a convivência social pacífica e para o seu crescimento moral e espiritual, fatores indispensáveis ao processo socioeducacional, promotor de autossuperação na vida. A ausência destes valores humanistas leva à intolerância, que dificulta à aceitação das diferenças individuais e à aceitação do outro.

O bullying começa pela recusa de aceitação de uma diferença, seja ela qual for, mas sempre notória e abrangente, envolvendo religião, etnia, estatura física, peso, cor de cabelos, deficiências visuais, auditivas e vocais, ou de ordem psicológica, social, sexual e física, ou relacionada a aspectos como força, coragem e habilidades desportivas e intelectuais. As percepções dessas diferenças fazem surgir conflitos que, na maioria das vezes, utilizam

métodos autoritários, linguagem violenta e atitudes hostis que não surtem efeito às vezes até aumentam as situações violentas.

Considerando que as crianças são as mais envolvidas neste fenômeno, é necessário habilidade para lidar com elas, o que requer uma conscientização preventiva desde as séries iniciais por parte de toda a comunidade educativa (alunos, pais, professores, comunidade) e a sociedade de maneira geral.

Em pesquisa realizada nos ciclos iniciais (da pré-escola à 4ª série), as condutas de bullying tornam-se mais perceptíveis, facilitando a identificação pelo professor. O pátio é o local onde ocorrem com maior incidência. Dentre os tipos que mais incidem até a 2ª série, são os maus-tratos físicos. Em seguida, vêm ofensas, xingamentos, discriminação, relacionados ao aspecto sexual. As crianças com deficiência física e necessidades especiais sofrem até três vezes mais. Nas 3ª e 4ª séries os maus-tratos físicos associam-se às ameaças e chantagens, especialmente contra as mais frágeis e tímidas. Desenvolve-se também o comportamento abusivo do agressor impondo-se por meio de ameaças físicas e psicológicas. Da 5ª série em diante, os maus-tratos começam a ser maquiados, tornando-se difícil identificar, basicamente, por meio de linguagem visual, gestual e corporal. É no exterior da escola que as ameaças se cumprem: a saída é a hora dos ‘acertos de contas’. No ensino médio, a maioria dos maus- tratos acontece disfarçada. Sua maior incidência faz-se notar nos apelidos, ofensas, ameaças e brigas dentro e fora da escola.

Observa-se grande ocorrência do fenômeno bullying em sala de aula, sendo um sinal de que professores ainda não sabem distinguir entre condutas violentas e brincadeiras próprias da idade e que lhes falta preparo para identificar, distinguir e desenvolver estratégias pedagógicas para enfrentar o bullying. É necessário que nossos professores sejam capacitados e habilitados para lidar com esse fenômeno, uma vez que ele os atinge diretamente e os afeta de maneira sutil e estressante: “Os professores deveriam ser preparados para educar a emoção dos seus alunos” (FANTE, 2005, p. 68).

Nota-se que o professor está despreparado para lidar com a questão da violência nas escolas, bem como com outros assuntos que a própria sociedade moderna requer. É necessário preparar este profissional para atuar como um catalisador nas escolas, valorizando o seu aluno e a si mesmo, para que possa intervir de forma ativa e não apenas reativa com relação à violência e aos comportamentos agressivos na escola: “Há escolas que punem e tentam controlar a violência e há outras que educam visando a evitá-la e substituí-la” (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002, p. 256).