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2. TURISMO E CULTURA REGIONALIZADOS NAS CIDADES DO

3.4 A diplomacia do Barão do Rio Branco: uma busca pela

Uma nova fase surgia no Acre em 1902, a da diplomacia. Em 15 de novembro assume a presidência do Brasil Rodrigues Alves que nomeou como Ministro do Exterior o Barão do Rio Branco69, que assumiu o posto em 03 de dezembro de 1902, sendo sua primeira preocupação a solução para a situação do Acre. Para tanto, procurou afastar da região o Bolivian Syndicate e, como se tratava de uma área litigiosa, abandona a idéia de resolver o caso com a demarcação dos limites, preferindo adotar a diplomacia. Sendo assim, enviou o general Olímpio da Silveira para ocupar a região e deu início às negociações com a Bolívia, no entanto, para o sucesso das negociações era imprescindível, para Rio Branco, manter uma posição de força, ou seja, manter em armas o exército acreano e ao mesmo tempo ocupar militarmente e de forma oficial, o território conquistado.

Por um lado estavam resolvidos os conflitos externos do Acre, mas por outro, se avolumavam os internos. O Barão do Rio Branco não podia imaginar que estava colocando em risco as conquistas dos revolucionários acreanos ao enviar o general Olympio da Silveira à frente das tropas do exército brasileiro. O general, que havia participado da Guerra de Canudos não admitia dividir o poder com Plácido de Castro e o desautorizava sempre. Rio Branco, vendo que essa situação não se resolvia, decidiu pela retirada do general, vindo a fortalecer Plácido de Castro. No lugar de Olympio Silveira, nomeou o general Cunha Mattos que, de forma mais flexiva, soube o que fazer para acalmar os ânimos dos dois exércitos acreanos e brasileiros.

Para pôr fim à tensão que se agravava, o Barão do Rio Branco dirigiu as negociações diplomaticamente, resultando no Tratado de Petrópolis. Em troca o Brasil pagou à Bolívia a quantia de 2 milhões de libras esterlinas e indenizou o

Bolivian Syndicate em 110 mil libras pela rescisão do contrato de arrendamento,

firmado em 1901 com o governo boliviano. Cedia ainda, algumas terras no Mato Grosso e comprometia-se com a construção da Estrada de Ferro Madeira- Mamoré

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José Maria da Silva Paranhos Júnior nasceu no Rio de Janeiro em 20 de abril de 1845, e faleceu na mesma cidade, em 10 de fevereiro de 1912. Foi professor, político, jornalista, diplomata, historiador, biógrafo. Ocupou vários cargos importantes no alto escalão do governo. Mas se destacou mais ao solucionar questões territoriais litigiosas favoráveis para o Brasil. Como a questão do Amapá e do Acre. Utilizava-se do “uti possidetis solis” para dirimir as questões com quase todos os países da América do Sul.

para escoar a produção boliviana pelo Rio Amazonas. À época, foi de grande valia o esforço que o Brasil fez para permanecer com essa parte da floresta amazônica, pois afinal, a borracha produzida no Acre ajudou a construir os belos palácios, praças, alamedas e avenidas das grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, e também patrocinou muitos saraus e exposições artísticas, sendo ainda fundamental para a vitória dos aliados durante a Segunda Guerra Mundial.

No entanto, permaneciam os resquícios do período de guerra, enquanto o governo do amazonas reclamava as terras do Acre para si, o Peru alegava que o Acre lhe pertencia devido aos títulos cedidos nos tempos do acordo entre Portugal e Espanha no ano de 1777, a saber, o Tratado de Santo Ildefonso 70, e por isso protestavam diplomaticamente junto ao Brasil e à Bolívia. Vale ressaltar que esse fato foi o mais difícil de se resolver, tendo em vista que o Peru forçava a ocupação instalando alfândegas em vários pontos do território acreano, nas zonas mais distantes como Alto-Juruá e Alto Purus, que já eram terras brasleiras ocupadas.

Para a solução final dessa situação criou-se duas comissões, composta por dois brasileiros e dois peruanos, uma para o alto Juruá liderada pelo general Belarmino Mendonça e outra para o Alto Purus liderada por Euclides da Cunha que se apresentavam como representantes do Peru e Brasil em investigação conjunta. Como resultado desse levantamento social e geográfico verificou-se que a maioria da ocupação havia sido feita por brasileiros, significando que a posse, efetivamente, era brasileira. Nessa fase da história ocorreram vários confrontos armados entre peruanos e brasileiros devido a questões locais e/ou decisões militares desastrosas, o que quase provocou o rompimento do acordo feito pelo Barão do Rio Branco com o Peru. Por fim, a peleja com os peruanos findou em 1909 com o Tratado do Rio de Janeiro.

Os sentimentos de pertencimentos ultrapassam as fronteiras sociais entre a coletividade. O que acontecia no Acre no momento em que o Barão do Rio Branco busca regulamentar a terra para os brasileiros nos remete ao que diz Pollak (1992) sobre “as memórias coletivas fortemente constituídas” que implica em compreender como essa memória coletiva, com todos seus acontecimentos e interpretações orgânicos e legítimos, será guardada e defendida. Elas procuram salvaguardar os

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Acordo assinado em 01 de outubro de 1777 na cidade de San Ildefonso com o objetivo de encerrar a disputa entre Portugal e Espanha pela posse da colônia sul-americana do Sacarmento, situação que se prolongava desde a Paz de Utrecht e a guerra de 1735-1737.

sentimentos de pertencimentos e as referências do passado, se apropriando da possibilidade de coesão de uma sociedade ou grupos, para se fortaleçer, ou seja, o Barão do Rio Branco procurou “manter a coesão interna e defender as fronteiras daquilo que um grupo tinha em comum”, os sentimentos de pretencimentos atrelados à cultura local.