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5. O ACRE AMAZÔNICO CULTURAL COM PRINCÍPIOS

5.1 Amazônia: A Maior Maravilha da Natureza versus Amazônia: A

Destacar a Amazônia como o “pulmão do mundo”, e até como a “Maior Maravilha da Natureza” sem ressaltar a cultura, contribui para aguçar a cobiça daqueles que buscam a sua internacionalização, por isso seria mais interessante dizer: “Amazônia é a Maior Maravilha para a Humanidade”. Tendo em vista que no cenário internacional perdura a visão conservacionista atrelada à crença de que a floresta amazônica é fornecedora de oxigênio para a atmosfera, contradizendo o que diz os ecólogos de que a floresta amazônica é auto-sustentável 87, pode-se dizer que a Amazônia não deve ser considerada “pulmão do mundo”, uma vez que, sua produção é para o consumo dos seus ecossistemas e zonas de transição – pantanal e cerrado. São incoerentes os brasileiros quando destacam na mídia somente os aspectos relacionados à beleza e exuberância de seu patrimônio natural desprezando a culturalidade nela existente.

87 Mais informações em DIAS-FILHO. Moacyr Bernardino. A fotossíntese e o aquecimento global.

Belém: Embrapa Amazônia Ocidental, 2006. Disponível em:

Historicamente a Amazônia sempre esteve ligada à natureza por ser considerada uma das últimas reservas mundiais de recursos naturais e florestais, com os ecossistemas mais ricos e preservados do planeta. Ela é de encher os olhos de qualquer turista, pelo seu ambiente de características peculiares. Por isso fazer turismo na região é sempre uma aventura gratificante, seja nas praias, nos rios, nas ilhas ou nas matas interagindo com a natureza e com seus habitantes. Como se não bastasse, a imensidão de florestas, a amplitude dos rios e a diversidade de fauna e flora, esse cenário abriga uma diversidade cultural muito significativa e única já que os povos que nela habitam desenvolveram um modo peculiar de sobrevivência e vivência florestal.

O propósito desse estudo é analisar a cultura amazônica e sua contribuição para o desenvolvimento do turismo cultural e quais atrativos ela pode oferecer para a área de turismo. Busca-se mostrar também como a cultura regionalizada, construída com as práticas a ela associadas, credita para o presente cultural o existente no imaginário adquirido através dos mitos, lendas, contos, crenças, saberes e dizeres. Acredita-se que essa cultura proveniente do imaginário e dos lugares da memória dos amazônidas ressalta uma cultura inclusiva e atuante que prioriza o saber específico cultural, a vivência para a sobrevivência sem prejuízo para as particularidades de sua vida diária. Segundo Geertz (1975, p.24), “Como sistemas entrelaçados de signos interpretáveis a cultura não é um poder [...] ela é um contexto dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível”.

Nessa perspectiva, a cultura repleta de símbolos e significados preservados, sobretudo na memória coletiva, reflete no construído como um produto da acumulação de experiências e criatividade dos seus habitantes, possibilitando a compreensão de que a cultura amazônica é legítima, uma herança, um legado para a humanidade como testemunho original dos seres viventes em seu habitat natural. A riqueza oferecida pelo meio e destacada pela área ambiental não impede que esses “saberes”, construídos pelas vivências e interações com a floresta, não sejam destacados e planejados para o desenvolvimento do turismo no segmento cultural. As construções humanas regionalizadas, as experiências, a oralidade e as manifestações culturais intrínsecas do homem amazônico são excelentes atrativos turísticos a serem desenvolvidos pelo segmento cultural.

A propósito, vender a Amazônia para o turista é algo fácil de fazer, pois sua atratividade é enorme, consiste em um dos mais preciosos patrimônios ecológicos

do planeta, porém, transformá-la em um produto turístico não é tarefa simples, visto que além da necessidade de haver o respeito pela herança cultural dos amazônidas, ainda necessita de severa observância na legislação ambiental que trata do respeito ao meio ambiente para que sua estrutura seja preservada e respeitada. Na atualidade a prática de turismo na região amazônica, que abrange estados e países vizinhos do Acre integrantes da Rota Turística Internacional Amazônia-Andes- Pacífico, é levada pelo modismo vendendo o ecoturismo com a proposta de sustentabilidade, que permite ao ecoturista conhecer locais de rara beleza, com boa receptividade, com guias treinados e locais que possuem menor grau de ações impactantes.

Esses locais de rara beleza, excelente receptividade, visitas guiadas, fauna e flora abundantes e de fácil visualização, no entanto, são localidades ecoturísticas “mascaradas”, isso devido a alguns fatores como: os animais do local que estão ali porque foram atraídos com alimentos para os turistas poderem fotografá-los, ou seja, são simplesmente prisioneiros funcionais os quais se encontram naquele local por serem habituados à comida fácil, as construções são apenas modelos de habitações de nativos, a culinária é importada porque o chef (cozinheiro) o é, os gestores do turismo são empresas estrangeiras ou terceirizadas, os guias falam a língua nativa com sotaque porque não são da comunidade local, as atrações turísticas não mostram a cultura da localidade, pois são adaptadas ao gosto do turista. Isso demonstra que o turismo regional não é regionalizado, e dessa forma o ecoturismo é “tudo” menos ecoturismo.

A prática do ecoturismo, na verdade, deve prioritariamente respeitar o meio ambiente, observando a legislação ambiental e respeitando as características básicas da localidade, sem inserir modismos e modelos exógenos à realidade local. Certamente, o ecoturista, que segundo pesquisas é uma pessoa bem informada, percebe quando o local é autêntico e quando isso acontece, ele simplesmente retorna, e ainda recomenda o destino para os parentes e amigos.

Para além das riquezas naturais inigualáveis, a Amazônia apresenta vastíssima potencialidade tanto no setor turístico quanto nos outros setores produtivos. A inestimável reserva ecológica atrai turistas do mundo inteiro ávidos por conhecer a exuberante floresta e a grande variedade da fauna e flora, elementos que a fazem ser considerada o "pulmão do mundo". Por essas características se conhece a Amazônia, e quase nada ou nada se sabe da cultura amazônica, das

pessoas que nela vivem e como interagem com seu meio. Quando raramente encontra-se algo pertinente, se resume a argumentos que demonstram um conhecimento de concepção externa ao meio ou com base na cultura dos centros urbanos, diferentemente, daquele que é concebido com conhecimento da realidade local baseada na cultura das populações tradicionais, os indígenas, os ribeirinhos, os extrativistas que detém a expressão mais autêntica da identidade local.

Como exemplo de opiniões externas sobre os amazônidas, Loureiro (1992) se refe à cultura das pessoas residentes na região amazônica como a falta de consciência de sua própria realidade:

...a cultura amazônica revela características próprias das regiões carentes e periféricas sujeitas a sofrerem os impactos do colonialismo cultural e a sofrerem as consequências da alienação, ou seja, da falta da consciência de sua própria realidade (LOUREIRO, 1992, p.180).

Por isso, acredita-se que para tratar da cultura na Amazônia é necessário conhecer, e entender sua dinâmica, seu movimento, fazer uma leitura conjuntural para compreender sua ação e intervenção, além disso, discutir e refletir a finalidade político-social, o contexto local e a intencionalidade, concepções e valores. A Amazônia é diferente e seu o turismo também precisa ser, ela pode desenvolver todos os segmentos do turismo, mas de forma diferenciada daquela que é desenvolvida nas demais regiões.

O ecoturismo quando praticado corretamente é uma maneira de preservar o ambiente natural e o destaque turístico para a cultura do homem amazônico pode ser um mecanismo de defesa de suas riquezas naturais. Nessa medida a contribuição do turismo cultural ao se apropriar de seus bens como atrativos turísticos, contribui para sua conservação, valorização e promoção dos bens materiais e imateriais construídos ao longo dos anos.

O turismo e o marketing integrados aos estados e países integrantes da Rota Turística Internacional Amazônia-Andes-Pacífico visa promover a região como produto turístico nacional e internacional de excelência para as atividades turísticas socioculturais e ambientais, inserindo modelos de iniciativas que desenvolvem o turismo regionalizado característicos da região, juntamente com o planejamento, critérios e normas contextualizadas. Para que assim as aplicações turísticas

contribuam para o conhecimento e valorização dos saberes populares tradicionais dos povos da floresta e promova sua conservação para a humanidade.

Prioritariamente, o trabalho que está sendo desenvolvido na região amazônica durante o ano de 2009, difere dos referenciados anteriormente do ano de 1999 e 2003, uma vez que suas ações têm a propensão para o meio ambiente e a cultura, um bom exemplo disso é a cidade de Rio Branco onde está sendo trabalhada a cultura com câmaras temáticas, e os segmentos culturais fortalecidos preservam a cultura existente se preparando para o turismo racional.

Atualmente, os projetos, programas e eventos programados realizados pelos órgãos gestores de turismo buscam de alguma forma inserir educação ambiental nas atividades. As iniciativas de integração das regiões vizinhas ao Acre, tendo o turismo como instrumento básico, trazem o benefício da elaboração de roteiros e produtos regionalizados de maior identidade amazônica feitos com critério e responsabilidade, traduzindo a Amazônia como a Maior Maravilha para a Humanidade.