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2. TURISMO E CULTURA REGIONALIZADOS NAS CIDADES DO

2.2 Bujari: manejo de pastos e manejo florestal

O município de Bujari, Integrante da Rota Turística Internacional Amazônia- Andes-Pacífico, localiza-se às margens da BR-364, distante 22 km da capital Rio Branco. Limita-se com os municípios de Rio Branco, Sena Madureira, Porto Acre e Boca do Acre-AM. Seu território está estimado em 303.728,82 km², com uma população de 8.423 habitantes (ACRE. 2006), sendo que a maioria habita a zona rural. O município que antes era uma “colocação de seringueiros” pertencente ao

antigo Seringal Empresa conhecido como “Seringal do Governo” Torres (2002, p.13), começou a se desenvolver depois de ter servido como acampamento para os trabalhadores da rodovia no trecho entre Rio Branco e Sena Madureira em 1969. O nome Bujari é de origem desconhecida, alguns dizem ser de origem indígena, ou oriundo de uma planta chamada “Buji” em abundância na região, outros afirmam que originou-se dos macacos “Buggios”, sempre presentes na região, na verdade, não se sabe ao certo sua origem, o que importa é que a cidade é promissora e próspera.

A pecuária é a principal atividade econômica, os pastos existentes são de ótima qualidade, ocupam grandes áreas e a técnica empregada para sua criação é a de manejo de pastos, que consiste em separar os locais de pastagens para consumo enquanto a outra parte se renova. Essa técnica evita a necessidade de constantes derrubadas para o plantio do capim ou alimentação industrializada. Outra atividade que se destaca no município é a exploração sustentável dos produtos madeireiros e não-madeireiros com impacto reduzido 42. Os produtos são retirados, em sua maioria, da região do rio Antimary, das reservas extrativistas e das florestas estaduais. Nesse sentido, se destaca as atividades desenvolvidas na Floresta Estadual do Antimary (FEA), onde a exploração, realizada em parceria com a comunidade local, promoveu desenvolvimento econômico e melhoria da qualidade de vida.

Ela que abrange uma área de aproximadamente 77.000 hectares do município de Bujari, no qual o Projeto PD 94/90 ITTO 43 implantou o Plano de Manejo de Uso Múltiplo tendo como objetivo a promoção e o desenvolvimento integrado da Amazônia Ocidental com base nos recursos florestais, empregando tecnologia sustentada. O modelo implantado na FEA promoveu desenvolvimento econômico da região e melhoria da qualidade de vida dos moradores. Na fase inicial foram desenvolvidos muitos trabalhos técnicos e científicos, como inventário

42 Consiste na exploração racional sustentável de madeira e outros produtos como borracha,

castanha-do-Brasil, copaíba, urucum, sementes e ervas medicinais. A técnica do impacto reduzido executado na exploração da madeira compreende estudo sobre o local da queda da árvore que deverá causar o menor dano possível às árvores e aos animais, pássaros e insetos menores habitantes dela e ao seu redor.

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Projeto financiado pela International Tropical Timber Organization (ITTO), Fundação Ford do Brasil no Programa PROREDES, Organização Internacional de Madeiras Tropicais (OIMT) e Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Universidade Federal do Acre (UFAC), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e outros.

florestal, estudos sobre o solo, a fauna, a situação socioeconômico, os seringais nativos, as bacias hidrográficas e etnobotânico, os ecossistemas e botânica econômica, dentre outros, buscando garantir o sucesso do empreendimento e da manutenção e preservação da área (FUNDAÇÃO DE TECNOLOGIA DO ESTADO DO ACRE, 2004, p.11).

O projeto foi executado durante dez anos, nesse período a comunidade, que é composta de 109 famílias, recebeu atendimento à saúde inclusive tratamento odontológico nos três postos de saúde da comunidade, realização de exames de malária e cobertura vacinal. Na área da educação as quatro escolas atendem 86% da população, contribuindo para a redução do índice de analfabetismo que era de 90,04% e reduziu para 22%. Além disso, cada morador integrado ao projeto recebe casa nova. Nesse período foram extraídos aproximadamente 14.000 m³ de madeira certificada de mais de trinta espécies. Após isso a área descansará por pelo menos 20 anos, quando se iniciará outra fase do projeto.

Os demais habitantes da zona rural do Bujari, a exemplo dos habitantes da FEA tem como principal fonte de renda a exploração de produtos madeireiros e não- madeireiros, além da agricultura de subsistência, porém sem a assistência que outra comunidade teve em decorrência do projeto e cujos equipamentos construídos são de usufruto dela, como os postos de saúde, as escolas e as instalações da área administrativa. Já os moradores da zona urbana em sua maioria são funcionários públicos e outros vivem do comércio.

Outra atividade econômica que tende a crescer é a piscicultura que produz peixes nos açudes de boa qualidade. Como relata o gestor público de cultura Moisés Torres, 54 anos, morador e escritor:

Ultimamente uma atividade que tem se destacado muito é a piscicultura, tem muita gente investindo nesse ramo, o município tem mais de 150 piscicultores que produzem mais de 600 mil quilos de peixes por ano, um de nossos maiores eventos depois do de agropecuária é a Feira do Peixe.

Assim, o município consorcia atividades econômicas de grande poder de degradação ambiental como a pecuária e outras sustentáveis como a de manejo madeireiro e não-madeireiro de impacto reduzido. Destas práticas afirma-se que há um amadurecimento por parte do poder público municipal e dos parceiros no sentido

de continuar investindo na exploração de atividades econômicas muito impactantes e de alto valor econômico com ações minimizadoras dos danos que são provocados. A pesquisa conseguiu apontar que a cultura e turismo do município se destacam muito timidamente. As atividades turísticas existentes são propícias ao desenvolvimento do ecoturismo nos ambiente naturais existentes, de estudos e pesquisas e de realizações técnicas na Floresta do Antimary. Destacam-se na cidade dois eventos importantes a Expobuja, uma feira de agropecuária que divulga a principal atividade econômica, e a Feira do Peixe de grande concorrência principalmente porque ela acontece nos dias que antecedem a Semana Santa, com perspectiva de crescimento e melhor aproveitamento do produto. Quanto à sua inserção na rota Amazônia-Andes-pacífico nenhum morador tinha conhecimento algum sobre o assunto. Por fim, realizou-se a análise da caracterização do município mediante o turismo, avaliando os pontos positivos e negativos em todos os setores administrativos e também a caracterização da cidade para o turismo, como é possível ver no Quadro 4.

Aspectos Positivos Aspectos Negativos

Infra-estrutura turística de Bujari compatível

com a demanda turística existente. Demais comunidades de Bujari alijada do processo de manejo sustentável da Floresta Estadual do Antimary.

As edificações correspondem com as

características das construções da região. Sub-utilização das casas construídas pelo Projeto PB 94/90 – ITTO (Inadaptabilidade dos moradores).

Comunidade local receptiva. Ausência de projetos similares ao da FEA em

outras reservas enquanto a floresta se recupera no antimary.

Presença de técnicas de manejos

sustentáveis e minimizadores da degradação ambiental.

Ausência de cursos de qualificação na prestação dos serviços turísticos.

Interesse econômico da comunidade local no

desenvolvimento de atividades turísticas. Ausência de fabricação de artesanatos.

Criação de áreas de proteção ambiental. Ausência de educação turística e ambiental.

Exploração adequada de produtos

madeireiros e não madeireiros. Insuficiência no sistema de água e esgoto sanitário

Acesso gratuito aos atrativos turísticos

potenciais. Pouca sinalização básica e turística.

Uso adequado da terra. Instalações e limpeza dos equipamentos

turísticos (hospedagem e alimentação) precários. Realização de eventos para divulgação da

produção local. Prédios públicos mal conservados.

Preços da hospedagem e alimentação

razoáveis. Presença de mão-de-obra ociosa.

Quadro 4. Avaliação das características do município do Bujari para o turismo. Fonte: Dados da Pesquisa.