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2. TURISMO E CULTURA REGIONALIZADOS NAS CIDADES DO

2.3 Senador Guiomard: cidade do amendoim e da água mineral

Saindo da capital Rio Branco no trajeto da Rota Turística Internacional Amazônia-Andes-Pacífico, indo sentido ao Peru encontra-se Senador Guiomard, mais conhecida pelos moradores como Quinary. A origem desse nome ainda é desconhecida, alguns estudiosos acreditam ser proveniente de uma árvore por nome “Quina” muito utilizada pelos índios para combater a Malária 44. A troca do nome Quinary para Senador Guiomar é em homenagem ao ex-governador do antigo Território do Acre na década de 50, José Guiomard dos Santos. Distante 24 quilômetros da capital Rio Branco. O município possui uma área de 232.063,35 km², com população de 20.505 habitantes e estabelece limites com Acrelândia, Plácido de Castro, Capixaba, Rio Branco, Porto Acre e Boca do Acre-AM (ACRE, 2006).

Na economia se destaca a pecuária, o extrativismo, a produção de amendoim e de derivados do leite. Sua ocupação começou com a aquisição da área para fins de assentamentos das famílias oriundas do nordeste brasileiro, e de japoneses (nipônicos) vindos do Oriente. O povoamento tinha como objetivo o desenvolvimento econômico da região pela agricultura e a pecuária. No turismo o município se destaca pelos eventos que realiza atraindo grande quantidade de pessoas, principalmente, durante as amostras musicais no Canta Quinary que conta com a presença de cantores e bandas do Acre e região, a feira de agropecuária e a venda de amendoim de excelente qualidade cultivados pelos japoneses desde o final da década de 50. Outro produto que se destaca na economia do município é a água mineral, em abundância nas diversas fontes do município. Segundo estudos isso ocorre em razão da proximidade com o aquífero existente na região 45.

Por meio das entrevistas realizadas com moradores, foi possível observar que a cidade tem potencial para o turismo, necessita, no entanto, de maior investimento no setor, principalmente, na otimização dos atrativos turísticos culturais e eventos culturais como o canta Quinary, festival do amendoim, feira de agropecuária,

44 Mais informações em VALE, Nuno; MOREIRA, Rui; GOMES, Paula. Quimioterapia da malária: um

século no desenvolvimento de antimaláricos. 2005. Disponível em

http://www.spq.pt/boletim/docs/boletimSPQ_099_057_09.pdf

45 Mais informações em COSTA, Ana Cristina Morais da; SANTOS, Marco Aurélio dos. A gestão dos

recursos hídricos no Brasil e a questão da água subterrânea. Disponível em: <http://www.ivig.coppe.ufrj.br/docs/articleaguasub.pdf>

festivais caipiras e as áreas de entretenimentos que outrora foram muito concorridas pela comunidade local e adjacente, Paraíso e Quinoá. Estes eventos são percebidos pelo viés cultural e esportivo e não pelo turismo, o que se dá não por falta de apropriação da comunidade, mas pela falha na representatividade municipal junto aos órgãos competentes do turismo para a divulgação e promoção dos eventos que realiza.

No que tange a cultura e turismo, existe consenso quanto à existência de lugares apropriados pela população que se perderam no tempo. Nesse sentido o gestor público Klowsbey Pereira, quando entrevistado, cita uma área verde utilizada pelas famílias e pelo público jovem para pequeniques e banhos: “Esse lugar não existe mais, derrubaram a mata ao redor e aí as águas secaram, além do mais agora está dentro de uma propriedade particular...”. Concordando com ele em relação aos usos e costumes, Dona Raimunda Medeiros, 68 anos, relembra com saudosismo a “cacimba”, uma vertente com a qual a população se abastecia de águas: “‘Cedinho’ e à tardinha aparecia gente de toda parte, com as latas ‘pra’ pegar água... Eu ia também... Era bom porque a gente encontrava um conhecido ‘pra’ conversar...”. Ao dizer tais palavras os entrevistados revelam locais de lazer que a degradação ambiental destruiu e costumes como o bate-papo entre vizinhos, que se perderam na pós-modernidade 46.

Dentre os bens da cultura material merecedores de proteção através de tombamento, dois dos três entrevistados, citou a seringueira localizada às margens da rua principal da cidade, uma árvore frondosa e antiga e o Projeto de Assentamento Moreno Maia, no Ramal do Batata. Quanto ao produto que identifica o município destaca-se o amendoim e a água mineral. Com relação à Rota Turística Internacional Amazônia-Andes-Pacífico, todos disseram que a cidade está no caminho do pacífico porque aquele era o percurso para quem queria entrar no Peru e não sabiam dizer mais nada sobre o tema. Durante a entrevista aproveitou-se para observar a caracterização da cidade no aspecto visual, paisagístico, organizacional e a infra-estrutura básica e turística, o que foi exposto a seguir no Quadro 5, que possibilita analisar os pontos positivos e negativos do município.

46 Mais informações em FILHO, João Freire. Mídia, consumo cultural e estilo de vida na pós-

modernidade. In: ECO-PÓS - V.6, nº 1, jan-jul. 2003. Mídia, consumo cultural e estilo de vida na pós- modernidade. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003. pp. 72-97. Disponível em: <http://www.pos.eco.ufrj.br/ojs- 2.2.2/index.php/revista/article/viewPDFInterstitial/199/205>.

Aspectos Positivos Aspectos Negativos

Interesse econômico da comunidade local

no desenvolvimento de atividades turísticas. Sítios arqueológicos degradados e sem proteção legal.

Comunidade local receptiva. Ausência de elementos identitários da cultura no

município.

Existência de produção econômica

identitária do município (amendoim). Poucos cursos de qualificação na prestação de serviços turísticos.

Desenvolvimento econômico com

exploração de recursos naturais (água mineral).

Pouca participação nos cursos de qualificação na prestação de serviços turísticos.

Boa urbanização e limpeza das ruas. Pouca aplicabilidade do que aprendem nos

cursos de capacitação.

Apoio ao esporte e eventos culturais Ausência de artesanatos.

Realização de feiras, festivais e amostras de

produtos econômicos locais. Pouca urbanização e razoável limpeza das ruas.

Existência de estudos nos sítios

arqueológicos (geoglifos) para sua proteção. Descaracterização (presença de grande extensão de pastos para da paisagem natural criação de gado)

Existência de área auto-sustentável na

região (sítio do senhor Chico abacate). Insuficiência no sistema de esgoto sanitário.

Preços (alimentação) razoáveis. Ausência de educação turística e ambiental.

Pouca sinalização básica e turística.

Não-valorização de áreas naturais que

apresentam iniciativas de ações sustentáveis. Quadro 5. Avaliação das características do município de Senador Guiomard para o turismo Fonte: Dados da Pesquisa.