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4. A CULTURA E O LUGAR DO TURISMO CULTURAL, DA

4.3 O Lugar do Ecoturismo

4.3.1 As Unidades de Conservação do Acre e as implicações para a

Os estudos dessa seção tiveram por base teórica as informações contidas no zoneamento ecológico econômico do Acre do ano de 2006 e conhecimentos adquiridos com as visitas técnicas realizadas às áreas naturais relacionadas. O Estado do Acre tem ao todo quatro Unidades de Conservação de Proteção Integral sendo que uma delas se encontra em fase de criação, o Parque Municipal Plácido de Castro, e dezesseis Unidades de Uso Sustentável, como pode ser visto no Quadro 12:

Unidades de Proteção Integral

Unidades de Uso Sustentável

Parque Nacional da Serra do Divisor Área de Proteção Ambiental Igarapé São

Francisco

Parque Estadual Chandless Área de Proteção Ambiental Lago do Amapá

Parque Municipal Plácido de Castro (em

processo de criação) Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra

Estação Ecológica do Rio Acre Área de Relevante Interesse Ecológico

Seringal Nova Esperança Reserva Extrativista Alto Juruá Reserva Extrativista Chico Mendes Reserva Extrativista Alto Tarauacá Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade Floresta Nacional do Macauã

Floresta Nacional Santa Rosa do Purus Floresta Nacional São Francisco

Floresta Estadual do Antimary Floresta Estadual Mogno Floresta Estadual Rio Liberdade Floresta Estadual Rio Gregório Quadro 12. Unidades de Conservação do Estado do Acre.

Fonte: ACRE, 2006.

A primeira UC criada no Estado do Acre foi a Reserva Extrativista Chico Mendes com o Decreto de Criação nº 99.144 de 12 de março de 1990, possuindo uma área aproximada de 903.203 hectares gerenciada pelo IBAMA. É uma Unidade de Uso Sustentável concedida para os seringueiros que nela habitam, abrangendo os municípios de Rio Branco, Capixaba, Sena Madureira, Xapuri, Epitaciolândia, Brasiléia e Assis Brasil, tem em torno de 1.800 unidades de produção, sendo os

principais produtos a borracha, a castanha, a andiroba, o copaíba, as sementes fitoterápicos e a madeira certificada, (ACRE, 2006, p. 205). A mais recente é a Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade criada em 17 de fevereiro de 2005 somando 325.602 hectares, com 177 unidades familiares, que produzem, principalmente, borracha e farinha de mandioca, cada uma com sua peculiaridade e particularidade pautadas nos saberes e dizeres florestanos.

As visitações turísticas nessas localidades só acontecem mediante contato prévio e interesse da comunidade. A cultura é essencialmente agroextrativista, sendo o processo de extração da borracha e castanha o que mais se destaca, seguido da agricultura de subsistência, como a técnica da feitura da farinha de mandioca e dos plantios de roçados e de várzeas em que se aproveitam as encostas das praias para plantar mandioca, milho, arroz, feijão, melancia, jerimum, amendoim. Muitos turistas (mais considerados visitantes, porque a população ainda não interiorizou esta figura), procuram as épocas do ano em que os extrativistas estão colhendo sua produção para acompanhá-los e vivenciar seu dia-a-dia. Geralmente, são muito hospitaleiros e interativos, percorrem horas de viagem a pé nos varadouros ou em canoas pelo rio, só para prosear com os vizinhos, cantar e tocar violão ao luar, muitos deles escrevem livros de poesias e publicam com incentivo do governo estadual, sempre com temas relacionados à vivência na floresta.

As Unidades de Proteção Integral do Acre totalizam 1.560.422 hectares do território do Estado, compreendem o Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD) que abrange 0, 51%, a Estação Ecológica do Rio Acre (ESEC) com 4,77% e o Parque Estadual do Chandless com 4,23%. O Parque Municipal Plácido de Castro se encontra em fase inicial de criação com um Termo de Cooperação Técnica assinado em 12 de agosto de 2008. O PNSD e a ESEC são de responsabilidade do IBAMA, enquanto o Parque Estadual do Chandles é do IMAC.

O PNSD é a mais conhecida UC do Estado do Acre está localizado na região do Vale do Juruá, fronteira do Brasil com o Peru, criada a partir do Decreto Federal nº 97.839 de 16 de junho de 1989, sua área é de 784.942 hectares atingindo os municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Rodrigues Alves. (ACRE, 2006, p. 200). É um lugar de fauna abundante e flora exuberante. Nos quais os rios, colinas e rochas embelezam a paisagem no horizonte, complementada pela floresta com seres conhecidos e desconhecidos que

aludem mistérios, onde residem os nativos com suas crenças, ritos, mitos e danças que os distinguem como uma população feliz, alegre e festeira de calorosa receptividade cultural.

Essa UC representa um grande potencial turístico para o estado e o país, além de ser um atrativo extraordinário para o turista, necessitando, no entanto, de um tempo para que as potencialidades e atrativos possam ser formatadas em produtos ecoturísticos, com integração de ações para o uso do turismo sustentável. O Parque não está aberto à visitação turística, as visitas que acontecem são com fins científicos mediante acompanhamento do IBAMA. Sendo assim, o grande desafio é realizar atividades turísticas, compartilhar e perpetuar a cultura e todo o ecossistema, sem impactar sobremaneira a região.

A Estação Ecológica do Rio Acre foi criada a partir do Decreto nº 86.061 de 02 de junho de 1981, envolve os municípios de Assis Brasil e Sena Madureira e se estende até o Peru, seu principal acesso é através do rio Acre. A administração é de responsabilidade do IBAMA, estando um conselho gestor em fase de elaboração. Seu PM e zoneamento foram elaborados em 2006, em parceria com a WWF-Brasil83 e SOS Amazônia84. O principal objetivo de sua criação é a preservação da natureza, da nascente dos rios e a realização de pesquisas científicas. A característica de suas paisagens e seres vivos é típica da Amazônia, a maior dificuldade de seu órgão fiscalizador é manter o controle das atividades de caça e pesca realizadas pela população residentes e do entorno. Nela é proibida a visitação pública, exceto quando possui finalidade educacional.

O Parque Estadual do Chandless foi criado pelo Decreto Estadual nº 10.670 de 02 de setembro de 2004, sua área possui 695.303 hectares, é o segundo maior

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Em 1961, quando foi fundada, a sigla WWF significava World Wildlife Fund que traduzido para o português é Fundo Mundial da Natureza. O crescimento da organização ao redor do planeta nas décadas seguintes e a mudança de foco da instituição, possibilitou à marca simbolizar o trabalho de conservação da organização de maneira mais ampla, quando a sigla passou a ser: World Wide Fund For Nature, que em português é Fundo Mundial para a Natureza. Atualmente, com o reconhecimento da marca internacionalmente, ela agora é simplesmente: WWF.

84Fundada em 30 de setembro de 1988, a Associação SOS AMAZÔNIA propõe instrumentos

políticos e jurídicos que viabilizam a gestão sustentável dos ambientes florestais, rurais e urbanos, foi criada com o objetivo de denunciar as agressões à Floresta Amazônica, apoiar o movimento de resistência dos seringueiros aos desmatamentos das florestas no Acre e colaborar com a formação de uma opinião pública que valorize a conservação e a preservação ambiental. Dentre os fundadores (professores universitários, servidores públicos e líderes dos movimentos sociais da época), se inclui Chico Mendes.

parque da região norte e segunda maior UC do Estado. Está localizado na parte sul do estado, na região do Purus onde se encontram os municípios de Manuel Urbano, Santa Rosa do Purus e Sena Madureira. O Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC) é o órgão fiscalizador responsável, já tendo realizado sobrevoo no local que permitiu fazer um diagnóstico da área, bem como realizam percurso de barco para monitoramento e fiscalização. No Parque existem 12 famílias residentes que resolveram permanecer nele além de existir os indígenas do Alto rio Purus e Mamoadate que lá residem há vários anos. O objetivo de sua criação é preservar o ecossistema natural de grande relevância e beleza cênica, propiciar a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação, interpretação ambiental e recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico.

O objetivo de realizar este estudo utilizando-se as informações do SNUC e as áreas protegidas do Acre é contribuir para a reflexão sobre ecoturismo e turismo cultural e o paradoxo existente entre esses dois segmentos do turismo no estado. Se por um lado, a vocação natural da localidade por se localizar no interior da Amazônia e a existência de enormes quantidades de áreas preservadas dão margem para o desenvolvimento do ecoturismo. Por outro lado, o cultural sobrepuja o ecoturismo quando se percebe que, não só essa, mas toda a região da Amazônia é habitada por populações tradicionais (indígenas, caboclos, ribeirinhos, colonos, extrativistas, populações urbanas) ricas em saberes e dizeres culturalmente vividos e transmitidos de pai para filho que dignificam a cultura amazônica dando lugar ao desenvolvimento do turismo cultural, uma vez que está presente no próprio conceito de ecoturismo quando o MTur (2007) se refere à utilização do patrimônio natural e cultural e da promoção do bem-estar das populações residentes.

É importante destacar que essas populações são as verdadeiras guardiãs e defensoras da soberania nacional na região Amazônica. Quando as pessoas deixarem de olhar para o Acre e para a região da Amazônia somente pela perspectiva ambientalista, e passarem a olhar, respeitar e valorizar a cultura nela existente, a soberania da Amazônia verdadeiramente será respeitada. Um bom começo seria pensar a Amazônia na perspectiva da sustentabilidade - sociedade – cultura.

5. O ACRE AMAZÔNICO CULTURAL COM PRINCÍPIOS SUSTENTÁVEIS E O