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A disputa envolvendo direitos de propriedade intelectual e a definição de padrões

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3. Estratégias das empresas

3.3 Ilustração – a experiência da indústria de vídeo digital chinesa

3.3.6 A disputa envolvendo direitos de propriedade intelectual e a definição de padrões

Com o ingresso maciço no mercado mundial de DVD as firmas chinesas começaram a enfrentar forte retaliação por parte dos principais fornecedores internacionais que, utilizando seus direitos de propriedade intelectual, passaram a cobrar royalties elevados das empresas chinesas. Após um acordo entre as firmas estrangeiras e a CAIA (China Audio Industries

Association), ficou acertado que as firmas chinesas teriam de pagar $26 por cada unidade de

DVD exportada. Como o custo do DVD já se encontrava no patamar de $100, a margem de lucro das firmas chinesas reduziu-se muito.

A Shinco parou de produzir os produtos mais simples em 2003 e passou a concentrar- se nos mais sofisticados, como o DVD portátil. As exportações de marcas chinesas diminuíram e as de marcas estrangeiras aumentaram. Diversas pequenas montadoras, sem marca, ressurgiram na região do Pearl River Delta, voltadas para a produção OEM (Original

Equipment Manufacturing) para exportação87.

A firmas estrangeiras Sony, Hitachi, Matsushita, Sharp, Samsung, Philips e Thomson formaram uma aliança chamada de Blue-Ray Disc Founders, com o objetivo de gerar uma nova geração de tecnologia para gravação ótica (blue-ray disc) que permitisse substituir o padrão DVD e criar barreiras à entrada de firmas chinesas.

Em resposta, em maio de 1999 o MII chinês coordenou um projeto proposto pela comunidade industrial de VCD/DVD, com o objetivo de desenvolver uma nova geração de sistema de vídeo digital de alta densidade. Em outubro do mesmo ano, a State Economic and

Trade Commission aprovou o projeto, atribuindo ao mesmo financiamento público

substancial. Foi estabelecido um consórcio para desenvolver a tecnologia do disco digital, formado por dezenas de empresas (incluindo a Shinco) e institutos de pesquisa associados ao MII. O CEO da Shinco foi nomeado presidente do consórcio.

Em decorrência de desavenças internas e comportamentos “free-rider”, o MII criou uma nova empresa (E-World Digital Technologies), na qual a Shinco era a segunda maior

87 Em um contrato de OEM o produto é produzido de acordo com as especificações do cliente, geralmente uma empresa multinacional, que o vende com a sua própria marca. As multinacionais Nike e a IBM fizeram largo uso dessa modalidade contratando empresas coreanas e de outros países asiáticos nos anos 1970.

investidora, com a missão de realizar P&D para o projeto e controlar os direitos de propriedade intelectual relacionados.

A nova tecnologia, denominada EVD (Enhanced Versatile Disc) consiste de um sistema de vídeo de alta definição para substituir o DVD. O EVD possui excelentes características de desempenho e compatibilidade, além de uma tecnologia anti-cópia muito superior à do DVD. O MII organizou um grupo de trabalho coordenado pela E-World para padronizar as especificações de sistema do EVD. No final de 2001, as amostras de disco e equipamento estavam prontas. Em 2003, a E-World fez um acordo com a produtora de chip americana LSI Logic para construir um laboratório conjunto para desenvolvimento do chip do EVD para produção em grande escala, que seria fornecido somente pela E-World.

Embora os fabricantes de EVD ainda tenham de pagar royalties para os detentores das patentes do DVD devido à compatibilidade entre os dois sistemas, o montante foi reduzido em dois terços. A distribuição de direitos internamente entre os participantes da aliança do EVD ainda não está equacionada.

A Shinco foi a primeira empresa que forneceu EVD para o mercado, em 2004, mas a sua penetração ainda era reduzida devido aos seguintes motivos: o preço ainda era elevado e superior ao do DVD; a funcionalidade da alta definição somente poderia ser vista em HDTV, cuja inserção ainda era limitada na China e existiam poucos conteúdos disponíveis porque o maior fornecedor de filmes, Hollywood, participava da aliança do DVD.

Em face à lentidão na difusão do EVD, em abril de 2004 surgiram dois sistemas rivais no mercado chinês, o HVD (High-Definition Versatile Disc) e o HDV (High-Definition

Digital Vídeo), o que atrasou a definição do EVD como padrão oficial pelo MII.

Em outubro de 2004, o grupo EVD iniciou uma campanha maciça para reduzir o preço do EVD e aumentar a sua penetração no mercado chinês. O objetivo principal era tirar o DVD do mercado. Na mesma época, Hollywood começou a licenciar copyrigths de filmes para a aliança EVD, convencida de que sua tecnologia anti-cópia era superior, levando à redução do preço do disco de EVD e ao aumento do número de filmes disponíveis. Esse movimento foi fundamental para estimular o MII a definir o EVD como padrão.

Quanto ao sistema concorrente, blue-ray, sua principal vantagem tecnológica parece ser a possibilidade de armazenamento de mais dados, podendo conter cinco filmes em um único disco. No entanto, esse pode ser um atributo irrelevante para o mercado chinês porque a composição de filmes pode não ser adequada e o consumidor pode preferir escolher os filmes um a um.

Os movimentos futuros da indústria são imprevisíveis mas, de todo modo, a experiência do VCD permitiu que a China tivesse uma inserção na indústria totalmente distinta daquela que teria caso seguisse dependendo exclusivamente da tecnologia estrangeira e atuasse apenas como montadora, acompanhando a trajetória do VCR para o DVD. Os preços dos equipamentos e das fitas seriam seguramente mais elevados e a universalização do consumo poderia até não ter ocorrido.

Em setembro de 2006 os preços dos DVD já estavam em torno de $60, com royalties de US$ 15 a US$ 25. O EVD é baseado na tecnologia MPEG-2, mas espera-se uma mudança para uma nova tecnologia (AVS), que permitirá a fabricantes chineses produzir equipamentos baseados inteiramente em padrões tecnológicos chineses.

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