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Considerações preliminares

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Desde suas formulações mais simples, a teoria neoclássica do crescimento pressupunha que, sob livre mercado, o capital migraria dos países mais avançados (onde ele é abundante e, com isso, sujeito a retornos decrescentes) para os mais atrasados (onde existe escassez de capital e, em conseqüência, maior retorno por unidade desse fator), promovendo a redução das disparidades de produtividade e renda entre os dois grupos de países. Confrontada com a realidade, a hipótese da convergência não se confirmou.

A teoria do crescimento endógeno, desenvolvida posteriormente no âmbito do próprio programa de pesquisa neoclássico, abandonou (ou pelo menos relativizou) a suposição de convergência ao argumentar que a tendência de retornos decrescentes nos países desenvolvidos tende a ser superada por retornos crescentes associados à inovação tecnológica nesses países.

Em “A riqueza e a pobreza das nações”39, Landes retrata que, em uma perspectiva de longo prazo, a distância entre os países ricos e pobres vem crescendo e não diminuindo. A diferença de produtividade e renda per capita entre o país mais rico e o mais pobre do mundo, que há 250 anos era de cinco para um, hoje aumentou de 400 para 1.

Wade (2001) calcula o comportamento da distribuição da renda entre países utilizando a paridade do poder de compra (PPP) e a taxa de câmbio em relação ao dólar, e ponderando ou não os países por sua população. Essas alternativas possuem vantagens e desvantagens metodológicas que são discutidas pelo autor. A conclusão é que independente da opção escolhida (nas quatro combinações possíveis), os dados não suportam a hipótese da convergência para o período estudado, compreendido na segunda metade do século XX.40

39 Landes, D. The Wealth and Poverty of Nations. London: Abacus, 1998, apud Fargerberg e Godinho, 2005). 40 Medindo a renda por paridade do poder de compra (PPP) e ponderando os países por sua população, a análise inicial indica que não houve nem aumento, nem redução significativa da desigualdade de renda entre os países mais ricos e os mais pobres (não houve convergência nem divergência). Sem a ponderação pela população e medindo por PPP essa desigualdade aumentou (ou seja, houve divergência). Se a taxa de câmbio em relação ao dólar é utilizada no lugar da PPP, os resultados demonstram que a desigualdade aumentou muito se os países

A conclusão de estudos empíricos em Baumol et al. (1989, apud Fagerberg e Godinho, 2005, p.515)41 segue a mesma direção: na melhor das hipóteses, a convergência é confinada a um grupo de países – “ou clubes de convergência” – em períodos específicos do tempo.

Abramovitz (1986) também chega a conclusões semelhantes em uma análise do comportamento da produtividade de 15 países com relação aos Estados Unidos no período de 1870 a 1979. A convergência ocorre, mas não na totalidade do período estudado. Do início da Primeira Guerra Mundial até o final da Segunda Grande Guerra não houve convergência. Ademais, o autor destaca problemas sérios de natureza metodológica, relacionados à procedência dos dados (sobretudo os mais antigos) e ao viés da amostra, que contém somente países que à época já haviam avançado no processo de crescimento econômico moderno.

É necessário levar em conta, ainda, que além de muitos países terem se mantido desnivelados ao longo da história, fortemente diferenciados (ou seja, com um padrão que apresenta pouca aderência à hipótese de convergência), em muitos casos percebe-se também alto grau de heterogeneidade interna (por exemplo, entre o Norte e o Sul da Itália), apesar de todos os esforços empreendidos para reduzí-la42.

Apesar da constatação empírica de que a convergência entre países não ocorreu como previa a teoria, a análise de experiências históricas particulares retrata casos exemplares de países notadamente atrasados que conseguiram, através do crescimento acelerado e sustentado, emparelhar ou mesmo superar os países mais avançados – ou seja, fazer o catch-

forem ponderados por sua população e ainda mais se não o forem. Além disso, o aumento da desigualdade aprofundou-se a partir dos anos 1980. Recorrendo a outros artigos, Wade (2001) argumenta que mesmo no caso do uso da PPP e da ponderação dos países pela população, houve forte aumento da desigualdade de renda entre os países: Milanovic, Branko (“True world income distribution, 1988 and 1993”, Policy Research Working Paper 2244, Development Research Group, World Bank, Nov 1999) calculou que o Coeficiente de Gini para a renda mundial aumentou de 62,5 para 66,0 entre 1988 e 1993; Dikhanov, Yuri e Ward, Michael (“Measuring the distribution of global income”, paper to First Global Conference on Human Development, United Nations, New York, July 1999) confirmaram o cálculo do Índice de Gini e calcularam também que a renda dos países 10% mais pobres (os dados do Banco Mundial cobrem 85% do total da população mundial) diminuiu 27% entre 1988 e 1993, ao passo que a dos 10% mais ricos aumentou 8% no mesmo período.

Além da desigualdade crescente de renda entre os diferentes grupos de países, Wade (2001) trata de outros problemas correlatos que agravam a situação dos países mais pobres e representam desafios para a presente economia política global: a incerteza e a insegurança resultantes da redução dos sistemas de proteção social e do aumento do desemprego, esse último agravado em alguns países pela globalização. O autor argumenta que o estudo empírico da questão da desigualdade de renda entre países não pode ser confundido com a investigação – igualmente importante – centrada na redução da pobreza global em vista da possibilidade de ocorrer redução dessa última e aumento das desigualdades, com reflexos muito prejudiciais para os países mais pobres.

41 Baumol, W.J., Nelson, R.R. and Wolff (Eds.) Convergence of Productivity: Cross-National Studies and Historical Evidence. New York: Oxford Univ. Press, 1994.

42 Anotações realizadas no curso proferido pelo Professor Antonio Barros de Castro, “Instituições, Políticas e Estratégias de Crescimento Industrial”, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Instituições, Organizações e Estratégias, em julho de 2003.

up. A compreensão dos fatores que favorecem ou dificultam a capacidade de um país de levar

adiante uma estratégia bem sucedida de catch-up é uma questão da maior importância.

Essa questão, no entanto, não pode ser respondida a partir de uma análise macroeconômica agregada, nem comporta qualquer tipo de pressuposto de convergência ou receituário geral do estilo blueprint. É necessária uma abordagem histórico-institucional, que leve em conta as especificidades de cada caso particular. Somente com esse tipo de enfoque será possível identificar as regularidades, bem como as idiossincrasias que caracterizam cada experiência de catch-up, permitindo extrair informações relevantes. As características principais da abordagem histórico-institucional foram discutidas com maior detalhe no primeiro artigo da tese. O objetivo do presente artigo é discutir conceitos dentro do arcabouço histórico-institucional diretamente relacionados à análise do catch-up. No terceiro artigo será examinada a experiência chinesa de catch-up à luz do arcabouço conceitual revisto.

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