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As especificidades das experiências de desenvolvimento e a busca das

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1. Marco conceitual

1.1 Instituições

1.1.5 As especificidades das experiências de desenvolvimento e a busca das

A contribuição de Hirschman12 no campo da análise do desenvolvimento econômico de países atrasados (no caso, “late late commers” da América Latina a partir da década de 1950), por sua identificação da natureza específica de cada experiência de desenvolvimento e, em consequência, da necessidade de construir caminhos próprios adaptados para cada problemática, constitui referência fundamental.13

Hirschman esteve com Gerschenkron em uma palestra no Instituto de estudos avançados, na Universidade de Princeton, em 1951. Com este, compartilhou a idéia de que a história é elemento fundamental para a compreensão de processos econômicos e a crítica ao mono-economicismo (à idéia de que todos os países trilham o mesmo caminho em momentos diferentes e, portanto, uma única teoria, ou modelo, seria capaz de explicar o que se passa em todos os países). Na conclusão de seu artigo de 1962 (“O atraso econômico em sua

12 Hirschman nasceu em Berlim, na Alemanha, em 1915. Em 1933 teve de deixar seu país natal. Formou-se em Paris, estudou, em seguida, em Londres e obteve seu doutorado pela Universidade de Trieste, na Itália, em 1938. Em 1941 mudou-se para os Estados Unidos, onde fez sua carreira como consultor e como professor/pesquisador, tendo atuado em diversas universidades e abrangido os mais distintos campos da economia. De 1946 a 1952, trabalhou com o Plano Marshall de ajuda financeira aos países destruídos pela Guerra. Em 1952, foi enviado pelo Federal Service Board (Banco Mundial), de Washington, como consultor financeiro para a Colômbia. Dois anos depois, Hirschman deixou o cargo e permaneceu na Colômbia como consultor privado. Essa experiência deu origem a um de seus livros mais conhecidos, “A estratégia do desenvolvimento econômico”, de 1958. Depois disso, Hirschman assumiu diversos postos em universidades importantes nos Estados Unidos (Blaug, 1985, p.94-96).

13 Segundo Blaug (1985, p.94)Hirschman possui uma característica muito interessante: a capacidade de olhar para um velho problema de um ângulo inteiramente novo e inesperado. Ele fez isso em uma enorme variedade de artigos e, em particular, em dois livros que exerceram muito impacto em sua época: A estratégia do

desenvolvimento econômico, de 1958, e Saída, voz e lealdade, de 1970. Nesse artigo iremos nos concentrar no

perspectiva histórica”), Gerschenkron enfatizou que é necessário identificar as particularidades de cada experiência e, caso as evidências empíricas não se enquadrarem na tipologia, essa é que tem de ser reformulada e não o inverso. Hirschman aprofundou esse ponto.

As idéias que desenvolveu em A estratégia do desenvolvimento econômico e, depois, em “Confissão de um dissidente, revisitando A estratégia do desenvolvimento econômico”, de 1982, publicado em Hirschman, 1984, A economia como ciência moral e política, foram fortemente influenciadas por duas experiências profissionais subseqüentes que Hirschman teve como consultor.

Primeiro, como agente do Plano Marshall, participou dos processos de reconstrução da Itália e da França, e da formação da União Européia de Pagamentos. Com o tempo, concluiu que se o objetivo era, de fato, promover a recuperação econômica desses países com soberania nacional, qualquer política ortodoxa seria desastrosa. Aos poucos, percebeu também que os responsáveis pelo Plano logo tornaram-se doutrinários e havia um forte conteúdo de dominação na ajuda.

Entre 1952 e 1956, como consultor do Banco Mundial para assuntos econômicos e financeiros, na Colômbia, recebeu a tarefa de analisar as estatísticas referentes à poupança interna e à relação capital-produto e propor medidas de ajuste. Hirschman percebeu que trabalhar com tais variáveis equivalia a aplicar os modelos de crescimento equilibrado desenvolvidos a partir dos esforços iniciais de Harrod e Domar, na década de 1930 e do modelo de crescimento de Solow, de 195614, e reproduzir o Plano Marshall em condições ainda piores, já que se tratava de países atrasados e não de países avançados destruídos pela Guerra.

Estava claro para Hirschman que importar um modelo pronto, desenvolvido para um contexto totalmente distinto da realidade local, não ajudaria e poderia até prejudicar o desenvolvimento da Colômbia. Assim, adotou a alternativa que chamou de “busca das racionalidades ocultas”. Isso significava procurar ações que poderiam até contrariar a intuição, mas que, no contexto local, permitiriam promover o desenvolvimento.

A primeira delas foi mostrar que o crescimento econômico não precisaria necessariamente se dar de forma equilibrada, como era de praxe se supor naquele período, tanto nos modelos de crescimento equilibrado, como nos modelos etapistas. Hirschman mostrou que o crescimento poderia se dar de forma desequilibrada, com alguns setores, na

frente, “puxando” os outros. As soluções não precisavam ser simultâneas – poderiam ser seqüenciais. A proposta era promover deliberadamente o desequilíbrio (para criar incentivos, por exemplo, alterando preços relativos) para acionar respostas locais positivas.

Outras racionalidades ocultas propostas foram a de concentrar os esforços de investimento nos setores de atividade com maiores efeitos de encadeamento para frente e para trás, priorizar os setores intensivos em capital15 e tratar a inflação e o desequilíbrio no Balanço de Pagamentos com medidas de crescimento e não com medidas de restrição monetária e fiscal, como propunha a visão monetarista.

A proposta da busca das racionalidades ocultas era inteiramente consistente com a abordagem metodológica de Gerschenkron e sua preocupação com o respeito ao objeto em estudo. Hirschman contrapôs-se ao uso de “receitas de bolo” (blueprints) preparadas para países com realidades inteiramente distintas daquela da Colômbia, assim como do restante da América Latina.

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