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A EDUCAÇÃO BÁSICA OBRIGATÓRIA E SEU FINANCIAMENTO

O NOVO MODELO DE ENSINO MÉDIO

2. A EDUCAÇÃO BÁSICA OBRIGATÓRIA E SEU FINANCIAMENTO

É calculado a partir de dois componentes: taxa de rendimento escolar (aprovação);

médias de desempenho nos exames aplicados pelo Inep.

Os índices de aprovação são obtidos a partir do censo escolar, realizado anualmente. As médias de desempenho utilizadas são auferidas no sistema de avaliação da educação básica (Saeb), para todo o país (avaliação com o corpo discente realizada a cada dois anos).

As metas estabelecidas pelo IDEB são diferenciadas para cada escola e rede de ensino, com o objetivo único de alcançar 6 (seis) pontos até 2022 (média correspondente ao sistema educacional dos países desenvolvidos), o que fracassou.

Os resultados no IDEB falam por si.

A situação, no curto prazo, tende a estagnar em quadro sofrível em virtudedas consequências do fechamento das escolas pela crise sanitária internacional. Alertam Palumbo e Toledo (2020, p. 87),sic: “O processo educacional está intimamente ligado ao Estado Democrático de Direito e a dignidade humana”. As pesquisadoras chamam atenção – também – para o campo dos afetos no transcurso da educação. Com efeito, inexiste vida condigna sem educação de qualidade.

Para Nogueira (2003, p. 42): “Um povo faminto e analfabeto, sem teto, pão, água e respeito, não tem como responder por ele mesmo. É objeto da história e não agente dela”. Os aspectos qualitativos educacionais impulsionam o exercício consciente da cidadania ativa (educação só gera externalidades positivas).

No entanto, conforme o periódico Tribuna do Norte (2020,on line), os resultados do IDEB são preocupantes: “Apenas Goiás (4,7 contra 4,4 de meta) e Pernambuco (4,4 contra 4,3 como meta) superaram as expectativas feitas após o último ranqueamento divulgado” (dados de 2019 – índice divulgado bienalmente). Os dados de 2021 (publicados em 2022) evidenciampiora no quadro. Segundo o governo federal (2022, on line):

Os resultados mostram que o país, em um contexto de pandemia, não cumpriu nenhuma das metas. Para os anos iniciais do ensino fundamental, até o 5º ano, o Ideb 2021 foi 5,8, a meta era 6. Nos anos finais, o Ideb foi 5,1 e a meta era 5,5. No ensino médio, o Ideb foi 4,2 e a meta era 5,2.

A questão é: que fazer? Para tentar analisar o problema racionalmente, é preciso, primeiro, conhecer (no sentido de apropriar-se) da modelagam legal existente a operacionalizar a educação básica. Depois, investigar suas fontes de custeio. O art. 21 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) estipula os níveis escolares

em dois grandes blocos: educação básica e a educação superior. Focalizar-se-á a estrutura normativa da primeira.

A educação básica obrigatória abrange a faixa etária dos quatro (4) aos dezessete (17) anos. Subdivide-se em pré-escola (para crianças com 4 anos completos), ensino fundamental (dos 6 aos 14 anos) e ensino médio (dos 15 aos 17 anos). Caso o educando do ensino fundamental e/ou do ensino médio não consigam completar os estudos na idade própria, a educação de jovens e adultos se insere com alternativa.

Interessante dizer que o conceito de educação infantil é bem mais abrangente que o de pré-escola. Sua positivação se encontra no art. 4º, II, da LDB. Contempla crianças de até 5 anos de idade. Desdobra-se em creche (facultativa) e pré-escola (obrigatória) – espaços institucionais não domésticos, que visam a educar e a cuidar do público infantil.

A primeira etapa da educação básica abre um feixe de possibilidades em termos de descobertas das singularidades das crianças e vivências de práticas colaborativas.

Os parâmetros curriculares nacionais (PCN) e o referencial curricular nacional (RCN), para educação infantil, servem de norte à prática docente nessa etapa tão importante da vida dos educandos.

O RCN aproxima prática escolar das diretrizes curriculares nacionais (DCN).

Traz subsídios adicionais. Oferta informações/indicações para além da elaboração de propostas curriculares. Já os PCN (fontes também indicativas e não normativas) foram elaborados, pelo governo federal, para subsidiar/orientar a elaboração/revisão curricular, principalmente, serve de norte à operação da parte diversificada dos currículos.

Idem quanto à formação inicial e continuada dos professores. Os PCN norteiam as discussões pedagógicas internas às escolas, a produção de livros/outros materiais didáticos e avaliação do sistema de educação.

Por seu turno, as DCN são documentos normativos, com base em quase articulou a base nacional comum curricular (BNCC). A ideia curricular da educação básica, integralmente considerada, segue lógica elementar: BNCC mais parte diversificada, a englobar contextos histórico, econômico, social e ambiental. Eis o que dispõe a LDB (1996,on line):

Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida

pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos.

É impossível falar de BNCC sem explicar a ideia de competência: mobilização de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, da cidadania e do mundo do trabalho.

Nessa operacionalidade, foram editadas as DCN aplicáveis à educação infantil (DCNEI), ao ensino fundamental e ao ensino médio. Quanto às DCNEI, a Resolução 05/2009, do Conselho Nacional de Educação, trouxe os princípios das propostas pedagógicas: estéticos (liberdade de expressão), políticos (construção da cidadania) e éticos (focados no bem comum).

Na educação infantil, os eixos curriculares valorizam as interações e brincadeiras, não sendo a frequência requisito para matrícula no ensino fundamental (apenas a idade). Nesse ambiente, o currículo há que promover o desenvolvimento integral do educando, a criatividade e sua socialização. A etapa subsequente é o ensino fundamental, subdividido em anos iniciais e anos finais.

Os anos iniciais abrangem do 1º ao 5º anos (fundamental I). Logicamente, os anos finais englobam do 6º ao 9º anos. A BNCC do ensino fundamental (anos iniciais), ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para necessária articulação com as experiências vivenciadas na educação infantil (lógica de progressão de conhecimento).

Há natural ponte de aprendizagens entre a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental, o que demanda pensar novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e de formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em atitude ativa na construção de conhecimentos.

Nesse período da vida (6 aos 10 anos), as crianças estão a viver mudanças importantes no processo de desenvolvimento, a repercutir nas relações consigo, com os outros e com o mundo, vivências essas de extrema valia à fase seguinte, os anos finais do ensino fundamental (11 a 14 anos) – 6º ao 9º anos. O fundamental II abraça transição da infância à adolescência – conceitos estabelecidos pela Lei 8.069 (1990,on line):

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

No que concerne ao ensino fundamental, as diretrizes correlatas se encontram na Resolução do Conselho Nacional de Educação 7/2010. No currículo do ensino fundamental (como um todo), devem-se considerar as experiências escolares e as relações sociais segundo princípios éticos (ideal de justiça), políticos (cidadania e regime democrático) e estéticos (valorização das manifestações culturais, especialmente, da cultura brasileira).

Em relação ao novo ensino médio (art. 35-A da LDB), a ideia é a mesma: BNCC e parte diversificada (art. 35 §1º c/c art. 26 da LDB). A BNCC será desdobrada em linguagens, matemática, ciências da natureza (biologia, química e física), ciências humanas e sociais aplicadas – história, geografia, sociologia e filosofia.

Nessa fase da vida do educando (mais maduro, abraça adolescentes dos 15 aos 17 anos), serão inseridos os itinerários formativos – alicerçados em eixos estruturantes (investigação científica, mediação e intervenção sociocultural, processos criativos e empreendedorismo). Os itinerários formativos se mostram a serviço do desenvolvimento dos projetos de vida dos alunos. A escola, então, deverá mobilizar espaços e tempos de diálogos com os estudantes.

A visão panorâmica da LDB pode ser visualizada em seus arts. 1º ao 4º (base principiológica), art. 21 (níveis escolares), art. 26 (base nacional comum curricular), art.

35 (novo ensino médio) e art. 58 (atendimento educacional especializado).

Passa-se, agora, a explanar sobre o custeio da educação básica. Como se verá, o sistema constitucional estabelecido assegurou fontes diversas para seu financiamento (com viculações orçamentárias inclusive).A primeira delas é a oriunda do art. 212 da Constituição da República que assim prescreve (1988,on line):

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.

Leitura do dispositivo: de tudo que o governo federal arrecadar de impostos, há que separar, pelo menos, 18% (dezoito por cento) e destinar à educação. Os gastos implicam despesas orçamentárias correntes (custeio) e de capital (geram riqueza)

afetadas diretamente à educação (amarração constitucional). Cabe ao tribunal de contas fiscalizar essa aplicação (conforme a origem da verba).

No caso dos estados, DF e municípios, no mínimo, 25% (vinte cinco por cento) da arrecadação de seus impostos e transferências obrigatórias recebidas (decorrem de lei ou da Constituição, a exemplo de fundos de participação de estados e de municípios) deverão ser vinculados à manutenção e ao desenvolvimento do ensino.

Outra fonte considerável para subsidiar a educação básica obrigatória é o fundo de manutenção e desenvolvimento da educação básica e de valorização dos profissionais da educação (FUNDEB). Anteriormente à EC 53/2006, não se trabalhava com o conceito de educação básica, mas com o de ensino fundamental apenas.

Sendo assim, o (extinto) fundo de manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental e de valorização do magistério (FUNDEF) era bem mais restrito comparativamente ao modelo FUNDEB. Mesmo tendo ampliado o foco do fundo, ainda assim, a EC 53/2006 pecou por não haver assegurado recursos permanentes à educação. Assegurava recursos temporários somente, o que se modificou após o advento da EC 108/2020.

Essa Emenda à Constituição da República assegurou fontes permanentes à educação básica pública. O FUNDEB, ganhou, então, nova dimensão, razão de ser da Lei 14.113/2020, que começou a produzir efeitos jurídicos desde 1º.jan.2021. Trata-se de fundo contábil estadual. Na verdade, um feixo de fundos, conforme dispõem os arts.

1º e 3º do diploma legal.

São destinatários da nova lei os estados, o Distrito Federal e os municípios, cabendo à União complementar os recursos do fundo (art. 212-A da Constituição c/c art. 4º da Lei 14.113/2020), conforme a evolução dos indicadores de atendimento e melhoria da aprendizagem (art. 5° da Lei 14.113/2020).

O modelo atual do FUNDEB contempla fundos com destino à manutenção/

desenvolvimento da educação básica pública (educação de jovens e adultos inclusive) e à valorização dos profissionais da educação, incluída sua condigna remuneração (art. 2º da Lei 14.113/2020).

Como o FUNDEB abraça o conceito de educação básica pública, assegura recursos da creche ao ensino médio, de acordo com as matrículas efetivadas nas escolas públicas e conveniadas segundo último censo escolar promovido pelo Inep (art. 8°).

Pelo menos, setenta por cento (70%) de seus recursos anuais serão destinados ao pagamento dos profissionais da educação em efetivo exercício (art. 26). Consideram-se

profissionais da educação básica pública docentes, profissionais no exercício de funções de suporte pedagógico direto à docência, de direção ou administração escolar, planejamento, inspeção, supervisão, orientação educacional, coordenação e assessoramento pedagógico, bem como profissionais de funções de apoio técnico, administrativo ou operacional em efetivo exercício nas redes de ensino de educação básica.

Por efetivo exercício, a lei define atuação profissional associada à vinculação regular contratual, temporária ou estatutária com o ente governamental que o remunera, não descaracterizada por eventuais afastamentos temporários previstos em lei, com ônus para o empregador, que não impliquem rompimento da relação jurídica existente, a exemplo de férias regulamentares.

Outro ponto merecedor de nota, na lei, foi a definição de conselhos para os fins de acompanhamento e controle social (art. 33). Serão criados por legislação específica editada no âmbito de cada esfera governamental. Logo, haverá conselhos estaduais, municipais e em nível federal. O art. 34 do novo diploma disciplina as respectivas estruturas.

O novo modelo de FUNDEB operacionaliza o mandamento constitucional de piso nacional da educação (art. 206, VIII, da Lei Política, com a redação dada pela EC 53/2006). Com esse propósito, há tempos, fora editada a Lei 11.738/2008, que estabeleceu políticas de reajustes anuais via portaria.

Em 2022, então, foi publicado ato infralegal a disciplinar reajuste de 33,24% (trinta e três vírgula vinte quatro por cento) aos professores da educação básica pública.

Portanto, como política de valorização do magistério, a categoria passou a contar com valor remuneratório mínimo de R$ 3.845,63 (três mil, oitocentos e quarenta e cinco reais e sessenta e três centavos).

Por outro lado, a portaria interministerial 11/2021, para competência de 2022, fixou o valor mínimo anual, por aluno, em R$ 4.677,07 (quatro mil, seiscentos e setenta e sete reais e sete centavos), para os fins de complementação da União no âmbito do FUNDEB, sendo o valor anual total, por aluno, R$ 5.643,92 (cinco mil, seiscentos e quarenta e três reais e noventa e dois centavos).

Para não faltar recurso ao relevante direito fundamental, a Constituição de 1988 ainda viabilizou aportes do orçamento fiscal das esferas nacional e subnacionais de poder em prol da educação. Compreendida, então, a logicidade da educação básica obrigatória pública e os recursos a subsidiá-la, passa-se ao enfrentamento do terceiro objetivo específico do estudo: examinar o novo modelo de ensino médio vigente no Brasil.

3. A NOVA MODELAGEM POSITIVADA AO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO