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SOS AMAZÔNIA COMO PARADIGMA DE MOVIMENTO AMBIENTALISTA EM REDE

MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS NA

3. SOS AMAZÔNIA COMO PARADIGMA DE MOVIMENTO AMBIENTALISTA EM REDE

propulsora para a visibilidade e repercussão dos protestos ocorre por meio da internet (LACERDA, 2013, p. 161).

Observa-se que a repercussão dos movimentos na sociedade em rede é notória.

Ante o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, é possível identificar que na “região da Transamazônica exista cerca de 100 organizações não governamentais (ONG) formalmente constituídas, segundo avaliação da diretora da Fundação Viver, Produzir, Preservar (FVPP), Ana Paula Santos Souza, entrevistada em maio de 2010” (LACERDA, 2013, p. 161).

Também, dentre os movimentos socioambientais, merece destaque a formação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CSN) que se caracteriza como sendo um fenômeno social no campo, pautado na construção de vínculos identitário e político entre os seringueiros com outros segmentos da sociedade, tanto no âmbito nacional quanto internacionalmente. As estratégias do movimento e sua trajetória estão pautadas na representação política dos seringueiros na região Amazônica e o reconhecimento dos direitos dessa população na lógica da apropriação dos recursos naturais e dos resultados do trabalho (PAULA, 2008, p. 108).

Nesse sentido, indo ao encontro da ideia de acumulação e apropriação da terra por parte de setores privados, o movimento lutava pelo reconhecimento da terra como um patrimônio nacional, um bem público e pelo direito das populações da região em definirem de forma coletiva acerca da gestão e do uso social da terra (PAULA, 2008, p.

109). Isso em razão dos processos e das atividades tradicionalmente desenvolvidas pelos povos originários da região, os quais geram a produção de conhecimento e inovação relacionados aquele ambiente, sendo que “A continuidade da produção desses conhecimentos depende de condições que assegurem a sobrevivência física e cultural dos povos tradicionais” (VARELLA, 2004, p. 344).

3. SOS AMAZÔNIA COMO PARADIGMA DE MOVIMENTO

Suriname e Guayana Francesa, os quais buscam de diversas formas, proteger os 8.000.000 de quilômetros que representam este bosque tropicais (BRUZZONE, 2009, p.

101).

A preocupação com a proteção deste grande ecossistema se dá tendo em vista que esta área é rica em recursos hídricos e naturais. Segundo Bruzzone:

[...] a região possui um quinto da água doce de todo o planeta; é o maior banco genético do mundo em biodiversidade (um quilometro quadrado da Amazônia contem o maior número de espécies vegetais que os territórios do Canadá e da União Europeia juntos); um terço das florestas e das reservas mundiais dos bosques; grandes recursos de peixe com seus rios, lagos e lagoas; uma riquíssima fauna terrestre; depósitos de ouro, ferro, bauxita, estanho, cobre, zinco e magnésio; 95% das reservas de nióbio do mundo se encontram no alto Rio Negro e que são utilizadas para fabricação de naves e mísseis intercontinentais;

96% das reservas de titânio, tungstênio; petróleo, gás e muitos outros recursos (BRUZZONE, 2009, p. 102).

As riquezas naturais e o potencial da região são expressivas e suscitam os mais variados interesses, fazendo com que a área seja palco de tensões, pois grandes empresas, particulares e até mesmo os países extraem estes recursos de forma indevida. Assim, a remoção insustentável dos bens naturais, realizada pelos mais diversos agentes, oferece riscos concretos de levar à derrocada da Amazônia, com riscos ao planeta terra.

Assim, é necessário que todos os cidadãos estejam vigilantes para impedir ou denunciar os vilipêndios ocorridos em território brasileiro e amazônico, o que pode também ser gerado pelo descaso dos governantes ou com sua leniência com quem explora indevidamente o local. Para tanto, o movimento ambientalista mostra-se presente nas redes da internet para conectar todos os interessados pelo tema e agregar novos adeptos no combate aos ataques à Amazônia.

Partindo dessas constatações, centra-se o estudo na Fundação SOS Amazônia, uma instituição filantrópica fundada em 1988, e que utiliza das redes sociais e do seu site próprio para difundir práticas realizadas em Rio Branco, no Acre. A fundação conta com aproximadamente 35 mil seguidores nas redes sociais “Facebook”,

“Instagram” e “Twi�er” (SOS AMAZÔNIA, 2020).

Nos termos da descrição presente no sítio eletrônico da fundação, a SOS Amazônia nasce com o foco principal de defender a causa extrativista e proteger a Floresta Amazônica. Por meio da união coletiva de professores, estudantes

universitários e representantes de movimentos sociais, a fundação apoia as populações tradicionais desta região e expõe em suas redes, dados, fotos e indicadores que denunciam o desmatamento da região e informam a sociedade civil sobre as causas e consequências da destruição do meio ambiente.

Além do Acre, atualmente, a fundação distribuiu as suas atividades em cidades do Amazonas e de Rondônia, e é responsável pelo auxílio em práticas sustentáveis de desenvolvimento econômico nesta região. No intuito de fomentar a economia florestal e conservar a biodiversidade da região, o comércio de certos produtos é impulsionado a partir de projetos criados pela Fundação. Como exemplo de produtos incentivados para produção, por meio do Projeto “Produtos da Sociobiodiversidade”, a Fundação estimula o comércio de produtos florestais não madeireiros (ceras vegetais, resinas, óleos, frutos, sementes e folhas), no intuito de gerar renda e trabalho nas comunidades e gerar práticas de cooperativismo e um mercado mais justo (SOSAMAZÔNIA, 2020).

A fundação também movimenta o comércio da região, a partir do Programa

“Negócios Florestais”, que incentiva empreendimentos amazônicos e foca na organização socioprodutiva destas iniciativas. A criação de novas empresas sustentáveis na região gera renda para grupos organizados, o que auxilia na superação de suas condições de vulnerabilidade econômica e social, ao mesmo tempo em que mantém a floresta em estado de equilíbrio ecológico.

Outro projeto da Fundação SOS Amazônia (2020) que movimenta a mão de obra local e possibilita boas práticas junto ao meio ambiente é o projeto “Mudanças Climáticas e Restauração da Paisagem Florestal”, que busca recompor pequenas e médias propriedade desmatadas, no intuito de aumentar os estoques de carbono e proteger áreas de preservação permanente.

Por último, no intuito de manter constante vigilância na defesa dos interesses da Floresta Amazônica, a fundação criou o programa “Governança e Proteção da Paisagem Verde na Amazônia”. Com foco nas Áreas Protegidas e nas Unidades de Conservação, essa atividade apoia a gestão de recursos naturais e estudos sobre a implementação de políticas públicas ambientais, além de promover a conscientização ambiental, com vistas a reduzir a pressão humana sobre a biodiversidade (SOS AMAZÔNIA, 2020).

No intuito de organizar políticas reais, transparentes e fidedignas, a fundação estruturou sua disposição a partir de um Conselho Fiscal Deliberativo e de um Código de Ética que pode ser consultado no site da SOS Amazônia (2020).

Ademais, a transparência de informação e a denúncia de ataque à Floresta Amazônica faz parte da filosofia da fundação. Por meio de relatórios anuais, a SOS

Amazônia disponibiliza dados detalhados de todas as suas ações práticas, bem como a auditoria de toda a sua gestão financeira e demonstrações contábeis. Nesse sentido, percebe-se que apenas com a união dos esforços coletivos dos cidadãos somada com ferramentas interativas de participação online é que um movimento que propõe angariar novos adeptos poderá ter visibilidade. O movimento ambientalista e, mais especificamente, o movimento SOS Amazônia constitui uma importante rede de debates e fluxos de informações nos quais muitas políticas e ações privadas podem ser discutidas.

A partir de fóruns de discussões, engajamento dos seguidores, novos adeptos, e a criação de uma consciência coletiva, a vigilância dos cuidados com a Amazônia será muito mais presente. Com a ampla e instantânea divulgação das ações e ocorrências ocasionadas naquela região, todos os interessados podem visualizar o trabalho da fundação e propor novas formas de se desenvolver estratégias capazes de garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado e o desenvolvimento econômico do país e dos cidadãos locais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme já abordado nos capítulos anteriores, o movimento ambientalista utiliza das redes de cooperação solidárias para angariar novos adeptos e expandir uma consciência coletiva de utilização sustentável dos recursos naturais e técnicas pós-coloniais de justiça ambiental. Como exemplo, a Fundação SOS Amazônia nasce com o foco principal de defender a causa extrativista e proteger a Floresta Amazônica.

Por meio da união coletiva da sociedade civil, a Fundação apoia as populações tradicionais desta região e expõe em suas redes, dados, fotos e indicadores que denunciam o desmatamento da região e informam a sociedade civil sobre as causas e consequências da destruição do meio ambiente. A partir das tecnologias de informação e de comunicação, as quais são utilizadas como ferramentas de propulsão e alcance do movimento, denotam-se objetivos como o de fomentar a economia florestal concomitante a conservação da biodiversidade da região; recompor pequenas e médias propriedade desmatadas; gerir recursos naturais e estudos sobre a implementação de políticas públicas ambientais, além de promover a conscientização ambiental no intuito de reduzir a pressão humana sobre a biodiversidade.

Nesse sentido, a informação propagada pela sociedade em rede a partir dessas ferramentas de difusão e alcance global constitui uma importante fonte de comunicação e ensino, pois é por meio desta ferramenta que a população terá acesso ao conhecimento e preceitos básicos do direito ao meio ambiente.

Com base na necessidade de uma ressignificação do conhecimento, nasce uma ecologia de saberes que busca a apreciação da visão política de povos historicamente desprivilegiados no processo de globalização e a proliferação de soluções alternativas às comumente utilizadas.Assim como não existe apenas uma forma de conhecimento, não existe apenas uma solução, e assim, ciência moderna, tradição e cultura coexistem em prol da preservação do planeta.

Somente com a união entre novas formas de desenvolvimento sustentável, a criação de uma rede global de vigilância em defesa da causa ambiental, o reconhecimento da historicidade e do conhecimento de povos originários e a utilização eficaz das formas de comunicação em massa, é que o ambientalismo pressionará novas práticas até então desconhecidas.

Para tanto, será imprescindível que instrumentos que unam a população local e os interessados na proteção ao meio ambiente sejam paulatinamente elaborados e desenvolvidos por instituições, que assim como a Fundação SOS Amazônia, denunciam os ataques à Floresta Amazônica e trazem à baila todo o progresso sustentável que se faz naquela região. Assim, para o movimento ambientalista, a boa utilização da internet e de táticas eficazes de visibilidade, poderá representar uma ferramenta propulsora no processo de libertação pós-colonial.

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