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SOCIEDADE DE RISCO E COMPLEXIDADE AMBIENTAL: O aprender e o conhecimento como estratégia dos movimentos sociais

MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS NA

1. SOCIEDADE DE RISCO E COMPLEXIDADE AMBIENTAL: O aprender e o conhecimento como estratégia dos movimentos sociais

Se durante muito tempo a questão ambiental foi um tema pouco discutido, por de certa forma buscar frear impulsos econômicos descontrolados, hoje, essa questão encontra-se no cerne da permanência humana na Terra. Acredita-se que este panorama se deu em virtude de uma compreensão binária que classifica informações e saberes em úteis/inúteis, concretos/abstratos e lucrativos/não lucrativos. A redução das soluções possíveis, por conta de um pensamento limitado nas percepções das epistemologias do mundo, fez com que a problemática ambiental não encontrasse uma solução passível de ser concretizada durante muito tempo (TYBUSCH, 2011, p.

299).

Estudos sobre o meio ambiente e a forma como o ser humano utiliza e expropria os recursos naturais passam a ser desenvolvidos com mais seriedade a partir de uma

crise ambiental-global-planetária que interroga o conhecimento e critica o projeto epistemológico do ser no mundo (LEFF, 2003, p. 21) Ao passo que “toda a sociedade”

é vista como vítima da degradação do meio ambiente, por meio de ações capitalistas de governos, empresas e até mesmo particulares, a crise ambiental instaurada nos tempos hodiernos é refletida de forma desigual entre os povos (ACSELRAD, 2009, p.

9).

Os subúrbios pobres e as áreas mais afastadas das grandes cidades tornam-se os locais preferidos para a degradação da natureza e ao desrespeito do meio ambiente ecologicamente sadio. Nestes locais, onde vivem famílias de baixa renda, geralmente negras ou pertencentes a grupos minoritários, a sonegação de informações claras sobre os riscos ambientais, a insensibilidade quanto à poluição e a dependência econômica das grandes indústrias, são características comuns (ACSELRAD, 2009, p.

16).

A batalha pela detenção destes recursos, aparece como centro de uma discussão política que vai muito além das trocas comerciais comumente realizadas, onde o Sul social aparece na posição de exportador de commodities e importador de tecnologias.

As enormes reservas da América Latina a colocaram em um impasse de dependência econômica de países que dispõem de mais capital (ARAÚJO, 2013, p.15).

A partir da necessidade de uma ressignificação do conhecimento, nasce uma ecologia de saberes que busca a apreciação da visão política de povos historicamente desprivilegiados no processo de globalização e a proliferação de soluções alternativas às comumente utilizadas.Assim como não existe apenas uma forma de conhecimento, não existe apenas uma solução, e assim, ciência moderna, tradição e cultura coexistem em prol de uma salvação para o planeta (SANTOS, 2010, p. 56).

Necessário ressaltar que uma das características marcantes da sociedade moderna é a emergência de uma sociedade do risco, marcada por riscos sociais, políticos, econômicos e individuais. Observa-se a existência de auto-ameaças que sistematicamente produzidas em meio a uma sociedade industrial cuja predominância é o consumo exacerbado, a obsolescência, e uma cultura pautada na infinitude dos recursos naturais. (BECK; GIDDENS; LASH, 2000, p. 5)

Nessa perspectiva, Acselrad explica acerca do desempenho das sociedades com os modos de apropriação material, cujos aspectos são verificados em três tipos de práticas, que, a partir delas, configuram-se os modos de uso, transformação, extração e deslocamento dos diferentes recursos naturais. Diante disso, as técnicas consistem em conjunto de atos denominados de formas técnicas de apropriação do mundo material, as quais estão relacionadas às questões de distribuição e de desigualdades sociais, acesso e escassez (ACSELRAD, 2004, p. 7).

Segundo o autor, “Tais práticas são historicamente constituídas, configurando lógicas distributivas das quais se nutrem as próprias dinâmicas de reprodução dos diferentes tipos de sociedade, com seus respectivos padrões de desigualdade”

(ACSELRAD, 2004, p. 14-15), cujas desigualdades são verificadas nas diversas formas sociais de poder aquisitivo dos indivíduos. Ao analisar conjuntamente as formas técnicas das formas sociais, observa-se a configuração das chamadas formas culturais, como resposta ao ambiente inserido.

Observa-se que esse “intercâmbio desigual” (ALIER; JUSMET, 2001, p. 435) tem como característica o aumento da produtividade do setor de exploração de matérias primas com maior produção e, consequentemente, diminuição nos preços. Todavia, se exportam produtos sem incluir nos preços os danos ambientais produzidos em escala local e global, inclusive danos à saúde humana, sobretudo a mão de obra que em sua imensa maioria provém de pessoas em situação de pobreza (ALIER; JUSMET, 2001, p.

422- 424).

A partir dessa sociedade pautada no risco, os conflitos relacionados ao acesso de bens em uma perspectiva panorâmica, como empregos, segurança social, alimentação, vestuário, dentre outros bens e serviços, tornaram-se ponto de conflitos na sociedade industrial clássica, a partir dos quais tentou-se apresentar uma perspectiva em torno da distribuição dos “males” que esses comportamentos passaram a causar (BECK;

GIDDENS; LASH, 2000, p. 4).

Sob uma perspectiva cultural, na sociedade do risco verificam-se as ameaças até então produzidas pelo desenvolvimento e modelos insustentáveis de consumo.

Portanto, a educação ambiental, diante desse cenário pautado em consumismo e irracionalidades, uma das ferramentas fundamentais e permanentes no processo de conscientização para a preservação do meio ambiente, desde o ensino básico às crianças, perpassando aos adolescentes e jovens, e se estendendo aos adultos e a população idosa, posto que os cuidados em prol de um ambiente ecologicamente sadio e equilibrado é direito e dever coletivo (LEUZINGER; VARELLA, 2008, p. 4).

Nesse sentido, a informação constitui uma importante fonte de comunicação e ensino, pois é a partir dela que a população terá acesso ao conhecimento e preceitos básicos do direito ao meio ambiente. Segundo Leff

A crise ambiental é uma crise da razão, do pensamento, do conhecimento. A educação ambiental emerge e se funda em um novo saber que ultrapassa o conhecimento objetivo das ciências.

A racionalidade da modernidade pretende por à prova a realidade, colocando-a fora do mundo que percebemos com os sentidos e de um saber gerado na forja do mundo da vida. O

saber ambiental integra o conhecimento racional e o conhecimento sensível, os saberes e os sabores da vida” (LEFF, 2009, p. 18).

Ao analisar a crise ambiental frente a sociedade de risco, o autor observa que “O saber ambiental reafirma o ser no tempo e o conhecer na história; estabelece-se em novas identidades e territórios de vida” (LEFF, 2009, p. 18), criando mundos de vida e construindo novas realidades ao longo da história como garantia de um futuro sustentável. A partir dessas novas identidades, formam-se potenciais ecológicos com a produtividade do planeta e a criatividade dos povos.

Todavia, a tarefa mais difícil em termos de educação ambiental nos dias atuais, reside em “coadjuvar este processo de reconstrução, educar para que os novos homens e mulheres do mundo sejam capazes de suportar a carga de crise civilizatória e convertê-la no sentido de sua existência, para o reencantamento da vida e para a reconstrução do mundo” (LEFF, 2009, p. 24).

Diante disso, observa-se que a complexidade ambiental constitui um conjunto de fatos novos ainda mais complexos, cuja complexidade inaugura uma nova pedagogia, isto é, uma nova forma de conhecimento e aprendizado pautado na “Reapropriação do conhecimento desde o ser do mundo e do ser no mundo, a partir do saber e da identidade que se forjam e se incorporam ao ser de cada indivíduo e cada cultura”

(LEFF, 2009, p. 20).

A partir dos anos de 1960 lutas sobre temas ambientais que envolviam saneamento básico, condições de moradia e trabalho surgem nos Estados Unidos e dão início à uma ação de “equidade geográfica” entre os povos. Na década de 70, sindicatos e grupos ambientalistas voltam-se para questões urbanas que denunciavam a distribuição desigual da população e a forma como a ocupação de locais

“injustiçados ambientalmente” tinham relação com questões econômicas e até mesmo raciais (ACSELRAD, 2004, p. 16).

Já em meados dos anos de 1980, surgem movimentos de Justiça Ambiental que buscam encadear meios de produção, lutas de caráter social, ambiental e de direitos civis, são cada vez mais estudados e debatidos em fóruns internacionais e na agenda pública de governos pelo mundo (ACSELRAD, 2004, p. 14-15).

Instrumentos inovadores sobre as avaliações de equidade ambiental foram sendo introduzidos por organizações de base e, por meio de pesquisas participativas que envolvam estes grupos desfavorecidos ambientalmente, novos processos de integração dos grupos étnicos e de comunidades locais são estudados para o desenvolvimento de políticas ambientais inclusivas (ACSELRAD, 2004, p. 20).

Nesse sentido, certos princípios foram constituídos para que esta rede solidária de lutas ambientais pudesse ter um norte para a tomada de suas ações. Dentre estes princípios, estão elencados: “Poluição tóxica para ninguém”; “Por um outro modelo de desenvolvimento”; “Por uma transição de desenvolvimento justa”; “Por políticas ambientais democraticamente instituídas” (ACSELRAD, 2004, p. 23). Tais princípios demonstram a preocupação do movimento ambientalista em possibilitar uma evolução econômica que respeite as assimetrias entre as populações, ao passo que propicie a integração de povos e culturas originárias.

O envolvimento destas organizações somente seria possível a partir de estratégias que possibilitassem a democratização de processos decisórios. São estratégias que buscam tal objetivo: “Produção de conhecimento próprio”; “Pressão pela aplicação universal das Leis”; “Pressão pelo aperfeiçoamento da legislação de proteção ambiental”; “Pressão por novas racionalidades no exercício do poder estatal”;

“Introdução de procedimentos de Avaliação de Equidade Ambiental” e, “Ações diretas de movimentação e ocupação” (ACSELRAD, 2004, p. 23-24).

A união de ações e pensamentos, que ultrapassam as fronteiras estatais, tornam o movimento ambientalista um dos movimentos sociais mais simbólicos da atualidade em termos de manifestações concretas e os elementos intersubjetivos. Um dos motivos pelo qual o ambientalismo constitui um movimento tão pujante é a sua ampla divulgação pelos meios de comunicação de massa e a capacidade de angariar novos adeptos (TYBUSCH, 2011, p. 299).

Assim, no próximo capítulo, o trabalho busca demonstrar as maneiras pelo qual o movimento ambientalista emerge e utiliza das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para expandir uma consciência coletiva de práticas sustentáveis na utilização dos recursos naturais.

2. MOVIMENTO AMBIENTALISTA EM REDE: Uma análise histórica com ênfase