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MOVIMENTO AMBIENTALISTA EM REDE: Uma análise histórica com ênfase no Brasil

MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS NA

2. MOVIMENTO AMBIENTALISTA EM REDE: Uma análise histórica com ênfase no Brasil

Nesse sentido, certos princípios foram constituídos para que esta rede solidária de lutas ambientais pudesse ter um norte para a tomada de suas ações. Dentre estes princípios, estão elencados: “Poluição tóxica para ninguém”; “Por um outro modelo de desenvolvimento”; “Por uma transição de desenvolvimento justa”; “Por políticas ambientais democraticamente instituídas” (ACSELRAD, 2004, p. 23). Tais princípios demonstram a preocupação do movimento ambientalista em possibilitar uma evolução econômica que respeite as assimetrias entre as populações, ao passo que propicie a integração de povos e culturas originárias.

O envolvimento destas organizações somente seria possível a partir de estratégias que possibilitassem a democratização de processos decisórios. São estratégias que buscam tal objetivo: “Produção de conhecimento próprio”; “Pressão pela aplicação universal das Leis”; “Pressão pelo aperfeiçoamento da legislação de proteção ambiental”; “Pressão por novas racionalidades no exercício do poder estatal”;

“Introdução de procedimentos de Avaliação de Equidade Ambiental” e, “Ações diretas de movimentação e ocupação” (ACSELRAD, 2004, p. 23-24).

A união de ações e pensamentos, que ultrapassam as fronteiras estatais, tornam o movimento ambientalista um dos movimentos sociais mais simbólicos da atualidade em termos de manifestações concretas e os elementos intersubjetivos. Um dos motivos pelo qual o ambientalismo constitui um movimento tão pujante é a sua ampla divulgação pelos meios de comunicação de massa e a capacidade de angariar novos adeptos (TYBUSCH, 2011, p. 299).

Assim, no próximo capítulo, o trabalho busca demonstrar as maneiras pelo qual o movimento ambientalista emerge e utiliza das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para expandir uma consciência coletiva de práticas sustentáveis na utilização dos recursos naturais.

2. MOVIMENTO AMBIENTALISTA EM REDE: Uma análise histórica com ênfase

A biodiversidade constitui de um valioso recurso da humanidade, visto as variedades de plantas medicinais e que também servem como cosméticos (ALIER, 2001, p. 468 -469). É a partir dessa crescente preocupação com os recursos naturais que Acselrad traz um exemplo de como as comunidades camponesas protestaram contra medidas do então presidente Boliviano em 2002, como forma de ver assegurado o desenvolvimento dos processos ecológicos naquela região. Senão vejamos:

A ‘guerra pela água’ envolvendo as comunidades camponesas nas cidades bolivianas de Cochabamba e Achacachi, em 2000, as rebeliões antiprivatistas ocorridas em Arequipa no Peru em 2002 e a insurreição indígena nucleada pela contestação dos acordos de exploração de gás, que resultou na renúncia do presidente da Bolívia em 2002, vieram mostrar que o modo de apropriação, exploração, uso e regulação dos processos ecológicos da base material do desenvolvimento é visto como questão decisiva pelas populações que acreditam a seu modo, depender da “Natureza”

para a construção de seu futuro (ACSELRAD, 2004, p. 8) No Brasil, a Constituição brasileira de 1988 reservou um tratamento especial para o meio ambiente, colocando-o como direito fundamental de maneira expressa no artigo 225, o qual estabelece que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). O meio ambiente equilibrado como direito fundamental, direito difuso de terceira geração, tem como característica principal é a transindividualidade, isto é, a defesa por um meio ambiente ecologicamente equilibrado e sadio de modo universal. Segundo Bonavides, os direitos difusos

[...] não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Têm por destinatário o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação, como valor supremo em termos de existencialidade concreta (BONAVIDES, 1993, p. 481).

Ainda, observa-se que a Carta Magna trouxe a responsabilidade solidária entre o Poder Público e a sociedade para com o direito ao meio ambiente, na medida em que convoca o Estado e os atores sociais na preservação ambiental. Após a Constituição Federal, o Brasil adotou a Convenção sobre a Diversidade Biológica na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro, cuja preocupação na esfera internacional era entorno da diversidade biológica como patrimônio comum da humanidade (LEUZINGER, 2008, p. 3).

Em que pese a importância das legislações e convenções com enforme na

“proteção de espécies naturais e de ecossistemas; controle da biossegurança; e controle do acesso aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais a eles associados”

(LEUZINGER, 2008, p. 4), observa-se um desnivelamento no plano fático. Isso porque, no Brasil verifica-se aceleradas taxas de desmatamento em regiões como o Norte e Centro-Oeste do país, com derrubadas de florestas nativas, poluição de mananciais a partir de práticas agrícolas nocivas e, consequentemente, a destruição de todo um ecossistema e dos processos que nele são desenvolvidos.

Os conflitos socioambientais estão intimamente relacionados a situações problemas que agridem diretamente as esferas sociais a partir de impactos ambientais sobre a biodiversidade, ou seja, são conflitos cujo elemento é a natureza e o objeto e a relação entre interesses coletivos e interesses privados (SAITO, 2011, p. 123).

Diferentemente das controvérsias socioambientais que possibilitam que outros saberes tenham espaço nas práticas sociais, com inclusão das subjetividades que versam sobre a temática ambiental.

Diante disso, os movimentos sociais ambientalistas constituem formas associativas e reivindicativas que buscam um estímulo por parte do Estado e setores da administração pública frente às ações nocivas e comportamentos insustentáveis que a sociedade atual vem produzindo. Esse processo ativo dos movimentos ambientalistas é observado há décadas, cujo processo remonta a década de 1970 com iniciativas voltadas à educação de base, educação popular, promoção social, dentre outras políticas acionistas com enfoque no diálogo e mobilização da sociedade (LACERDA, 2013, p. 154).

No começo da década de 80, as políticas destrutivas resultantes da expansão capitalista na região daAmazônia, implementadas no período ditatorial, tinham como enfoque a integração da Amazônia ao desenvolvimento do país, cujo projetos eram observados na área da mineração, extração, pecuária, garimpo, exploração e extensivo corte. Um conjunto de ações pautadas em destruição e desmatamento ambiental, em que, décadas após, se tornou perceptível os impactos sobre a vida das populações locais e sobre o próprio meio ambiente (PAULA, 2008, p. 106).

Na região Centro-Oeste e na Amazônia, observa-se planos integracionistas na época do governo militar com projetos de colonização na região, construção de estradas e “povoamento” da região. Em que pese o discurso à época representava a Amazônia como um “grande vazio” para justificar as políticas de desenvolvimento na região, já se observava a existência conflitos entre posseiros, latifundiários e a população originária da Amazônica, dentre eles, a população indígena (LACERDA, 2013, p. 156-157).

Nesse contexto de conflitos entre a população local juntamente com os movimentos socioambientais contra os avanços da política desenvolvimentista e as ações de latifundiários e grileiros, as violações de direitos humanos e ambientais se verificaram cada vez mais constantes, e são identificados nos dias atuais, cujas denúncias e manifestações adquiriram maior poder de difusão e alcance no globo.

A partir das novas tecnologias de informação e de comunicação, o sistema social tornou-se ainda mais complexo, ante a transformação das relações entre indivíduos e sociedade a partir do poder da comunicação da internet. Observa-se que, como resultado dessa complexidade evolutiva, os movimentos socioambientais se apresentam com nova roupagem, isto é, com maior empoderamento e alcance na comunidade global, como forma de desencadear processos e reivindicar transformações em prol de um direito ambiental sustentável.

Acerca dessa forma de organização dos movimentos socioambientais, Castells explica que

[...] Começou nas redes sociais da internet, já que estas são espaços de autonomia, muito além do controle de governos e empresas – que, ao longo da história, haviam monopolizado os canais de comunicação como alicerces do poder.

Compartilhando dores e esperanças no livre espaço público da internet, conectando-se entre si e concebendo projetos a partir de múltiplas fontes, indivíduos formaram redes, a despeito de suas opiniões pessoais ou filiações organizacionais. Uniram-se. E sua união os ajudou a superar o medo (CASTELLS, 2003, p.10) Observa-se que “A internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global [...]” (CASTELLS, 2003), cujas informações ali inseridas são difundidas de maneira extremamente veloz e com alcance inimaginável. Essa expansão das tecnologias em rede alteraram significativamente as relações sociais até então estabelecidas entre pessoas e sociedade. A partir desse fenômeno, Morais explica que as “[...] novas necessidades, novos mercados e novos conhecimentos acabaram surgindo e sendo aprimorados com o advento da internet”. (MORAIS, 2021, p. 57)

Nesse contexto de sociedade em rede, os movimentos ambientalistas ganharam espaço. Em contextos de intensos conflitos como a região da Amazônia, em que são verificados assassinatos e ameaças contra lideranças dos movimentos socioambientais em uma clara tentativa de desmantelamento das próprias manifestações, observa-se que as reações produzidas a partir dessas lamentáveis violações à vida e ao meio ambiente, ganham mobilizações locais, e se tornam cada vez mais fortes, cuja força

propulsora para a visibilidade e repercussão dos protestos ocorre por meio da internet (LACERDA, 2013, p. 161).

Observa-se que a repercussão dos movimentos na sociedade em rede é notória.

Ante o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, é possível identificar que na “região da Transamazônica exista cerca de 100 organizações não governamentais (ONG) formalmente constituídas, segundo avaliação da diretora da Fundação Viver, Produzir, Preservar (FVPP), Ana Paula Santos Souza, entrevistada em maio de 2010” (LACERDA, 2013, p. 161).

Também, dentre os movimentos socioambientais, merece destaque a formação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CSN) que se caracteriza como sendo um fenômeno social no campo, pautado na construção de vínculos identitário e político entre os seringueiros com outros segmentos da sociedade, tanto no âmbito nacional quanto internacionalmente. As estratégias do movimento e sua trajetória estão pautadas na representação política dos seringueiros na região Amazônica e o reconhecimento dos direitos dessa população na lógica da apropriação dos recursos naturais e dos resultados do trabalho (PAULA, 2008, p. 108).

Nesse sentido, indo ao encontro da ideia de acumulação e apropriação da terra por parte de setores privados, o movimento lutava pelo reconhecimento da terra como um patrimônio nacional, um bem público e pelo direito das populações da região em definirem de forma coletiva acerca da gestão e do uso social da terra (PAULA, 2008, p.

109). Isso em razão dos processos e das atividades tradicionalmente desenvolvidas pelos povos originários da região, os quais geram a produção de conhecimento e inovação relacionados aquele ambiente, sendo que “A continuidade da produção desses conhecimentos depende de condições que assegurem a sobrevivência física e cultural dos povos tradicionais” (VARELLA, 2004, p. 344).

3. SOS AMAZÔNIA COMO PARADIGMA DE MOVIMENTO