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Um dos eixos de interesse desse estudo está fundamentado nas práticas sexuais dos adolescentes, de modo que a proposta foi a de buscar sujeitos heterossexuais, que já tivessem iniciado a vida sexual. Para encontrar tais sujeitos, a técnica da “bola de neve”, ou rede social, mostrou-se inicialmente a mais adequada, pois, segundo Patton (2002), tal estratégia consiste em identificar um sujeito que atenda aos critérios de inclusão pré-estabelecidos pelo pesquisador e, então, tal pessoa é convidada a participar da pesquisa e também a indicar outras pessoas nas mesmas condições. Segue-se, assim, sucessivamente, até que se complete o número desejado de entrevistas, e quando não se conseguir novas indicações, segundo o autor, deve-se reiniciar a rede a partir de um novo contato.

No entanto, tal técnica apresentou algumas dificuldades ao longo do trabalho, pois os primeiros sujeitos a aceitarem participar da entrevista foram adolescentes com os quais eu já havia trabalhado em projetos anteriores. Portanto, havia algum vínculo estabelecido previamente, bem como um conhecimento da minha pessoa e do tipo de trabalho que vinha desenvolvendo junto à juventude. Desse modo,

conseguir a entrevistas com esses (as) adolescentes foi um processo simples, mesmo porque, desde a realização dos pré-testes eu já vinha mantendo contatos com o grupo, solicitando colaboração. Porém, quando, a partir deles, houve a necessidade de indicação de outros sujeitos é que as dificuldades começaram a surgir, pois, ao tentarem indicar pessoas que não me conheciam, nem ao meu trabalho, poucos dos sujeitos se sentiram à vontade preferindo acreditar que os (as) colegas não gostariam de se expor, como eles o haviam feito. E, ainda, mesmo mediante a indicação por parte de alguns, grande parte dos (as) indicados (as) não aceitou, ou nem ao menos respondeu à solicitação, enquanto alguns concordaram inicialmente, porém, voltaram atrás em momento posterior, recusando ou mesmo não comparecendo ao agendamento da entrevista. Tal fato pode ter ocorrido devido à natureza dos temas da entrevista, de modo que os (as) jovens que participaram inicialmente da pesquisa se sentiram à vontade para falar, mas o mesmo nem sempre ocorreu com os (as) colegas que indicaram ou poderiam indicar, por se tratar de alguém desconhecido, no caso, a pesquisadora.

Desse modo, a “bola de neve” precisou ser reiniciada diversas vezes, mesmo porque os (as) jovens se mostraram mais solícitos frente a um contato inicial (mesmo que via internet), diretamente com a entrevistadora, do que pela indicação de colegas. Para tais reinícios, duas estratégias se mostraram eficientes para contatar os sujeitos:

1- Através da internet, a partir de contatos em rede social (Facebook) que indicaram adolescentes na faixa etária desejada, que posteriormente foram contatados através desta mesma plataforma, ou via telefone, e convidados a participar.

2- Através da abordagem direta, pessoalmente, em espaço público frequentado por jovens.

No caso dos (as) adolescentes contatados (as) via internet ou telefone, o local e data da entrevista eram combinados com o próprio sujeito, visando maior facilidade de acesso para este. Os locais sugeridos por eles (as) se resumiram a shoppings, parques e lanchonetes.

A segunda forma de abordagem se deu a partir de minha observação num parque da cidade em que algumas entrevistas já haviam sido realizadas mediante agendamento. O parque em questão é fruto de uma parceria público-privada e é

constituído por 3 praças, que contém uma quadra coberta, uma quadra aberta, um campo de areia, playground, uma mini concha acústica e uma pequena área verde. Mesmo com essa área verde o parque, como um todo, é pouco arborizado. São localizados ali alguns equipamentos públicos, como uma piscina coberta, de uso e administração da secretaria municipal do esporte e uma academia de ginástica, de administração e uso compartilhado entre as secretarias do esporte e da cultura. Na área do parque também se localiza uma unidade básica de saúde (UBS), que contém uma equipe do programa de saúde da família (PSF).

Passei alguns períodos neste parque, aguardando os (as) jovens para as entrevistas agendadas, como alguns não compareciam, tive a oportunidade de passar algum tempo apenas observando aquele espaço, compreendendo-o enquanto espaço de lazer e convivência de jovens da periferia, ocupado por diversos grupos, em diferentes períodos do dia.

Assim, foi possível identificar que à tarde, após o horário escolar, o parque se enchia de adolescentes, na maioria meninos, que se reuniam para jogar bola ou andar de bicicleta. Poucas garotas circulavam por ali, especialmente no período da manhã e no início da tarde, em pequenos grupos. No final da tarde e início da noite havia, ainda, alguns pequenos e raros grupos de garotas que apenas caminhavam por ali, circundando o parque, para flertar com os rapazes que ocupavam maciçamente o espaço, à noite, transitando entre traficantes e usuários de drogas.

Diante da necessidade de reiniciar a rede social dos sujeitos para a entrevista, passei a frequentar sistematicamente esse espaço, em períodos diferentes, buscando algum contato com os (as) jovens que ali frequentavam, a fim de estabelecer um vínculo inicial, apresentando-me como pesquisadora e explicando a proposta e objetivos da pesquisa, e assim, conseguindo novos sujeitos dispostos a participar.

Tal experiência, de cunho quase etnográfico, mostrou-se rica e eficaz, especialmente após ter estabelecido contato com um rapaz que frequentava o parque diariamente e conseguir entrevistá-lo. Assim, outros garotos de seu grupo de amizade, ou apenas frequentadores do espaço, foram surgindo naturalmente a medida que eu ganhava a confiança deles. Bastava que eu estivesse no local, em horário próximo ao que eles costumavam frequentá-lo, para que pudesse encontrar entrevistados em potencial. Nesses casos, as entrevistas se realizaram no próprio

local, ou mesmo, na garagem ou calçada da própria casa do sujeito, nas proximidades do referido parque.

Tanto nesses contatos feitos pessoalmente, como nas abordagens via telefone, ou internet, havia a impossibilidade de saber, de antemão, se os sujeitos se encaixavam nos critérios de inclusão para a pesquisa. Portanto, nenhum sujeito em potencial foi descartado, sendo que foram realizadas mais 5 entrevistas, não utilizadas para este estudo, visto que os entrevistados estavam fora dos critérios, seja por não terem iniciado sua vida sexual, seja por terem relatado experiências homossexuais.

Tal fato também explica a presença de maior número de garotos, do que de garotas, neste estudo, visto que, de acordo com a tendência também observada em outros estudos, as garotas em geral iniciam a vida sexual mais tarde, dificultando a possibilidade de encontrar garotas que atendessem aos critérios de inclusão referentes à faixa etária e experiências sexuais.

Os (as) jovens eram comunicados (as) quanto ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) logo no primeiro contato e a entrevista apenas era realizada mediante a concordância destes (as) em assiná-lo e levá-lo para um responsável assinar, quando menores de idade. Nestes casos, era combinado outro momento para que eu pudesse realizar a entrevista mediante o TCLE assinado, não tendo havido nenhuma dificuldade nesse processo. Em algumas entrevistas agendadas, o (a) adolescente compareceu ao local combinado inclusive, acompanhado de um dos responsáveis, de modo que eu pude obter a assinatura do referido termo no momento da entrevista, aproveitando para explicar melhor os objetivos do estudo e esclarecer dúvidas. Em outros casos, algum responsável foi buscar o jovem ao final da entrevista, havendo, igualmente, a oportunidade de confirmar a autorização e fornecer esclarecimentos.