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5.3 A SEXUALIDADE NOS DISCURSOS ADOLESCENTES

5.3.1 Sexo ou sexualidade?

Nos relatos dos garotos, a respeito das diferenças percebidas por eles pelos mesmos acerca das palavras sexo e sexualidade, observa-se, de modo geral, que os adolescentes abordam a questão do sexo mais especificamente relacionada ao ato sexual, como podem ilustrar as falas de Marcelo, Jorge e Lucas:

- Se eu disser as palavras sexo e sexualidade, que diferença você vê?

- Sexo e sexualidade? Ah, sexo dá mais… SEXO né! Sexualidade é

outra coisa, parece, né, pra mim. Sexo é sexo, né, é penetrar. Sei lá, sexualidade não tem isso pra mim, sexualidade, se você é homem ou mulher, alguma coisa assim, sei lá

(Marcelo, 19 anos, 2º. EM, supletivo à distância)

- Ah, sexo, eu acho que é o ato, sexualidade é… ai acho que tem alguma

diferença, sim.

- Você consegue explicar o que é?

- Não. [….] sexualidade, não sei, prevenção, essas coisa…

- Ah, sexualidade, não seria… escolha, não, né… tipo, ah, o que seria sexualidade? Não tô, agora… também agora fugiu da mente o que é sexualidade. Ah, sexo é, praticar, entendeu, sexo é sexo. Sexualidade, nossa, não sei falar o que que é sexualidade.

- Mas você acha que são coisas diferentes…?

- São.

(Lucas, 17 anos, 2º. EM, Integral)

Nos discursos de Marcelo, Jorge e Lucas é possível observar a concepção de sexo circunscrita ao ato em si, à penetração, enquanto a sexualidade é referida como algo inespecífico, embora apresentem alguma ideia de que ambas representem coisas distintas. Pode-se observar nos discursos de Marcelo e Lucas alguma referência à ideia de escolha ou identidade de gênero ao buscarem explicar a sexualidade.

Tal relação da concepção de sexualidade a uma ideia de opção sexual ou subjetividade de gênero também pode ser observada, de forma mais explícita, na fala de Pedro Paulo:

Sexo e sexualidade… Não, porque sexo é, tipo sexualidade, ah, não sei,

tipo assim… que pra uma pessoa ter um sexo, ele vai e… (risos) ele vai

querer fazer sexo também, ele tem a opção dele. Não é? […] Tipo uma

pessoa, é, tipo… a pessoa quer ser, ah, viado, sei lá, homossexual. A

opção dele é o que, é fazer sexo. Também, não é? (Pedro Paulo, 19 anos, autônomo, EF incompleto)

É possível observar que, em seus discursos, Pedro Paulo, Marcelo e Lucas demonstram compreender sexo e sexualidade de forma distinta, por um lado, concebendo igualmente sexo enquanto prática, por outro lado, apresentam uma concepção de sexualidade que remete à ideia de escolha, ou, opção sexual.

A ideia de sexo enquanto ato, ou prática sexual persiste nas falas de Wagner e Agenor, enquanto sexualidade parece ser entendida por elas de forma mais ampla que nos discursos dos garotos apresentados anteriormente:

Sexo é o ato. Sexualidade é um estudo disso tudo aí. (Wagner, 16 anos, aprendiz, 1º. EM, noturno)

Ah, sexo é… ixi, é o momento né, que você tá lá, sexualidade é tudo o

que você tá falando, sobre aquilo…

(Agenor, 16 anos, autônomo, 1º. EM, matutino)

Apesar da aparente dificuldade em expressar de forma clara e objetiva suas concepções sobre sexualidade, Wagner e Agenor manifestam em seus discursos, uma

percepção mais ampla do termo, circunscrita ao universo da entrevista e relacionada às questões anteriores acerca de relacionamentos e práticas sexuais.

Já Gabriel e Leandro, por sua vez, além de identificarem diferenças entre sexo e sexualidade, apresentam uma concepção de sexo para além da prática, do ato sexual, como podemos observar nos excertos abaixo:

- Ah, acho que cada uma tem um significado diferente, né. Sexualidade

é a… a opinião sexual da pessoa, né. Sexo é outra coisa, sei lá. Tem o

fator sexo sem o amor, tem o fator sexo, né, que tem com amor, e tal. Não chama nem sexo né, só amor. Vou fazer um amor!

- […] Faz-se amor com quem então?

- Ah, com a pessoa que você ama… Que você namora […] sempre tem

uma menina que você fica, entendeu, que, sei lá, você pega tipo, uma certa simpatia por ela, e tal, você passa a aprender a respeitar e gostar dela. Aí, sempre tem aquele clima, entendeu. É mais dahora.

(Gabriel, 15 anos, 1º. EM, Manhã)

Tem diferença, mas eu não sei explicar… sexo, no caso, seria tipo o

amor, sabe, o encontro de duas pessoas, corpo a corpo. Sexualidade, eu

não saberia te explicar. […] mas eu sei que tem uma diferença…

(Leandro, 18 anos, estagiário, EM completo)

Gabriel, assim como os garotos Lucas, Marcelo e Pedro Paulo, cujas falas foram apresentadas anteriormente, relaciona sexualidade a uma ideia de opção sexual. Porém, ao manifestar sua concepção acerca da palavra sexo, o discurso de Gabriel remete a duas formas de compreender o conceito, quais sejam: o sexo como ato, semelhante ao mencionado pelos entrevistados cujas falas foram apresentadas até então, ou seja, o sexo enquanto busca de prazer libidinal dado no individuo e em seu próprio corpo e a ideia de sexo como sinônimo de amor, sugerindo envolvimento afetivo entre os parceiros, e que pode ser representado pela expressão popular “fazer amor”.

No discurso de Leandro, embora ele não consiga expressar sua compreensão sobre sexualidade, apresenta uma concepção de sexo, como sinônimo de amor, semelhante à segunda definição apresentada por Gabriel. É possível, portanto, depreender de seus discursos que ambos remetem sexo à busca do prazer não apenas localizado no corpo do indivíduo, como prazer libidinal, mas sim ao prazer que se obtém na relação com a parceira, um prazer que se dá na troca, no encontro de duas pessoas, tendo por base o respeito e afetividade, o que se aproxima de uma definição de sexo mais tradicionalmente associada à concepção feminina. Nesse contexto,

podemos observar que os discursos desses garotos diferem dos tradicionais discursos masculinos, por se aproximarem de uma concepção mais romântica acerca das relações afetivo-sexuais, no caso, entre garotos e garotas. De acordo com Leal e Knauth (2006), os discursos femininos costumam se centrar na contextualização afetivo-romântica das suas relações, enquanto os masculinos enfocam a capacidade técnica-corporal para o desempenho do ato sexual, aparecendo despidos de expectativas românticas e pertencentes ao domínio da corporalidade.

5.3.2 Acerca das relações afetivas