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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.4 Instrumentos de pesquisa de dados

1.4.2 A entrevista como instrumento de recolha de dados

Amado (2014) entende a entrevista como um dos mais poderosos meios para se chegar ao entendimento dos seres humanos e para a obtenção de informações nos mais diversos campos. Genericamente, a entrevista desempenha importante papel no processo de pesquisa, com cada vez mais aceitação no contexto da educação. Ainda segundo o mesmo autor, a entrevista i) é um meio potencial de transferência de informação de uma pessoa para outra, pois é um método, por excelência, de recolha de informação; e ii) é uma transacção que possui inevitáveis pressupostos (podendo ser emotivas, necessidades inconscientes, influências interpessoais), que devem ser reconhecidos e controlados a partir de um bom plano de investigação.

132 “[…] uma das principais técnicas de recolha e dados nas ciências sociais, assumindo-se

como uma importante ferramenta para complementar informações resultantes da leitura bibliográfica ou da observação da realidade, como também para a recolha de informações sobre experiências ou sistema de valores e de representações dos indivíduos” (p. 61).

Numa outra perspectiva e na óptica de Quivy e Campenhoudt, (1998, como citados em Amado, 2014), a entrevista é o método adequado para

“[...] a análise do sentido que os actores dão às suas práticas e aos acontecimentos com os quais se vêem confrontados: os seus sistemas de valores, as suas referências normativas, as suas interpretações de situações conflituosas ou não, as leituras que fazem das próprias experiências” (p. 207).

Em todo o caso, a interacção de uma diversidade de actores em contextos e realidades distintas permite ao investigador captar diferentes ideias, opiniões, discursos e posicionamentos acerca do objecto de pesquisa. Na entrevista, “o investigador procura compreender, analisar e interpretar o comportamento, o modo de vida e o pensamento do seu interlocutor, através de uma comunicação face a face com os indivíduos directa ou indirectamente envolvidos com o assunto em pesquisa” (Feijó, 2017, p. 62).

Gil (1989), outro autor que temos vindo a citar, distingue dois tipos de entrevista, nomeadamente: entrevistas estruturada e não estruturada. No que concerne à entrevista estruturada, refere que “é aquela que desenvolve-se a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redacção permanece invariável para todos os entrevistados, que geralmente são em grande número” (p. 117). Ou, como diz Triviños (1987), “pode ser um meio do qual precisamos para obter as certezas que nos permitem avançar em nossas investigações” (p. 137).

No que tange à entrevista não estruturada, Triviños (1987) define-a como sendo

“[…] aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. (…) este, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento

133 e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a

participar na elaboração do conteúdo da pesquisa” (p. 146).

Entre as duas classificações de entrevistas dadas por Gil (1989), Triviños encontra a terceira classificação – a entrevista semi-estruturada – que dá melhores resultados quando se trabalha com diferentes grupos de pessoas [no presente caso, trata-se de professores, alunos, orientadores educacionais, directores - no que diz respeito às perspectivas da orientação educacional nas escolas]. Realizam-se, primeiro, as entrevistas individuais com as pessoas dos diferentes sectores envolvidos; depois avança-se com grupos representativos de sujeitos de cada sector; e, finalmente, realiza-se a entrevista semi-estruturada colectiva, formada por sujeitos dos diferentes grupos (Triviños, 1987).

Na sua abordagem sobre o método de pesquisa por entrevista, Freixo (2011) refere que existirão, por um lado, entrevistas não estruturadas, nas quais o investigador de forma livre procura dados que possam ser utilizados em análise qualitativa, sem recorrer a qualquer guião previamente definido; e entrevistas estruturadas, nas quais as questões se encontram previamente formuladas e não se coloca a possibilidade de alteração de tópicos ou acréscimo de questões não previstas inicialmente. Na perspectiva de Amado (2014), na entrevista semi-estruturada ou semi-directiva, “as questões derivam de um plano prévio, um guião onde se define e regista, numa ordem lógica para o entrevistador, o essencial do que se pretende obter, embora, na interacção se venha a dar uma grande liberdade de resposta ao entrevistado” (p. 208).

Ao invés de entrevista semi-estruturada, Feijó (2017) prefere designá-la entrevista semi-directiva. Nela, o entrevistador possui um guião de questões, relativamente abertas, sendo que pode alternar a ordem de colocação das mesmas, ou realizar alterações na forma de formulação de pergunta, mas sem acrescentar questões sobre assuntos não previstos no guião. “O tipo de perguntas colocadas permite uma maior liberdade de expressão e de desenvolvimento das respostas, cabendo ao entrevistador reconduzir o entrevistado ao encontro dos objectivos da pesquisa, sempre que se afastar” (p. 66).

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Desta feita, o presente estudo incluiu, como técnica de recolha de dados, as entrevistas semi-estruturadas, dirigidas com privilégio para a directora da escola e os directores pedagógicos, o chefe da secretaria e o representante dos pais, dos quais procuramos colher de forma detalhada as percepções e os efeitos das lideranças sobre as práticas pedagógicas na escola de Laulane.

A nossa opção por esta modalidade de entrevista encontra fundamento em vários autores (Bogdan & Biklen, 1994; Quivy & Campenhoudt, 1998; Ludke & André, 1986; entre outros autores), segundo os quais, a entrevista semi-estruturada é um dos principais instrumentos da pesquisa de natureza qualitativa, sobretudo pela ausência de imposição rígida de questões. Além disso, a entrevista semi-estruturada permite que o entrevistado discorra sobre o tema proposto respeitando os seus quadros de referência, salientando o que para ele for mais relevante, com as palavras e a ordem que mais lhe convier e possibilitando a captação imediata e corrente das informações desejadas.

Pais (2001, como citado em Amado, 2014) recomenda as entrevistas semi- estruturadas no seu estudo e faz notar que, nas entrevistas de pendor mais directivo, os entrevistados têm tendência a responder

“[…] em termos de juízos de valor, de acordo com uma matriz ideológica muitas vezes inconsciente que produz e se traduz por um conjunto de tomadas de posição, de qualificações, de descrições e de avaliações que não podem ser compreendidas fora do contexto em que são produzidas” (p. 108).

A apreciação sobre a recolha de dados por entrevista, enquanto uma técnica de investigação, em contexto moçambicano permitiu, ao pesquisadores Feijó (2017, p. 68), formular um conjunto de potencialidades desta técnica, como se resume:

 Pode ser utilizada como todos os segmentos da população independentemente do nível de escolaridade, podendo recorrer-se a tradutores, caso necessário;

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 Garante ao investigador uma flexibilidade na recolha de dados, podendo repetir ou esclarecer perguntas, ou reformulá-las para testar contradições nas respostas;

 É uma técnica de recolha de dados indicada para a análise de representações sociais, atitudes e comportamentos. O entrevistador pode comparar as respostas dos interlocutores com os seus gestos e reacções, procurando (in)congruência entre os discursos e os respectivos comportamentos;

 Permite a recolha de testemunhos ou a obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais relacionados com acontecimentos, histórias de vida dos entrevistados, representações sociais sobre certos fenómenos sociais;

 Permite que os dados sejam quantificados através de análise de um conteúdo e submetidos a tratamento estatístico; e

 É uma forma relativamente económica de recolha de dados, que não exige grandes recursos e pode ser realizada em ambiente ou forma mais ou menos informal.

Como nos referimos anteriormente, o trabalho incluiu também a aplicação de técnica de pesquisa por questionário, assunto de que nos ocuparemos no ponto a seguir, de forma a confrontar as várias perspectivas e opiniões colhidas através das entrevistas.