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Caracterização da administração do ensino em Moçambique

ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR EM MOÇAMBIQUE

1.4 Caracterização da administração do ensino em Moçambique

A contingência em que, actualmente, actuam as escolas moçambicanas, caracterizada por um ambiente dinâmico, competitivo e complexo, remete-nos à reflexão sobre a actuação da administração em diferentes perspectivas de análise. A coabitação dos cenários, ora referidos, requer e impõe o estabelecimento de um processo estruturado, envolvendo a planificação, a organização, a direcção e o controlo dentro do sector educativo. As linhas que se seguem analisam, sumariamente, as cinco fases da administração nas escolas moçambicanas.

1.4.1 Planificação

As actividades organizacionais, por mais simples que elas pareçam, exigem que as acções inerentes sejam planificadas para que conduzam aos objectivos preconizados. A planificação assume-se como uma ferramenta administrativa, orientada para a percepção da realidade da situação envolvente da organização, a avaliação dos caminhos conducentes ao alcance dos objectivos, a construção de um referencial futuro, estruturando o caminho adequado e reavaliando todo o processo de planificação (Reis, 2008). O processo de planificação deve ser cíclico e prático das determinações do plano, de modo a garantir a continuidade da organização escolar, o que sugere sempre a reinvenção de situações, de propostas, de resultados e de soluções dinâmicas, com um carácter multidisciplinar, interactivo, num processo contínuo de tomada de decisões (Idem).

Restringindo a apreciação da planificação ao contexto escolar ou educacional, verifica-se que ela se insere nas jornadas pedagógicas, com carácter cíclico em cada

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início de ano lectivo, com envolvimento de todos os actores escolares, por forma a prescrever acções que, ao longo do ano escolar, serão desenvolvidas no processo educacional dos seus alunos e a proceder-se à reorganização de acordo com as mudanças ocorridas nas estruturas física, administrativa, legal da escola. Na dimensão educacional, a planificação possibilita a disseminação das políticas públicas educacionais entre todos os actores como gestores, coordenadores e professores.

Na sua análise sobre o processo de planificação, Reis (2008) distingue, essencialmente, dois tipos de planificação, nomeadamente: a planificação estratégica e operacional:

Planificação estratégica - é o processo sistemático de tomada de

decisões estratégicas que afectam a organização como um todo, permitindo-lhe modificar, melhorar ou consolidar a sua posição à concorrência. Este nível de planificação considera a escola como um todo e a responsabilidade recai sobre os níveis hierárquicos mais altos da organização, relaciona-se com objectivos de longo prazo e com estratégias e acções para o alcance das metas; e

Planificação operacional, cuja responsabilidade recai sobre os níveis

organizacionais inferiores, visa identificar os procedimentos e processos específicos requeridos nos níveis inferiores da organização, apresentando planos de acção ou planos operacionais.

1.4.2 Organização

De acordo com Libâneo (2004), no contexto da educação, o termo organização é frequentemente identificado como administração escolar que, tradicionalmente, caracteriza os princípios e procedimentos direccionados à acção de planificar o trabalho da escola, à utilização racional dos recursos materiais, financeiros e humanos

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e à coordenação e controlo do trabalho entre os actores. Assim, por definição, organizar “significa dispor de forma ordenada, articular as partes de um todo, prover as condições necessárias para realizar uma acção”, (Libâneo, 2004, p. 97). Este autor apresenta a ideia da escola como um sistema sociocultural, que suscita cada vez mais apetites decorrentes das implicações no funcionamento da escola, tais sejam o projecto pedagógico, a construção do currículo e as formas de gestão.

Libâneo concebe e descreve os seguintes aspectos para a organização e gestão da escola,: i) promoção das condições, meios e recursos necessários ao funcionamento da escola e do trabalho em salas de aulas; ii) promoção do desenvolvimento das pessoas no trabalho, por via de participação e fazer o acompanhamento e a avaliação dessa participação, tendo como base os objectivos da aprendizagem; e iii) garantia da realização da aprendizagem de todos os alunos.

Restringindo o termo organização à área de ensino, Libâneo (2004) considera que não são recentes os estudos da escola como uma organização de trabalho e apresenta, por conseguinte, as finalidades sociais e políticas da educação, em duas acepções:

Acepção científico-racional, em que a escola é vista como uma realidade objectiva, neutra, racional e, por isso, planificada, organizada e controlada de modo a alcançar melhores índices de eficácia e eficiência. Prioriza acções que se prendem à estrutura da organização, à definição rigorosa de cargos e funções, às normas e regulamentos, à direcção centralizada e a planificação com pouca participação das pessoas; e

Acepção sociocrítica - a escola é constituída pela comunidade

educativa, envolvendo os professores, os alunos e os pais e estrutura-se como um sistema que agrega pessoas, com um carácter intencional de acções, a valorização da importância das

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interacções sociais no meio do grupo e as relações da escola com o contexto sociocultural e político.

Estas acepções, com carácter objectivo, visam atingir as metas seguindo um padrão hierárquico, um processo de organização escolar que melhor se enquadra na realidade da educação moçambicana, embora se use uma política sociocrítica na maior parte das instituições escolares.

1.4.3 Direcção

A tarefa de direcção ou liderança relaciona-se com a actuação sobre as pessoas dentro da organização e distribui-se por todos os níveis hierárquicos da organização, por forma a realizar adequadamente as actividades pelos membros da organização e para o alcance dos objectivos organizacionais.

Assim, socorrendo-nos do conceito dado por Chiavenato (2009, p. 199), direcção “é a função administrativa que se refere ao relacionamento interpessoal do administrador com os seus subordinados”. Para que a planificação e organização possam ser eficazes, é preciso que o administrador e os seus subordinados se complementem pela orientação e apoio, através de uma adequada comunicação, liderança e motivação, daí a razão da necessidade urgente de saber comunicar, liderar e motivar os intervenientes dentro do processo de ensino-aprendizagem. Portanto, como referem Sobral e Peci (2002), o papel do director é orientado para a promoção da integração e articulação entre as variáveis humanas dentro da organização, destacando o ambiente e o cliente.

No contexto das escolas moçambicanas, o director assume, igualmente, através de contactos constantes e sistemáticos, o papel de agente da ligação escola - comunidade, por forma a assegurar o estabelecimento de uma comunicação entre os clientes escolares ou alunos, a colectividade local, o meio ambiente e os pais e

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encarregados de educação, sem ignorar o marco legal geral do sistema de ensino instituído ou preconizado no país. A direcção da escola e as famílias dos educandos compartilham a responsabilidade pela educação.

Para o efeito, exige-se ao director da escola a utilização de boas habilidades, atitudes, competências e valores. Para Sobral e Peci (2002), algumas características peculiares deverão ser consideradas, designadamente:

“[…] ética e integridade, habilidades em negociações, flexibilidades para mudanças, espírito inovador e de liderança, boa educação, energia de dinamismo, comprometimento com a organização, boa comunicação e articulação, auto-disciplina, capacidade de execução e habilidade para solução dos problemas” (p. 288).

1.4.4 Controlo

No processo de controlo é necessária a entrega de todos os actores que integram a organização, por forma a identificarem-se com todo o processo de controlo e sejam suficientemente potenciados de informações credíveis dos factos ou situações que se pretende controlar, assim como a qualidade almejada pela organização.

Neste contexto, Reis (2008) define o controlo de gestão como

“[…] esforço sistemático para fazer coincidir os indicadores da actividade com os objectivos da estratégia, estabelecendo sistema de informação da actividade desenvolvida, comparando a actividade actual com os padrões previamente estabelecidos e avaliando a sua importância, assegurando que todos os recursos da instituição estão sendo utilizados da maneira mais apropriada para o alcance dos propósitos” (p. 259).

Noutros termos, o controlo é “um conjunto de características mensuráveis dos efeitos de um processo, cujo monitoramento garante a satisfação do cliente em relação ao mesmo” (Costa, 1995, p. 29).

À semelhança do que acontece em vários quadrantes do mundo na política de formação para o mercado, as escolas moçambicanas estão cada vez mais orientadas

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para o melhoramento de qualidade, daí que procuram munir-se de ferramentas básicas para garantir o futuro dos diversos profissionais e melhorar cada vez mais a vida humana.

Assim, a precisão na planificação das actividades, a definição clara da estrutura organizacional, o empenho no estabelecimento de uma boa direcção e um controlo eficaz em função dos objectivos preconizados, parecem-nos constituírem elementos fundamentais para o sucesso escolar em Moçambique. A direcção ou liderança constitui assim um elemento essencial para a consolidação de boas relações entre colaboradores e os gestores e, por isso, a função administrativa é responsável pela orientação, motivação e liderança dos trabalhadores para um propósito comum, com uma gestão orientada para as pessoas e para os consumidores, e com uma filosofia de administração caracterizada pela dedicação, zelo, cooperação e participação.

Com a actual crescente autoridade financeira e poder de decisão, as escolas e as instituições de ensino moçambicanas assumem a responsabilidade pela administração dos serviços de educação e da gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros, que são cada vez mais descentralizados. O Ministério da tutela fica encarregue da elaboração das políticas nacionais e do seu acompanhamento e monitoria, assegurando a coerência contínua com as grandes prioridades e os objectivos do Governo. As unidades gestoras de níveis provincial e distrital são responsáveis pela gestão local do sistema de educação, desde a abertura de escolas primárias até à colocação e movimentação de professores.

Como forma de transferência gradual de responsabilidades para a comunidade local, e embora de forma muito tímida, corre em paralelo um processo de descentralização da gestão das escolas primárias para os municípios. As instituições do ensino superior são autónomas do ponto de vista administrativo, financeiro (?), patrimonial e científico-pedagógico, com uma coordenação a cargo da Direcção Nacional do Ensino Superior (DNES) do Ministério que superintende a área de Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Técnico-Profissional .

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