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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.1 Fundamentos metodológicos

Nos primórdios da investigação científica, a pesquisa em ciências sociais foi marcada fortemente por estudos que valorizavam o emprego de ‘métodos quantitativos’ para descrever e explicar determinados fenómenos (Neves, 1996). Mas, com o decurso do tempo e nos meados dos anos 1930, passa-se a identificar uma outra forma de abordagem, que se tem afirmado, até aos dias contemporâneos, como promissora, denominada ‘qualitativa’, que ganhou espaço em áreas como psicologia, educação e administração de empresas.

Na sua abordagem sobre a metodologia de pesquisa, Richardson (2008, p. 70) segue a classificação em métodos quantitativo e qualitativo, que “se diferenciam não só pela sistemática pertinente a cada um deles, mas sobretudo pela forma de abordagem do problema”. Esta distinção, acrescenta, não significa existência de contradição, mas simplesmente que a sua utilização exige, antes, a escolha de um método adequado em função da natureza do objecto e do problema a investigar.

O método quantitativo representa, em princípio, a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitando distorcer a análise e a interpretação de dados. Este método é,

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em geral, aplicado nos estudos descritivos tanto naqueles que procuram descobrir e classificar a relação entre variáveis, como nos que investigam a relação de causalidade entre fenómenos. Permite, portanto, fazer uma análise de dados numéricos, dados estruturados, uso de questionário, para uma melhor recolha de dados, e o uso de outros métodos de que a pesquisa quantitativa dispõe (Richardson, 2008).

Em relação ao método qualitativo, Maanen (1979, como citado em Richardson, 2008) diz que o termo “qualitativo” compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas, que visam descrever e descodificar os componentes de um sistema complexo de significados, e tem por objectivo traduzir e expressar o sentido dos fenómenos do mundo social, reduzindo a distância entre o indicador e o indicado, entre a teoria e os dados, e entre o contexto e a acção. Bogdan e Biklen (1994, como citados em Carmo & Ferreira; 1998) defendem que, na pesquisa qualitativa, “a preocupação central não é a de defender se os resultados são susceptíveis de generalização, mas sim a de que outros contextos e sujeitos a ele poder ser generalizados” (p. 81).

Como refere Amado (2014), o despontar da investigação de natureza qualitativa deu azo à sistematização e divulgação do método de estudo de caso, desenvolvido pelos sociólogos da Escola de Chicago, os quais estavam centrados na investigação de grupos ou de comunidades socialmente desfavorecidas. Portanto, a abordagem qualitativa do social “surge da vontade de conciliar interesses de natureza investigativa e política, à semelhança do que sucede com as perspectivas de investigação etnográfica, biográfica e investigação-acção” (p. 121).

Na pesquisa qualitativa relevam-se mais os processos do que simplesmente os resultados ou produtos e aborda-se o contexto estudado de forma minuciosa. Bogdan e Biklen (1994, p. 49) destacam que “a abordagem de investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão e mais esclarecimento do objecto de estudo”.

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Malhotra (2006) considera a pesquisa qualitativa como uma metodologia de pesquisa não estruturada e exploratória, baseada em pequenas amostras que proporcionam percepções e compreensão do contexto do problema. Já a pesquisa quantitativa é uma metodologia que procura quantificar os dados e, regra geral, aplica alguma forma de análise estatística. O investigador que busca a construção do conhecimento, através da pesquisa, utiliza formas complementares de pesquisa quantitativa e qualitativa, adequando-as para solução do seu problema de pesquisa (Gunther, 2006). “Tanto os métodos quanto às técnicas devem adequar-se ao problema a ser estudado, às hipóteses levantadas e que se queira confirmar e ao tipo de informantes com que se vai entrar em contacto” (Marconi & Lakatos, 1999, p. 33).

Portanto, este método trabalha mais com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões, através dos quais o investigador desenvolve conceitos, ideias e entendimentos a partir de padrões encontrados nos dados, ao invés de recolher dados para comprovar modelos, teorias ou verificar hipóteses. E, embora seja menos estruturado, este método proporciona um relacionamento mais extenso e flexível entre o investigador e os entrevistados. Dizem, Bogdan e Biklen (1994), que o investigador é, portanto, mais sensível ao contexto e trabalha através deste método com subjectividade, permitindo muitas possibilidades de exploração que a riqueza dos detalhes pode proporcionar.

Sem fazer de pouco mérito as críticas de outros autores (como as que são feitas por Maanen, 1979; Pope & Mays, 1995; e Neves, 1996), Richardson (2008) reconhece que o método quantitativo é passível de críticas, tais como o facto de a aplicação desta abordagem em ciências sociais ignorar o seu objectivo, que são os seres humanos com crenças e práticas diferentes, e esquecer os problemas reais da grande maioria da população, quando os métodos se aperfeiçoam e se sofisticam para poder explicar e predizer os comportamentos humanos.

A abordagem qualitativa coloca diversos problemas e limitações do ponto de vista da pesquisa social, dado serem poucas as tentativas feitas para colocar as

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acepções e condutas das pessoas entrevistadas num mesmo contexto histórico ou estrutural. Problematiza-se, ainda, o facto de ser uma tendência para adoptar uma atitude não crítica das acepções e consciência dos entrevistados, sem considerar o seu desenvolvimento epistemológico.

Prado (1990, p. 42) escreve, a respeito, que se “pode distinguir o enfoque qualitativo do quantitativo, mas não seria correcto afirmar que guardam (entre si) uma relação de oposição”. Ou seja, embora se possa diferenciar os métodos quantitativo e qualitativo, enquanto associados a diferentes visões da realidade, não podemos afirmar que se oponham ou se excluam mutuamente como instrumentos de análise. Pois, na prática, como referem Pope e Mays (1995, como citados em Neves, 1996),

“[…] os métodos qualitativos e quantitativos não se excluem. Embora difiram quanto à forma e à ênfase, os métodos qualitativos trazem como contribuição ao trabalho de pesquisa uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo capaz de contribuir para melhor compreensão dos fenómenos” (p. 2).

Para Bell (1993), nenhuma abordagem depende unicamente de um só método, da mesma forma que não exclui determinado método apenas porque é considerado ‘quantitativo-qualitativo’ ou designado por estudo de caso, ‘investigação-acção’. Para este autor, “os estudos de casos, geralmente considerados estudos qualitativos, podem combinar uma grande variedade de métodos, incluindo as técnicas quantitativas” (p. 85).

Na nossa pesquisa, que se caracteriza por ser estudo de caso, privilegiamos uma abordagem mista, combinando os métodos qualitativo e quantitativo, dado possuir técnicas adequadas para compreender a natureza e o fenómeno de liderança no contexto da organização de educação, enquanto uma entidade eminentemente social. A nossa posição tem suporte, em parte, nas palavras de Gall et al. (2007), citados por Amado (2014), segundo as quais, na investigação social e na educação, em particular, estamos em face de um quadro de expansão das abordagens mistas e de

“[…] credibilização das abordagens interpretativa e críticas, a par de uma cada vez maior integração das teorias ecológica e sistémica para a compreensão dos fenómenos sociais,

122 o que vem também reforçar a credibilidade dos estudos de caso que, pela sua natureza

holística, tendem a reflectir a complexidade dos fenómenos que estudam” (p. 123).

A pesquisa de natureza mista sugere o uso de uma dualidade de critérios, nomeadamente, a recolha de dados pelo método de natureza qualitativa, por um lado, e, por outro, o uso de dados quantitativos. Para o propósito deste estudo, esta abordagem justifica-se pela sua necessária interdependência e pela dúvida que levávamos ao terreno, em relação ao uso de um único instrumento, que poderia resultar em dados incompletos ou mesmo viciados que, eventualmente, pudessem obstar o alcance dos objectivos propostos.

Fundamenta ainda a nossa opção o entendimento de Morse (1991, como citado em Neves, 1996), que considera que combinar técnicas quantitativas e qualitativas torna uma pesquisa mais forte, reduz os problemas de adopção exclusiva de uso de um desses grupos e enriquece a visão do pesquisador quanto ao contexto em que ocorre o fenómeno. Percebe-se, a partir dessa visão, que as duas abordagens, qualitativa e quantitativa, vistas até certo tempo como antagónicas, podem apresentar um resultado mais considerável e significativo, se utilizadas na pesquisa de um mesmo problema.

Como delimitamos acima, esta pesquisa pretende desenvolver um estudo de caso, que se revela muito útil quando se deseja analisar um fenómeno amplo e complexo, em que o conhecimento acumulado seja insuficiente para a proposição de relações de causa e efeito e/ou quando o fenómeno não pode ser analisado fora do contexto no qual ele naturalmente se manifesta (Bonoma, 1985).