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ORGANIZAÇÃO ESCOLAR

1.2 Organização escolar

A visibilidade da escola como organização tende a diferenciar-se do mundo empresarial em aspectos estruturantes sob o ponto de vista sociológico e organizacional (Torres, 1997). Para este autor, a particularidade da escola como organização deve-se também a aspectos que a marcaram ao longo dos tempos tais como: a centralização do sistema educativo, o controlo político, administrativo e burocrático; a ausência ou precariedade da autonomia organizacional associada à inexistência de uma efectiva direcção organizacionalmente localizada e à especificidade dos seus objectivos centralmente definidos.

A escola é uma organização de pessoas que possuem pensamentos, têm sentimentos próprios, sofrem, vivem e convivem, agem, interagem e colaboram entre si; neste leque de acções, as pessoas desenvolvem uma teia de relações interpessoais

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quer positivas quer negativas. Vicente (2004) é prático ao dizer que falar da escola como organização é falar essencialmente das pessoas, de relações e processos e sintetiza que “as escolas são organizações inteligentes, conscientes dos seus pontos fracos, pontos fortes, ameaças e oportunidades, com capacidade de melhorarem continuamente” (p. 143).

Para Fonseca (1998, citando Etzioni, 1962), a escola é incluída no grupo de organizações normativas, ainda que se tratando de uma organização normativa atípica, em virtude de o poder coercitivo se constituir apenas como fonte secundária de consentimento. Formosinho (1986) chama organização escolar como “uma organização específica de educação formal” e “de interesse público” porque “veicula o projecto básico da sociedade para a educação da geração jovem” (p. 15).

Como percepciona Alarcão (2001), a escola é um organismo vivo que se encontra inserido num contexto apropriado, e que, semelhantemente aos seres humanos, aprende e desenvolve-se em interacção e como uma organização em desenvolvimento e aprendizagem. Portanto, a escola abre-se à realidade social e força- se em encontrar os melhores caminhos possíveis para desempenhar a sua missão dentro da sociedade. Alarcão, citando Santiago (2001), considera as organizações educativas como sistemas de aprendizagem organizacional, se se atender à qualificação dos seus profissionais, à sua permanente ligação ao conhecimento, à prática das relações interpessoais e intergrupais nas dinâmicas de trabalho e às finalidades educativas.

A organização educativa existe inserida num contexto político, social e económico, do qual depende para a satisfação de várias necessidades, o que demanda certo tipo de relações com o meio que possa melhorar a sua eficácia. Preocupa-se com “a regulação do espaço, com a distribuição do orçamento, com o controlo dos seus membros, com a estrutura burocrática e com a ordenação do currículo” (Guerra, 2002, p. 18). Neste contexto, as organizações escolares

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morais. Visto que as escolas estão entre as organizações mais normativas, e dado que a liderança, em contraste com uma administração de rotina, é um esforço altamente moral e normativo, ela é particularmente assumida como importante para uma administração escolar eficaz (Greenfield, 2000, p. 257).

Antecedendo algumas pesquisas (por exemplo, feitas por Greenfield, 2000; Guerra, 2002), Likert (1979), na sua abordagem sobre a escola como organização, considera-a como

“[…] um empreendimento humano cujo sucesso depende dos esforços coordenados dos seus membros e que possui diversos e importantes processos e características: tem processos de influência; tem dimensionamentos, atitudes e características motivacionais básicas; tem uma estrutura; tem processos de observação e medição que colectam informações acerca do estado interno da organização, do ambiente em que a organização está operando e da relação entre a organização e o referido ambiente; tem processos de comunicação através dos quais flui informação; tem processos de tomada de decisões; tem recursos de acção para pôr em prática as decisões tais como pessoal da organização, maquinaria e equipamento” (p. 211).

Nos termos em que se refere Robbins (2004, p. 93), a organização escolar “é uma entidade social conscientemente coordenada, composta por duas ou mais pessoas, que funcionam de maneira relativamente contínua com o intuito de atingir um objectivo comum”, existindo papéis formais que definem e modelam o comportamento de seus membros. E, caracteriza-se como um conjunto ou sistema organizado de estruturas, meios e acções diversificadas, através do qual se realiza o processo permanente de formação a que têm direito os membros da comunidade que adopta esse sistema educativo (Brito, 1994).

Por referência ao modelo de sistema social como uma aplicação da teoria dos sistemas, numa abordagem psicossociológica, Lima (2000, citando Schmuck (1980), apresenta a definição do conceito da escola como organização, nos seguintes termos:

“A escola é uma organização complexa composta de relações formais e informais entre membros docentes e entre estudantes. Ao passo que é integralmente sujeita às normas da comunidade e a outras importantes condições societais, os seus alunos e professores criam o seu próprio currículo vivo à medida que interagem nas salas de aula. Em suma, a escola constitui um sistema social diverso e complexo com um múltiplo de partes interdependentes” (p. 19).

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Assim, o desempenho de um papel, vezes sem conta, exige outros papéis complementares e, na escola, a título de exemplo, para o processo de ensino- aprendizagem, precisamos de um professor e dos alunos, mas o sucesso destes exige também as figuras dos directores da escola e do pedagógico, sem pôr de lado outro pessoal administrativo, de apoio, dos pais, bem como da comunidade local (Sergiovanni, 2004). Na mesma perspectiva, Parsons (1967, como citado em Martins, 1999) diz que a escola é uma organização social porque é um sistema de interacção de uma pluralidade de actores, dentro do qual a acção está orientada por regras, que são complexos de expectativas complementares referentes a roles ou sanções.

Como dito antes, os teóricos da organização escolar tentam defini-la de acordo com uma linha que direcciona aos objectivos e à importância da mesma. Na sua definição, Barroso (2005, p. 55) diz que “a escola enquanto unidade pedagógica, organizativa e de gestão, tem hoje uma importância acrescida, com o reconhecimento da sua autonomia e com a aplicação de medidas de “gestão centrada na escola”, passando-se de um “sistema escolar” para um “sistema de escolas” e de uma “política educativa nacional”, para “políticas educativas locais”.

Alves (2003) considera a escola como organização específica, distinta das demais organizações, pois a realidade escolar é construída por uma pluralidade de actores com percursos académicos, formação e perspectivas de educação diferenciadas. Portanto, como refere este autor, a organização escolar será específica pela

“[…] compartimentação e atomização dos saberes a ensinar, pela fragmentação dos espaços e tempos, pela escassa articulação curricular horizontal, pela ambiguidade dos fins educativos, pelo individualismo da acção pedagógica, pela diversidade dos interesses e culturas profissionais, pela presunção de que todos são competentes na sua acção individual, merecem a confiança e dispensam a mobilização e concentral colectiva” (Alves, 2003, p. 72).

Para Estêvão (2008), “a escola deverá ser uma organização comunicativa e convivência” (p. 509), pois tem que dar respostas aos diferentes cenários que se lhe apresentam, uma vez que a escola como organização não existe no vácuo social.

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Percepciona, o autor, que a escola ou fecha-se no seu casulo para escapar às vicissitudes do meio, ou assume a responsabilidade social de contribuir para a resolução dos problemas da colectividade ao mesmo tempo que, internamente, deverá procurar construir consensos de uma forma argumentada, mas sem desprezar o conflito ou falta de consenso.

As afirmações expressas no parágrafo anterior denotam que a escola, apesar de configurar uma grande complexidade organizacional e de se constituir como um espaço político com múltiplos poderes, diversidade de interesses, de conflitos e desarticulações, tem necessidade de construir consensos entre os actores para poder responder ao meio envolvente e manter uma imagem de confiança e, ainda, para sobreviver com segurança quer ao nível interno quer ao nível externo.

Segundo Alves (2003), é possível distinguir dois tipos de estruturas na organização escolar, i) estruturas administrativas, que se prendem com a gestão de recursos humanos, físicos e financeiros; e ii) estruturas pedagógicas, que estão ligadas à organização das funções educativas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades. Contudo, nem sempre a distinção entre as duas estruturas típicas se processa sem sobressaltos, nos diferentes níveis de gestão escolar, o que impõe que sejam analisados “com uma atitude crítica que os permita compreender e enfrentá-los de forma criativa de modo a que se possa aprender com eles e com a forma de os ultrapassar” (Guerra, 2002, p. 42).

Lima (1992) observa que, nos dias actuais, se acentua cada vez mais a especificidade da organização escolar, reconhecendo-se o desenvolvimento de diversas perspectivas organizacionais a partir dos contextos escolares. O mesmo autor afirma que será “difícil encontrar uma definição de organização que não seja aplicável à escola” (p. 42). No entanto, afigura-se pacífico considerar a escola como uma organização com aspectos comuns e aspectos distintivos em relação a organizações de outra natureza, designadamente, as de cunho económico e empresarial. Os próprios

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teóricos que analisam as áreas empresariais começaram também a integrar nas suas investigações as organizações escolares.

Na busca de afirmação da organização escolar como um campo específico de estudo, Vieira (2013, ao citar Nóvoa, 1992), considera que a evolução do movimento das escolas eficazes foi decisiva para o reconhecimento do estabelecimento de ensino como um novo objecto científico e que permitiu a corresponsabilização dos diferentes actores educativos, professores, alunos, pais e comunidade, criando espaços e dispositivos de participação ao nível local. Assim, numa outra esfera de pesquisas voltadas às características das organizações escolares, Vieira (2013) destaca a existência de três grandes grupos de estruturas, nomeadamente:

A estrutura física da organização escolar

O pressuposto é o de que o espaço da escola não é apenas um receptuário que abriga alunos, professores, funcionários, equipamentos de ensino, um local em que se realizam actividades de aprendizagem. O espaço físico escolar é, ao mesmo tempo, espaço educativo, é clima, espírito de trabalho, produção de aprendizagem, relações sociais de formação de pessoas. E, por conta disso, o espaço escolar deve produzir ideias, sentimentos, movimentos no sentido da busca do conhecimento; tem que despertar interesse em aprender; além de ser alegre, aprazível e confortável, tem que ser pedagógico. É, portanto, dentro do espaço escolar onde os alunos aprendem lições sobre a relação entre o corpo e a mente, o movimento e o pensamento, o silêncio e o barulho do trabalho, que constroem conhecimento.

A estrutura administrativa da organização escolar

A escola deve ser estruturada de forma adequada para o alcance dos objectivos educativos, realidade que demanda uma organização escolar em que o trabalho e as

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relações em seu interior se dêem de modo a não contradizer a característica democrática e participativa dos seus actores. É necessário agir de modo a proceder a uma transformação significativa na forma como a escola organiza as suas actividades, que favoreça a participação na gestão dos diferentes grupos e pessoas envolvidas nessas actividades. Alves (2003) é de opinião de que a estrutura da escola deve assegurar a locação e a gestão de recursos humanos, físicos e financeiros, assegurar a gestão material como da arquitectura do edifício escolar e a preservação da sua imagem, manutenção dos equipamentos e materiais didácticos, mobiliário, distribuição dos espaços entre os actores escolares e espaços livres, limpeza e saneamento básico (como água, esgoto, lixo e energia eléctrica).

A estrutura social da organização escolar

Por definição, o conceito de estrutura social “é um recurso analítico que serve para compreender como os homens se comportam socialmente” (Inni, 1973, p. 36). Assim à partida, esta definição encoraja-nos a assumir que a estrutura social tem que ver com a expectativa do comportamento entre os indivíduos, que assumem diferentes papéis sociais e factos que permitem a organização dos actores sociais. Ou seja, esta estrutura é dominada pelas expectativas do papel social exercido pelo pai, pela mãe, pelo filho, pelo professor, pelo polícia e por todos aqueles que estão na sociedade e interagem o tempo todo através das relações sociais.

Afigura-se-nos legítimo atermo-nos em breves linhas no que Nóvoa (1995) apresenta relativamente às características de uma escola:

Autonomia da escola: que pressupõe que as escolas devem ser detentoras de meios necessários para responderem, em tempo real, às demandas de serviços do quotidiano;

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Liderança organizacional: considera-se que o comportamento da liderança se reveste de valor primordial na promoção de acções concertadas na elaboração e execução de projectos de trabalho;

Articulação curricular: traduzida no rigor da planificação de conteúdos curriculares e na coordenação precisa dos planos de estudos, privilegiando uma modalidade de avaliação formativa;

Optimização do tempo: as acções curriculares e extracurriculares da escola devem ser enquadradas dentro do tempo disponível regulamentar, considerando a evolução e as capacidades dos actores;

Estabilidade profissional: a premissa é de que a mobilidade dos quadros dentro do ambiente escolar pode ser um ganho significativo no contexto da organização, mas se se proceder sem critérios adequados, pode ser um marco de um clima de insegurança e de descontinuidade de funções;

Formação de pessoal: sempre constitui uma mais-valia a formação do quadro de pessoal de acordo com o projecto educativo da escola, assim como assegurar que a investigação-acção contextualizada dê um préstimo efectivo para a melhoria das escolas;

Participação dos pais: os pais e a comunidade têm um papel fundamental na construção do processo educativo da escola e prestam um apoio activo na criação e no melhoramento das condições dos estabelecimentos de ensino e na participação no processo de tomada de decisões;

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Reconhecimento público: os actores escolares preocupam-se em manter uma identidade que corporiza um conjunto de valores comuns específicos, que caracterizam a marca da organização da escola que fazem parte; e

Apoio das autoridades: as autoridades prestam seu apoio nas

componentes material e financeira, assim como assessoria técnica e consultoria.

Bolívar (2003), pronunciando-se sobre “escolas eficazes”, considera que as escolas que fazem “diferença” partilham uma ou, pelo menos, algumas das seguintes características: exercício de uma forte liderança instrutiva, pressão académica e elevadas expectativas sobre o rendimento dos alunos, implicação e colaboração dos pais, controlo e organização dos alunos, coerência e articulação curricular e instrutiva, controlo sistemático do progresso e dos objectivos alcançados pelos alunos, colaboração e relação de colegialidade entre os professores, desenvolvimento contínuo do pessoal docente, autonomia e gestão local.

Nesta pluralidade de visões, decorrentes das várias abordagens sobre a particularidade da organização escolar, Castro (2010, como citado em Vieira, 2013) apresenta, na sua perspectiva sobre a organização escolar, as seguintes ilações: i) o sistema de elementos e factores reais ordenados de forma a possibilitar um melhor cumprimento da acção educativa, nomeadamente, uma política educativa do governo da educação pelo poder político do Estado; uma administração escolar enquanto um conjunto de acções para levar a cabo as políticas educativas; uma legislação escolar que compreende o sistema de normas que pretendem concretizar a acção educativa do Estado; e uma organização escolar cuja normatividade técnico-pedagógica se centra nos elementos das instituições escolares; ii) a estrutura formal do sistema educativo de um país; iii) a ordenação e disposição de vários elementos que concorrem numa determinada instituição educativa, constituindo um subsistema dentro de um sistema de acção mais amplo que é o sistema educativo; e iv) a estrutura e o conjunto de

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relações hierárquicas e funcionais entre os diversos órgãos de uma instituição educativa ou, ainda, o conjunto de grupos e papéis que desempenham na organização.

Importa realçar que, nos últimos tempos, a organização da educação vem ganhando espaço, enquanto objecto de estudo da sociologia das organizações. Apoiado pela emergência de uma sociologia das organizações educativas e procurando estabelecer pontes com a análise das políticas de educação, com modelos, imagens e metáforas para a interpretação das organizações sociais formais e, com a crítica às ideologias organizacionais e administrativas, tradicionalmente de pendor empresarial, o estudo vem ganhando centralidade (Lima, 1992). “Trata-se de um processo complexo, mas também muito estimulante, de construção de objecto de estudo que, no passado, foi frequentemente apagado, ou colocado entre a espada e a parede” (p. 7).

À semelhança do que acontece com a maioria das organizações, escreve Robbins (2004, p. 93), a organização escolar também “é uma entidade social conscientemente coordenada, composta por duas ou mais pessoas, que funcionam de maneira relativamente contínua com o intuito de atingir um objectivo comum”, existindo papéis formais que definem e modelam o comportamento de seus membros.