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CAPÍTULO IV MÉTODO

4.7 INSTRUMENTOS PARA A COLETA DE DADOS

4.7.1 A entrevista semiestruturada e o grupo focal

A entrevista é uma técnica de pesquisa qualitativa que dá a possibilidade de se compreender o meio em que se insere o indivíduo. Dentro da perspectiva da pesquisa qualitativa, a entrevista pode compreender um único respondente (entrevista em profundidade) ou um grupo de respondentes (grupo focal) (GASKEL, 2002). O uso da entrevista na pesquisa qualitativa permite que o pesquisador possa compreender o

entrevistado no meio em que ele está inserido, demandando, desse modo, uma ampla compreensão do contexto social em que a pesquisa se insere.

A entrevista pode ser semiestruturada, estruturada, narrativa, episódica. Na modalidade ―grupo de respondentes‖, destaca-se a técnica do grupo focal. Na entrevista estruturada, o entrevistador vale-se de uma sequência de questionamentos rígidos; na modalidade semiestruturada, as perguntas elaboradas dão abertura a retirada ou acréscimo de tópicos temáticos, de acordo com a necessidade do contexto; as narrativas são abertas, de forma que o entrevistado se lança a tecer colocações a respeito de uma temática sugerida pelo entrevistador. Da entrevista narrativa surgirão as histórias de vida e sociais; trata-se de um método que permite uma análise cultural, social e psicológica do entrevistado. Já a entrevista episódica é uma modalidade em que se investiga episódios da vida do entrevistado; trata-se de uma modalidade amplamente utilizada nas pesquisas em Psicologia. Powell e Single (1996, p. 449) definem o grupo focal como um ―conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal‖. Ao se trabalhar com concepções docentes, o grupo focal, para esta investigação, mostrou-se como uma excelente complementação ao instrumento de pesquisa ―entrevista‖. Enquanto na entrevista apreenderam-se as concepções dos docentes acerca do construto da afetividade, o grupo focal permitiu entrever se essas concepções individuais eram percebidas pelos alunos na recepção da prática de seus professores.

Com isso, possibilitou-se a triangulação do conceito de afetividade e de sua presença na prática dos professores das escolas bem-sucedidas a partir do discurso do professor, do discurso dos alunos e do que a teoria apresenta. Além disso, o grupo focal permite uma comparação da fala em um momento de individualidade com a fala em um processo de interação no grupo.

Desse modo, não se pode perder de vista que a técnica do grupo focal deve ter como base primária o problema de pesquisa. É a partir do problema de pesquisa, das questões correlatas e dos objetivos estabelecidos que se torna possível a construção dos encaminhamentos que possibilitarão o desenvolvimento da técnica.

Para isso, deve ser elaborado um roteiro que oriente o moderador do grupo focal (no caso, o próprio pesquisador) como estimular a discussão que será empreendida com os alunos. Esse roteiro, no entanto, deve ser flexível e permitir não apenas a abordagem dos tópicos previstos a priori, como também a análise de questões – relacionadas à temática de discussão – que surjam durante a condução da discussão.

No caso específico deste estudo, o grupo focal foi constituído respeitando-se critérios de homogeneidade e heterogeneidade: a homogeneidade compareceu no que se referiu à faixa etária dos alunos de cada grupo, o fato de estarem cursando a mesma série e serem alunos do mesmo professor ou professora; a heterogeneidade compareceu quanto ao gênero e, dependendo da situação de cada escola, quanto ao status social de cada um dentro do grupo. Reitere-se que somente participaram do grupo focal alunos voluntários e autorizados pelos responsáveis.

Foram realizadas quatro sessões de grupo focal: uma no Centro de Ensino Fundamental, uma no Colégio de Ensino Médio; e duas sessões na Escola Classe. No caso do Centro de Ensino Fundamental e do Colégio de Ensino Médio, as sessões de grupo focal foram realizadas com alunos voluntários das diversas turmas em que as professoras colaboradoras lecionavam. No caso da Escola Classe, por existirem duas turmas de 5º ano no turno da manhã – e como as duas professoras se voluntariaram a participar do estudo – foi realizada uma sessão de grupo focal com cada uma das turmas delas. As sessões de grupo focal ocorreram nas próprias escolas, em horários e locais indicados pela direção. Cada sessão do grupo focal foi gravada em áudio, por solicitação da Direção da Escola Classe para que não fossem feitas imagens dos alunos; em razão disso, essa sistemática foi estendida às outras duas instituições.

Para esta pesquisa, utilizou-se a modalidade de entrevista semiestruturada, com duas professoras da Escola Classe, duas professoras do Centro de Ensino Fundamental e duas professoras do Colégio de Ensino Médio. No segundo semestre de 2013, procurou-se a direção das escolas selecionadas para o estudo e, a partir do interesse dessas instituições em participar do estudo, os objetivos de pesquisa foram apresentados aos docentes das escolas: professores de 5º ano, no caso da Escola Classe; professores de Língua Portuguesa e de Matemática, no caso do Centro de Ensino Fundamental e do Colégio de Ensino Médio.

No caso da Escola Classe, as duas docentes do turno matutino voluntariaram-se para participar, ao contrário da docente do vespertino. No Centro de Ensino Fundamental, havia quatro professores de Matemática e quatro de Língua Portuguesa, e houve interesse de uma professora de cada disciplina em participar. No Colégio de Ensino Médio, também houve o voluntariado de uma professora de Língua Portuguesa e de sua colega de turmas de Matemática, o que possibilitou equidade na quantidade de colaboradores de pesquisa nas três escolas. Embora essa não fosse uma necessidade a priori, terminou por tornar mais homogênea a quantidade de dados gerados em cada instituição.

Foram realizadas seis entrevistas – uma com cada docente e, paralelamente a essas entrevistas, foram realizados os grupos focais com os estudantes, cuja finalidade foi apreender, no discurso dos alunos, como a afetividade comparece na prática de seus docentes.