• Nenhum resultado encontrado

Núcleo 1: O olhar do docente sobre a escola pesquisada e sobre as avaliações de

CAPÍTULO V – RESULTADOS: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS NÚCLEOS DE

5.4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS PARTICIPANTES

5.5.1 Núcleo 1: O olhar do docente sobre a escola pesquisada e sobre as avaliações de

Não restam dúvidas de que o olhar que se lança sobre qualquer tarefa que se vá realizar afetará decisivamente o modo como a pessoa se relaciona com a atividade empenhada. Na educação, essa máxima não é diferente: o olhar que o professor lança sobre sua prática, sobre seus alunos, sobre o espaço em que essa prática se desempenha determina o caminho afetivo que será transcorrido em seus processos de interação. Nesse sentido, ao se falar na relação entre práticas docentes e avaliações de larga escala, faz-se necessário identificar como tal relação é construída pelo docente.

As professoras colaboradoras desta pesquisa não escolheram estar nas escolas investigadas em virtude dos resultados obtidos no ENEM / IDEB; há questões de outras ordens que as levaram a atuar nesses estabelecimentos de ensino:

a) Questões de cunho prático-administrativo:

Especialmente entre as professoras da Escola Classe e do Centro de Ensino Fundamental, as questões de mobilidade ou de adequação administrativa permearam a escolha pela escola:

Bom, eu não imaginava que eu viria pra cá, essa é a verdade; eu vim pra cá por conta da localização, porque eu morava aqui na Asa Sul e vim pra cá. Então foi só esse o critério (Profª Andréia – Centro de Ensino Fundamental – Entrevista). [...] porque ela é próxima da minha casa, é uma das mais próximas; tem uma bem próxima, mas eu não ouvi falar muito bem... (Profª Luíza – Centro de Ensino Fundamental – Entrevista).

Nessa Escola foi a questão da remoção, né? Eu estava querendo trocar e, mediante concurso de remoção, eu vim pra cá (Profª Bela – Escola Classe – Entrevista).

Essa Escola foi casual; eu retornei da licença para estudo e eu tinha que pegar uma carência e eu queria uma carência na Asa Sul e era a Escola mais próxima do final da Asa Sul. Então foi casual (Profª Taís – Escola Classe – Entrevista).

As professoras da Escola Classe e do Centro de Ensino Fundamental pertencem a um mesmo Sistema de Ensino – a Rede Estadual do Distrito Federal –, o que justifica a confluência de interesses (localização, mobilidade) na escolha pela escola.

b) Questões de cunho subjetivo:

As professoras do Colégio de Ensino Médio pertencem a um Sistema de Ensino Federal, sendo a escola em que trabalham a única da Rede – com as características da instituição – presente no Distrito Federal. Em razão disso, a escolha pela escola perpassa questões particulares, como disciplina dos alunos e até mesmo de ordem familiar:

Com o Colégio eu me identifiquei muito bem, em função da organização da disciplina; então são fatores essenciais para o nosso trabalho e para o profissional na área de Educação (Profª Angélica – Colégio de Ensino Médio – Entrevista).

Eu me organizo muito bem com disciplina e organização; quando eu fiz o concurso para cá, meu objetivo era também ter um emprego fixo, né, porque como eu sou casada com Militar, eu estou sempre mudando e depois eu me apaixonei. Hoje eu faria novamente, quantas vezes precisasse a mesma escolha, por causa da estrutura do Colégio, tanto física quanto de organização de tudo (Profª Kaká – Colégio de Ensino Médio – Entrevista).

Observa-se que a escolha pela escola, no caso do Colégio de Ensino Médio, já aponta para signos que se relacionam à proposta pedagógica da instituição, calcada em valores e tradições do Exército, como ―organização‖ e ―disciplina‖. Pelo fato de as três escolas pertencerem à rede pública – ainda que a sistemas distintos – também é perceptível a escolha em razão da estabilidade profissional.

De um modo geral, o olhar sobre a escola revela aspectos positivos. Ainda nessa questão, as professoras do Centro de Ensino Fundamental revelam:

[...] eu até sabia que a Escola era muito boa, até fiz questão de vir por isso, mas não necessariamente por alguma coisa específica (Profª Andréia – Centro de Ensino Fundamental – Entrevista).

Olha, nesta Escola primeiro porque, assim, eu sempre ouvi dizer muito bem sobre ela (Profª Luíza – Centro de Ensino Fundamental – Entrevista).

Apesar de não ser o ponto principal, o olhar sobre a instituição é positivo, pois infere-se a concepção de que a instituição apresenta melhores condições para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico eficiente.

Já na fala das professoras da Escola Classe, não se entrevê esse mesmo olhar sobre a instituição; as duas docentes – Bela e Taís – lançam um olhar diferenciado sobre o nível de ensino em que trabalham e isso as leva a ter um olhar também diferenciado sobre sua prática, sobre seus alunos e, ainda que indiretamente, sobre a escola:

Minha formação é nessa área, de primeiro a quinto ano, na área de Atividades, não de disciplina. Estou nessa área já há vinte e três anos e já dei um pouquinho de tudo: já trabalhei com Supletivo, já trabalhei com Jardim de Infância... Eu gosto de diversificar; geralmente, no trabalho, eu nunca fiquei sempre na mesma coisa, entendeu? Então já trabalhei do primeiro ao quinto, já trabalhei em coordenação, já trabalhei em direção, já trabalhei em supervisão... (Profª Bela – Escola Classe – Entrevista).

No nível de ensino eu comecei há vinte e três anos e o que me levou foi mesmo a afinidade com as crianças, apesar da habilitação em Filosofia me possibilitar o Ensino Médio; apesar de esses vinte e três anos eu ter passado nove em direção de Escola, eu retornei para criança porque é a minha afinidade é onde me realizo (Profª Taís – Escola Classe – Entrevista).

As falas das docentes Bela e Taís permitem a observação de que o trabalho com crianças menores – de quatro a dez anos – torna, para elas, mais instigante o desempenho da ação docente, independentemente da escola e de sua representação social..

Observa-se, dessa feita, que o nível de excelência do trabalho docente pode estar atrelado ora ao olhar que esse docente lança sobre a instituição (como nos casos das professoras Kaká, Angélica, Luíza e Andréia), ora ao olhar que o professor lança sobre sua prática (no caso das professoras Bela e Taís).

Nas observações das aulas, entretanto, verifica-se, na práxis das seis docentes, uma maior preocupação com a prática pedagógica, haja vista, nos seis casos, a forte e rotineira atenção no modo como será construída a interação entre alunos e objetos de conhecimento.

A esse respeito, Pedroza (2005, p. 47) aponta que ―a relação que se espera entre professor-aluno é de interação. Essa não é simétrica, ou seja, não é uma relação de igualdade. De outro modo, não haveria diferenciação entre professor e aluno‖. No caso das docentes em tela, verifica-se que, ao demonstrarem forte preocupação com o manejo de sua práxis, bem como a preocupação no modo de se apresentar os objetos do conhecimento, há forte preocupação em não apenas interagirem com os alunos, mas também levá-los, a partir da atuação delas, a manejarem o conhecimento e a própria aprendizagem de maneira significativa e qualitativa.

A professora Andréia investe no protagonismo dos alunos, dando espaço para que eles construam o conhecimento e possam confrontar suas expectativas com o que se

convencionou como correto em sua área. Para isso, procura propor atividade em que os alunos tenham de interagir entre si e com o objeto de conhecimento:

Nós vamos sentar em círculo e vocês vão retirar dos jornais frases em que apareça o sinal da crase. Em seguida, vão justificar e depois os grupos vão apresentar os seus casos e nós vamos verificar se as explicações estão coerentes ou não (Profª Andréia – Centro de Ensino Fundamental – Observação nº 2).

A professora Taís parte de uma perspectiva mais tradicional, mas tem a preocupação de tornar a atividade compreensível para o aluno. Nessa direção, sua explicação é minuciosa e busca, a todo momento, a interação com o aluno, como forma de validar a informação que transmite:

[...] não comecem a fazer até eu explicar... Coloquem só o nome na folhinha. Esse lado aqui é aquela que tem nome estranho, Análise Morfológica; vamos lá: número um muita atenção, gente, para a explicação. Numero um: “nas frases abaixo, grife – se eu circular, está certo?” (alunos respondem “não”) Ele vai o quê? (alunos respondem “passar traço”). Isso, traço embaixo, muita atenção nisso. Então de azul quem? (alunos respondem “Pronome”); de vermelho? (alunos respondem “Verbo”); de amarelo? (alunos respondem “Substantivo”); de verde? (alunos respondem “Preposição”). Se tiver Adjetivo, vai ser de que cor? ( alunos respondem “nenhuma”); [...] todos vão ficar diferentes .. então eu tenho aqui .. tem Pronome sim, tem Verbo sim, tem Substantivo... vamos lá na letra A (Profª Taís – Escola Classe – Observação nº 13).

A professora Kaká, apesar de lidar com alunos mais velhos, não se posiciona como mera reprodutora de um saber constituído, que já era de domínio dos seus alunos. Ao contrário, busca, mesmo que em uma perspectiva mais tradicional de ensino, trazer o aluno para o centro da discussão, questionando-os sempre sobre a validade da informação que ela está lhes transmitindo:

[...] a gente divide pela quantidade de dados oferecidos. Isso aqui é o quê, moçada, da nossa pesquisa ? É o dinheiro de salários mínimos que a pessoa pode ganhar; ou seja, numa tabela, isso aqui seria o que na tabela ? (aluno responde “a variável”); a variável... E aqui são as frequências; a gente sempre divide pela frequência, pela quantidade de vezes que o determinado dado apareceu, então vai ser dividido por quarenta... Nesse momento ela pergunta: ficaram com alguma duvida aqui? Na média aqui, a gente sempre vai dividir pela freqüência ou ainda que fica melhor pelo total de dados, tudo bem? (aluna faz uma pergunta): a variável sempre vai ser X e a frequência sempre vai ser Y, tudo bem? Então item A, verdadeira; item B: a folha de pagamento dos salários dessa empresa é maior que cinquenta e cinco mil; O que é a folha de pagamento? (Aluno responde é o “total”); é o total que a empresa paga de salário como é que você tem que fazer isso? (Alunos dão várias fórmulas). A ideia do Ricardo foi boa, olha só: nós aqui já temos, se multiplicarmos por quarenta, o total de salários mínimos que a gente paga; se a gente multiplicar por quatrocentos e quinze, a gente descobre o total que a gente paga, certo ou não ? Todo mundo acompanhou? Gustavo... agora a gente quer a folha de pagamento, ou seja, quanto que a empresa gasta pagando o

salário para funcionários? [...] Descobriram quantos salários mínimos a empresa paga, que é um numero menor e depois ela paga vinte salários mínimos então vinte vezes quatrocentos e quinze, tudo bem? (Profª Kaká – Colégio de Ensino Médio – Observação nº 10).

Já a professora Angélica, ao comunicar à turma a devolutiva de uma atividade realizada, demonstra grande preocupação em conscientizar seus alunos sobre a relevância do que estão estudando. Além disso, procura deixar explícito que tipo de conduta ela espera que eles demonstrem para que avancem na aprendizagem e na interação com os objetos de conhecimento:

Eu acho que esse tipo de atividade é sempre produtivo pra mim e pra vocês eu não acredito que ainda tenha gente falando que não acontece. Por que foi produtivo pra mim? Porque eu percebi que o que eu estou passando pra vocês, de alguma forma não está chegando até vocês. Eu até concordo que o tempo é corrido, que não dá para a gente exercitar muito; só que eu julgo que algumas coisas que eu pontuo, que são tão óbvias e significativas, vão marcar determinadas diferenças na hora de identificar o termo; só que não está sendo gente .... Eu preciso que agora vocês recebam essa atividade e vocês façam a análise individual. Me digam o que ocorre; se vocês disserem “eu não sei professora” eu vou dizer o porquê. [...] Então olha só: agora vocês tem que fazer esse exame, para eu saber o que eu vou fazer, se eu vou um pouco mais devagar, enfim. Eu vou tentar relembrar algumas coisas que foram muito excelentes; não foi só em função da minha aula, porque talvez essa pessoa não estivesse prestando atenção no que eu estava dizendo, mas essa pessoa já traz uma bagagem então essa pessoa já sabe, ela já tem conhecimento do assunto; eu preciso, de alguma forma, fazer vocês aprenderem, gente. Eu preciso que vocês aprendam; de nada adianta eu ficar falando ao vento, achando que estou arrasando; eu estou arrasando, mas não é no sentido que eu gostaria de arrasar (risos da turma), certo? [...] Pelo amor de Deus, façam exame de consciência e eu não quero que vocês apenas decorem esse quadro para as nossas provas; não é isso que eu quero. Eu quero que vocês sejam capazes de pegar uma prova, um texto, um vestibular e perceberem que aprenderam (Profª Angélica – Colégio de Ensino Médio – Observação nº 7).

Verifica-se, nessa observação, forte preocupação da professora em demonstrar a utilidade do conhecimento para além do ambiente escolar, ainda que o foco sejam as avaliações formais – como o vestibular. No entanto, nessa observação, o significante que mais salta aos olhos é ―aprender‖, por meio do qual a docente reforça o sentido de relevância, de importância, com o vocábulo ―precisar‖; ou seja, ela deixa nítido para seus alunos que sua preocupação é com a aprendizagem e não com o simples ato de ―decorar‖ regras.

A professora Bela, em uma aula de Matemática com os alunos do 5º ano da Escola Classe, busca valorizar o raciocínio da turma, ao mesmo tempo em que convoca a transferência de conhecimentos já assimilados pelos alunos em situações anteriores:

[...] todo mundo agora com o olhinho na página cento e cinquenta e quatro; aqueles que precisam fazer outra coisa, aguardem. Eu quero todo mundo comigo, agora é hora da atenção hora da atenção e eu quero todo mundo comigo na página numero cento e cinquenta e quatro [...] vamos lá, calculando... Vamos lá (aluna lê “calcule quanto falta”). Esse “quanto falta” – que operação você acha que devemos fazer? (várias respostas ditas pelos alunos) Qual o nome da operação? Menos é o quê? (aluno responde o nome do sinal) isso mesmo então aí há uma diferença, certo? Então ai você vai utilizar uma operação de subtração, certo? Outra coisa que você tem que observar aí: esses números, por exemplo, seis reais e setenta centavos é um número o quê? Que tipo de número é esse? (aluno responde reais) Oi? (outro aluno responde decimal) Decimal. Se é um decimal, o que a gente tem que lembrar? Alunos respondem “da vírgula. Isso, da vírgula. Então a gente tem sempre que colocar o quê? (alunos respondem “vírgula debaixo de vírgula”) Cada ordem debaixo de cada uma, né? [...] Então vamos lá quem vai ler essa daí vai ser o nosso colega Thiago (Profª Bela – Escola Classe – Observação nº 15).

Assim como as demais colegas, a professora Bela reforça aqui a necessidade de um olhar cuidadoso e atento sobre a prática, pois se observa uma notável preocupação em envolver os alunos na aula, além de buscar interligações entre os conceitos estudados.

Ao envolver os alunos na aula e buscar trabalhar com seus conhecimentos prévios, a docente abre espaço para que esses educandos, no dia a dia escolar, possam manejar os objetos de conhecimento, de forma a compreendê-los de maneira significativa. Nessa perspectiva, a prática da docente corrobora a afirmação de Wallon ([1941] 2007, p. 197) acerca da relevância do interesse e do gosto para levar a pessoa a aprender por atribuir valor ao que se aprende, e não pelo mero adestramento: ―O interesse pela tarefa é indispensável e deixa para trás o mero adestramento. [...] O gosto que a criança adquire pela coisas pode ser medido pelo desejo e pela capacidade que tem de manejá-las, modificá-las, transformá-las‖.

A professora Luíza, após a observação nº 5, com o gravador já desligado (mas com a devida permissão para que se anotassem pontos-chave de sua fala) declarou:

Eu gostaria de realizar mais atividades práticas, mas nossa educação é muito preparatória e reprodutiva. Estamos ensinando para quê? (Profª Luíza – Centro de Ensino Fundamental – Observação nº 5).

Vê-se que a docente tem consciência de uma prática pedagógica ainda calcada na reprodução de conteúdos e preparação para o vestibular, o que a deixa incomodada com o seu papel e o da escola, no processo de ensinar e aprender. A respeito da função da escola, Wallon ([1973] 1975, p. 421) declara que a instituição escolar deve se converter em um espaço que ―[...] responda às necessidades de todos, isto é, às necessidades de cada um, e

uma escola que, à medida que a inteligência se vai desenvolvendo no sentido da especialização das aptidões, responda a este progresso do espírito [...]‖.

Verifica-se que a escola deve ser o espaço de atenção ao outro, às suas necessidades de aprendizagem e não somente à transmissão de conteúdos ou reprodução de conceitos. A angústia da docente encontra-se, especificamente, nesse ponto: ―Estamos ensinando para quê?‖, ou seja, qual o papel do professor e da escola? Sintetiza bem a angústia da docente a seguinte afirmação de Pedroza (2005, p. 47):

Um dos grandes dilemas do professor é o sentimento de que não possui uma voz própria, que seu papel na sala de aula resume-se à transmissão de conhecimentos. Esse modelo de professor traduz a transformação do homem em máquina. Reproduz a cultura tecnicista.

Dessa forma, compreende-se que é fundamental que o docente não perca seu olhar analítico sobre a sala de aula e sobre seu fazer pedagógico. É esse olhar sobre a prática – um olhar reflexivo, atento, preocupado com o real papel da educação – que faz a diferença no modo como os alunos recebem e manejam o conhecimento que lhes é transmitido. O esquema a seguir ilustra bem a relação que a primeira parte deste núcleo de significação e sentido estabeleceu entre a fala das docentes e o que se observou em suas práticas:

Figura 04 – Esquema de Análise de Núcleo de Significação e Sentido

Fonte: elaborado pelo próprio pesquisador.

Observa-se que quanto mais positivo o olhar do professor sobre a escola e sobre sua prática mais significativa será a experiência docente, o que levará – por extensão – o aluno a

OLHAR DOCENTE SOBRE A ESCOLA OLHAR DOCENTE SOBRE A PRÁTICA OBSERVAÇÕES DA PRÁTICA E ENTREVISTAS

A RELAÇÃO DOCENTE-ESCOLA-PRÁTICA APOIA-SE EM UM PROCESSO DE INTERAÇÃO MAIS DIALOGADO E

EFETIVO DOS ALUNOS COM O PROFESSOR E OS

lançar um novo olhar sobre a escola e sobre a aprendizagem, conforme se verificou nos relatos dos alunos nos grupos focais.

A segunda relação que este núcleo de significação e sentido estabelece diz respeito ao modo como as professoras pesquisadas veem o impacto dos resultados obtidos pela escola no IDEB / ENEM, em suas práticas. Mais uma vez, buscou-se verificar o olhar, a percepção das professoras sobre a relação entre essas avaliações em larga escala e o seu fazer docente. Nessa segunda relação, tornou-se possível a interface com o olhar lançado pelos alunos sobre essa questão.

Para a professora Kaká, do Colégio de Ensino Médio, os bons resultados interferem na autoestima coletiva, levando toda a instituição a sentir-se impactada, positivamente, pelos índices alcançados:

Acho que sim; um Colégio que apresenta resultados positivos fica com a autoestima coletiva assim muito grande, né. As pessoas se sentem orgulhosas de estudar no Colégio, de trabalhar no Colégio, então eu acho que influencia positivamente. (Profª Kaká – Colégio de Ensino Médio – Entrevista).

A fala da professora, no entanto, não apresenta elementos objetivos acerca da influência dos resultados das avaliações em sua prática. Sua percepção permanece, exclusivamente, no campo da subjetividade.

Para a professora Angélica, a influência dos resultados, ou melhor, das avaliações externas é imediata em sua prática. Observa-se, na fala da docente, não a preocupação com o índice em si, mas sim a preocupação de que seu aluno esteja preparado para enfrentar os desafios que lhe serão postos para além dos muros da escola. Nesse sentido, infere-se a preocupação da docente em preparar seus alunos para os desafios da vida, compreendendo o vestibular e o ENEM como demandas ligadas ao ensino e à aprendizagem, que farão, cedo ou tarde, parte da vivência de seus alunos:

[...] os resultados são positivos nesse sentido e eu acho que é uma preocupação, eu tenho essa preocupação particular de trabalhar, de preparar os alunos para o que é exigido fora da Escola também. E eles mesmos, eles cobram isso da gente, eles esperam que a gente os prepare também dessa forma e eu tenho essa preocupação. Esses resultados positivos só acrescentam e endossam o que eu penso a respeito das avaliações (Profª Angélica – Colégio de Ensino Médio – Entrevista).

Chama atenção, nessa fala, a afirmação da docente de que os alunos também lhe cobram a preparação para o vestibular e outras avaliações externas:

Isso é claro; tanto é claro que a gente não percebe isso de uma maneira uniforme, alguns alunos não têm essa preocupação, mas eu diria que uma maioria né? Preocupa-se em como será a aplicabilidade do que eu estou trabalhando em sala de aula para um Vestibular, um ENEM [...] Eles se preocupam como isso vai ser cobrado. O aluno hoje tem essa preocupação, não se limita apenas a esse aprendizado da Sala de Aula, mas para que serve o que eu ensino lá fora; e a forma mais concreta que eles têm de utilização desse conteúdo é nessas Avaliações, nas Avaliações Nacionais e nos Vestibulares (Profª Angélica – Colégio de Ensino Médio – Entrevista).