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Capítulo III – As aulas de Capoeira na escola

3.2. A escola Giramundo

A escola Giramundo foi o nome fictício dado à escola da Profa. Estrela-do-mar. Ela é uma escola da rede pública estadual de ensino e atende aos alunos do ensino fundamental de 1ª a 4ª série, totalizando aproximadamente 600 alunos entre os períodos da manhã e tarde. Está localizada em um bairro de classe média, da cidade de Campinas/SP. Possui instalações com boa manutenção englobando: oito salas de aula, um pomar, uma biblioteca, uma quadra aberta sombreada, um pátio amplo e coberto, um campinho de futebol, um parquinho com brinquedos de madeira, uma sala de informática, uma sala de artes, uma sala de vídeo, uma cozinha, dois banheiros para os alunos (um feminino e um masculino), uma sala para os professores, uma sala para a diretoria, uma sala para a coordenação pedagógica, uma secretaria, um espaço de refeitório coberto e uma salinha para guardar o material de educação física.

O primeiro contato que tive com essa escola foi em março de 2006, por ocasião da disciplina “Prática de Ensino em Educação Física e Estágio Supervisionado I”, do Curso de Licenciatura em Educação Física, quando escolhi, juntamente com um colega de turma, estagiar nessa escola. Eu já conhecia a Profa. Estrela-do-mar desde a época de sua graduação. Foi com essa convivência que percebi que ela era uma profissional dedicada e competente e esse fator, além da proximidade da escola de minha casa, foram os motivos que me fizeram estagiar na escola Giramundo.

Logo quando conheci a escola fiquei surpresa com o espaço físico que, além de muito conservado, refletia um grande zelo. Mais tarde, percebi que isso era fruto do cuidado dos alunos, das professoras e da equipe gestora.

Tão agradável como o espaço físico foi assistir às aulas de educação física da Profa.

Estrela-do-mar e, assim, passei a admirar o seu trabalho. Não precisou de muito tempo para

que eu e ela tivéssemos confiança uma na outra e, em um curto período de tempo, ela já permitiu que eu fizesse uma intervenção nas aulas para ministrar o conhecimento Capoeira.

Fig. 6 - Quadra externa da escola Giramundo. Foto: Paula Silva; Maio de 2006.

Fig. 5 - Pátio coberto da escola Giramundo. Foto: Paula Silva; Maio de 2006.

Fig. 7 - Quadra externa e o parquinho com brinquedos de madeira da escola Giramundo. Foto: Paula Silva; Maio de 2006.

Fig. 8 - Parquinho com brinquedos de madeira da escola Giramundo. Foto: Paula Silva; Maio de 2006.

Fig. 9 - Painel da educação física da escola

Fig. 10 - Refeitório coberto da escola Giramundo. Foto: Paula Silva; Maio de 2006.

No ano de 2006, a Profa. Estrela-do-mar ministrava aulas para todas as turmas de 1ª a 4ª série da escola Giramundo, nos períodos matutino e vespertino e era a única professora de educação física na escola. Foi o primeiro ano que atuava como professora efetiva da rede pública estadual de ensino, mas nos anteriores já tinha trabalhado como professora substituta desta mesma rede de ensino e trabalhara também como professora efetiva da rede pública municipal de ensino de Sumaré/SP. Ela havia feito o seguinte planejamento para suas turmas:

Proposta de Planejamento de Educação Física

Eixo geral:

A Cultura Corporal.

“Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica curricular, no âmbito da Educação Física (...) busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas”. (Coletivo de Autores,

1992, p.38)

Objetivo geral:

Garantir o acesso mais amplo e aprofundado à Cultura Corporal. Objetivos específicos:

- conhecer e valorizar a pluralidade de manifestações da Cultura Corporal como patrimônio a ser valorizado e cuidado;

- reconhecer e refletir sobre a violência e discriminação nas ações ocorridas, relacionadas ao campo da Cultura Corporal;

- reconhecer que somos integrantes e agentes transformadores da Cultura Corporal;

- refletir sobre os padrões de saúde, beleza e desempenho nas diferentes ações;

- refletir sobre conceitos como “atividade física”, “qualidade de vida”, significando-os no contexto vivido;

Primeiras séries

Eixo:

brincadeiras e jogos.

Objetivo:

aumentar o máximo possível o leque de brincadeiras e jogos conhecidos pelas crianças, assim como sua capacidade de fruir dessas brincadeiras e jogos, individualmente e em grupo e conversar sobre as relações ocorridas.

Ações:

- escolha de um tema, por exemplo, pega-pega;

- junto como os alunos e alunas, fazer lista de variações, por exemplo: - pega-pega com piques ou sem;

- pega-ajuda; - pega-corrente; - pique-esconde; - pega-alto; - vivenciar as variações;

- conversar e registrar as observações;

- propor mudanças, por exemplo, terrenos variados ou correr em duplas e vivenciar algumas mudanças.

Conhecimentos enfatizados:

Segundas séries

Eixo:

estudo aprofundado das brincadeiras e jogos. Objetivo:

Criar e explorar novas brincadeiras e jogos a partir de descobertas feitas num estudo aprofundado das brincadeiras e jogos já conhecidos. Completando a apropriação desse conhecimento, iniciada nas primeiras séries.

Ações:

- escolha de um tema, por exemplo, amarelinha;

- pequeno estudo da brincadeira por pesquisas de como se brinca, com os pais, com elementos trazidos pela professora e pelos próprios alunos e alunas;

- vivência da brincadeira e algumas variações tradicionais.

- conversa e exploração das habilidades envolvidas, do que torna a brincadeira mais fácil ou mais difícil, da história e variações em outros países e regiões, por exemplo: as habilidades envolvidas, no caso da amarelinha seriam saltar num pé só, ter equilíbrio e mira, o grau de dificuldade da brincadeira está associado à exigência das regras e ao riscado e pedra escolhida;

- criação de exercícios com elementos da amarelinha;

- criação de amarelinhas a partir das possibilidades, facilitando, complicando ou estranhando, por exemplo:

- amarelinha gigante; - mini-amarelinha; - amarelinhas em duplas; - amarelinhas cruzadas; Conhecimentos enfatizados: jogos e brincadeiras.

Terceiras séries

Eixo:

Eu mesmo(a) e meus amigos e amigas, conhecimentos ligados ao funcionamento do próprio corpo, aos sentidos e aos relacionamentos.

Objetivo:

Estudar os mecanismos de que nosso corpo é dotado para a vida, assim como os meios pelos quais nos percebemos e aos outros e ao mundo, como nosso agir inter-relaciona-se ao agir do outro internamente e externamente, discutir algumas questões de relacionamento aflorados.

Ações:

- escolha de um tema, por exemplo, a força;

- vivência de um circuito, organizado de modo que os alunos e alunas possam utilizar a força própria, sentir a força de seus colegas e sentir a relação da força com outras capacidades como a velocidade, assim como jogos em que esse elemento é evidente (cabo de guerra, queda de braço, etc.);

- primeiros questionamentos, por exemplo: - o que é força?

- que tipos de força existem?

- quem são mais ou menos fortes e por quê? - o que interfere na força?

- qual a relação da força com outros fatores?

- conversa sobre as experiências e propostas de atividades em perspectiva diferentes: competitiva, cooperativa, com exclusão ou inclusão e discussão dos resutados.

Conhecimentos enfatizados: - atletismo;

- conhecimentos sobre o corpo e efeitos das diferentes atividades;

- problematização das questões: meninos e meninas, competição e cooperação e exclusão e inclusão.

Quartas séries

Eixo:

grandes jogos coletivos. Objetivo:

Trabalhar os esportes coletivos sob o prisma da inclusão e desmitificação do esporte rendimento.

Ações:

- vivência de um jogo coletivo (pode ser tradicional, pré-desportivo, adaptado, cooperativo, etc);

- estudos das regras e habilidades;

- vivência de um jogo que contenha as mesmas regras, com outro material ou espaço;

- exercícios para trabalhar as habilidades envolvidas; - discussão das relações ocorridas;

- criação e vivência de jogos novo a partir das conversas.

- festival de jogos: criação e divulgação de novos jogos, pelos alunos.

Conhecimentos enfatizados:

- Técnicas: passes, deslocamentos, visão espacial periférica, lançamentos, ataque e defesa, dribles, etc;

- regras: quais são, para que servem e como são desenvolvidas;

- história e contexto social: história do esporte, história de personalidades do esporte, papel do torcedor, papel do praticante, espaços para a prática, TV e marketing esportivo, etc.

Trabalhos simultâneos

- Livro da educação física: registros realizados pelas turmas, sobre os trabalhos realizados;

- mural da educação física;

- pesquisa e acompanhamento da Copa do Mundo.

Bibliografia

AYOUB, Eliana. Ginástica geral e educação física escolar. Campinas: Ed. da Unicamp, 2004.

BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de

convivência. Santos: Projeto Cooperação, 2001.

CADERNO CEDES 48. Corpo e educação. Campinas: Ed. da Unicamp, 1999.

COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE (Org.). Educação Física escolar

frente à LDB e aos PCNs: profissionais analisam renovações, modismos e interesses. Ijuí:

Sedigraf, 1997.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do Esporte. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1994. --- (org.). educação física ensino e mudanças. Ijui: Ed. Unijui, 2004.

--- (org.). Didática da educação física 1,2 e 3.Ijui: Ed Unijui,2003.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do lazer, uma introdução. Campinas: Autores Associados, 2000.

--- (org.). Lazer e esporte. Campinas: Autores Associados, 2001.

SOARES, Carmen Lúcia. Imagens da educação no corpo: estudo a partir da ginástica francesa no século XIX. Campinas: Autores Associados, 1998.

---. Educação Física escolar: conhecimento e especificidade. Revista Paulista de

Educação Física, São Paulo, supl.2, p.6-12, 1996.

Como pode ser visto não constava em seu planejamento o tema Capoeira. Entretanto, a Profa. Estrela-do-mar trabalha na perspectiva de que o planejamento é flexível e pode comportar “imprevistos” que poderão colaborar nos conhecimentos a serem estudados nas aulas. A respeito da compreensão de um planejamento aberto e versátil posso citar Guedes- Pinto et al (2006) que explica as possibilidades de se pensar dois tipos de planejamento:

Um “cheio”, elaborado previamente, contendo os objetivos, os conteúdos e as estratégias didáticas específicas para cada série e um “vazio”, que contemple os imprevistos trazidos pelos alunos ou pelo próprio professor. A partir da idéia de planejamento cheio e vazio fica mais fácil incorporar assuntos e acontecimentos relevantes ao grupo sem

cairmos no espontaneísmo que a falta de planejamento gera. (GUEDES- PINTO et al, 2006, p.25)

Dessa forma, elaborei um planejamento para as aulas de Capoeira na escola que buscava introduzir esse tema e trabalhar com aspectos básicos dessa manifestação.

O planejamento das aulas de Capoeira englobava aulas que eu, juntamente com meu colega de estágio e a professora Estrela-do-mar, desenvolvíamos com as crianças, em um dia da semana, no qual estávamos presentes por causa do estágio. Na outra aula semanal de educação física, a professora ministrava sozinha esse conhecimento. As turmas de 1ª a 3ª série do período da manhã tiveram oportunidade de fazer as aulas de Capoeira; porém, nem todas as turmas do período da tarde foram contempladas, pois devido às diferenças entre as turmas (algumas são mais receptivas a novas propostas, outras nem tanto) e, por estar sozinha, a professora decidiu trabalhar somente com algumas séries da tarde.

Segue abaixo o planejamento elaborado para as aulas de Capoeira no estágio:

Planejamento das aulas de Capoeira

Estágio supervisionado

Justificativa: O aprendizado das práticas da cultura corporal pode ser feito através de

atividades lúdicas e de jogos que possibilitem a vivência plena dos movimentos, como também contextualizem o educando sobre o conteúdo que está sendo ensinado. Pode-se trabalhar nesta abordagem questões relativas ao gênero, à diversidade cultural, ao preconceito, entre outros assuntos que o professor considerar pertinente.

Neste caso, a manifestação cultural Capoeira será abordada visando a apresentar alguns de seus movimentos básicos como: a ginga, a benção, a cocorinha, a meia lua de frente, a meia lua de compasso, a bananeira de cabeça, a bananeira com as mãos, o aú e a queda de rim. Com relação à sua história, abordaremos as questões relativas à sua origem e seu desenvolvimento na época colonial. A parte musical da Capoeira também será tratada a partir da exposição e audição dos instrumentos musicais que compõe sua charanga (berimbau, atabaque, agogô, reco-reco e pandeiro) e do canto de músicas de Capoeira. Para finalizar a abordagem, sugere-se como registro que as crianças desenhem o que aprenderam nas aulas. Outras atividades que podem ser desenvolvidas em paralelo são a composição de músicas de Capoeira, pesquisa sobre o tráfico e vida dos escravos africanos no Brasil no período colonial e a confecção dos instrumentos musicais da Capoeira a partir de material alternativo. * As brincadeiras ou jogos assinalados estão descritos no fim do planejamento.

Dia 06/04 - 1ª. Aula com os estagiários 1ª. série a 3ª. série

- Discussão sobre o que é Capoeira: Eles já viram? Como é que é? Vamos brincar em uma

roda ao som da Capoeira? (todo mundo brinca)

- Como são os gestos da Capoeira? Parece com os movimentos dos bichos? Quais? Vamos imitá-los?

Jogo p/ aquecimento: pega-pega aranha*

- Quem inventou a Capoeira? Foram os escravos negros? Como eles eram tratados? Eram felizes? Como expressar nossos sentimentos?

Mímicas dos sentimentos. A partir da narrativa de como viviam os negros no Brasil eles deverão expressar como deve ser a fisionomia de quem sente dor, alegria, tristeza, amor, saudade, etc.

Atividades para a 2ª. aula da semana (ou a aula s/ os estagiários) 1ª. série a 3ª. série

- Quem eram os escravos? Em que época viviam? Como era o Brasil? O que eles faziam? - Jogo de mímicas sobre os trabalhos que os escravos faziam (cortavam cana, cuidavam dos animais como: galinhas, porcos, cavalos, vacas, etc., limpavam a casa do senhor, carregavam coisas pesadas, vendiam animais, frutas e verduras para seu senhor,...).

Eles fugiam? Onde viviam quando fugiam? Quem os perseguia?

Jogo sobre o significado do nome Capoeira – “Escondido na capoeira”* Jogo: “A rede e o peixe”*

Dia 13/04 - 3ª. Aula com os estagiários 1ª. série a 3ª. série

Quem praticava a Capoeira? Somente os negros? Como é a ginga da Capoeira? - História da Rainha Ginga*.

Atividades para a 4ª. aula da semana (ou a aula s/ os estagiários) 1ª. série a 3ª. série

- Jogo dos espelhos,

- Jogo dos espelhos com a ginga (com som). - Jogo de Capoeira

Dia 20/04 - 5ª. Aula com os estagiários 1ª. série a 3ª. série

- Quais os movimentos da Capoeira que já aprendemos? Quais são seus nomes? Movimentos de acrobacia: aú (estrela), bananeira de cabeça (parada de cabeça) e bananeira c/ as mãos (parada de mão).

- Brincadeira dos espelhos a partir dos movimentos e da ginga.

Atividades para a 6ª. aula da semana (ou a aula s/ os estagiários) 1ª. série a 3ª. série

- Continuação da aprendizagem das acrobacias; - Jogo de Capoeira

Dia 27/04 - - 7ª. Aula com os estagiários 1ª. série a 3ª. série

-Instrumentos musicais da Capoeira, - Vamos jogar? Jogos em duplas.

OBS: Caso a professora se interesse em confeccionar alguns dos instrumentos musicais da capoeira em parceria com o professor de educação artística recomenda-se a obra de:

REIS, André Luiz Teixeira. Brincando de Capoeira: recreação e lazer na escola. Brasília: Valcy, 1997, na qual se ensina passo-a-passo a confecção do berimbau e pandeiro.

DESCRIÇÃO DOS JOGOS

Pega-pega aranha

Separa-se dois ou três alunos que serão as aranhas (pegadores), os demais se espalham pelo espaço (presas). Ao sinal os pegadores começam a ir atrás de suas presas, mas tanto os pegadores como presas devem se movimentar com quatro apoios em decúbito ventral, ou seja, numa posição que lembre as aranhas. O pegador deve tocar sua presa com a ponta dos pés, sem machucá-la, e assim que a presa for tocada deve parar na posição de cocorinha (agachado com o apoio de uma ou das duas mãos). Para ser salva a presa deve ser libertada com um de seus parceiros passando a perna por cima dela, neste momento podemos trabalhar dois movimentos da Capoeira. Num primeiro momento da brincadeira pode ser a meia lua de frente (ergue-se uma das pernas e a passa por cima do colega em cocorinha) em um segundo momento p/ as crianças de 3ª série pode-se ensiná-las a salvar os colegas com a meia lua de costa ou meia lua de compasso (de costas com as duas mãos apoiadas no chão passa-se uma

das pernas por cima do colega pego). A brincadeira termina quando todos estiverem cansados.

Escondido na capoeira

Fonte: SILVA, G. O. Capoeira: do engenho à universidade. 2. ed., São Paulo, 1995, p. 51. HISTÓRICO: Origem do nome capoeira e suas discussões: mato ralo, ave homônima, etc. ESTRUTURA: Os jogadores se dividem em grupos de 3 e se espalham aleatoriamente pela sala/quadra. Unindo as mãos, duas a duas, simularão tocas no meio da capoeira (mato ralo) abrigando cada uma um negro capoeira. Haverá um capitão-de-mato (perseguidor) na sala e um capoeirista sem toca.

DINÂMICA: Dado o sinal de início, sai o capitão de mato em perseguição ao escravo, que procurará esconder-se em uma das tocas cujo ocupante se retirará imediatamente para dar-lhe abrigo. O escravo desalojado (descoberto) fugirá para não ser apanhado pelo capitão-de-mato e irá deslocar outro escravo, de cujo abrigo se apossará. Quando o escravo for pego, dois outros jogadores serão escolhidos.

FINAL – Terminará o jogo quando a maioria vivenciar a situação de perseguir.

A rede e o peixe

Fonte: SILVA, G. O. Capoeira: do engenho à universidade. 2. ed., São Paulo, 1995, p. 68. ESTRUTURA: São traçados pelo espaço círculos de número igual ao número de duplas de alunos. A dimensão do círculo deve ser de 1,50 m. de raio.

DINÂMICA: O jogo se inicia com uma dupla de alunos dentro de cada círculo, com funções diferentes. Um dos parceiros imita uma rede de pescador a flutuar na água, usando para isso gestos angulosos; o outro se movimenta imitando um peixe e explora a situação com o intuito de se livrar, não devendo sair dos limites do círculo.

PS. Pode-se variar alternando as funções, bem como trocando os componentes das duplas.

Capitão-de-mato e escravo fugido

Adaptação do jogo de: SILVA, G. O. Capoeira: do engenho à universidade. 2. ed., São Paulo, 1995, p. 52.

HISTÓRICO: Papel do capitão-de-mato nos combates e perseguições a escravos; qual o significado da senzala e do quilombo.

ESTRUTURA: Os jogadores serão espalhados pelo espaço do jogo. Um terço destes serão escolhidos como perseguidores (capitães), ficando o restante como escravos em fuga. Delimitar dois quadrados (2 x 2 metros), um em cada canto da sala; o primeiro será o QUILOMBO, onde os escravos cansados poderão descansar sem serem incomodados, e o segundo será a SENZALA aonde serão levados os escravos capturados.

DINÂMICA: Iniciado o jogo, os capitães-de-mato perseguem os escravos que estarão a salvo dentro do quilombo. Só que no quilombo cabem apenas três jogadores. Caso a lotação já esteja completa e chegue alguém cansado, um escravo mais descansado deve sair. Para que sejam capturados os escravos, basta que os capitães lhes encostem a mão nas costas. Feito isso, são levados para a senzala, onde poderão ser soltos com um aperto de mão de um escravo fugido (livre). Cabe aos capitães-de-mato proteger os arredores da SENZALA. FINAL: O jogo terminará quando todos os escravos forem capturados ou com o cansaço dos perseguidores.

História/Brincadeira da Rainha Ginga

Essa brincadeira é baseada em uma história que eu inventei, antes de ler qualquer material sobre a Rainha Ginga. Minha inspiração foi a partir de uma vivência que tive sobre Capoeira, ministrada pelo Prof. Dr. Pedro Abib, na FEF/UNICAMP. Naquela vivência, o professor contou que a ginga da Capoeira tinha esse nome devido a uma rainha, muito poderosa e também muito esperta, que sabia negociar com os traficantes de escravos para não escravizar seu povo.

Por ela ser uma excelente negociadora, às vezes ela cedia em alguns acordos, para em outras ocasiões, ganhar em outras oportunidades. Por isso, a ginga da Capoeira vai e volta, como uma onda na praia, porque o movimento de negociação da rainha Ginga também era assim. Como gostei da explicação, decidi adaptar uma brincadeira de pega-pega chamada “Mamãe galinha” para ensinar a ginga da Capoeira e, também, falar de sua história.

Dessa forma, a brincadeira foi recriada a partir de uma história que escrevo nesse momento, como diz Chicó, o personagem de Ariano Suassuna, no filme Auto da Compadecida “[...] se é verdade não sei, só sei que foi assim”:

Era uma vez uma rainha que vivia muito feliz em sua tribo, num continente distante chamado África. Lá eles caçavam, plantavam, criavam seus filhos, tinham suas cabanas e dançavam agradecendo pelos alimentos e pela chuva. A rainha era adorada por seus súditos porque era justa e defendia os interesses do seu povo.

Mas, um dia, aconteceu que chegou um navio cheio de pessoas diferentes, homens brancos, com chicotes e espingardas. Queriam falar com o rei daquele lugar. Os habitantes explicaram que não tinha rei, mas sim uma rainha. Os homens então foram falar com ela e queriam