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Capítulo II – O curso de Capoeira para os professores

2.4. Os professores

O curso iniciou-se, a partir do pressuposto de reflexão pedagógica diagnóstica de ensino da cultura corporal enunciado pelo Coletivo de Autores (1992) conhecendo o que os professores-alunos conheciam sobre Capoeira, perguntando-lhes: se conheciam algum trabalho de Capoeira nas aulas de educação física ou em escolas; se já tinham praticado

Capoeira e, em caso afirmativo, em qual grupo e modalidade de Capoeira; indagou-se também quais as expectativas que tinham sobre o curso. Essas perguntas foram realizadas através de um questionário aplicado aos professores e da filmagem da apresentação de cada um deles realizada para o grupo no primeiro encontro.

Passo então, a apresentar e discutir as respostas obtidas com o questionário e, quando necessário, recorrerei aos dados que foram registrados na filmagem, para que o leitor conheça os professores79 que participaram do curso. Vale mencionar que o questionário foi aplicado antes de qualquer apresentação, minha, do Mestre Tulé ou dos professores. Todos os professores que participaram desta pesquisa assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido autorizando o uso dos dados obtidos no decorrer da investigação, conforme apêndice 2.

A maioria, nove professores, respondeu que não conhecia nenhum trabalho a respeito do tema Capoeira e destes, três, nunca haviam praticado-a antes. As expectativas para o curso escritas por estes três professores foram:

“Que aborde conteúdos pedagógicos, visto que é uma atividade que atrai muita atenção das crianças/adolescentes.” (Profa. Sinhá)

“Ter um primeiro contato com a capoeira, pensando em incluir a capoeira como conteúdo a ser trabalhado em minhas aulas” (Prof. Besouro)

“Vejo a capoeira como conteúdo de fundamental importância na cultura corporal brasileira. Toda e qualquer boa informação que eu tiver acesso será de grande ajuda para que eu possa incluir a capoeira em minhas aulas.” (Profa. Cobrinha)

Percebe-se, nesses depoimentos, que esses professores gostariam de incluir a Capoeira como um conhecimento a ser trabalhado em suas aulas sendo que dois deles ministram aulas de 1ª a 8ª série e uma delas de 1ª a 3ª série, no ensino fundamental.

É interessante ver nos depoimentos que nenhum dos professores escreve que quer aprender a Capoeira, mas sim que deseja incluí-la nas aulas de educação física ou a considera como uma atividade atrativa para crianças e adolescentes, apesar deles nunca terem praticado

79 Os nomes dos professores e professoras são fictícios e foram adotados apelidos para identificá-los. A escolha de apelidos para nomeá-los deve-se à tradição da Capoeira que, para que o capoeirista não fosse identificado pelo senhor de escravo ou pela polícia, ele era chamado pelo seu apelido. No caso desta pesquisa os apelidos atribuídos aos professores não foram aleatórios, conforme descrito no Apêndice 1.

Capoeira antes e não conhecerem nenhum trabalho sobre essa manifestação cultural na escola.

Daqueles nove professores que responderam que não conheciam nenhum trabalho de Capoeira na escola ou nas aulas de educação física, seis alegaram que já haviam praticado Capoeira e fizeram as seguintes declarações a respeito de suas vivências:

“Sim. Quatro anos na FEF com a Profa. Martinha, do grupo Capoeira Brasil/Jundiaí. Ela (a Capoeira praticada) era denominada como Contemporânea.” (Profa. Mineira)

“Já, um semestre no Jaça (Instituto de Artes/UNICAMP) e um semestre na moradia com Evandro, Angola (mais ou menos)” (Profa. Mainha)

“Sim, mais ou menos um ano. Academia Beira-Mar/ Campinas e em Hortolândia com o mestre Coveiro. Não sei especificar a modalidade. (Profa. Nizinga)

“Sim, três meses. Mestre Jaça – Campinas/SP” (Prof. Minino)

“Sim, um ano e meio. Abadá Capoeira em Campinas, o professor era de Sumaré, Regional e aula da Martinha na disciplina de lutas na FEF” (Profa. Estrela-do-mar)

“Fiz durante um ano aproximadamente. Isso faz uns sete anos. Capoeira Regional, Grupo Abada, em Americana/SP.” (Prof. Carcará)

Este tempo de vivência apresentada pelos professores é relativamente pequeno, com exceção da Profa. Mineira que praticou essa manifestação cultural por quatro anos, com a Profa. Martinha.

Marta Lima Jardim, a Profa. Martinha, foi minha contemporânea no curso de educação física de 1991 a 1995, e formou-se bacharel em treinamento esportivo e licenciada, pela Faculdade de Educação Física, da UNICAMP. Ela desenvolveu projetos relativos ao ensino da Capoeira durante vários anos, através da Coordenadoria de Desenvolvimento de Eventos e Esportes (CODESP), sob supervisão do Prof. Dr. José Júlio Gavião e participou como convidada das aulas da disciplina “Artes Marciais” abordando o tema Capoeira, na Faculdade de Educação Física (FEF), também sob supervisão do professor citado. De acordo com entrevista realizada com a Profa. Martinha em 2001, época em que eu escrevia minha dissertação de mestrado, ela disse-me que “[...] no seu primeiro ano de trabalho (1988), o entendimento que possuía da Capoeira era como uma modalidade esportiva, mas que mudou

esta opinião no decorrer do tempo e passou a compreendê-la como uma manifestação cultural mais ampla.” (SILVA, 2002, p.4)

Ela foi responsável pela organização de seminários para o debate da Capoeira, em 1998, 1999 e 2000, na UNICAMP, congregando capoeiristas de todo o Brasil, incluindo acadêmicos estudiosos da Capoeira. Em 2002 encerrou seu trabalho com Capoeira, atualmente é percussionista e atua na área de produção cultural.

Jacinto Rodrigues da Silva, o Mestre Jaça, mencionado por dois professores, provavelmente trabalha com Capoeira há pelo menos oito anos no Instituto de Artes da UNICAMP. Levanto essa hipótese pela indicação dos professores da pesquisa, formados entre os anos de 1999 e 2003, e também por conhecer um pouco do trabalho do mestre. De acordo com a pesquisa que fiz na página eletrônica da UNICAMP, localizei um curso oferecido no 2º. semestre de 2008, pela Escola de Extensão da UNICAMP, sob responsabilidade do Prof. Luiz Rodrigues Monteiro Júnior, do Instituto de Artes Corporais, intitulado “Capoeira, só mandinga”, no qual consta Mestre Jaça e mais dois professores como responsáveis pelas aulas. A ementa do curso é a seguinte:

Desenvolver uma instrumentalização artística visando o

desenvolvimento corporal a partir dos elementos técnicos de capoeira, trabalhando os aspectos de dança, de luta e o de jogo. Realizar um resgate cultural que contextualiza a capoeira historicamente, buscando entender suas origens e descobrindo suas formas clássicas e atuais (capoeira contemporânea). Desenvolver a musicalidade, através do contato com instrumentos musicais, Berimbau e Pandeiro, e das ladainhas, corridos e chulas, formas de canto na capoeira. Aliando assim, investigação e prática, contribuindo para o desenvolvimento de artistas, professores e multiplicadores.80

A ementa esclarece a modalidade de Capoeira ensinada pelo Mestre Jaça, bem como a abordagem que ele faz dessa manifestação cultural. É colocado que o curso visa ao desenvolvimento de artistas, professores e multiplicadores, o que dá a dimensão do atendimento de um público bastante amplo, com interesses diferentes. Ainda sobre o curso obtive as informações que ele teve a duração de quarenta e duas horas, distribuídas em três vezes semanais e teve como objetivo:

Contribuir para a formação integral do aluno de forma a colocar à sua disposição procedimentos pedagógicos próprios da linguagem da capoeira, capacitando-o para o fazer artístico, como também, para a criação de um trabalho de grupo, tornando-o maleável e disponível para a descoberta de movimentos expressivos. O curso terá como base pedagógica a capoeira de "mandinga", que tem como método de trabalho a interação e ludicidade, que são desenvolvidas através de atividades físicas ligadas a gestualidade da dança, do jogo e da luta. Desenvolver uma consciência corporal, para o trabalho em grupo, respeitando ao próximo e o conhecimento pessoal. O enfoque é a capoeira de "mandinga", onde o jogador é estimulado a criar seus próprios movimentos, desenvolver seu balanço de corpo, valorizando a mandinga pessoal e o lúdico, que está diretamente ligado à dança-luta capoeira.81

Parece-me bastante peculiar e interessante que a base pedagógica seja a Capoeira de “mandinga” e que esta se traduza como um método de trabalho lúdico e interativo no qual o jogador é estimulado a criar seus próprios movimentos.

Penso que, talvez, o mestre e os professores quisessem enfatizar a intenção do modo de se jogar Capoeira pautado na ludicidade, o que considero muito válido, mas, por outro lado, todo o jogo da Capoeira é realizado na base do improviso, a não ser que seja uma encenação artística, apesar de existir a “Sequência de Bimba” que são golpes, contragolpes, defesas, fintas e acrobacias já estabelecidas por essa metodologia e que, geralmente, é realizada no treinamento da Capoeira. O que ocorre no jogo é que as seqüências não são predefinidas, não há um ensaio do que vai acontecer. O jogo flui a partir do gestual, assimilado através do ensino-aprendizado dos golpes, contragolpes, defesas e outros elementos que o aluno aprende nas aulas e cria junto com seu parceiro/adversário formando um repertório para cada jogo, com uma seqüência única. Digo única porque se torna impossível repetir as jogadas no contexto interacional criado pelos jogadores, suas intenções, gestos e ações que ocorrem no momento do jogo, por isso, diz-se que a Capoeira é um diálogo, no jogo as “perguntas e respostas” são elaboradas no contexto. É esse também um dos motivos que faz da Capoeira uma “arte do improviso” e, cada vez mais, é adotada como uma preparação na formação de artistas; o ator e a atriz precisam ter presença cênica e esta é aprimorada pela preparação corporal que deve incluir a capacidade do improviso.

80 De acordo com a página eletrônica da Escola de Extensão da UNICAMP, disponível em: <http://www.extecamp.unicamp.br/dados90.asp?sigla=ART-0156&of=003>. Acesso em: 06 jan. 2009.

81 De acordo com a página eletrônica da Escola de Extensão da UNICAMP, disponível em: <http://www.extecamp.unicamp.br/dados90.asp?sigla=ART-0156&of=003>. Acesso em: 06 jan. 2009.

É interessante notar que na UNICAMP, vários professores ou mestres que trabalham ou trabalharam ministrando aulas de Capoeira são ou foram convidados de “fora” da universidade, conforme também constatou Falcão (2004). Talvez isso demonstre que o saber “negro e popular” ainda está presente na lógica de ensino-aprendizado da Capoeira e que o meio acadêmico apropria-se dessa manifestação cultural para diferentes finalidades. Como também pode-se supor que a recíproca exista, com a Capoeira apropriando-se do meio acadêmico e fazendo uso de sua legitimidade científica.

Mas, no meio acadêmico da UNICAMP, local no qual vários professores que participam dessa pesquisa formaram-se, há também docentes que ministram aulas de Capoeira, por exemplo: o Prof. Dr. Eusébio Lobo, professor do Instituto de Artes, formado mestre de Capoeira, pelo Mestre Bimba; a Profa. Ms. Lara Rodrigues Machado, professora do Instituto de Artes e mestra pela Escola Brasileira de Capoeira (Grupo Abadá/Capoeira) e o Prof. Dr. Adilson do Nascimento, professor da Faculdade de Educação, que esteve vinculado durante muitos anos à Faculdade de Educação Física. Destes professores, o único que não teve um envolvimento com o meio capoeirístico é o Prof. Dr. Adilson do Nascimento porque, até onde conheço, ele não possui graduação ou título referente ao ensino da Capoeira. Outro ponto que me chama a atenção é que todos eles têm um vínculo com a Dança, o Prof. Dr. Eusébio e a Profa. Ms. Lara são docentes do curso de Dança do Instituto de Artes e tem formação em Dança, e o Prof. Dr. Adilson é bailarino e trabalhou com a disciplina Dança na Faculdade de Educação Física da UNICAMP, por mais de quinze anos.

Para mim esse fato é mais um indício que a Capoeira Esporte felizmente não é majoritária entre os capoeiristas, pelo menos entre aqueles que a desenvolvem no contexto da UNICAMP.

Desconheço o trabalho dos demais mestres mencionados pelos professores, entretanto é possível prever que a maioria deles adota a Capoeira Contemporânea, como o tipo de Capoeira ensinada aos alunos. Provavelmente, devem seguir os preceitos próximos aos discutidos até esse momento no trabalho variando, talvez, a proximidade com treinamentos militarizados. Além disso, os mestres que ministram aulas de Capoeira Angola ou Regional e que fazem parte de uma “linhagem” capoeirística, identificam-se como sendo discípulos de algum mestre conhecido de uma dessas modalidades porque isso lhes dá status no meio capoeirístico.

As expectativas dos seis professores acerca do curso de Capoeira eram:

“Momentos de criação, reflexão e um auxílio nas aulas.” (Profa. Mineira)

“Aprender a como abordar esse conteúdo da educação física na escola.” (Profa. Mainha)

“Gosto de capoeira; para conhecer mais, aprender para trabalhar com meus alunos.” (Profa. Nzinga)

“A melhor possível. Compreender os significados da capoeira, seus percursos históricos, os gestos e as possibilidades de ressignificação nos diferentes locais de atuação.” (Prof. Minino)

“Eu espero ter uma experiência mais completa, que não fique presa a apenas um aspecto da capoeira, e espero também criar uma autonomia e confiança para trabalhar capoeira com crianças” (Profa. Estrela-do-mar)

“Pretendo iniciar meu aprendizado desta prática corporal e pensar suas possibilidades como conhecimento a ser abordado na educação física escolar.” (Prof. Carcará)

Ainda prevalece nestas respostas o mesmo sentimento expresso pelos professores que nunca haviam tido experiência na prática da Capoeira que é a de ensiná-la aos seus alunos. Entretanto, há uma professora e um professor que, apesar de suas vivências em Capoeira, declaram que desejam aprendê-la para trabalhar com seus alunos. Diferentemente dos professores que nunca tiveram nenhuma aula dessa manifestação e não mencionaram nada a respeito.

As respostas da Profa. Estrela-do-mar chamaram-me a atenção, pois ela foi uma das professoras que acompanhei no trabalho de campo. A primeira resposta é que ela nunca havia tido conhecimento de trabalhos realizados nas aulas de educação física. Entretanto, em sua apresentação aos demais professores e ao Mestre Tulé, quando falou do desejo de ensinar a Capoeira na escola, esclareceu:

Profa. Estrela-do-mar: “E... e a minha vontade de levar isso na escola, eu nunca tive coragem e eu tive uma experiência... com a Paulete, ela tava fazendo estágio na minha escola e ela fez junto, foi a única experiência que eu tive na escola porque eu sozinha nunca tive coragem. Porque quando você fala em Capoeira na escola, as crianças falam... luta! Saem chutando e eu não saberia lidar com isso porque eu não queria tratar um

conhecimento sem essa parte (musical e histórica) que eu acho importante e que eu não tenho a mínima idéia. ...

Pesquisadora: Mas deu uma idéia, não?

Profa. Estrela-do-mar: Deu, mas porque tinha a gente lá, tinha mais pessoas... Pesquisadora: Eu considero a experiência da MH um projetinho piloto, um pouquinho do que pode ser nas outras escolas, mas uma experiência pontual, rápida.

Profa. Estrela-do-mar: Foi a realidade da escola, mas não de “verdade”, porque tinham três adultos e não a professora sozinha com as crianças...”

Nesse caso, ela refere-se aos dois estagiários que a acompanhavam nas aulas, eu e mais um colega de turma. Com relação às duas respostas dadas, que não são correspondentes entre si, suponho que ela possa ter achado que o trabalho que eu havia desenvolvido juntamente com ela já era de meu conhecimento e que não seria necessário citá-lo no questionário, já que era um documento destinado a mim. Porém, quando ela apresentou-se aos demais professores percebeu que deveria falar algo sobre essa experiência, uma vez que eles desconheciam.

Na questão referente às suas expectativas sobre o curso, ela afirma que gostaria de adquirir autonomia e confiança para trabalhar a Capoeira na escola. Entretanto, ao ser convidada a dar continuidade à abordagem da Capoeira na escola, no ano de 2008, ela disse- me não sentir-se segura ainda, mesmo após o curso que freqüentou e o acompanhamento que fiz de suas aulas nos meses de agosto a outubro de 2007. Cogito, nesse caso, a possibilidade que o curso e o acompanhamento não foram suficientes para ela adquirir a autonomia e confiança que desejava ou então, por conhecê-la, penso que poderia ser o grau de exigência que ela tem com relação ao seu próprio trabalho, que é muito esmerado.

Reproduzo seu depoimento abaixo, ainda por ocasião de sua apresentação, para possíveis considerações, nos capítulos posteriores: “[...] eu tive uma experiência com a

Capoeira de um ano e quem me apresentou foi a Profa. Tocha82 ela era apaixonada e me apresentou, eu fiz umas aulinhas ... eu gostava muito. Antes de entrar na Capoeira eu tinha visto, no SESI, uma apresentação de dança de um moço, que pra mim era Capoeira, só que ele estava sozinho... ele fazia uns movimentos que pra mim era capoeira, o som. Era uma Capoeira Angola. E essa era a idéia que eu tinha de Capoeira. Quando eu fui fazer

Capoeira no grupo, era Capoeira Regional e tinha aquela coisa bem técnica, de ficar repetindo o movimento... eu gostava, mas eu falava pro mestre: Nós vamos fazer a Angola? Ele dizia que sim, mas nunca fez. Não sei porque. Então eu tinha essa vontade de conhecer porque eu me encantei, eu achava bonito, gostava... E me aproximar um pouco mais da parte da música porque eu sou terrível pra essas coisas, mas eu acho bonito. E eu sinto falta porque, às vezes, me dá a impressão de que eu vou lá, faço bem os movimentos, tal, mas eu não tô inteira no grupo porque quem toca, quem sabe, quem conhece as músicas, são aqueles que estão lá faz tempo, ou levam jeito e essas coisas... a gente.... ninguém quer ensinar porque a gente não vai chegar lá, entendeu...(risos)...então isso eu senti falta, da música, da parte da... religiosidade... e queria conhecer melhor eu sei que tem um... é um modo de dizer, mas sei que tem uma ... uma magia, às vezes eu tenho a impressão de que a gente faz aquela roda, uma roda, é um jogo, eu sei que é um jogo, mas eu acho que deve ter alguma coisa a mais.” (Profa. Estrela-do-mar)

Esse depoimento é bastante revelador e outros professores, em suas apresentações, fizeram declarações parecidas com a dessa professora, como o da Profa. Polaca: “[...] eu

tenho um interesse muito grande porque primeiro envolve os instrumentos musicais e isso me atrai muito, eu já procurei trabalhar, mas não cheguei a trabalhar a Capoeira o que eu consegui trabalhar com meus alunos foi a questão do ritmo eu levei o Maculelê no ano passado para meus alunos trabalharem o ritmo, a marcação e nesse ano eu pretendo trabalhar a Capoeira.” (Profa. Polaca)

Observo com esses depoimentos que ambas as professoras estão interessadas em aliar o conhecimento da gestualidade com o da musicalidade, da ritualidade, do ritmo, elementos que compõem o universo dessa manifestação.

Essa professora que fez a última declaração e que ministra aulas para as 6as. e 7as. séries, mencionou conhecer alguns trabalhos sobre Capoeira: “Sim. Um deles está

corrigindo. Foi publicado nos anais do Encontro Mineiro de História da Educação Física que ocorreu na UFJF/MG – não me recordo o ano”. (Profa. Polaca)

Infelizmente, não consegui localizar esse trabalho, mesmo porque a professora não informou maiores detalhes.

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Com relação à pergunta se já praticou ou não Capoeira ela afirmou: “Não, porém

sustento um enorme interesse em aprender capoeira para poder proporcionar uma maior gama de atividades/práticas corporais aos meus alunos. Já fiz um workshop num congresso (UNIMEP – 2006), no qual o palestrante falou da história – origens da capoeira e no final trabalhou alguns movimentos básicos utilizando bolinhas de papel e bexiga.” (Profa. Polaca)

Suas expectativas para o curso eram: “Proporcionar um maior conhecimento dessa

prática, bem como a sua pedagogização, pois tive contatos com grupos que são rígidos em relação à técnica enquanto eu visava o lado educacional, pedagógico.” (Profa. Polaca)

Essa professora manifesta a vontade de se apropriar dos conhecimentos relativos à Capoeira e pedagogizá-los para ensiná-los aos seus alunos. Ela declara que apesar de não ter praticado Capoeira ela teve contato com grupos que “são rígidos à técnica” e ela visava ao outro lado do ensino da Capoeira que ela denomina de “educacional, pedagógico”. Para mim, há uma confusão em sua resposta à medida que ela mistura ensino da técnica da Capoeira, com talvez um ensino tecnicista ou até mesmo militarista, conforme descrevi no processo de aprendizado da Capoeira do Mestre Tulé. Essa suposição é reforçada pela sua fala quando se apresentou ao grupo. De acordo com ela: “Esse curso veio numa hora muito boa, porque eu

particularmente andei freqüentando, eu e a.... outra professora Tocha83 uns grupos de capoeira de Minas, o que eu percebi freqüentando o grupo da Profa. Tocha é que tem algumas diferenças, a roda, o jogo, os movimentos, então é, eu queria... eu vejo que lá tem muita técnica e na escola não é técnica, eu queria ver como eu posso atuar com uma capoeira pedagogizada na escola. É isso que eu tô procurando pros meus alunos, não só a