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4 A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS LIVROS DIGITAIS À LUZ DA

4.1 A Evolução da Escrita e as Novas Tecnologias

É imprescindível que o Direito acompanhe o progresso tecnológico, sendo este um intrínseco elemento à vida social, incidente em situações juridicamente previstas e no modo de interpretá-las. Dessa forma, é fundamental entender a evolução da escrita e dos suportes tecnológicos que lhe servem, inclusive no que se refere aos livros digitais e a extensão da imunidade tributária a eles.

Antes da invenção da escrita, nos primórdios da existência humana na Terra, os homens pré-históricos se comunicavam e se expressavam através de pinturas rupestres nas cavernas, tetos e superfícies rochosas, descrevendo cenas cotidianas nas paredes, como rituais, caças, convivências e elementos da natureza.

O surgimento da escrita é o marco histórico que delimita o fim da Pré-história e o início de uma nova era, possibilitando a transmissão do pensamento através das gerações, relativizando o tempo e o espaço em relação ao conhecimento, de modo a transcendê-lo.

A civilização mesopotâmica, que se localizava em um planalto de origem vulcânica no oriente Médio ao longo dos rios Tigre e Eufrates, no território atualmente ocupado pelo Iraque e terras próximas, sendo constituída por grandes centros agrícolas, remonta, há quatro milênios antes da era cristã, os mais antigos registros de escrita.

A escrita desenvolveu-se a partir da premência de organizar uma sociedade cada vez mais complexa, com leis, éditos e regras de comércio, em que o número crescente de informações passou a exigir a inscrição de figuras, em peças de argila, que garantissem o registro das transações então realizadas.

As tabuletas mesopotâmicas eram geralmente blocos de argila quadrados com cerca de 7,5 centímetros de largura; cabiam confortavelmente na mão. Um livro consistia de várias dessas tabuletas, mantidas talvez numa bolsa ou caixa de couro, de forma que o leitor pudesse pegar tabuleta após tabuleta numa ordem predeterminada. É possível que os mesopotâmicos também tivessem livros encadernados de modo parecido ao dos nossos volumes. Monumentos funerários de pedra neo-hititas representam alguns objetos semelhantes a códices – talvez uma série de tabuletas

98 presas umas às outras dentro de uma capa – mas nenhum livro desses chegou até nós149.

Para efetivar a comunicação, era necessário que os registros fossem realizados por símbolos compreensíveis, decifrados por indivíduos que conhecessem o seu significado, no que surgiu a classe dos escribas.

Seria difícil exagerar a importância do papel do escriba na sociedade mesopotâmica. Eles eram necessários para mandar mensagens, transmitir notícias, baixar as ordens do rei, registrar as leis, anotar os dados astronômicos que permitissem manter o calendário, calcular o número necessário de soldados, trabalhadores, suprimentos ou cabeças de gado, manter o controle sobre operações financeiras e econômicas, registrar os diagnósticos e receitas dos médicos, acompanhar expedições militares, escrever despachos e crônicas de guerra, avaliar tributos, fazer contratos, preservar os textos religiosos sagrados e divertir o povo com leituras150.

Os escribas, dada a relevância que possuíam, passaram a constituir uma elite aristocrática, cuja atividade exigia destrezas específicas, tanto em relação às habilidades de produzir tabuletas de argila e manusear o estilete, quanto de desenhar e a reconhecer os símbolos. Além disso, as técnicas utilizadas foram se desenvolvendo, e a escrita passou de pictográfica para cuneiforme.

No segundo milênio a.C., a escrita mesopotâmica havia passado de pictográfica – representações mais ou menos precisas dos objetos simbolizados pelas palavras – para o que conhecemos como escrita “cuneiforme” (do latim cuneus, “unha”), sinais em forma de cunha que representavam sons, não objetos. Os primitivos pictogramas (dos quais havia mais de 2 mil, pois adotava-se um sinal para cada objeto representado) tinham evoluído para marcas abstratas que podiam representar não apenas os objetos retratados, mas também ideias associadas a eles; palavras e sílabas diferentes pronunciadas da mesma maneira eram representadas pelo mesmo signo151.

A escrita ideográfica, que associa símbolos a ideias, foi suplantada pela escrita fonética, onde os símbolos representam sons, o que possibilita a representação do mundo com muito mais versatilidade e simplicidade. Esta mudança acarretou uma imensa evolução da escrita, que culminou com a criação dos alfabetos. Estes fenômenos, associados ao desenvolvimento tecnológico e à evolução das relações sociais como um todo, interferiram sobremaneira, por motivos óbvios, na evolução dos suportes utilizados para a inscrição da escrita152.

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MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. 2. ed. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 150.

150 MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. 2. ed. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia

das Letras, 2010, p. 208.

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Ibidem, p. 210. 152

CAVALCANTI FILHO, Jayme Arcoverde de Albuquerque; VALVERDE, Gustavo Sampaio. Conceito de livro e imunidade tributária. São Paulo: Revista Dialética de Direito, n. 27, dez. 1997, p. 78

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Coetâneos à escrita mesopotâmica, os hieróglifos egípcios eram signos de difícil apreensão, utilizados apenas por sacerdotes, membros da realeza, altos cargos e escribas. Essa antiga escrita egípcia veio a ser decifrada por Jean-François Champollion153, em 1822, que decodificou um decreto promulgado em 196 a.C., na cidade de Mênfis, por Ptolomeu V.

Posteriormente às tabuas de argila, passou-se a utilizar como matéria-prima o tecido vegetal. O material encontrado entre a madeira e a casca exterior da árvore, chamado

liber, para a fabricação de rolos, foi utilizado pelos mesopotâmicos para a escrita antes do papiro importado do Egito.

No Egito, desde meados do terceiro milênio a.C., usou-se do volumen (livro em rolo), que era utilizado horizontalmente pelo manuseador, a partir de uma vara de madeira que servia como eixo, ficando os símbolos dispostos em colunas na face interna do rolo.

Na China, os livros também eram confeccionados a partir dessa entressaca de árvore denominada líber, por meio de um processo de amaciamento e afinamento de fibras vegetais, tendo sido usada inicialmente para fabricação de vestimentas e depois encaminhada para ser suporte de escrita. Além disso, foram também utilizados pelos chineses como meio para escrita o bambu, a seda e anéis de osso.

Na Índia, era usada a folha de palmeira como suporte para escrever, que era fervida em água ou leite, passava por um processo de secamento e depois era alisada e cortada para abrigar a escrita.

Na Grécia e em Roma, os rolos eram usados para todos os tipos de texto, exceto para as cartas particulares, que normalmente eram escritas em pequenas tábuas de cera reutilizáveis, protegidas por bordas erguidas e capas decoradas.

Os rolos eram feitos de papiro, pergaminho ou velino. O papiro, que surgiu há mais de 3.000 anos a.C., era produzido a partir da retirada da casca externa do caule do junco, sendo submetido a um processo de cruzamento e batimento das camadas das fibras, e depois era alisado com uma pedra.

O pergaminho, que substitui em grande parte o papiro, principalmente por este ser quebradiço, surgiu em torno de 500 a 200 anos a.C e era fabricado da camada intermediária da pele do carneiro, do vitelo ou da de outros animais, passando a derme animal por um procedimento sucedâneo de limpeza, raspagem, secagem, esticagem, nova raspagem, polimento e aveludamento. O velino, por sua vez, utilizava-se da pele de feto bovino, geralmente, sendo mais liso e fino que o pergaminho comum.

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Jean-François Champollion (1790-1832): linguista e egiptólogo francês que decifrou os antigos hieróglifos egípcios.

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O códice, cuja denominação originou-se do latim códex,que significa madeira ou árvore, surgiu em torno do século II ou III da era cristã, referindo-se ao livro no formato de cadernos, constituído por pranchas de madeira utilizadas como suporte para a escrita.

As Epístolas de Paulo, quando lidas por Agostinho, não eram um rolo, mas um códice, um papiro encadernado e manuscrito em escrita contínua, na nova letra uncial ou semi-uncial que aparecera nos documentos romanos nos últimos anos do século III. O códice foi uma invenção pagã. Segundo Suetônio, Júlio César foi o primeiro a dobrar um rolo em páginas, para despachos a suas tropas. Os cristãos primitivos adotaram os códices porque descobriram que era muito mais prático para carregar, escondidos em suas vestes, textos que estavam proibidos pelas autoridades romanas. As páginas podiam ser numeradas, permitindo ao leitor acesso fácil às seções, e textos separados, como as Epístolas, que podiam ser facilmente encadernadas em um pacote conveniente154.

O códice em pergaminho tornou-se a forma mais comum de livro utilizada até o final da Idade Média, tendo em vista a praticidade de transporte e consulta, além do fato de que ambos os lados da folha podiam conter texto e das quatro margens de uma página.

No império macedônio de Alexandre, o Grande, a cidade de Alexandria, estabelecida em 331 a.C., tornou-se um centro de livros, com a biblioteca da cidade configurando-se na maior e mais famosa da época, para onde deslocavam-se todos aqueles que buscavam o conhecimento. Serviu de modelo para aquelas que lhe sobrevieram, inclusive no que se refere à técnica de catalogação de acervo.

Os livros predominantes na Alta Idade Média, que remontam entre o século VII e o século IX, eram objetos de luxo, acessíveis a poucos e destinados a ofícios religiosos e a engrandecer os reis, sendo confeccionados artesanalmente pelos monges.

Desde o início, os livros eram lidos em alto tom, pois além de poucas pessoas saberem ler, a leitura interpretativa dos símbolos trazia implicitamente a figuração como se alma fosse das obras, valorizando ainda mais a atividade daqueles que se destinavam a esse fim.

Diferentemente de Santo Ambrósio, que costumava ler silenciosamente, para Santo Agostinho, assim como para Cícero, ler era uma habilidade oral: oratória, no caso de Cícero; pregação, no de Agostinho155.

Apenas a partir do século IX, passou a ser realizada a leitura em silêncio nos conventos, por imperativo dos regulamentos que assim estabeleciam, ensejando um menor

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MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. 2. ed. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 65.

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tempo para esse ofício, tendo em vista que não mais era indispensável a pronúncia das palavras.

Um livro que pode ser lido em particular e sobre o qual se pode refletir enquanto os olhos revelam o sentido das palavras não está mais sujeito às orientações ou esclarecimentos, à censura ou condenação imediatas de um ouvinte. A leitura silenciosa permite a comunicação sem testemunhas entre o livro e o leitor e o singular “refrescamento da mente”, na feliz expressão de Agostinho156

.

No século X, os centros urbanos ressurgiram e com eles as universidades e outras instituições de ensino. Passaram a ser utilizados livros de pergaminho escritos com penas de ave, com paginação e índices, facilitando e difundindo largamente a escrita, marco que permitiu dividir a história do manuscrito na Europa em dois períodos: o monástico, até o século XIII, e o leigo, a partir de então.

A partir do século XIV, popularizaram-se os livros contendo apenas ilustrações, tendo em vista as necessidades dos analfabetos e das pessoas que não dominavam a leitura de forma plena, mas que tinham interesse nos conhecimentos da época e na palavra de Deus. Essas pessoas valiam-se da tradição oral e dos textos recitados para acessar o conteúdo dos livros durante o período medieval.

Com o surgimento da imprensa, em meados do século XV, o tempo para a produção de livros, até então artesanal, foi significativamente reduzido, bem como foi elevado o número de exemplares produzidos, permitindo uma maior propagação de ideias e conhecimentos. O tamanho dos livros se reduziu, sendo produzidos, inclusive, livros que cabiam nos bolsos, incrementando ainda mais o barateamento e a rapidez da produção.

Em algum momento da década de 1440, um jovem gravador e lapidador do arcebispado da Mogúncia, cujo nome completo era Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg (que o espírito prático do mundo dos negócios abreviou para Johann Gutenberg), percebeu o que se poderia ganhar em rapidez e eficiência se as letras do alfabeto fossem cortadas na forma de tipos reutilizáveis, e não como blocos de xilogravura então usados ocasionalmente para imprimir ilustrações. (...) Por fim, entre 1450 e 1455 Gutenberg produziu uma Bíblia com 42 linhas por página – o primeiro livro impresso com tipos – e levou as páginas impressas para a Feira Comercial de Frankfurt157.

Foi suprimida, ao final do século XVI, a preocupação de serem publicados na língua original os autores clássicos, tendo em vista o enfoque comercial na produção de livros

156 MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. 2. ed. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia

das Letras, 2010, p. 68.

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de alta vendagem e que, consequentemente, garantiam elevados lucros. Apesar da importância desse fato para o acesso à população de importantes obras, percebe-se uma expressiva inclinação da produção editorial ao valor mercadológico em detrimento da erudição.

O latim, até então utilizado na publicação das obras, passou a ser substituído pelo idioma próprio de cada nação, restando aquele ao uso nas atividades burocráticas, nos trabalhos intelectuais e nos assuntos da Igreja.

Na Revolução Francesa, os livros, tidos à época como símbolos de nobreza e de refinamento, foram distribuídos em bibliotecas públicas; e a restrição ao acesso pelo uso de trajes específicos aos frequentadores foi abolida.

Na baixa Idade Média e no início da Renascimento a escrita era uma regalia da aristocracia, sendo estendido, no século XVIII, à alta burguesia. A partir do século XIX, passou-se a buscar na leitura uma conjunção de prazer e entretenimento, destinando-se os livros ao uso externo, às viagens em trens, e não mais ao interior das bibliotecas, o que ensejou novos tipos de publicação e com formatos diferentes. O perfil do livro foi significativamente modificado, incluindo-se cada vez mais como uma mercadoria destinada ao lazer da sociedade de consumo.

Primeiro produto cultural a ser industrializado e estandardizado, o livro é o ramo da cultura em que primeiro se efetivou o processo de massificação, incluindo aí toda a valoração negativa que esse processo possa ter, enquanto domesticador da cultura popular e diluidor da cultura erudita158.

Portanto, percebe-se que o suporte físico dos livros passou ao longo do tempo por profundas alterações, que devem ser entendidas como aperfeiçoamentos que, ao invés de transformá-los em novos objetos de consumo, modificaram-nos na verdade para uma melhor fruição, segundo as necessidades do homem contemporâneo.

No século XX, ocorreu uma ampla propagação dos livros impressos em papel, empreitada por grandes empresas editoriais. No contexto da economia de mercado, a produção passou a ser acompanhada por uma publicidade estratégica, bem como focalizou um público tido como massificado, valorizando os denominados best sellers e os livros didáticos.

A interatividade com outros meios de comunicação, como o teatro, o cinema, o rádio e a televisão, que em muitas ocasiões inspiravam-se na produção literária, fortaleceu o livro como instrumento de entretenimento, sobretudo em relação às obras das quais derivavam outras produções culturais. Os filmes e as novelas, fortemente disseminadas no

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século XX, baseavam-se recorrentemente nos livros para elaboração de seus roteiros, o que despertava a curiosidade do público para a leitura das obras, fenômeno perceptível ainda na atualidade.

Contudo, salienta Reimão que o livro exige uma atuação mais ativa, um esforço mais pessoal e um maior domínio sobre o tempo destinado à leitura, o que muitas vezes afasta o interesse das pessoas sobre esse meio, sobretudo na atualidade, em que se predomina a celeridade das informações159.

Ângela Maria da Motta Pacheco apresenta um interessante conceito de livro, relacionando-o com seu suporte físico:

O livro é aquilo que faz o homem pensar, o homem sentir, o homem existir. [...] É, pois, o conteúdo de um veículo que divulga informação, ciência, ficção, arte, ideias e cultura, no vasto domínio do conhecimento humano. A matéria, na qual o livro se impregna, se identifica, completa-o, mas não o define. O conceito necessário e suficiente de livro diz respeito ao seu conteúdo, finalidade e publicidade. Contingente é o seu suporte físico160.

Ao final do século XX, o progresso tecnológico permitiu a diversificação dos meios de transmissão do pensamento, da cultura, do conhecimento e da educação, tendo em vista o desenvolvimento da informática e da cibernética, que modicaram a forma de atuação e comunicação do homem, não mais restrita aos níveis local e regional, mas, agora, de maneira globalizada.

As novas tecnologias, que emergiram a partir da computação, competindo destacar os dispositivos de armazenamento de dados (disquetes, fitas magnéticas, CD-ROMs) e os programas de computador, conhecidos como softwares161, instituíram uma nova forma de divulgação de informações que modificou definitivamente a organização social e do trabalho.

Sistemas de armazenamento de informações permitiram que legislações, jurisprudências, enciclopédias, dicionários e demais obras, até então impressas em papel, fossem digitalizadas e concentradas nos pequenos dispositivos próprios para o registro dos dados.

159 REIMÃO, Sandra. Livros e televisão: correlações. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004, p. 102-103.

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PACHECO, Ângela Maria da Motta. Imunidade tributária do livro. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva Martins (Coord.). Imunidades tributárias. São Paulo: Revista dos Tribunais: Centro de Extensão Universitária, 1998, p. 387-388.

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Segundo o artigo 1° da Lei n° 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e dá outras providências, programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.

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Além disso, outro marcante elemento que ensejou uma verdadeira revolução no mundo tecnológico foi, sobretudo nas últimas décadas do século XX, o aparecimento e disseminação da internet, permitindo que as informações alastrarem-se de forma cada vez mais ágil e ampla e que as comunicações pessoais e profissionais transcendessem fronteiras territoriais e culturais.

Um novo modelo de vida e de relações interpessoais surgiu com o advento da rede mundial de computadores, em vigor inclusive atualmente, seja no âmbito pessoal ou político, em que vale mencionar a organização de movimentos de subversão da ordem político- econômica em alguns países estruturada através desse meio162.

A partir da obra de Jayme Arcoverde Albuquerque Cavalcanti Filho e Gustavo Sampaio Valverde, destacamos uma emblemática decisão da Suprema Corte norte-americana que apresenta um histórico e alguns importantes conceitos sobre a temática:

A Internet é uma rede internacional de computadores interconectados. É o resultado do que começou em 1969 com um programa militar chamado ‘ARPANET’, o qual foi criado para permitir que computadores operados por militares, contratantes ligados ao sistema de defesa e universidades conduzindo pesquisa relacionada à defesa pudessem comunicar-se entre si, através de canais redundantes, mesmo que uma parte da rede viesse a ser danificada em uma guerra. Embora a ARPANET não exista mais, ela proporcionou o exemplo para o desenvolvimento de redes civis que, ligando-se uma a outra, permite agora que dezenas de milhões de pessoas comuniquem-se entre si para acessar vastas quantidades de informações ao redor do mundo. A Internet é ‘um meio extraordinário e inteiramente novo de comunicação mundial do homem’. A Web é comparável, do ponto de vista do leitor, tanto a uma vasta biblioteca com milhões de publicações prontamente disponíveis e indexadas quanto a um esparramado shopping center oferecendo bens e serviços.

Do ponto de vista do editor, a Internet constitui uma vasta plataforma a partir da qual pode comunicar-se com uma audiência mundial de milhões de leitores, espectadores, pesquisadores e compradores. Qualquer pessoa ou organização com um computador conectado à Internet pode ‘publicar’ informação. Editores incluem agências governamentais, instituições de ensino, entidades comerciais, escritórios de advocacia e indivíduos. Os editores podem tornar seu material disponível ao universo global de usuários da Internet ou confinar o acesso a um grupo selecionado, como aqueles que quiserem pagar para ter esse privilégio. ‘Nenhuma organização, em geral, controla nenhum membro da Web, nem existe um