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Correntes doutrinárias favoráveis à imunidade tributária do livro digital

4 A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS LIVROS DIGITAIS À LUZ DA

4.2 As Correntes Doutrinárias acerca da Imunidade Tributária dos Livros Digitais

4.2.2 Correntes doutrinárias favoráveis à imunidade tributária do livro digital

Hugo de Brito Machado e Hugo de Brito Machado Segundo consideram que os livros nos formatos existentes na atualidade não eram tão difundidos ao período da promulgação da Constituição Federal, alguns sequer existiam, e, por ausência de disposição restritiva de forma expressa no texto constitucional, devem ser abarcados pela regra de imunidade194.

Apesar de o legislador constituinte ter tido a oportunidade de realizar uma redação mais abrangente, e não o tê-lo feito, isso não significa que o interprete não possa realizar a exegese segundo a realidade atual, inclusive, como mencionado, diversa. Se à época da redemocratização não era possível acreditar na substituição do livro impresso em papel por aqueles em meio digital, hoje tal processo encontra-se massivo, embora o formato tradicional ainda tenha a sua relevância195.

Consoante os autores, a imunidade tributária dos livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão tem a finalidade de assegurar a livre manifestação do pensamento, e eventual tributação incidente na comercialização desses produtos poderia servir

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VESPERO, Regina Celi Pedrotti. A imunidade tributária do artigo 150, VI, “d” da Constituição Federal e o denominado livro eletrônico. São Paulo: Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, n. 53, p. 215-216.

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MACHADO, Hugo de Brito; MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Imunidade tributária do livro eletrônico. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 104-105.

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como mecanismo de dominação estatal sobre as atividades relacionadas, mitigando o exercício de direitos fundamentais196.

Apregoam que os principais elementos do livro são o conteúdo veiculado e a finalidade pretendida, e não a forma que assumem, seja em tábuas xilográficas, argila, papiro, pergaminho, papel ou meio digital. Demonstram acreditar que com a revolução tecnológica inevitavelmente a versão digital predominará sobre a de papel197.

O livro digital tem ainda a vantagem de ocupar menor espaço físico, permitir uma mais fácil localização de termos e subsídios, proporcionar consultas céleres e precisas, sem deixar de caracterizar-se como uma forma de livro. Além disso, tal averiguação é possível não por integração analógica ou interpretação extensiva, mas por uma adequada compressão do texto constitucional, já que se refere a livros, jornais e periódicos, e as publicações digitais inalteravelmente configuram-se como tais198, não havendo obrigatoriedade de impressão no papel imune, que se inclui apenas como mais um elemento abrangido pelo preceito constitucional.

Dessa forma, restringir a norma imunizante aos instrumentos de mídia escrita em papel é proceder com uma diferenciação que o constituinte não realizou, o que não é comportado pela hermenêutica contemporânea. A interpretação constitucional exige uma metodologia própria, mediante uma análise sistêmica, conferindo proteção a direitos e garantias fundamentais expressamente previstos, como a liberdade de expressão, imprescindível ao Estado democrático de Direito199.

Diante de frequentes mudanças na realidade, a norma constitucional começa a ter a cada dia menor utilidade, se imobilizada por uma interpretação literal, e rapidamente se fará necessária sua reforma, abrindo-se oportunidade para modificações indesejadas na norma constitucional, com um consequente prejuízo para a segurança jurídica.

Por outro lado, se é certo que não devemos interpretar a norma constitucional segundo os métodos da hermenêutica tradicional, induvidoso é que não se pode admitir a prevalência do método, ou elemento literal, sabidamente de franciscana pobreza, e por isto mesmo insuficiente, mesmo para a interpretação das normas infraconstitucionais200.

196 MACHADO, Hugo de Brito; MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Imunidade tributária do livro

eletrônico. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 107.

197 Ibidem, p. 97-98.

198 MACHADO, Hugo de Brito; MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Imunidade tributária do livro

eletrônico. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 103-104.

199 Ibidem, p. 109

200 MACHADO, Hugo de Brito; MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Imunidade tributária do livro

eletrônico. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 103-104, p. 110.

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Corroboramos com o entendimento dos autores, haja vista que, no ordenamento jurídico, não devem as espécies normativas assumir um enrijecimento com particularismos e especificidades sobremaneira restritivas, que não se coadunam com o caráter geral e abstrato das normas jurídicas, principalmente as de natureza constitucional. Igualmente concordamos que o livro tipifica-se pelo seu conteúdo, independentemente do suporte físico em que esteja contido, não podemos limitar-se em uma acepção ontológica.

Negar essa imunidade é negar a supremacia constitucional, que não pode ser limitada pelo literalismo hermenêutico, expressão de ultrapassado e canhestro formalismo jurídico. Tem-se de considerar o elemento teleológico, ou finalístico, que nos indica ser a imunidade em questão destinada a impedir funcione o tributo como instrumento contra a liberdade de expressão e de informação, de transmissão de ideias e de disseminação cultural. Inadmissível interpretação que impede a realização do princípio essencial albergado pela norma imunizante, tolhendo sua função por uma forma de esclerose precoce, que se não harmoniza com o moderno constitucionalismo no qual se tem preconizado métodos específicos para a interpretação de normas da Constituição, em homenagem à sua supremacia no ordenamento jurídico201.

Contudo, o entendimento de que o livro digital deve ser abrangido pela imunidade tributária não implica necessariamente que esta deva ser estendida para todos os produtos de informática ou que se figure como um risco para fiscalidade. Somente devem ser tidos como imunes os instrumentos de materialização dos livros, jornais e periódicos, ou seja, os arquivos digitais com o conteúdo das publicações ou o meio imediato que serve de suporte para a sua veiculação, não comportando a imunidade ser estendida a outros itens de informática, ainda que possam ser utilizados para leitura do livro digital.

Não se deve, portanto, confundir software, de uma maneira geral, com livros eletrônicos, ou seja, software cuja essência é um livro; sob pena de se tributar um livro ou de se imunizar o que livro não é 202.

Diversamente do que argumentam Hugo de Brito Machado e Hugo de Brito Machado Segundo203, não corroboramos com a inaplicabilidade da tributação aos meios de comunicação em geral, à luz da regra imunizante, pois a norma relativa é do tipo objetiva e, deste modo, apenas exclui os impostos, e não os tributos genericamente, além disso, o

201 MACHADO, Hugo de Brito; MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Imunidade tributária do livro

eletrônico. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 114-115.

202 Ibidem, p. 112

203 MACHADO, Hugo de Brito; MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Imunidade tributária do livro

eletrônico. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 116.

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cinema, a televisão, o teatro, o rádio, inobstante prestarem-se à vinculação do conhecimento, não foram contemplados pelo constituinte originário.

Conjectura-se a existência de aparelhos com o formato de livro tradicional, mas com visor de alta resolução ao invés de páginas e com capacidade para armazenar várias obras, que poderão inclusive ser diretamente obtidas pela internet. Também são projetados dispositivos eletrônicos tão finos, dobráveis e nítidos quanto uma folha de papel. Muitos deles, inclusive, já têm o conteúdo trabalhado somente com o movimento dos dedos204. Realidade que de forma inevitável deve a Constituição Federal acompanhar, sem que para isso seja necessária a cada circunstância sua modificação.

Tercio Sampaio Ferraz Júnior argumenta que, não obstante a imunidade referida ser objetiva, o preceito visa à proteção da liberdade de manifestação do pensamento e comunicação de conhecimentos e de informações, na perspectiva de garantia do interesse social e de direitos fundamentais205.

Ao vedar, a norma de imunidade também expressa uma finalidade pretendida, bem como visa uma conduta em contraste àquela que se bloqueia. Além disso, apesar de a regra imunizante expressar em seu texto coisas, seu objetivo precípuo é o alcance do homem e de suas relações sociais.

Salienta que a partir da evolução da disposição constitucional que, em 1946, destacava o papel e, a partir de 1967, invertendo a ordem dos conceitos, passou a imunizar igualmente os livros, os jornais e os periódicos; a proteção destes passou a ser primária em relação ao papel. Portanto, não cabe ao intérprete praticar uma distinção que a norma não prevê, decompondo o livro em aspectos materiais e imateriais, para aceitar alguns e excluir outros, já que imunidade refere-se ao livro em sua totalidade e é autônoma em relação ao papel, a despeito de alcançá-lo. O fato de o dispositivo fazer referência somente ao papel não exclui outros suportes físicos que possam integrar as publicações em mídia escrita, que são imunes206.

Porém o jurista não defende o alcance a outros veículos de comunicação, como o rádio e a televisão. Alude que o privilégio à mídia escrita em detrimento às demais justifica-se

204

MACHADO, Hugo de Brito; MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Imunidade tributária do livro eletrônico. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 117.

205

FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Livro eletrônico e imunidade tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. Disponível em: <http://aldemario.adv.br/livroe.htm>. Acesso em: 20 de abril de 2014.

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no valor cultural que assumiu historicamente, desde Gutemberg, configurando-se como o mais efetivo instrumento de veiculação do conhecimento207.

Os livros em formato digital mantêm a sua caracterização como mídia escrita inobstante não serem impressos em papel, não devendo haver distinção entre o suporte material e o imaterial já que ambos são imprescindíveis para a finalística pretendida. Segundo o autor, o que foi proposto, e não acatado pela Assembleia Nacional Constituinte foi a extensão a outros veículos de comunicação, como os audiovisuais208.

Entre as vantagens proporcionadas pelos livros, jornais e periódicos em formato digital, além da perspectiva ecológica, está o fato de que o usuário poderá ter acesso direto da fonte, extinguido praticamente o interstício temporal para publicação, sem deixar de manter a plataforma em mídia escrita e a mensagem principal.

O livro digital pode ser obtido pela rede mundial de computadores e gravado diretamente no disco rígido do computador, pendrives ou qualquer outro apresto que permita o armazenamento. Não se pode pretender a imunidade dos computadores, tablets, discos rígidos externos e notebooks, pois são utilizados para diversificadas funções para além da leitura dos livros digitais, devendo a regra imunizante contemplar, nesse sentido, o arquivo em formato digital, suporte imediato sem o qual não se tem acesso ao conteúdo.

Os arquivos digitais encontram-se associados a um aplicativo ou a um programa, que já se encontram instalados nos equipamentos eletrônicos de computador, podem ser adquiridos e instalados ou obtido gratuitamente pela rede de computadores. Alguns dos formatos mais utilizados para arquivo de leitura em meio digital são o PDF209 e o ePUB210, que independem do pagamento de taxas.

Convém salientar, conforme corrobora Ferraz Júnior, que a imunidade tributária não alcança o software211 a ser empregado na leitura dos livros digitais, por não se destinar de forma específica a esse feito, sendo aplicado em outras funções e adquirido de forma independente.

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FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Livro eletrônico e imunidade tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. Disponível em: <http://aldemario.adv.br/livroe.htm>. Acesso em: 20 de abril de 2014.

208 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Livro eletrônico e imunidade tributária. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1998. Disponível em: <http://aldemario.adv.br/livroe.htm>. Acesso em: 20 de abril de 2014. 209

O formato PDF é um padrão aberto. Arquivos PDF são visualizáveis em praticamente todas as plataformas e têm a mesma aparência dos documentos originais e preservam as informações dos arquivos de origem — texto, desenhos, mapas, ilustrações em cores e fotos, independentemente do aplicativo utilizado para criá-los.

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O formato ePUB (ElectronicPublication) é um padrão aberto para livros digitais instituído pela IDPF - International Digital PublishingForum. O ePub foi desenvolvido para que o conteúdo se adapte a qualquer aparelho, o que significa que a visualização do texto pode ser otimizado para diferentes modelos de aparelhos.

211 Software é a expressão que designa um conjunto organizado de instruções em linguagem material ou

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Segundo Regina Helena Costa, a imunidade tributária em comento visa proteger a liberdade de manifestação do pensamento e de comunicação; a atividade intelectual, artística e científica; o acesso à informação; a difusão da cultura; o desenvolvimento da educação e o direito autoral incidente pelo uso, publicação ou reprodução das obras literárias, independentemente do meio material em que se veiculam na mídia escrita212.

Argumenta a autora não existir distinção entre os processos tecnológicos de produção dos livros, jornais e periódicos, o que não significa, porém que outros meios de comunicação, como o rádio, a televisão e o cinema, estejam abrigados pela norma, o que seria, em suas palavras, “elastecimento indevido dos fins do preceito imunitório”213

.

Alude Costa que é irrelevante se o livro é feito de papel ou não, sendo imunes tanto os livros em formato tradicional quanto os seus sucedâneos. O dispositivo constitucional sobre o tema deve ser compreendido segundo uma interpretação teleológica, em que se pretende identificar o espírito e a finalidade da norma, sendo essa a metodologia que melhor se adequada para a interpretação de qualquer espécie normativa, cuja aplicação, à luz da Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro, deve atender aos fins sociais a que ela se dirige e para as exigências do bem comum214.

Portanto, a partir da premissa de resguardar a liberdade de pensamento e de expressão, o acesso à informação e a própria difusão da cultura e da educação, e levando-se em consideração que a definição de livroabrange todo meio material na forma escrita através do qual esses objetivos possam atingidos, conclui a jurista que inderrogavelmente a imunidade alcança o livro digital215.

Contudo, para que o livro possa valer-se do benefício constitucional é imprescindível que se constitua como um veículo de difusão de conhecimento, não sendo imune o livro de ponto, o livro de bordo, o livro-razão, o livro de atas, dentre outros216.

No que se refere aos insumos utilizados na produção das publicações, Regina Helena Costa defende que tudo o que for empregado na fabricação dos produtos, como a tinta de impressão, os tipos gráficos e as máquinas impressoras, bem como os serviços utilizados no processo (redação, composição, revisão), devam ser imunes. Se o próprio produto acabado

212

COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 186.

213

Ibidem, p. 189-191.

214

COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 189-190.

215

Ibidem, p. 190-191.

216

COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 192.

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e sua principal matéria-prima possuem imunidade tributária, não há razão para que os demais insumos também não a detenham, pois proceder do contrário seria uma injustificável limitação que não se coaduna com a teleologia da disposição constitucional217.

Não nos alinhamos, neste ponto, à autora, e entendemos que a extensão da imunidade no sentido de alcançar os serviços de redação, composição e revisão, assim como os demais insumos que não o papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos, revela-se uma extrapolação da proteção prevista pelo legislador constituinte na regra imunizante.

Roque Antônio Carrazza alude que para fins de imunidade tributária se equiparam aos livros, os veículos de ideias que atualmente lhe fazem as vezes ou até o substituem, como é o caso dos livros digitais. Argumenta que o termo livro empregado na Constituição Federal não se refere restritivamente ao conjunto de folhas encadernadas e com capa, mas aos veículos de difusão de conhecimento e cultura218.

Já não estamos na Idade Média, quando a cultura só podia ser difundida por intermédio de livros. Nem nos albores do Renascimento, na chamada Era de Gutenberg, quando os livros eram impressos, tendo por base material o papel. Hoje temos os sucedâneos dos livros, que, mais dia menos dia, acabarão por substituí-los totalmente219.

Aduz o autor que com a devastação das florestas, e consequente escassez do papel, e com os progressos tecnológicos, os livros convencionais passarão a ser uma raridade e as bibliotecas serão totalmente informatizadas220.

Além disso, não considera jurídico nem justo que o livro tradicional seja imune e o digital não, pois a distinção entre ele é somente o modo de transmissão de informações, o que não tem aptidão para afastar a imunidade tributária, cumprindo ambos o papel de difusor da cultura221.

Nem todos os livros são abrangidos pela imunidade em tela. Realmente, só são considerados livros, para fins de imunidade tributária, os que se prestam para

217

COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 192.

218

CARRAZA, Roque Antônio. Livro eletrônico: imunidade tributária; exegese do art. 150, VI, d, da Constituição Federal. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. São Paulo: Atlas, 2003, p. 259.

219

Ibidem, p. 259.

220

CARRAZA, Roque Antônio. Livro eletrônico: imunidade tributária; exegese do art. 150, VI, d, da

Constituição Federal. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. São Paulo: Atlas, 2003, p. 260.

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123 difundir idéias, informações, conhecimentos etc. Em apertada síntese, os que são veículos do pensamento222.

Para Carrazza, equiparam-se ao livro, para fins imunizantes, os discos, disquetes, CD-ROMs, slides, videocassetes, filmes, e tudo aquilo que veicula ideias, seja didático ou científico, pouco importando o modo como a mensagem é veiculada, se por meio visual (filmes), táctil (leitura Braille) ou audível (discos), sendo relevante a transmissão do pensamento223.

Contudo, segundo o autor, os livros para escrituração e outros similares não podem ser abarcados pela regra imunizante, pelo fato de não se prestarem à educação, à cultura e à comunicação, servindo para registrar a ocorrência de fatos de interesse econômico, como, por exemplo, a entrada de mercadorias em um estabelecimento comercial224.

Não se trata de reescrever a Constituição, nem de proceder a adaptações a partir das convicções pessoais, mas de se buscar o significado, ou seja, o conteúdo e o real alcance dos termos utilizados pelo legislador constituinte, numa interpretação sistemática (CARRAZZA, 2003, p. 257).

Para Carrazza, uma vez editada uma lei, ou a própria Constituição Federal, não pode permanecer estático o significado de suas disposições, pois a dinamicidade da vida impõe uma interpretação evolutiva225, consoante a realidade vigente.

Acreditamos que a exegese dos preceitos constitucionais não pode suplantar o alcance dos termos linguísticos adotados, havendo a possibilidade de se esvaziarem as regras contidas na Carta Magna quando a aplicação de princípios, valores e direitos fundamentais não ocorrer de forma correlata com aquilo que está posto constitucionalmente, ameaçando a própria segurança jurídica.

Com base nisso, não corroboramos com a tese de a regra imunizante alcançar os videocassetes, os discos e os filmes, pois não se tem, nessas situações, mídia escrita, de modo a caracterizar um veículo de comunicação equiparado ao livro, jornal ou periódico.

No nosso entendimento, a conjectura mais adequada na defesa da imunidade tributária dos livros digitais é apresentada por Humberto Ávila, que apresenta uma

222

CARRAZA, Roque Antônio. Livro eletrônico: imunidade tributária; exegese do art. 150, VI, d, da Constituição Federal. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. São Paulo: Atlas, 2003, p. 262.

223

Ibidem, p. 126-128.

224

CARRAZA, Roque Antônio. Livro eletrônico: imunidade tributária; exegese do art. 150, VI, d, da Constituição Federal. In: MACHADO, Hugo de Brito (Coord.). Imunidade tributária do livro eletrônico. São Paulo: Atlas, 2003, p. 262.

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argumentação valorativa segundo regras de interpretação específicas para justificar a imunidade tributária do livro digital.

Na concepção de Ávila, os doutrinadores utilizam apenas uma justificativa interna, que se restringe a avaliar se o juízo decorre logicamente das premissas, para concluir sobre a imunidade do livro digital. Os autores favoráveis à tese consideram que, o livro digital é uma obra que também veicula informações e consequentemente é imune a impostos. Os desfavoráveis consideram que apenas os livros no formato em papel se enquadram na regra imunizante disposta constitucionalmente.

Para o autor, há a necessidade de se incluir uma justificação externa, com o sopesamento dos argumentos empregados para decidir por uma interpretação em detrimento da outra, o que não tem sido empregado pela maioria dos doutrinadores.

Eles têm fundamentos desiguais e, por isso, valores diferentes. Não podem, por consequência, nem serem empregados indistintamente, nem serem tomados um pelo outro, como se fora a sua escolha e a sua valoração uma manifestação de mero capricho do intérprete226.

Consoante a estrutura interpretativa proposta por Ávila, a primeira regra consiste em dar primazia aos argumentos por ele denominados de institucionais, referenciados