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3. CAPÍTULO III – A EVOLUÇÃO DE REDES INTERORGANIZACIONAIS

3.1 A EVOLUÇÃO DE REDES: CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A evolução de redes de empresas é marcada por etapas que implicam reconhecer que as expectativas dos participantes em relação ao que a rede pode lhes proporcionar tende a ser diferente com o passar do tempo (WEGNER, 2011). As interações proporcionadas pelas ações colaborativas entre empresas em rede são caracterizadas por múltiplas dimensões, incluindo as questões econômicas, a tomada de decisões, a troca de recursos (THOMSON e PERRY, 2006) a gestão, a governança, a liderança, o consenso quanto aos objetivos, as competências da rede (MILWARD e PROVAN, 2006; PROVAN e KENYS, 2008, SCHALK, 2013), a troca de informações e conhecimentos, a eficiência, a inovação, a adaptação local, além da melhora nos laços societários (CHEN, 2010). Alguns desses aspectos estão diretamente relacionados à satisfação das expectativas dos integrantes, outros interferem indiretamente e são utilizados para caracterizar os diferentes estágios da evolução de redes. Estes serão analisados e explicados na sequência deste capítulo do trabalho.

A governança é um dos aspectos mais discutidos para descrever a evolução das redes. Ela é mencionada como um fator importante que contribui para a efetividade da rede (MILWARD et al., 2010; PROVAN e KENIS, 2008; PROVAN e LEMAIRE, 2012). Provan e Kenis (2008, p. 230) a descrevem como sendo “o uso de instituições e estruturas de

autoridade e de colaboração para alocar recursos e coordenar e controlar a ação conjunta na rede como um todo”. A governança adotada pela rede exerce função essencial na condução e controle das ações e atividades propostas pelos seus associados.

Inerente à forma de governança adotada pela rede ao longo do tempo, estão as práticas e os mecanismos de gestão da rede. Milward e Provan (2006), em seus estudos, buscaram identificar as principais tarefas dos gestores da rede. Eles descrevem, primeiramente, o papel primordial de um gerente de rede como sendo o de aumentar o “estoque” de confiança do grupo e a reciprocidade nas interações entre os parceiros. Além disso, identificar o comportamento e determinadas características das empresas, como a prestação de contas, a legitimidade individual, o conflito e compromisso delas, também são escritos como essenciais. Para os autores, isso levaria a uma boa compreensão das perspectivas de cada empresa, podendo-se, assim, delinear o propósito e funções de uma rede para que seus gestores possam administrá-la de forma eficaz.

Além da governança e da gestão da rede, a literatura sugere que há um papel fundamental exercido pela liderança e a tomada de decisões na rede. Provan e Huang (2012) reiteram essa questão ao discutirem a função de gestores e líderes para estabelecer uma base sobre a qual os participantes da rede possam colaborar, mantendo a flexibilidade e a resiliência necessária para realizar tarefas de nível de rede.

As relações colaborativas entre as empresas requerem líderes que possam clarificar os incentivos para participação em redes e as restrições enfrentadas pelas organizações individuais, bem como identificar objetivos comuns e interesses compatíveis a serem trabalhados e alcançados em conjunto (MAYS e SCUTCHFIELD, 2010). O exercício da liderança (mais especificamente quem a exerce) também delineia a forma como são tomadas as decisões na rede, caracterizando esse processo como sendo mais participativo ou centralizado. Esses dois pontos introduzidos neste parágrafo também serão abordados ao serem apresentadas e discutidas as fases de evolução de redes na sequência deste trabalho.

No estudo da evolução das redes, outro aspecto característico dessa discussão é em relação à estrutura de relações da rede. Ahuja, Soda e Zaheer (2012, p. 435) definem a estrutura ou arquitetura de rede como “os nodos que compõem a rede, os laços que ligam os nós e os padrões ou estruturas que resultam dessas ligações”. Arquiteturas de rede podem, portanto, ser relacionadas com o número, a identidade e as características dos nodos, a localização, o conteúdo ou a força dos laços, e o padrão de interligações entre os nós ou os laços.

Os aspectos discutidos no parágrafo anterior são importantes ao remeterem para a aproximação entre as partes, pois engloba os recursos e ativos transacionados entre os parceiros, além de delinear os compromissos, a reciprocidade, a frequência e a intensidade das interações (TIWANA, 2008). Nesse contexto, discute-se o surgimento do conceito de Granovetter (1983) sobre laços fortes e laços fracos. O referido autor explica que, a partir das interações entre os integrantes da rede, surge certo grau de coesão social entre eles e, assim, delineiam-se esses laços fortes e fracos.

No que se refere às relações de laços fortes, Granovetter (1983) menciona que há certa identidade comum entre os participantes, sendo relações com alto nível de credibilidade e influência de um sobre o outro. A confiança nas relações com esse tipo de laço é forte, uma vez que os indivíduos que possuem laços fortes comumente participam de um mesmo círculo social e conhecem muito uns aos outros.

No entanto, as dinâmicas geradas nessas interações não se estendem além dos nós existentes, formando um grupo fechado, segmentado, que interage pouco para além das fronteiras do grupo. Por esse motivo, Granovetter lança o conceito de laços fracos e ressalta a importância destes. Ele explica que os indivíduos com nenhum ou poucos laços fracos serão privados de informações de partes mais distantes de seu próprio sistema social, consequentemente, estarão limitados ao conhecimento ou às informações originadas no grupo de amigos conhecidos, o grupo formado pelos laços fortes.

Para Granovetter (1983), sem as conexões de laços fracos, a tendência é a de os indivíduos permanecerem isolados do “mundus vivendi”, confinados em suas redes sociais existentes. O autor ressalta a importância dos laços fracos ao afirmar que eles são vitais para a integração dos indivíduos ao mundo e aos sistemas sociais existentes. Os agentes que possuem vários laços fracos possuem maiores possibilidades de ganhos gerais, pois se conectam com vários outros grupos, rompendo a configuração de “ilhas isoladas” das redes em que vivenciam, e assumindo a configuração de rede ampla, dinâmica e interativa. Para Granovetter (1983), as novas ideias surgirão dessas relações, e as empresas não se restringirão apenas a ganhos econômicos, expandindo seus saberes a outras áreas e com outras características.

Por fim, outro aspecto a ser desenvolvido no estudo da evolução de redes interorganizacionais é a dependência e interdependência das empresas, objeto de estudo deste trabalho. Jiang, Gao e Li (2009) mencionam que uma empresa pode depender de outra empresa de forma unilateral, caso uma delas seja grande o suficiente para dominar a relação

de cooperação, ou de maneira mútua, quando a relação entre elas é de interdependência. Em particular, quando a empresa maior investe mais recursos para a relação, esta vai ter mais controle sobre a empresa menor (JIANG, GAO e LI, 2009). Em relação a isso, argumenta-se que essa empresa maior pode ser a própria rede, visto que, ao ser formada, ela se caracteriza pela constituição de uma nova firma, conforme explicado anteriormente. O que vai definir essa relação de dependência são, basicamente, as competências da rede em proporcionar aos seus integrantes diferenciais competitivos que eles não conseguiriam alcançar caso atuassem sozinhos no mercado.

Os aspectos introduzidos nesse tópico do trabalho serão discutidos em cada uma das fases a serem definidas nos próximos itens. Busca-se, com isso, caracterizar e distinguir cada uma dessas fases de evolução de redes que serão utilizadas para a consecução da pesquisa.